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Na raça Guzerá, BARBOSA et al. (1986), estudando 517 lactações de 142 vacas, encontraram efeito significativo do mês do parto sobre a produção de leite, porém observaram que as maiores produções foram de vacas que tiveram parto nos primeiros meses da estação seca do ano.

BIANCHINI SOBRINHO e DUARTE (1988), por intermédio da função linear hiperbólica, mostraram que a forma da curva de lactação das vacas Gir foi alterada pela estação de parto e pelo número de ordenhas. No entanto, LOPES et al. (1994 e1996) e MACMANUS et al. (1997) não confirmaram o efeito (P>0,05) da estação de parição sobre os parâmetros das funções exponencial parabólica, gama e quadrática, respectivamente.

QUEIROZ et al. (1991) encontraram efeito (P>0,05) da idade da vaca ao parto sobre a produção de leite de 672 vacas da raça Holandesa, distribuídas em sete rebanhos. Os autores relataram que o modelo polinomial de segundo grau é o que melhor explica este efeito. Na raça Gir, SOUZA et al. (1996) observaram que a produção de leite foi influenciada pela idade da vaca ao parto. JUNQUEIRA et al. (1997), com 2036 lactações de vacas da raça Holandesa, verificaram que todos os parâmetros da função gama incompleta foram influenciados pela idade da vaca ao parto.

O presente trabalho objetivou identificar, entre as diversas funções matemáticas citadas na literatura, as que melhor descrevem a produção de leite das vacas da raça Guzerá; estudar os efeitos dos fatores de ambiente sobre a forma da curva de lactação; e estimar os parâmetros genéticos para a produção de leite total e os parâmetros da curva de lactação que melhor se ajustou aos dados de produção de leite das vacas da raça Guzerá.

4. Material e métodos

O arquivo inicial continha 1584 lactações e, após a exclusão dos registros com informações anormais que poderiam comprometer o presente estudo, restaram os registros de 1130 lactações de 583 vacas Guzerá, filhas de 165 touros, que tiveram suas produções observadas no período de 1983 a 1997. Estes dados são provenientes de nove rebanhos, distribuídos nas regiões Nordeste e Sudeste do Brasil, os quais fazem parte do Arquivo Zootécnico Nacional, mantido pela Embrapa Gado de Leite, Juiz de Fora - MG, e são gerados em parceria com a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ).

Os parâmetros das 22 funções matemáticas utilizadas neste estudo (Tabela 1) foram estimados por meio de regressão não-linear da produção de leite, em função do número de dias do parto até a avaliação do controle leiteiro, utilizando-se o método de Gauss Newton. Deve-se considerar, também, que, embora os símbolos usados para representar os parâmetros das diferentes funções sejam os mesmos, eles não têm necessariamente a mesma interpretação. Após o ajuste das funções, procederam-se às análises para a escolha dos modelos que melhor se ajustaram às produções de leite das vacas. A escolha baseou-se no percentual de lactações em que os parâmetros das funções foram significativos e no número de curvas atípicas encontradas para cada modelo. Nas etapas posteriores, foram avaliadas as influências dos fatores não-genéticos sobre a produção de leite total e os parâmetros da função que melhor descreveu as curvas de lactações. Em seguida, foram estimados os coeficientes de herdabilidade e repetibilidade para as características produção de leite total, produção inicial de leite "a" e taxa de declínio da produção de leite "c".

Os fatores de ambiente usados para compor as fontes de variação foram distribuídos da seguinte forma: rebanho (9 classes), ano de parto (1983 a 1997), estação de parto (1 = estação de seca [abril a setembro] e 2 = estação chuvosa [outubro a março] para os Estados da região Sudeste e 1 = estação de seca [outubro a março] e 2 = estação chuvosa [abril a setembro] para os Estados da região Nordeste); classes de idade da vaca ao parto: (1£ 34, 2=35-38, 3=39-41, 4=42-44, 5= 45-47, 6= 48-50, 7=51- 53, 8=54-56, 9=57-59, 10=60-62, 11=63-65, 12=66-68, 13=69-71, 14=72-74, 15=75-80, 16=81-86, 17=87-92, 18=93-98, 19=99-104, 20=105-110, 21=111-122, 22=123-134, 23=135-188 e 24 > 188 meses).

O modelo estatístico usado para verificar quais fatores de ambiente poderiam influenciar a forma da curva de lactação foi:

em que

Yijkl = observa ção (produção de leite total, estimativas do parâmetros "a" ou "c"); m = constante comum a todas as observações; Ri = efeito do rebanho i (i = 1, 2,....9); Aj = efeito do ano de parto j (j = 83, 84,... ,97); RAij = efeito da interação rebanho i-ano de parto j; Ek = efeito da estação de parto k (k = 1,2); Cl = efeito da classe de idade da vaca ao parto (l =1, 2,....24); e eijkl = erro aleatório associado a cada observação eijkl ~ NID (0, I ).

Para estimar os componentes de variância e covariância necessários para a estimativa dos parâmetros genéticos para as características em estudo, foi utilizado o método da Máxima Verossimilhança Restrita (REML), por intermédio do programa MTDFREML (Multiple Trait Derivate Free Restricted Maximum Likelihood - BOLDMAN et al., 1995), utilizando-se o seguinte modelo:

em que é o vetor das variáveis dependentes (produção de leite total, produção inicial e taxa de declínio da produção); X, a matriz de incidência de efeitos fixos; , o vetor de efeitos fixos (rebanho-ano-estação de parto, idade da vaca ao parto com termos linear e quadrático); Z, a matriz de incidência dos efeitos genéticos diretos; , o vetor dos efeitos aleatórios dos valores genéticos diretos do animal; W, a matriz de incidência dos efeitos permanentes de ambiente, o vetor dos efeitos permanentes de ambiente; e e, o vetor dos erros aleatórios associados a cada observação.

5. Resultados e discussão

A média de produção de leite por lactação (período médio de 290 dias) foi de 2359 kg, com coeficiente de variação de 29,51%. O formato da curva de lactação apresentou-se linear, com pico de produção entre o primeiro e o segundo mês de lactação (Figura 2). Formato similar foi obtido por MADALENA et al. (1979) e GONÇALVES et al. (1996), para as lactações de vacas mestiças e puras da raça Gir, respectivamente.

Constam da Tabela 1 as médias dos coeficientes de determinação e o percentual médio de lactações em que os parâmetros dos modelos foram significativos (P<0,05). As estimativas dos diferentes parâmetros, assim como o percentual de curvas atípicas encontradas para os modelos, são apresentadas na Tabela 2. Os percentuais de curvas atípicas obtidos neste trabalho foram inferiores aos encontrados na literatura, à exceção dos resultados de SHANKS et al. (1981) e LOPES et al. (1996), que obtiveram, respetivamente, 0,73 e 1,92% de lactações com formas atípicas. Essas são caracterizadas por apresentarem estimativas negativas para os parâmetros da curva de lactação. Assim, estimativas negativas para o parâmetro "a" implicam que a produção inicial de leite estimada seja menor que zero.

Com base nos resultados apresentados nas Tabelas 1 e 2, conclui-se que o modelo 19 descreveu melhor a curva de lactação das vacas da raça Guzerá, seguido, na ordem, pelos modelos 22, 8 e 1. A representação gráfica da curva de lactação estimada para esses modelos é apresentada na Figura 1.

A análise de variância da produção de leite e dos parâmetros da curva de lactação encontra-se na Tabela 3. Observa-se que o efeito de rebanho, ano e idade da vaca ao parto influenciou (P<0,05) a produção de leite e as estimativas dos parâmetros da curva de lactação. Não houve variação (P>0,05) da produção inicial e produção de leite total nas diferentes estações de parto. Isto pode ter ocorrido em virtude do mesmo manejo e alimentação nas duas estações. Resultados semelhantes foram observados por LOPES et al. (1994), MACMANUS et al. (1997) e JUNQUEIRA et al. (1997), ajustando as lactações de vacas da raça Holandês, por meio das funções exponencial parabólica, gama incompleta e quadrática, respectivamente.

A curva de lactação média observada para as duas estações de parto estão representadas na Figura 2. Na Tabela 4, são apresentadas as médias da produção de leite observada e estimativas da produção inicial e taxa de declínio da produção para os diferentes rebanhos e estações de parto. A variação destas estimativas, segundo o ano de parto, é representada na Figura 3. As oscilações observadas podem ter como causa as variações climáticas, de manejo e da alimentação dos animais, durante esses anos. As variações desses parâmetros, no decorrer dos anos, foram observadas por LOPES et al. (1994), JUNQUEIRA et al. (1997) e GONÇALVES et al. (1997).

Nas Figuras 4, 5 e 6, são apresentadas, respectivamente, a variação da produção de leite, produção inicial e taxa de declínio da produção, em função da idade da vaca ao parto. As variações que ocorrem com o avançar da idade da vaca são, principalmente, causadas por fatores fisiológicos e proporcionam desempenhos máximos com a maturidade do animal. Observa-se, nas Figuras 5 e 6, que as vacas mais jovens apresentaram menores produção inicial e taxa de declínio da produção, quando comparadas com as mais velhas.

Na Tabela 5, são apresentadas as estimativas dos coeficientes de herdabilidade e repetibilidade para as características produção de leite total, produção inicial e taxa de declínio da produção obtidas por meio de análises com característica única. Nas análises com duas características, obtiveram-se duas estimativas de herdabilidade e repetibilidade para a característica produção de leite total, em alguns casos com valores diferentes, tendo sido calculada a média destas estimativas (Tabela 6). As estimativas de herdabilidade obtidas para os quatro modelos selecionados indicam que a produção inicial de leite tem maior potencial para seleção que a taxa de declínio da produção.

6. Conclusões

Em estudos que visam ajustar equações de regressão aos dados de produções de leite de vacas da raça Guzerá, indica-se utilizar uma das seguintes funções (y= a n e -cn), (y= a - cn + ln(n)), (y= a -cn) ou (y= a e-c n).

Em conseqüência da baixa herdabilidade da taxa de declínio da produção de leite, o formato da curva de lactação das vacas da raça Guzerá não pode ser alterado pela seleção com base nesse componente da curva de lactação.

7. Referências bibliográficas

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Jaime Araujo Cobuci2, Ricardo Frederico Euclydes3, Rui da Silva Verneque4, Roberto Luiz Teodoro4, Paulo de Sávio Lopes3, Martinho de Almeida e Silva5 - rsverneq[arroba]cnpgl.embrapa.br

1 Parte da Dissertação apresentada à UFV, pelo primeiro autor, para obtenção do grau de "Magister Scientiae" em Zootecnia.

2 Zootecnista, MS. Bolsista da CAPES.

3 Professor da Universidade Federal de Viçosa.

4 Pesquisador do CNPGL/EMBRAPA, Juiz de Fora, MG.

5 Professor da Universidade Federal de Minas Gerais.



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