Espaço, Cultura e Memória: relatos de migrantes no Rio de Janeiro



 

Ana Teresa Jardim Reynaud
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO

 

Em 2001, iniciei um projeto baseado em entrevistas feitas com migrantes no Rio de Janeiro. Meu objetivo era investigar como esses estrangeiros reconstituíam e encenavam suas tradições de velho mundo em seu novo ambiente, através da música, dança, culinária, indumentária, objetos. Estava particularmente interessada em definir os elementos da cultura pré-migrante que eram recriados no Rio.

A questão das migrações adquire especial atualidade no mundo contemporâneo, onde se observa um duplo movimento de globalização e localização. Mas para lidar com ela, não basta compreendê-la apenas em seu aspecto demográfico, através de estudos quantitativos. Serão necessários, acredito, estudos em profundidade que nos permitam lidar com temas como identidade e diferença.

Entrevistei um pequeno grupo de homens e mulheres nascidos na Itália e na França, de classe média. Fiz perguntas gerais sobre como se sentiam vivendo em um outro país e como se relacionavam, a essa altura, com seus países de origem. Enquanto ouvia seus relatos e histórias, um aspecto destacou-se e revelou-se mais rico do que eu supunha, e re-direcionou minhas metas e interesses na pesquisa. Como professora de um departamento de Cenografia dentro de um curso de Teatro, me ocorreu perguntar aos entrevistados sobre a percepção do espaço – o lugar onde viviam e o lugar de onde vinham - que informava suas vivência. Acabei explorando, portanto, a relação entre espaço e memória.

A riqueza dessa relação será discutida aqui através da contribuição do conceito de afeto proposto pelo filósofo francês Felix Guattari. Guattari utilizou esse conceito para explicar, entre outras coisas, como as lembranças podem ser trazidas à tona por certas percepções do espaço.

Minha opção pela história oral para fins desta etapa da pesquisa se justifica pela forma do relato ser apta a revelar os temas buscados pela investigação. Este estudo não pretende ter, portanto, um alcance sociológico nem etnográfico mais amplo. i

São diversos os ‘tipos’ de imigrantes, diversos seus motivos, suas situações, suas escolhas. Dentro dessas configurações, um fator determinante é o momento histórico. Há movimentos de migração que fazem parte do espectro histórico colonial. Existem ainda, no mundo contemporâneo, pós-colonial, outras formas de migrações. São os êxodos e as migrações forçadas, os deslocamentos das populações provocados pela fome e pela guerra, pelas guerras civis e étnicas. Pode-se observar ainda os deslocamentos não-forçados, resultantes da globalização e das novas tecnologias da comunicação, efetuados por pessoas que trabalham de forma temporária em outros lugares.

Quando escolhi entrevistar migrantes de classe média, que tem a opção de visitar periodicamente seus países de origem, sabia que estava me restringindo a um grupo que tem acesso à mobilidade. Mas era justamente o que estava buscando, uma vez que se tornou claro para mim que o foco da pesquisa seria a relação entre dois países ou espaços e sua constante transformação.

 


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