Efeito da Endogamia sobre Características Produtivas e Reprodutivas de Bovinos do Ecótipo Mantiqueira



RESUMO - Foram analisados registros de genealogia de 2070 animais, bem como informações provenientes das cinco primeiras lactações de 1406 vacas do ecótipo Mantiqueira, filhas de 113 reprodutores, com o objetivo de avaliar a freqüência de animais endogâmicos, a média de endogamia por geração e o possível reflexo do aumento da endogamia sobre algumas características reprodutivas e produtivas. As características avaliadas foram idade ao primeiro parto (IPP), intervalo de partos (IDP), produção total de leite (PL) e duração da lactação (DL). Foram usados modelos que incluíam, para PL, IDP e DL, os efeitos fixos de ano-estação de parto; como covariável, a idade da vaca ao parto, em meses, com termos linear e quadrático, além dos efeitos aleatórios de animal, de ambiente permanente e erro. Na análise envolvendo a PL, incluiu-se ainda o efeito fixo da duração da lactação. No estudo de IPP, o modelo utilizado considerou como efeito fixo ano-estação de nascimento e, como aleatórios, animal e erro. As análises foram realizadas utilizando-se a metodologia da máxima verossimilhança restrita. Para se verificar o comportamento da endogamia ao longo dos anos, os animais foram agrupados em gerações. Verificou-se aumento expressivo do número de animais endogâmicos, bem como dos níveis médios do coeficiente de endogamia, que oscilaram entre 0,33 e 7,34%, com crescimento até a última geração. Observaram-se efeitos linear da endogamia sobre os valores genéticos para PL e IPP e quadrático para IDP e DL. A endogamia influenciou de maneira negativa os valores genéticos para as características estudadas, promovendo reduções para PL e DL e aumentos para IPP e IDP. A falta de um programa de acasalamento eficiente e, principalmente, o fato de o rebanho ser fechado, têm sido fatores determinantes no aumento contínuo do nível de endogamia e do número de animais endogâmicos.

Palavras-chave: bovinos de leite, endogamia, ecótipo Mantiqueira, metodologia REML, modelo animal

Effect of the Inbreeding on Reproductive and Productive Traits in Mantiqueira Type Cattle

ABSTRACT - Genealogies of 2070 animals and records from the first five lactations of 1406 cows of the Mantiqueira type cattle, daughters of 113 sires, were analyzed to estimate the frequency of inbred animals, the inbreeding average per generation and the possible effect of inbreeding increase on reproductive and productive traits. The evaluated traits were age at first calving (IPP), calving intervals (IDP), total milk production (PL) and lactation period (DL). Models for PL, IDP and DL included the fixed effects of year-season of calving were used, linear and quadratic effects of the age of the cow as covariate and the random animal effects, permanent environment and error. The fixed effect of lactation period was included also in the PL analysis. Year-season of calving as fixed, and animal and error as random were fit in the mode for IPP. Restricted maximum likelihood methodology was used in the analyses. Trends of inbreeding were estimated by generation. Significant increases of inbred animals and average levels of inbreeding coefficient were observed with the latter varying between 0.33 and 7.34% and increasing up to the last generation. Linear effects of inbreeding on breeding values for PL and IPP and quadratic effect for IDP and DL were found. Inbreeding influenced negatively the breeding values for all traits being responsible for reductions in PL and DL and increases in IPP and IDP. Poor efficient breeding programs and the fact that the herd is closed are important factors for the continuous increase in the level of inbreeding and number of inbred animals.

Key Words: animal model, dairy cattle, inbreeding, Mantiqueira type, REML methodology

Introdução

A criação do ecótipo Mantiqueira no Núcleo de Pesquisa Zootécnica Geraldo José Rodrigues Alckmin do Instituto de Zootecnia da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, do Estado de São Paulo (NPZGJRA/IZ/APTA/SAA-SP), foi iniciada por volta do ano de 1952, ao ser adquirido um grupo de aproximadamente 50 animais, oriundos de rebanhos dos Estados de Minas Gerais e São Paulo. Os animais desse ecótipo, originado a partir do cruzamento entre a raça Holandesa e o gado crioulo da região da Serra da Mantiqueira, apresentavam, segundo GUARAGNA (1986), características morfológicas bem definidas, boa produção de leite e adaptação às propriedades de baixo nível tecnológico.

Desde a formação do rebanho até o início da década de 70, procurou-se simplesmente aumentar o plantel, sem preocupação com acasalamentos endogâmicos. Nesse período, de modo análogo ao descrito por QUEIROZ et al. (2000), a endogamia era utilizada juntamente com a seleção, de modo a assegurar a uniformidade racial e fixação de certas características.

Somente em 1974, de acordo com GUARAGNA et al. (1984), foi elaborado um plano de acasalamento entre animais não aparentados, de modo a evitar taxas elevadas de endogamia. Como conseqüências dessas taxas elevadas, pode-se ter perda parcial do ganho genético obtido por seleção e a redução do valor médio fenotípico, evidenciado, principalmente, pelos caracteres relacionados à capacidade reprodutiva ou eficiência fisiológica, fenômeno este conhecido por depressão endogâmica (FALCONER e MACKEY, 1996 e WEIGEL e LIN, 2000). Além disso, segundo ALCALÁ et al. (1995), taxas de endogamia superiores a 10% podem ser perigosas, pois aumentam o número de locos em homozigose, evidenciando genes recessivos indesejáveis.

A endogamia, segundo OLIVEIRA et al. (1999), é um processo difícil de ser evitado em populações fechadas, particularmente naquelas na qual a seleção é praticada em apenas uma característica. Em estudos sobre endogamia em gado leiteiro, HUDSON e VAN VLECK (1984) mencionaram que sua ação pode reduzir a produção de leite e gordura, aumentar a taxa de mortalidade de bezerros, bem como influenciar adversamente na habilidade reprodutiva de novilhas e vacas. Tal fato também foi observado por SMITH et al. (1998), que relataram diminuições nas produções de leite, gordura e proteína de, respectivamente, 37,2, 1,2 e 1,2 kg para cada acréscimo de 1% de endogamia. Estes mesmos autores constataram aumentos de 5,0 e 3,3 dias, respectivamente, na idade ao primeiro parto e primeiro intervalo de partos, em taxas superiores a 12,5% de endogamia.

Decréscimos em características produtivas, para cada incremento de 1% na endogamia, foram também observados por WIGGANS et al. (1995), os quais verificaram reduções nas produções de leite, gordura e proteína, por lactação de, respectivamente, 29,6, 1,1 e 1,0 kg, para raça Holandesa, e de 21,3, 1,0 e 0,9 kg, para raça Jersey. Além disso, THOMPSON et al. (2000a) verificaram que níveis superiores a 10% de endogamia influenciaram significativamente a duração da lactação, reduzindo-a em até 8 dias.

Assim, objetivou-se com este estudo avaliar a freqüência de animais endogâmicos, a média de endogamia por geração, bem como o possível reflexo do aumento da endogamia em algumas características reprodutivas e produtivas do ecótipo Mantiqueira, mantido no NPZGJRA/IZ/APTA/SAA-SP.

 


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