Página anterior Voltar ao início do trabalhoPágina seguinte 

 

Descrição da área

O progresso da vassoura-de-bruxa do cupuaçuzeiro quantificado por incidência (com as variáveis nº de vassoura-de-bruxa em lançamentos e em flores) e produção de basidiocarpos foi monitorado em plantas de cupuaçuzeiro em sistema sombreado, no campo experimental de fruteiras da Embrapa Amazônia Oriental, Belém-PA (latitude de 01º28'O; longitude 48º28'S e a 10 m de altitude).

O campo experimental foi implantado em 1984, com material enxertado e não-enxertado. O enxertado foi proveniente da seleção da mesma planta mãe, mais produtiva; o não-enxertado foi obtido de processo de multiplicação de sementes, coletadas das plantas mais produtivas.

Obtenção dos dados

Os dados para os estudos nos órgãos vegetativos foram coletados em 20 plantas, dez enxertadas e dez não-enxertadas. Em cada planta foram marcados, nos três terços; superior, médio e inferior, no sentido horário, dez ramos, perfazendo um total de 200 ramos. Durante 1993 e 1994, os lançamentos com sintomas da doença foram contados e etiquetados semanalmente.

Para a coleta nos órgãos reprodutivos, em 1994, foram previamente selecionadas ao acaso quatro plantas nãoenxertadas na mesma área experimental. Em cada planta, semanalmente foram etiquetadas e numeradas todas as flores com sintoma de vassoura-de-bruxa.

Os dados de produção de basidiocarpos, foram coletados nas vassouras-de-bruxa necróticas, numeradas e etiquetadas nas plantas marcadas citadas acima. As coletas foram diárias, contando-se o número de basidiocarpos produzidos em vassouras-de-bruxa vegetativas e reprodutivas. Após a contagem, os basidiocarpos eram eliminados. Nas vassouras-de-bruxa vegetativas, a contagem do número de basidiocarpos foi em 1994 e 1995. Já nas vassouras-de-bruxa reprodutivas, a contagem do número de basidiocarpos ocorreu apenas em 1995.

Modelos e análise temporal do progresso da vassoura-debruxa do cupuaçuzeiro

De acordo com Hau et al. (1993) ao se assumir que as curvas de dupla sigmóide resultam de dois processos de crescimento consecutivos, então as curvas podem ser obtidas pela soma de duas funções de crescimento simples. Numa primeira fase, a análise temporal constou da plotagem dos dados, progresso da doença em função do tempo (semanas) para lançamentos, flores e basidiocarpos. Na fase seguinte, diferentes modelos epidemiólogicos foram ajustados para o progresso semanal da vassoura-de-bruxa (lançamentos, flores e basidiocarpos). Os modelos logístico + logístico (YLL = p11/ {1+exp[-(p12+p13*t)]}+p21/{1+exp[-(p22+p23*t)]}) e Gompertz + Gompertz (YGG = p11exp{-exp[-(p12+p13*t)]}+p21exp{-exp[- (p22+p23*t)]}) foram testados para vassouras-de-bruxa (lançamentos) e basidiocarpos provenientes de vassouras-debruxa secas, vegetativas. Os parâmetros p11 e p21 são as maiores assíntotas, p12 e p22, a incidência inicial da doença e p13 e p23 são as taxas de progresso dos dois processos e t = tempo (Hau et al., 1993).

Para flores com sintoma da doença e basidiocarpos produzidos nessas flores foram testados os modelos logístico (YL = p11/{1+exp[-(p12+p13*t)]}) e Gompertz (YG = p11exp{- exp[-(p12+p13*t)]}), onde p11 é a maior assíntota, p12 a incidência inicial da doença e p13 a taxa do processo e t = tempo (Campbell & Madden, 1990). O modelo monomolecular não foi testado, pois a simples observação visual dos dados foi suficiente para descartá-lo.

O grau de ajuste de cada modelo foi avaliado em função dos valores do coeficiente de determinação (R2), soma de quadrado do resíduo (SQR) e estimativa da maior assíntota (AS) (Hau et al., 1993; Bergamin Filho & Amorim, 1996). A regressão não-linear foi feita por meio do método Quase-Newton, que estima assintoticamente. Os programas STATISTICA (Stat Soft, Tulsa - OK - U.S.A.) e PLOT IT (Scientific the Programming Enterprises Hasleft) foram usados na análise e construção dos gráficos, respectivamente.

Curvas de progresso da doença

Os valores não-cumulativos e cumulativos da incidência da vassoura-de-bruxa do cupuaçuzeiro (Figura 1) evidenciaram maior incidência de lançamentos com sintomas da doença entre as semanas 30 e 40 e 80 e 100 tanto nas plantas enxertadas e quanto as não-enxertadas, que correspondem, respectivamente, aos meses de agosto a outubro e de julho a dezembro. Nas flores, a maior incidência da doença foi entre as semanas 80 e 100 (Figura 1). Já para basidiocarpos (Figura 2), o maior número ocorreu entre as semanas 70 e 80 e 120 e 132 tanto nas plantas enxertadas como nas não-enxertadas, que corresponde aos meses de maio a julho e abril a julho, respectivamente (Figura 2). Nas flores a maior produção de basidiocarpos ocorreu entre as semanas 120 e 132 (Figura 2). As curvas cumulativas exibem semelhança, entre plantas enxertadas e não-enxertadas (Figuras 1 e 2) diferindo unicamente no nível assintótico das duas fases de crescimento da doença.

 

O período latente, determinado pela diferença entre as curvas de sintomas iniciais e as curvas de produção de basidiocarpos, foi estimado entre 15 e 61 semanas. O período infeccioso, determinado pela diferença entre o início da produção de basidiocarpos e a deterioração da vassoura-debruxa, foi estimado entre duas e 48 semanas.

O início da epidemia da vassoura-de-bruxa do cupuaçuzeiro esteve geralmente associado ao período seco (lançamentos e flores) enquanto a produção de basidiocarpos iniciou-se com o período chuvoso. A maior emissão de vassouras-de-bruxa (lançamentos e flores) ocorreu de julho a outubro e a maior frutificação entre maio e julho. Na segunda fase do progresso maiores valores cumulativos semanais de lançamentos doentes e de basidiocarpos foram observados (Figuras 1 e 2). As plantas enxertadas apresentaram menor incidência da doença, tanto na primeira como na segunda fase do progresso. Isto deve-se, provavelmente, a um maior grau de resistência à doença nessas plantas, devido, provavelmente, a uma menor quantidade de doenças observado nas enxertadas.

De forma similar ao obtido por Evans & bastos (1979) no patossistema Theobroma cacao L.– C. perniciosa, a maior incidência de vassoura-de-bruxa em lançamentos e flores coincidiu com o período de menor precipitação pluviométrica (agosto a outubro). A maior produção de basidiocarpos ocorreu entre maio e julho, coincidindo com o final do período chuvoso. A vassoura-de-bruxa do cupuaçuzeiro é altamente influenciada pelas condições ambientais, as quais foram representadas por análise de correlação canônica (Nunes, 2000). Resultados semelhantes também foram descritos, na cultura do cacau (Andebhran, 1985; Aranzazu & Buritica, 1993; Costa et al.,1997).

A aplicação das funções de sigmóide dupla e sigmóide simples é proposta neste trabalho para a descrição da curva de progresso da vassoura-de-bruxa e permite mostrar que as mais importantes fontes de inóculo de C. perniciosa, são as vassouras-de-bruxa necróticas, provenientes de lançamentos, pois o número de basidiocarpos produzido nos órgãos vegetativos chega a ser oito vezes maior que nos reprodutivos (Figura 2).

O método de controle mais comum, a poda fitossanitária, reduz o inóculo inicial. A remoção dos tecidos doentes deve ocorrer em setembro-outubro, coincidentemente com a maior taxa de progresso da doença, no período seco. É também recomendável que aliada à poda de limpeza das árvores realizada nos meses de fevereiro-março, outra poda de remoção de tecidos doentes seja feita, evitando, assim, a produção de basidiocarpos que se inicia nos meses seguintes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • AMORIM, L. & BERGAMIN FILHO, A. Sugarcane smut development models:I. Annual curves of disease progress. Zeitschrittfur Pflanzenkrankheitenschutz und Pflanzenschutz 98:605-612. 1991.
  • AMORIM, L., BERGAMIN FILHO, A. & HAU, B. Analysis of progress curves of sugarcane smut on different cultivars using functions of double sigmoid pattern. Phytopathology 83:933-936. 1993.
  • ANDEBRHAN, T. Produção de basidiocarpos em relação ao controle fitossanitários. In: Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira /Departamento Especial da Amazônia. Informe de Pesquisa de 1985. pp. 42-44.
  • ANDEBRHAN, T., ALMEIDA, L.C. de & FONSECA, S.E.A.Doenças do cacaueiro. Belém: CEPLAC/DEPEA/COPES.1983.
  • ARANZAZU, H.F. & BURITICÁ, C.P. Comparative epidemiology study:Colombia, Caldas e Llanos Orientales In: Rudgard S.A., Maddson A.C. & Andebrhan, T. (Eds) Disease management in cocoa:comparative epidemiology of witches' broom. London:Chapman & Hall. 1993. pp. 57-71.
  • BERGAMIN FILHO, A. & AMORIM, L. Doenças de plantas tropicais:Epidemiologia e controle econômico. São Paulo. Ceres. 1996.
  • BOWERS, J.H., SONODA, R.M. & MITCHELL, D.J. Path coefficient analysis of the effect of rainfall variables on the epidemiology of phytophthora bligt of pepper caused by Phytophthora capsici. Phytopathology 80:1439-1446. 1990.
  • CAMPBELL, C.L. & MADDEN, L. Introduction to plant disease epidemiology. New York. Wiley, 1990.
  • COSTA, J.C.B., MAFFIA, L.A., ANDEBRHAN, T. & CARVALHO, A.L.P. Produção de basidiocarpos de Crinipellis perniciosa em diferentes fontes de inóculo na região Amazônica.  Fitopatologia Brasileira 22:507-512. 1997.
  • EVANS, H.C. & BASTOS, C.N. Epidemiologia da vassoura-debruxa do cacaueiro. In: Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira/Departamento Especial da Amazônia. Informe Técnico de 1979. pp. 32-33.
  • FRY, W.E. Priciples of plant disease management. New York. Academic Press, 1982.
  • HAU, B., AMORIM, L. & BERGAMIN FILHO, A. Mathematical functions to describe disease progress curves of double sigmoid pattern. Phytopathology 83:928-932. 1993.
  • LARANJEIRA, F.F., BERGAMIN FILHO, A. AMORIM, L. & BERGER, R.D. Aspectos práticos da epidemiologia da clorode variegada dos citro. Laranja 19:79-90. 1998.
  • NUNES, A.M.L. Análise do progresso temporal e variáveis climáticas associadas à vassoura-de-bruxa (Crinipellis perniciosa) do cupuaçuzeiro (Theobroma grandiflorum) (Willd. Ex. Spreng) Schum)). (Tese de Doutorado). Piracicaba, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz"-USP. 2000.
  • STARR, J.L., JEGER, M.J., MARTYN, R.D. & SCHILLING, K.Effects of Meloidogyne incognita and Fusarium oxysporum f.s. vasinfectum on plant mortality and yield of cotton. Phytopathology 79:640-646.

Angela M. L. Nunes 1 , Armando Bergamin Filho 2 , Liliam Amorim 2 , Marco Aurélio L. Nunes 3 & Carlos T. S. Dias 4
ctsdias[arroba]carpa.ciagri.usp.br
1. Embrapa Rondônia, Cx. Postal 406, CEP 78.900-970, Porto Velho, RO,
2. Departamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola;
3. Departamento BVF, Faculdade de Ciências Agrárias
do Pará, Cx. Postal 917, CEP 66.077-530, Belém, PA;
4. Departamento de Ciências Exatas, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" Universidade de São Paulo, Cx. Postal 9, CEP 13.418-900, Piracicaba, SP.

 



 Página anterior Voltar ao início do trabalhoPágina seguinte 



As opiniões expressas em todos os documentos publicados aqui neste site são de responsabilidade exclusiva dos autores e não de Monografias.com. O objetivo de Monografias.com é disponibilizar o conhecimento para toda a sua comunidade. É de responsabilidade de cada leitor o eventual uso que venha a fazer desta informação. Em qualquer caso é obrigatória a citação bibliográfica completa, incluindo o autor e o site Monografias.com.