o conto "mariana" de miguel torga

2010 palavras 9 páginas
Miguel Torga
Mariana

- Meu rico filho! Dava-o agora assim de mão beijada! Não que ele custou-me a parir e a criar!... Julho, era por toda a parte a mesma verdura a ondular e a mesma esperança a sorrir. A terra bebia o sol e a humidade, espremia-se depois quanto podia, e atulhava o mundo de folhas, de flores e de frutos. Mariana, com o filho ao colo de cabeça a reluzir, ia andando e monologando. - Não me faltava mais nada! Tenham-nos. Façam por eles, ora o canudo! No Caleirão, mesmo à beira do caminho, o Júlio Pessanha regava. - Deus o ajude! - Vem com Deus... A enxada nas mãos do trabalhador deu o golpe, e a terra fofa, como uma mulher sôfrega de amor, bebeu de um trago a levada que a beijou. - Aonde é a ida? perguntou o Júlio, da leira, enquanto a nascente ia acalmando a embelga. - Justes – respondeu Mariana, sem convicção. – Justes ou Gache, conforme. Parara e olhava enlevada o resto de água a correr. Esteve assim algum tempo, enquanto o Júlio a olhava a ela por sua vez, abrasado de calor. - São horas... - Tens tempo, mulher!... Espera um migalho, que te acompanho até aí acima... - O que você quer bem sei eu... - E então?... Mariana riu-se, meteu o bico do peito na boca do filho e esperou. - São só mais três talhadoiros – prometeu o Júlio, apressado no desejo. - Ande lá... Calma, sentou-se então numa anteira, com a mão direita a alisar docemente a penugem da criança. Depois, quando o Júlio acabou, ergueu-se e foi caminhando a

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