A incoerência do isomorfismo lingüístico e da língua escrita como parâmetro de correção

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1 Introdução

Este artigo é uma tentativa de refletir a respeito do suposto “isomorfismo lingüístico”, situação teórica/ideal em que o funcionamento da língua falada seria ditado pelas mesmas regras da língua escrita. Para isso, pretendemos identificar, discutir e elucidar as diferenças e semelhanças entre estes dois universos diferentes do uso da língua, a fala e a escrita, propondo uma breve análise a respeito da preponderância desta em relação àquela no que diz respeito ao estabelecimento de uma “norma padrão” que se identifica com a escrita e que, forçosamente, tenta ser transferida à fala. Como veremos mais detalhadamente a seguir, escrita e fala possuem diferenças suficientes para que possamos refratar a tentativa de estabelecer
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Perini (2000, p. 7-8) utiliza o exemplo da pronúncia da palavra “tomate”, que é, muitas vezes, dita “tumate”. Diz ainda que, professores de português – que para ele “deveriam estar bem-informados a respeito” – insistem que a pronúncia correta da palavra tomate é com “o”, embora eles não possam ter chegado a essa conclusão observando os fatos, já que esses não sustentam tal argumento. As pessoas são levadas a acreditar que o certo é pronunciar como se escreve, como se a escrita fosse um guia para a fala. As gramáticas normativas das línguas são produzidas de acordo com o uso literário, próprio dos setores mais esclarecidos, e é sempre esta variedade da língua (a variedade culta) aquela que chamamos de “variedade padrão”. Saussure descreveu quatro razões para este maior prestígio da escrita em relação à fala:

- a impressão de objeto permanente e sólido que tem a imagem gráfica;
- o fato de as impressões visuais serem mais nítidas e duradouras que a impressão acústica;
- a existência de uma língua literária, com seus dicionários e gramáticas, bem como o fato de ser esta a forma ensinada na escola;
- o fato de, em caso de desacordo entre fala e escrita, a última sempre se impor como legítima nas representações sociais da língua;
(Saussure, 1916: 35 - Apud Britto, 2002: 51)

Britto (2002) analisa os argumentos de

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