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Assim, os procedimentos ótimos de estimação/predição podem ser resumidos em dois: (i) análise de variância/índice multi-efeitos para o caso balanceado; (ii) REML/BLUP para os casos desbalanceado e balanceado. No caso de dados balanceados, os dois procedimentos conduzem a resultados idênticos; em casos com pequeno desbalanceamento, os dois procedimentos conduzem a resultados similares e, na presença de grande desbalanceamento, o procedimento (ii) é muito superior ao (i).

Estimativas de parâmetros genéticos em pupunheira são escassas. Farias Neto (1999) relata as seguintes estimativas para a herdabilidade individual no sentido restrito: 0,37; 0,30; 0,35; 0,21 e 0,30 para os caracteres altura da planta, diâmetro do colo, comprimento do palmito, diâmetro do palmito e peso do palmito líquido, respectivamente, aos 15 meses de idade. Clement (1995) e Clement & Bovi (1999) relatam as seguintes estimativas de herdabilidade no sentido restrito: 0,27 a 0,36 para a presença de espinhos no pecíolo/ráquis; 0,49 para a taxa de crescimento relativo da fase de viveiro ao primeiro corte; 0,11 para a razão de área foliar. Estimativas de parâmetros genéticos para outros caracteres ou para os mesmos caracteres em outras idades de avaliação são essenciais para o direcionamento dos programas de melhoramento da espécie.

Com base no exposto, o presente trabalho teve como objetivos a estimação de componentes de variância, herdabilidade e predição de valores genéticos para vários caracteres em teste de progênies de pupunheira. Visou também à comparação entre os procedimentos REML/BLUP e análise de variância no processo de estimação.

4. Material e métodos

4.1 Material experimental

O teste de progênies de meios-irmãos de pupunheiras foi instalado em janeiro de 1998 no Campo Experimental do Matapi, Município de Porto Grande-AP, pertencente ao Centro de Pesquisa Agroflorestal do Amapá - CPAF/AP. As 31 progênies são oriundas do Centro Nacional de Pesquisa da Amazônia Ocidental - CPAA, Manaus. As sementes foram obtidas a partir de matrizes sem espinhos, e a base genética original da população é estreita (Clement & Bovi, 1999). A área apresenta topografia plana, cobertura com vegetação de capoeira, clima tipo Ami, segundo a classificação de Köppen, com temperatura média anual de 27ºC, umidade relativa do ar média de 82% e precipitação média anual de 2.700 mm. As características químicas do solo da área experimental são apresentadas na Tabela 1.

As progênies foram avaliadas em experimento delineado em blocos ao acaso, com três repetições, parcelas lineares de cinco plantas, espaçadas de 2,0 m x 1,0 m e bordadura composta por uma fileira em torno do experimento. Avaliadas aos 26 meses (2ª avaliação), foram obtidos dados de altura da planta-AP (medida do solo até o ponto de inserção da folha guia e a primeira folha expandida), diâmetro da planta à altura do colo (DPC), tamanho do palmito- TP (soma do número de toletes de 9 cm), diâmetro do palmito- DP (medido na porção mediana do palmito líquido) e pesos do resíduo apical (PRA), basal (PRB) e do palmito líquido- PP (palmito tipo exportação). Os dados obtidos caracterizaram-se como desbalanceados.

Estimativas de componentes de variância e predição de valores genéticos:

Na situação de dados desbalanceados, o modelo linear misto adequado para a descrição dos dados equivale a:

y = Xf + Za + Wc + e, em que:

y , f, a, c, e ¾ vetores de dados, de efeitos fixos (médias de blocos), de efeitos aditivos (aleatório), de efeitos de parcelas (efeitos aleatórios de ambiente comum das parcelas) e de erros aleatórios, respectivamente.

X, Z e W ¾ são matrizes de incidência conhecidas, formadas por valores 0 e 1, as quais associam as incógnitas f, a e c ao vetor de dados y, respectivamente.

A metodologia de modelos mistos permite estimar f pelo procedimento de quadrados mínimos generalizados e predizer a e c pelo procedimento BLUP. Para obtenção destas soluções, basta resolver o seguinte sistema de equações lineares, o qual é denominado equações de modelo misto (MME):

em que:

A e I = matrizes de parentesco genético aditivo e matriz identidade de ordem apropriada aos dados, respectivamente.

Atribuindo-se valores iniciais para os componentes de variância nas MME, obtêm-se as predições para os efeitos a e c. Calculando-se as variâncias desses efeitos preditos, obtêm-se as estimativas de variâncias (variância genética aditiva) e (variância entre parcelas), as quais, provavelmente, serão diferentes dos valores iniciais utilizados nas MME, significando que os valores iniciais não foram plausíveis ou verossímeis. Desta forma, deve-se resolver novamente as MME, usando estes componentes de variância calculados. Procedendo-se sucessivamente desta maneira, atinge-se a convergência para os componentes de variância, ou seja, têm-se que os valores utilizados nas MME equivalem às próprias variâncias dos efeitos preditos, significando que os valores utilizados nas MME passaram a ser plausíveis ou verossímeis com o conjunto de dados. Este é o princípio da verossimilhança.

Os estimadores REML para obtenção das variâncias dos efeitos aleatórios, empregando-se o algoritmo EM (Expectation-Maximization) são:

tr = operador traço matricial; r(x) = posto da matriz X; N-r(x) = número de graus de liberdade do erro; q = número de indivíduos; s = número de parcelas; N = número total de dados. C22 e C33 provêm de:

As estimações e predições pelo procedimento REML/BLUP foram realizadas empregando-se o software DFREML (Meyer, 1998).

Para o método tradicional, baseado na análise de variância, empregou-se o software SELEGEN (Resende & Oliveira, 1997), o qual utiliza os estimadores da variância apresentados por Vencovsky & Barriga (1992).

4.2 Predição de ganhos genéticos

Os valores genéticos foram preditos pelo vetor â, como desvios da média geral do experimento. Assim, o ganho genético predito foi estimado fazendo-se a média dos valores genéticos dos indivíduos selecionados. Com base nos valores genéticos individuais preditos, os ganhos genéticos preditos com a prática da seleção para peso de palmito foram estimados admitindo-se duas estratégias de seleção: 31 indivíduos (pertencentes a 9 progênies), representando a população de produção de sementes (simulando programa em curto prazo) e com 53 indivíduos (pertencentes a 15 progênies), para compor a população de melhoramento (simulando programa a médio e longo prazos). O tamanho efetivo (Ne) foi estimado pela expressão fornecida por Resende & Bertolucci (1995).

5. Resultados e discussão

O número de famílias e indivíduos selecionados, intensidade de seleção, ganho genético esperado, média esperada e tamanho efetivo com o emprego das estratégias de seleção a curto e longo prazos são apresentados na Tabela 2. Verificam-se baixos ganhos genéticos esperados com valores semelhantes considerando as duas modalidades de seleção. A prática da seleção elevaria a média da população para o caráter peso de palmito após um ciclo de seleção de 227 g para 243 e 246 g para curto e longo prazos, respectivamente.

A determinação do número adequado de indivíduos a serem selecionados deve considerar a endogamia na geração de plantio, para a composição da população de produção de sementes e a manutenção de um tamanho populacional efetivo compatível com a obtenção do limite seletivo para a composição da população de melhoramento (Resende & Bertolucci, 1995). No presente trabalho, maximizou-se o ganho, preestabelecendo um tamanho efetivo mínimo de 19 e 30,38 para a composição das populações de produção de sementes e de melhoramento, respectivamente. Como as duas estratégias conduziriam praticamente ao mesmo ganho genético e tendo em vista a baixa variação genética na população, recomenda-se apenas a utilização da estratégia de curto prazo e posterior cruzamento dos indivíduos selecionados com indivíduos selecionados em outras populações, visando a gerar uma nova população com maior variabilidade genética aditiva.

As estimativas de herdabilidade no sentido restrito (Tabela 3) são consideradas baixas, revelando baixa variação genética aditiva na população e, conseqüentemente, a estimação de ganhos genéticos de pequena magnitude. Uma possível causa para as baixas estimativas de herdabilidade pode ser a estreita base genética da população, haja vista que as progênies são provenientes de número reduzido de plantas.

As estimativas dos componentes de variância e herdabilidade obtidas pelos métodos da análise de variância (ANOVA) e REML encontram-se na Tabela 3. As estimativas foram divergentes para os dois procedimentos. Observam-se estimativas negativas de componentes de variância quando se utiliza a ANOVA, resultado normalmente observado quando o valor paramétrico do componente de variância é próximo de zero. Neste caso, o procedimento REML, que apresenta restrição de não-negatividade, conduz a melhores resultados. Exceto para os caracteres DP, TP e PP, os dois procedimentos conduziram a herdabilidades muito diferentes, revelando que o procedimento REML deve ser utilizado em casos de dados desbalanceados.

6. Conclusões

1 - A população de pupunheira estudada apresenta baixa variabilidade genética aditiva, o que a torna inadequada para futuros trabalhos de melhoramento a longo prazo.

2 - Os ganhos genéticos esperados para produção de palmito foram de 8,40 e 7,18% para as condições de curto e longo prazos.

3 - Os procedimentos REML e ANOVA conduziram a resultados divergentes para a maioria dos caracteres.

4 - O procedimento REML/BLUP deve ser o preferido para a estimação/predição no melhoramento de plantas perenes, cujos experimentos, em geral, geram dados desbalanceados.

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João Tomé de Farias Neto2, Marcos Deon Vilela de Resende3 - tome[arroba]cpatu.embrapa.br

1 Trabalho nº 152/2000. 2 Eng °. Agr°, Dr..,Pesquisador da Embrapa Amazôia Oriental, Tv. Dr. Eneas Pinheiro s/n. C.P. 48, Belém,PA. 3 Eng°. Agr°. Dr. Pesquisador da Embrapa Floresta.



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