Resenha Crítica - Carcereiros, Dráuzio Varella

2335 palavras 10 páginas
VARELLA, Dráuzio. Carcereiros. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

“As histórias de heroísmo, os atos de generosidade, a corrupção, a covardia, a prática da tortura, o desapego à própria vida em benefício dos outros, as maldades e os exemplos de dedicação ao serviço público que se seguem foram observados por mim ou contados pelos carcereiros com quem tenho convivido.” Dráuzio inicia sua narrativa falando sobre o “massacre do pavilhão Nove”, ocorrido na Casa de Detenção conhecida como Carandiru no dia 2 de outubro de 1992. Relata como os funcionários do pavilhão Oito lidaram com a situação para que os PMs não adentrassem ao mesmo, utilizando-se do diálogo e da boa fé com os detentos. Os tiros duraram do começo do entardecer
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A cadeia era situada no térreo da Câmara, sendo que no andar superior se reuniam os vereadores na presença do juiz: “ainda não havia surgido a ideia de trancafiá-los em construções isoladas por muralhas, distantes do poder público e dos olhos da sociedade.” A dificuldade em encontrar pessoas para trabalhar como carcereiros era muito grande devido ao cargo ser considerado de grande perigo e mal pago. Por esse motivo, sujeitavam-se a este trabalho apenas homens totalmente ineptos e sem nenhum crédito que não o realizavam de forma correta. Nesta época, a única finalidade do confinamento dos cidadãos que infringissem as leis era retirá-los do convívio social e castigá-los, sem a intenção de oferecer-lhes condições dignas de vida nem de reinseri-los na sociedade. A função do carcereiro era limitada a garantir a ordem interna e evitar fugas. Tal realidade perdurou ate o século XX, quando foi inaugurada a Penitenciária do Estado, construída com a filosofia de “regenerar” os condenados. Todavia, aqueles servidores contratados para vigiar os detentos continuavam sem preparo algum para realizar tal tarefa, a qual tinham de aprender sozinhos, com os colegas ou até mesmo com os presidiários. Cursos preparatórios e de reciclagem para agentes penitenciários surgiram apenas nos últimos anos. A motivação que leva a maioria dos carcereiros ao cargo é segurança do emprego público e não a vocação para exercer tal função.

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