Resenha do conto "O Morto" de Vergílio Ferreira

1866 palavras 8 páginas
Bandeiras em riste: uma leitura de “O morto”, conto de
Vergílio Ferreira. Alberto Vicente Silva. Texto apresentado em 2002 para o curso de Letras Vernáculas.
Massaud Moisés nos diz que “Vergílio Ferreira não é, na essência de sua visão de mundo, um contista. O seu gosto do abstrato e do catastrófico pede mais amplos horizontes. Não obstante, os contos servem como exemplário dos seus invulgares recursos de ficcionista, e alertam-nos para o que devemos esperar dele: não episódios, mas a recriação de dramas interiores, tensões metafísicas. Não tem nada de mero contador de histórias...”
(1975 p. 329-330).
Entretanto, não é esse o traçado do desenho de “O morto”. Apesar de toda a carga de seriedade que esse conto possa ter (e tem),
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Para equilibrarem um pouco mais a verdade das coisas, os do primeiro bando insultaram os homens da guarda, chamando-lhes de ‘chuis’ e de lacaios das classes exploradoras. Um disse ainda outras coisas ordinaríssimas, mas a guarda malhou nele e ele então calou-se” ( p. 195).
No quarto dia, os bandos já impunhavam armas de fogo e estavam dispostos a partir para a troca de tiros, causando um novo adiamento do enterro. Nesse ínterim, a guarda capturara alguns “cabecilhas da desordem e requisitou reforços” (p. 196). Porém, acabou-se dando que o coveiro, totalmente impacientado, resolvera agir por conta própria, enterrando o morto na calada da noite, pondo fim àquela desordem da maneira mais sensata e civilizada possível.
“O morto” apresenta um tempo da história que é relativamente curto, aproximando os fatos narrados, que são divididos em quatro dias e uma noite, a saber:
1º dia: “O morto deu entrada na capela logo pela manhã” (...) “E a guarda veio um bocado depois e cancelou a cerimônia...”(p.193).
2º dia: “De modo que ao outro dia reconstituiu-se o enterro” (p. 194).
3º dia: “De modo que, no dia seguinte, organizou-se outra vez o cortejo”
(...) “Mas como se entendeu que o frio era muito, diminuía os cheiros e a família queria um enterro cristão e sossegado, adiou-se”... (p.195).
4º dia: “Dessa vez a guarda já estava lá, mas os dois grupos também já lá estavam” (...) “Outra algazarra e marcou-se

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