Representação política em 3d - luis filipe miguel

11478 palavras 46 páginas
REPRESENTAÇÃO POLÍTICA EM 3-D
Elementos para uma teoria ampliada da representação política*
Luis Felipe Miguel

Nos últimos trinta anos, a democracia eleitoral viveu uma fantástica expansão no mundo – aquilo que Samuel Huntington rotulou como “terceira onda” democratizadora, com o colapso de dezenas de regimes autoritários e totalitários. No entanto, um outro processo, contraditório, ocorreu de forma simultânea: a deterioração da adesão popular às
*

Uma versão anterior deste artigo foi apresentada no
Seminário Internacional de Ciência Política, realizado em Porto Alegre, de 3 a 5 de outubro de 2001. O texto já estava pronto quando me chamaram a atenção para um artigo de Wanderley Guilherme dos Santos,
intitulado
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O comparecimento eleitoral caiu de forma drástica em Portugal, após o salazarismo, e em alguns países ex-comunistas, como Bulgária, Hungria e Albânia; a tendência de queda é perceptível também na Rússia e na Romênia, mas não na Grécia

(onde o voto é obrigatório), na Espanha, na Polônia ou na Croácia.
Nos países latino-americanos, a observação do fenômeno é menos fácil, devido à adoção generalizada do voto obrigatório. Mas é possível fazer uma aproximação por meio do conceito de
“alheamento decisório eleitoral”, que engloba todas as formas pelas quais os cidadãos e cidadãs se recusam a optar por um partido ou candidato, por meio da abstenção, do não-alistamento eleitoral, do voto nulo ou do voto em branco (Ramos,
2001). No Brasil, nas eleições gerais de 1998, apenas 78,5% dos eleitores registrados compareceram para votar, o menor índice após a redemocratização; dos votos contados para presidente, 18,7% foram em branco ou nulos. Somem-se a isso os cerca de 10% da população em idade de votar que não se alistaram (já que o registro é opcional para analfabetos e jovens entre 16 e 18 anos). No final das contas, mais de 40% dos brasileiros e brasileiras em idade de votar desprezaram o direito de escolher o presidente da República.
Segundo uma interpretação difundida por
Seymour Lipset em seu influente Political man
(1963 [1960]), os altos índices de abstenção não significam necessariamente

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