Os estudantes de ciências sociais

Enviado por Simon Schwartzman


Publicado em Elina G. da Fonte Pessanha e Glaucia Villas Bôas, Ciências Sociais - Ensino e Pesquisa na Graduação. J. C. Editora, 1995, pp. 55-82.

Durante o primeiro semestre de 1991 o Núcleo de Pesquisas sobre Ensino Superior da Universidade de São Paulo entrevistou cerca de três mil pessoas, entre ex-alunos e alunos de graduação e pós-graduação da USP, com o objetivo de conhecer suas trajetórias universitárias e educacionais. Este trabalho tem por objetivo apresentar, de forma sumária, os principais resultados relacionados para o curso de Ciências Sociais.(1)

CARACTERÍSTICAS SOCIAIS E DEMOGRÁFICAS

1. Os estudantes de Ciências Sociais da USP têm origem social elevada e são, em sua maioria, do sexo feminino.

 

Os estudantes de Ciências Sociais da USP, como os demais estudantes desta universidade, vêm de famílias de nível educacional elevado. Do total de 414 entrevistados, entre ingressantes do ano de 1991 e formados entre 1980 e 1991, 43,2% tinham pai com educação superior, e 32,9% com educação secundária completa. A educação do pai é, sabidamente, um dos melhores indicadores de condição sócio-econômica das pessoas.

Em relação ao sexo, 62% do total de entrevistados são mulheres. A proporção de mulheres é máxima entre os que se formaram em cursos diurnos (76,1%), e menor entre os ingressantes para o curso noturno em 1991 (40,3%).

2. Os estudantes do curso noturno têm origem social relativamente menos privilegiada, são mais velhos, e com uma proporção maior de homens. Em sua maioria, os alunos dos cursos noturnos trabalham, e os de cursos diurnos não.

Existem diferenças bastante significativas entre alunos de curso diurno e os de curso noturno: o nível educacional dos pais, e conseqüentemente as condições sócio-econômicas dos alunos de curso noturno são sensivelmente inferiores aos do diurno. Essa diferença aparece também no fato de que só urna quarta parte dos alunos dos cursos diurnos terminou o segundo ciclo em escolas públicas, enquanto que esta proporção chega a 50% entre os alunos dos cursos noturnos. Outro dado significativo é a proporção dos que trabalham em cada um dos turnos.

QUADRO 1 - COM QUE RECURSOS VOCÊ SE SUSTENTA? (RESPOSTAS MÚLTIPLAS)

Diurno

Noturno

Total

Recursos dos país ou da família

83,1%

48,7%

66,9%

Recursos do cônjuge

2,4%

0

1,3%

Bolsa de estudo, de trabalho ou estágio

3,6%

5,2%

4,4%

Trabalho remunerado

31,3%

64,5%

46.9%

Recursos próprios herança, outras rendas)

6,0%

3,9%

5,0%

Outras diferenças importantes entre alunos de cursos noturno e diurno são o sexo e a idade em que entram na Faculdade. Os alunos de curso diurno entram mais jovens, com cerca de 21 anos em média, e são predominantemente mulheres; os do curso noturno entram mais velhos, próximos dos 24 anos, e são predominantemente homens.

3. Comparados com os alunos ingressantes, a maioria dos formados é composta por mulheres jovens, que estudaram de dia e entraram no curso relativamente jovens, e oriundas de famílias mais educadas. Homens mais velhos. de famílias menos educadas e que estudam à noite têm menos chance de se formar.

Comparações entre os ingressantes em 1991 e os formados nos últimos 10 anos, nesta pesquisa, devem ser feitas com cuidado, já que a rigor estes últimos deveriam ser comparados com as suas próprias turmas de origem. Existem, além disto, problemas de perda de informação na amostra dos formados, que podem deformar os resultados. De qualquer forma, os dados sugerem que concluir o curso de Ciências Sociais é mais difícil, ou interessa menos, a homens mais velhos que têm que trabalhar durante o dia do que a mulheres mais jovens e com menos restrições de trabalho. Pode-se notar ainda que mais de 20% dos formados nos cursos diurnos não trabalham, em contraste com menos de 4% para os demais. Isto sugere que não trabalhar não significa sempre falta de oportunidades, mas a falta de necessidade, para este grupo específico.

O Quadro 2 resume as principais informações sobre as características gerais dos estudantes dc Ciências Sociais.

QUADRO 2 - DIFERENÇAS SOCIAIS E DEMOGRÁFICAS
ENTRE ALUNOS DE CURSOS NOTURNOS E DIURNOS

Ingressantes

FORMADOS

Diurno

Noturno

Total

Diurno

Noturno

Ambos

Total

% de homens

34,9%

59.7%

46,9%

23.9%

46.3%

37.3%

32,4%

Idade média ao iniciar o curso

21,2

23,7

22,4

21,1

21,7

21,1

21,3

% que veio de escola secundária pública

27,7%

42,9%

35,0%

26,9%

56,1%

49,0%

39,1%

% com pai com educação superior completa

49,4%

29,9%

40.0%

50,4%

35,8%

44.0%

44,9%

% que trabalham

30,1%

76,6%

52.5%

78.9%

96.9%

96,0%

87.2%

ESTRATÉGIAS DE ESTUDO E CARREIRA

O que faz com que um aluno se decida a estudar Ciências Sociais na USP? O que pretende, quando vem à universidade? Que perspectivas tem de continuar, ou interromper seus estudos?

4. Quase a metade dos ingressantes nos cursos de Ciências Sociais da USP já entra com a perspectiva de não chegar até o final do curso, e mais da metade já tem outro diploma ou está seguindo outro curso.

Dos 200 aprovados para as Ciências Sociais em 1991, somente 160 responderam aos questionários da pesquisa. Dentre os 40 que não responderam, a maioria não havia se matriculado, ou não estava fazendo o curso por alguma outra razão. Dos 160 entrevistados, somente 115 afirmavam a disposição de terminar o curso. Em outras palavras, a perda antes do final do primeiro semestre do primeiro ano de curso já era da ordem de 42,5% ((200-115)/200).

Entre os formados, 18,3% dos entrevistados tinham um outro diploma além do de Ciências Sociais. Comparando com a proporção de ingressantes que fazem outros cursos, de mais de 50%, fica a suspeita de que muitos dos que fazem mais de um curso terminam por não completar o curso de Ciências Sociais. Para os que pretendem continuar, a intenção a médio prazo é basicamente a de combinar com outro curso ou seguir para a pós-graduação:

QUADRO 3 - SE VOCÊ PRETENDE CONTINUAR NESSE CURSO,
SUA INTENÇÃO É (RESPOSTA ÚNICA)

Diurno

Noturno

Total

Obter o bacharelado e se profissionalizar nesta área

10%

8%

9%

Obter licenciatura e se dedicar ao magistério

3%

2%

3%

Obter bacharelado e licenciatura

7%

11%

9%

Concluir este curso e complementar sua formação com outro curso (e diploma) superior

33%

30%

32%

Concluir este curso a fazer uma pós-graduação

52%

57%

54%

Total (100%)

(60)

(53)

(113)

De fato, entre os 257 egressos de Ciências Sociais entrevistados, 32% iniciaram algum tipo de pós-graduação; como esta amostra excluiu os que estavam matriculados na pós-graduação em Sociologia, que foram objeto de um estudo específico, esta proporção deve ser ainda maior.

5. As razões que levam à escolha do curso são baseadas em uma combinação de idéias abstratas sobre vocação e desenvolvimento intelectual, o prestígio da universidade, a conveniência de cursos noturnos, e muito pouca informação.

O alto grau de incerteza quanto ao futuro aparece com clareza quando se pergunta sobre as razões que levam os estudantes a seguirem Ciências Sociais, e, mais especificamente, na Universidade de São Paulo. Os dados revelam que os estudantes de Ciências Sociais não procuram este curso por razões profissionais claras, mas buscam "cultura geral" ou "vocação"; não há muitas diferenças, quanto a isto, entre os alunos dos cursos noturnos ou diurnos.

 


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