Messianismo e melancolia


Ainda que permanecendo no seu carácter sibilino, esta passagem parece concentrar o essencial de uma certa visão histórica, que se encontra intrinsecamente ligada ao messianismo, o qual tem um “lugar” privilegiado na linguagem. A imagem da redenção e a ideia de felicidade que lhe está intimamente associada, congrega em si o ponto de acesso à compreensão da história e da linguagem. É o próprio Benjamin quem afirma que ela é a chave ou o operador que lança a ponte entre a visão materialista dialéctica e a visão teológica da história. Uma vez que Benjamin, desde a sua juventude, se apresentara como um continuador de Kant, ocorre-nos questionar em que momento da sua vida/obra ele se terá confrontado com o seu próprio desacordo relativamente à estética, à ética e à história kantiana e terá compreendido no messianismo a força e o princípio do que viria posteriormente a conformar, senão o mais fundamental aspecto do seu pensamento, uma das mais importantes directrizes do mesmo. O encontro e a amizade com Scholem, despertando-o para o esoterismo, impulsionam-no numa determinada direcção que o leva, gradualmente, a desviar-se do estudo de Kant e a concentrar a atenção no estudo dos críticos românticos. Ao mesmo amigo Benjamin anuncia o desejo de se dedicar ao estudo dos pré-românticos, sobretudo Schiller, Novalis, Willhelm, Tieck e Schleiermacher. Esta organização, segundo um ponto de vista sistemático, é algo com que sonha desde há algum tempo e, sobretudo, interessa-lhe procurar, de forma extremamente objectiva, uma “doutrina” que é o messianismo, ou seja, o lugar em que coincidem a história e a religião: “O ponto central do pré-romantismo, é a religião e a história. A sua infinita profundidade e a sua beleza, em comparação com todo o romantismo tardio, é a de não ter invocado os factos religiosos ou históricos para ligar intimamente estas duas esferas, mas eles procuraram no seu próprio pensamento e na própria vida da esfera superior em que ambos deviam necessariamente coincidir.” Tal é o essencial da investigação benjaminiana e a razão de ser da redacção da obra O Conceito de Crítica Estética no Romantismo Alemão. Vemos, assim, que o messianismo é o “secreto coração” do romantismo, o motor e princípio orgânico que lhe insufla a vida, ainda que Benjamin escreva, em 7 de Abril de 1919, uma carta a Ernst Schoen, explicando-lhe a recusa em abordar a questão do messianismo na sua dissertação: “(...)eu não podia, com efeito abordar o messianismo, coração do romantismo - eu não tratei senão da concepção da arte - nem nada mais que me é apresentado ao mais alto nível sem me interditar a possibilidade da atitude científica reclamada, complexa, convencional, distinta aos meus olhos do autêntico(...)”.


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Maria João Cantinho
mjcantinho[arroba]hotmail.com


 
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