Efeito da suplementação de selênio e vitamina E sobre a incidência de mastite clínica em vacas da raça holandesa

Enviado por M. A. Zanetti


Artigo original: "Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., Jun 2003, vol.55, no.3, p.249-255. ISSN 0102-0935"

1. Resumo

Oitenta e quatro vacas da raça holandesa foram distribuídas em quatro tratamentos (grupos): o grupo A recebeu 5mg Se/dia, o B recebeu 1000 UI vit. E/dia, o C 5mg Se + 1000 UI vit. E/dia e o D foi usado como controle. A suplementação foi iniciada 30 dias antes da provável data de parição, prolongando-se até o parto. Amostras do volumoso e do concentrado foram colhidas quinzenalmente para análise bromatológica completa e levantamento dos níveis de Se e de vit. E. O sangue foi colhido antes do início da suplementação, ao parto, aos 30 e aos 60 dias após o parto para determinação dos níveis de Se no soro sangüíneo das vacas. O teste de Tamis foi realizado semanalmente para detecção dos casos clínicos de mastite e iniciado logo após o parto, prolongando-se até a 12ª semana da lactação. Um mês após a suplementação, as vacas que receberam selênio apresentaram níveis séricos de Se superiores (P<0,05) aos do grupo-controle. A administração de vitamina E (P<0,05) e de selênio (P<0,08) diminuiu a incidência de mastite clínica nas 12 primeiras semanas de lactação.

Palavras-chave: antioxidante, pré-parto, qualidade do leite, suplementação oral

2. Abstract

Eighty four Holstein cows were randomly allotted to four groups: group A was supplemented with 5mg Se/day, group B with 1000 IU vitamin E/day, group C with 5mg Se/day+1000 IU vitamin E/day and D was used as a control. The supplementation period started 30 days prior to probable parturition date and ended at parturition. Forage and concentrate samples were taken every 15 days for chemical, selenium and vitamin E analyses. Blood samples were taken before starting supplementation, at parturition, and at 30 and 60 days after parturition to determine the selenium serum levels. Tamis test was weekly done to detect clinical mastitis. Selenium supplemented cows had higher serum selenium concentration in comparison to the control group (P<0.05). The vitamin E (P<0.05) as well as selenium supplementation (P<0.08) decreased the incidence of clinical mastitis during the first 12 weeks of the lactation period.

Keywords: antioxidant, milk quality, oral supplementation, prepartum, clinical mastitis

3. Introdução

Os efeitos favoráveis do selênio (Se) e da vitamina E (vit. E) nos mecanismos de defesa do úbere vêm sendo estudados nos últimos anos, mas poucos são os trabalhos desenvolvidos no Brasil. A vit. E é o mais importante antioxidante lipossolúvel. Está inserida nas membranas lipídicas e as protege contra o ataque de radicais superóxido (Combs, Combs, 1986). O Se, micronutriente essencial presente nos tecidos do corpo, constitui parte integrante da enzima glutationa peroxidase que atua no citosol celular convertendo peróxido de hidrogênio (composto tóxico) em H2O + O2 (Combs, Combs, 1986).

Um problema de fundamental importância diz respeito à influência do Se e da vit. E na incidência de mastite, principal afecção dos animais destinados à produção leiteira (Langoni, 2000). As mastites são causadas por muitos microrganismos (Langoni, 1999). Na literatura são citados 137 agentes envolvidos em sua etiologia (Watts, 1998), entretanto, as de origem bacteriana são as mais freqüentes (Costa et al., 1995a; Langoni et al., 1998). No Brasil a incidência de mastites é alta, acometendo 71% das vacas em rebanhos de Minas Gerais e São Paulo (Costa et al., 1995b; Costa et al., 1999).

O primeiro estudo sobre o efeito do Se e da vit. E na incidência de mastite clínica foi feito por Smith et al. (1984). Os autores verificaram diminuição de 37% na incidência de mastite clínica em vacas que receberam suplementação de 740UI de vitamina E por dia, durante o período seco.

Resultados bastante satisfatórios foram obtidos quando se estudou o efeito da suplementação de Se (0,3 ppm Se/dia) e da vit. E (1000 UI/dia) em novilhas. A suplementação iniciou-se 60 dias antes do parto e prosseguiu durante toda a lactação. No grupo tratado houve diminuição dos casos de mastite clínica e diminuição na contagem de células somáticas (CCS) em relação ao grupo não suplementado (Smith et al., 1985).

Monitoramento realizado em nove fazendas no Estado de Ohio, durante um ano, avaliou a relação entre contagem de células somáticas (CCS) no leite e consumo de selênio e vitamina E. Verificou-se que o consumo de Se variou de 1 a 16mg/dia e de vit. E de 100 a 900mg/dia. A suplementação de Se em níveis crescentes (recomenda-se até 5mg/ dia) aumentou significativamente a concentração de Se no sangue e diminuiu a incidência de mastite clínica e a CCS. A suplementação de vit. E em níveis crescentes aumentou a concentração de alfa tocoferol no sangue (mais significativo em vacas secas) e diminuiu a incidência de mastite clínica (Weiss et al., 1990).

Weiss et al. (1997) realizaram experimento para avaliar o efeito da administração de vários níveis de vit. E em dietas com baixos níveis de Se. Constatou-se que o fornecimento de 2.000 UI de vit. E/ dia resultou em diminuição na incidência de mastite clínica de 25% para 2,6%.

Zanetti et al. (1998) concluíram que a suplementação oral com 5mg de Se no último mês de gestação aumentou significativamente o nível sérico do mineral nas vacas leiteiras, reduzindo a incidência de mastite subclínica diagnosticada pelo CMT. Os bezerros filhos de vacas suplementadas apresentaram níveis séricos de Se 66% superiores aos de bezerros filhos de vacas não suplementadas.

Segundo Costa et al. (1997), não houve diferença significativa entre o grupo tratado com Se (0.1mg/kg MS) e o grupo-controle (sem suplementação) quanto à incidência de mastite clínica (diagnosticada pela prova de Tamis), mastite subclínica (diagnosticada pelo CMT) e infecções intramamárias.

Valle (2000) trabalhou com 77 vacas suplementadas com diferentes níveis de vit. E e constatou maior incidência de mastite clínica nas vacas do grupo-controle em relação às dos grupos suplementados. Não foi observada diferença entre grupos quanto à mastite subclínica.


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