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Efeito da suplementação de metionina sobre o desempenho e a avaliação de carcaças de frangos de cort (página 2)

E. A. García; A. A. Mendes; C. C. Pizzolante; N. Veiga; T. K. Mattos

 

4. Material e métodos

O experimento foi conduzido na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UNESP, Campus de Botucatu, no período de 19 de junho a 31 de julho de 1997. Foram utilizados 2000 pintos de um dia, da linhagem Ross, sexados e vacinados no incubatório contra as doenças de Marek e Bouba Aviária. As aves foram alojadas em galpão experimental e distribuídas em 40 boxes, com capacidade para 50 aves cada um, em uma densidade de 10 aves / m2.

Na fase pré-experimental, de 1 a 21 dias de idade, os pintos foram criados sob condições tradicionais de manejo, recebendo ração com 21% de proteína bruta e 3000 kcal/kg de energia metabolizável, sendo que os níveis dos demais nutrientes foram estabelecidos de acordo com Rostagno et al. (1992). No período 22 a 42 dias de idade, os frangos receberam dietas isoprotéicas e isocalóricas com 19% PB e 3150 kcal EM/kg, calculadas para atender às exigências nutricionais preconizadas por Rostagno et al. (1992), com exceção da metionina, cujos níveis foram de 100%, 110%, 120%, 130% e 140% das recomendações do NRC (1994), correspondentes a 0,38%; 0,42%; 0,46%; 0,50% e 0,54% de DL-metionina, respectivamente (Tabela 1).

 

Aos 22 dias, as aves foram pesadas individualmente e distribuídas nos diferentes tratamentos. Foram controlados o peso médio inicial, peso médio final, ganho de peso médio, consumo médio de ração, conversão alimentar e mortalidade. Os dados de temperatura foram registrados diariamente às oito horas, utilizando-se um termômetro de máxima e mínima instalado no interior do galpão. Para avaliação do rendimento de carcaça e cortes, retirou-se, aos 42 dias de idade, amostras ao acaso de quatro aves por boxe, sendo 16 por tratamento, as quais foram identificadas, individualmente, através de anéis numerados nas patas e submetidas a um jejum alimentar de oito horas, com água à vontade até o momento do carregamento.

As aves foram abatidas no abatedouro experimental de aves da FMVZ e as avaliações foram feitas com as carcaças não resfriadas em chiller. Para o cálculo de rendimento de carcaça, das partes e da percentagem de gordura abdominal, foi considerado o peso vivo obtido na plataforma de abate. Considerou-se como gordura abdominal aquela presente na região da cloaca e a aderida à moela.

Das aves utilizadas para a avaliação dos rendimentos de carcaça e das partes, retirou-se 4 aves por tratamento das quais foram separados filés do peito e da coxa, sem pele e sem gordura, colocados em saco plástico e armazenados em freezer para posterior análise da composição química. O material, após moagem, foi homogeneizado e amostras em duplicata foram retiradas para as determinações dos teores de umidade, proteína bruta, extrato etéreo e cinzas de acordo com a metodologia preconizada pela AOAC (1990).

O delineamento utilizado foi ao acaso, em esquema fatorial 2 x 5 (sexo e nível de metionina). Para a análise estatística dos resultados, foi utilizado o programa intitulado Sistema de Análise Estatística e Genética (SAEG), segundo Euclydes (1983), através do arranjo fatorial e interações entre sexo e níveis de metionina. Dentro do fator nível de metionina, foi analisada a decomposição dos graus de liberdade dos tratamentos em polinômios ortogonais até o terceiro grau (Cochran & Cox, 1957). Quando necessário, os pares de médias foram comparados pelo Teste de Tukey.

5. Resultados e discussão

Os resultados das médias de peso inicial, peso final, ganho de peso, consumo de ração, conversão alimentar e mortalidade, são apresentados na Tabela 2. O aumento do nível de metionina nas dietas não afetou (p>0,05) o desempenho dos machos e das fêmeas, sendo que interação entre o nível de metionina e o sexo das aves também não foi significativa (p>0,05).

Esses resultados são discordantes dos relatados da maioria das pesquisas, em que níveis mais altos de metionina e metionina + cistina influenciaram positivamente o ganho de peso, consumo de ração e a conversão alimentar (Jensen et al.,1989; Mendonça & Jensen, 1989; Schutte & Pack, 1995; Barboza et al., 1998; Pesti et al., 1999). Apesar de ter sido sugerido que machos e fêmeas apresentam diferenças nas exigências nutricionais (Smith et al., 1998; Albino et al., 1999), os resultados desse estudo indicaram que ambos os sexos responderam de maneira similar às mudanças nos níveis de metionina das rações experimentais, concordando com as observações de Gorman & Balnave (1995).

Pelo fato de a metionina regular o consumo, as exigências em metionina e aminoácidos sulfurados totais são maiores para a obtenção da eficiência máxima de utilização dos alimentos do que para otimizar o ganho de peso (Schutte & Pack, 1995). Por outro lado, o excesso de metionina prejudica o desempenho (Edmonds & Baker, 1987), provocando deaminação e excreção de nitrogênio, o que contribui para a excreção do primeiro aminoácido limitante, incrementando a sua exigência (Parr & Summers, 1991). Han & Baker (1993) observaram que níveis de metionina entre 1,0% e 4,0% acima do nível da dieta basal prejudicaram o ganho de peso, o consumo de ração e a eficiência alimentar. As respostas em ganho de peso, consumo de ração e eficiência alimentar aos excessos de aminoácidos dietéticos ocorrem mais em função do desequilíbrio dos aminoácidos do que pelos seus antagonismos (Edmonds & Baker 1987).

Os resultados referentes aos rendimentos de carcaça, das partes e gordura abdominal são apresentados na Tabela 3. Os níveis adicionais de metionina nas rações não influenciaram (p>0,05) os rendimentos de carcaça, peito, pernas, asas, dorso e gordura abdominal. Não houve interação significativa (p>0,05) entre o nível de metionina e sexo.

Os resultados da composição química da carcaça são apresentados na Tabela 4. Não foi encontrado efeito significativo (p>0,05) dos níveis de metionina, bem como da interação entre níveis de metionina e sexo para os teores de umidade, proteína, extrato etéreo e cinzas no peito e pernas. A ausência dos efeitos dos níveis adicionais de metionina, em relação ao nível recomendado pelo NRC (1994), sobre as características avaliadas nesse estudo, contrariam alguns resultados encontrados na literatura, nos quais os níveis mais altos aumentaram os rendimentos de carcaça e peito e reduziram a gordura abdominal (Jensen et al., 1989; Mendonça & Jensen, 1989; Hickling et al., 1990; Gorman & Balnave, 1995; Schutte & Pack, 1995; Silva et al., 1996; Silva et al., 1997; Albino et al., 1999). Jensen et al. (1989) conduziram dois experimentos com níveis de metionina + cistina de 0,72% (dieta basal), 0,78% e 0,84% e concluíram que o nível mínimo de 0,78% era necessário para o máximo crescimento no período de 21 a 42 dias. Esse resultado foi confirmado por Mendonça & Jensen (1989), que encontraram 0,80% de metionina + cistina na ração como sendo o nível que proporcionou um melhor ganho de peso e eficiência alimentar, bem como menor teor de gordura abdominal. Os autores sugeriram como inadequado o nível de 0,72% de metionina + cistina proposto pelo NRC (1984) para o período de 22 a 42 dias de idade. Barboza et al. (1998), determinando o requerimento de metionina + cistina dos 22 aos 42 dias de idade, verificaram que o aumento dos níveis na ração proporcionou melhorias no ganho de peso e na conversão alimentar e diminuição no consumo de ração, sugerindo como recomendação mínima 0,896% para os machos e 0,856% para as fêmeas.

Segundo o National Research Council (NRC, 1984), a exigência de metionina pode ser atendida exclusivamente pela metionina, enquanto a exigência em cistina pode ser suprida pela própria cistina ou pela metionina. Os níveis de metionina + cistina podem ser estabelecidos com base em que um mínimo de 50% dos aminoácidos sulfurosos devem ser supridos por metionina (Baker et al., 1996). Partindo deste mesmo raciocínio, Rostagno et al. (1992) relataram que exigência de metionina é de 0,39% para formulações de rações para frangos de corte machos ou mistos no período de 22 a 42 dias de idade. Para criação com separação de sexo, as exigências seriam de 0,40% para os machos e 0,38% para as fêmeas (Silva et al., 1996).

Tem sido relatado que as exigências de aminoácidos podem ser influenciadas pela idade da ave, teor de proteína na dieta, relação energia: proteína, sexo, genética e pelo balanço de aminoácidos. Nesse sentido, diferentes respostas podem ser obtidas nos rendimentos de carcaça e partes, bem como na composição química da carcaça (Mendes et al., 1993; Bartov & Plavnik, 1998; Gous et al., 1999). É possível que a ausência de efeito de níveis mais elevados de metionina sobre o desempenho, rendimento e composição química da carcaça esteja relacionada a um eventual desbalanço de aminoácidos, como relatado por (Edmonds & Baker, 1987), ou mesmo pelo fato de terem sido utilizados valores de tabela para a formulação das rações experimentais, considerando-se aminoácidos totais e não aminoácidos digestíveis.

Nesse estudo, a ausência de interação entre o nível de metionina e sexo para os parâmetros de rendimento de carcaça, partes, gordura abdominal e composição química da carcaça indicou que ambos os sexos responderam de maneira similar às exigências nutricionais de metionina, como verificado por Junqueira et al. (1998). Independentemente dos níveis adicionais de metionina, as fêmeas apresentaram maior percentual de gordura abdominal (p<0,05) do que os machos, concordando com os resultados encontrados por outros autores (Mendes et al., 1993; Mendes et al., 1995; Albino et al., 1999; Gous et al., 1999). Isso ocorre devido, principalmente, devido à existência de adipócitos de maior tamanho em fêmeas e pelo metabolismo mais acelerado dos machos (Mendes et al., 1995).

Os teores médios de extrato etéreo encontrados no peito e pernas foram 1,2% e 6,5%, respectivamente. De acordo com Vieira (1999), carnes de peito têm teor muito baixo de gordura devido à reduzida necessidade de estocar energia nestes músculos. Entretanto, os depósitos de gordura sub-cutâneos, na cavidade abdominal e nas sobrecoxas são bastante acentuados, caracterizando regiões onde a reserva de energia é importante para o isolamento térmico e para facilitar as atividades físicas de longa duração.

6. Conclusões

O aumento do nível de metionina na dieta no período de 22 a 42 dias de idade não afetou o desempenho e os rendimentos de carcaça, cortes principais e secundários, gordura abdominal e composição química da carcaça, para ambos os sexos, sugerindo que o nível de 0,38% recomendado pelo NRC (1994) é adequado.

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Observações / Notes

Este artigo é parte da tese de Doutorado do primeiro autor junto ao Curso de Pós-Graduação em Zootecnia da FMVZ/UNESP, Botucatu, SP.

Agradecemos a Fapesp pela concessão de auxílio financeiro para execução do projeto (Processo N° 96/9687-1).

Whitaker HMA1 Mendes AA2 Garcia EA2 Roça RO3 Varolli Jr JC4 Saldanha EPB5 - arielmendes[arroba]fca.unesp.br

1Profª da Faculdade de Agronomia Luis Meneghel, Bandeirantes

2Profº do DPEA-FMVZ/UNESP, Botucatu

3Profº da Faculdade de Ciências Agronômicas/ UNESP, Botucatu

4Profº da Universidade São Marcos, São Paulo

5Pesquisador Científico do Instituto de Zootecnia de Nova Odessa , Brotas.



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