Interview about the Versatilist Manifesto (página 2)

Imagine um professor de geometria que lecione de
manhã para adolescentes e que trabalhe como pesquisador na
parte da tarde. Nas aulas da manhã ele ensinaria a
geometria de Euclides, que diz o seguinte: "A menor
distância entre dois pontos distintos é um segmento
de reta." Ou então ele diz: "As paralelas não se
encontram." De tarde, em suas pesquisas na universidade, esse
professor poderá usar geometrias não-Euclidianas
que vão contra tudo o que ele ensinou de
manhã.

E tem mais, a pessoa pode ser versatilista atuando em
uma única área, não é
necessário que o versatilista cante, dance, seja artista
americano completo… Nada disso. Machado de Assis foi contista,
romancista, jornalista, escrevia coisas com realismo, com
fantasia, com suspense, com ironia… Sempre dentro da
literatura. Num certo aspecto ele foi um versatilista.

O mercado às vezes é chato demais. O
artista fica conhecido por um determinado estilo e os
empresários não permitem mais que o
indivíduo largue aquele jeito de ser. Quando digo
empresários, me refiro àqueles que só se
preocupam com o retorno material. O que vale também para a
classe de produtores, marchands, editores, entre outros que
escravizam o artista ou o abandonam. A ideia é a seguinte:
"Não vai ser como eu quero, então não
será." Esse tipo de ameaça existe.

Pergunta 16: É possível identificar
na História da Arte características do
Versatilismo?

Pablo Picasso foi um artista que experimentou bastante,
fez pinturas realistas, cubistas, variou dentro do próprio
cubismo, teve a fase azul, a rosa, das gravuras do minotauro,
voltou para o cubismo. Há quem não goste do
trabalho de Picasso, mas é um fato que ele foi um dos
maiores artistas do século XX.

Gosto não é conceito de nada. Não
serve pra nada dentro de uma conversa séria. Gosto
é conversa de passatempo, é "conversa de
bar".

Pergunta 17: Numa visão macro, de que
forma a sociedade pode ser aprimorada pelo
Versatilismo?

O Versatilismo propriamente dito, só
poderá contribuir no campo das reflexões e no
convite às ações. Você deve ter
reparado que o manifesto não diz: use estas cores, use
estas formas, faça linhas orgânicas, despreze as
diagonais etc. Nada disso. O Movimento Versatilista não
precisa de retorno midiático, nem de fidelidade
partidária. As pessoas devem se unir por afinidade e
não por imposição. O manifesto deixa claro
que o grau de consciência das pessoas deve ser respeitado,
bem como o seu livre-arbítrio. A grande
contribuição é que as pessoas se libertem.
Que façam. Que se divirtam. Reflitam.

Lembro-me do quadro do Paul Gaughin: "Quem somos? De
onde viemos? Para onde vamos?"

Pergunta 18: Quais obras podemos encontrar de
Versatilistas contemporâneos?

Olhe, eu tenho o meu jeito de encarar o Versatilismo.
Mas o que é bom pra mim, pode ser mau para outra pessoa.
Eu geralmente faço um livro, depois esse livro tem uma
trilha sonora homônima, num outro momento eu faço
uma pintura que se relaciona com o assunto do livro, faço
a letra de uma música… Mas esse é o meu estilo,
é o jeito que gosto de encarar o Versatilismo, para que
não me senta preso a nada.

Não tenho a menor ideia de quem leu e se inspirou
em algo do manifesto, ou mesmo de que isso tenha mudado a sua
vida. O Versatilismo não é o movimento
artístico do pop star. Ele diz sim, está na hora de
analisarmos o nosso ego, ver se o que estamos alimentando
é sadio, se essa estrada que escolhemos nos levará
para um lugar que nos interessa. Inclusive, no manifesto,
questiona-se o papel da pessoa que está sob os holofotes
da fama, pois quem aí se posta, passa a ser modelo. Modelo
de vestuário, modelo de comportamento… E o homem nem
sempre está preparado para ser um condutor de
multidões. Às vezes é um cego a conduzir
outros cegos.

Pergunta 19: E por que a ausência de
concursos de artes no Versatilismo?

Porque o que já teve de concurso com cartas
marcadas na história da humanidade, nos leva a suspeitar
desses prêmios honorários. Prêmios dados por
políticos, por comissões, por governos, por
instituições, por jurados que são
manipulados. A pessoa dá o prêmio, mas no fundo ela
está atendendo a interesses pessoais. Mas você
encontrará no manifesto, que boas iniciativas culturais
são bem-vindas.

É claro que um programa curto, como este aqui,
que trate de tantos assuntos, é cheio de
afirmações categóricas, que fora de
contexto, poderão ser mal interpretadas.

Peço aos ouvintes que não se atenham
às exceções na hora de refletir sobre o que
foi dito e que leiam o Manifesto Versatilista, para que tirem as
suas próprias conclusões.

Entrada para citação
acadêmica:

MANDARINO, Denis. Entrevista com Denis Mandarino
sobre o Manifesto Versatilista. São Paulo: Design 24
Horas, 2013.

Sao Paulo

2013

Podcast produced by DESIGN 24 HORAS on
May 27, 2013.

Interviewers: Alexandre Iervolino and
Sofia Iervolino.

Presentation of the
interviewee:

Denis Mandarino is an artist, composer and
writer. As a university professor teaches at Cruzeiro do Sul
University, on the campus Anália Franco and at Rio
Branco, Rotarian Foundation, on the campus of Lapa in
São Paulo.

Autor:

Denis Mandarino

[1] Universe is understood as the sum of
everything that exists in this area and beyond, for all that is
known or that one day will be.

[2] Universo é entendido como o
somatório de tudo o que existe na matéria e fora
dela, por tudo que é conhecido ou que um dia o
será.