História de um monumento: Igreja matriz de Itanhaém

 

Em janeiro de 1921, Itanhaém ignorava estar recebendo a visita de uma pessoa que iria se tornar um dos intelectuais mais notáveis do país. Em seu universo de interesses, o ainda jovem autor de Macunaína tinha especial atenção às coisas de nosso passado histórico, tendo inclusive empreendido viagem a Minas Gerais e estudado seu legado artístico colonial (38), a partir do qual sai reforçado seu propósito de contribuir mais efetivamente para a preservação do patrimônio histórico brasileiro - o que começará a tornar-se realidade na década seguinte, com a criação do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo (1935) e do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (1937).

Na manhã do dia 27 chega a Itanhaém e surpreende-se com o seu aspeto festivo. Observa que era já muito querida pelos banhistas ... de estranhos em férias, revestindo a cidade com uma poeira vazia de progresso, roubando-lhe a vetustez de coisa anciã. Razão porque se revolta, declarando-se contrário a essa invasão de homens e costumes novos, que prejudicam o carácter vivo e cru de certas cidades.

Para ele, cidades como Itanhaém deveriam permanecer sempre velhas, isentas de estranhos e de costumes que não lhe dizem respeito.

Visita suas igrejas. Primeiro a Matriz, situada na praça, levantada as suas enormes paredes de pedra, solitariamente, num descanso dominical.

Constata que, apesar do movimento da cidade, estava aberta e sem ninguém. Interessa-se por suas imagens de madeira e de barro aparentando larga idade ... abandonadas ... Aliás estragadíssimas e partidas.

Descobre, sobre uma mesa da sacristia, uma antiga cabeça de santo, de barro cozido, uma delas desirmanada do seu corpo ... Era notável. Dum realismo incipiente e sincero, dum desenho corretíssimo e audaz.

Pensa no autor daquela imagem, no trabalho que empreendeu: Algum imaginista anónimo, indifferente pelo futuro indifferente, trabalhara-a dias penosos. Conseguira realizar, ignorando sem duvida o seu êxito, uma verdadeira obra de arte. Fizera o barro amoldar-se á inspiração nervosa de seus dedos, dera-lhe vida e o que é mais dera-lhe caracter.

 



(Ver trabalho completo)

 

Carlos Gutierrez Cerqueira 
carlosgutierrezcerqueira[arroba]gmail.com.br


 
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