Influência da dieta aniônica no balanço macromineral em novilhos holandeses

Enviado por M. A. Zanetti


Artigo original: "Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., Jun 2002, vol.54, no.3, p.283-289. ISSN 0102-0935"

1. Resumo

O efeito do balanço cátion-aniônico da dieta (BCAD) no balanço macromineral (Ca e P), no pH urinário e fecal, na concentração sérica de cálcio ionizado e total e na ingestão de matéria seca foi estudado utilizando-se quatro novilhos holandeses machos. Inicialmente os animais foram alimentados com dieta basal com BCAD de +74,12mEq/kg de MS e, posteriormente, com dieta suplementada com sulfato de amônio, de maneira a diminuir o BCAD para –154,84mEq/kg de MS. Não foram encontradas diferenças (P>0,05) no pH fecal, no balanço de fósforo e na concentração de cálcio ionizado em função do tempo. A urina acidificou-se com a diminuição do BCAD (P<0,01). Para o balanço de cálcio não foram encontradas diferenças entre tratamentos (P>0,05), entretanto, o cálcio excretado na urina foi maior (P<0,05), com a dieta aniônica. A concentração de cálcio total no soro aumentou significativamente (P<0,05) a partir do 19º dia. Dieta aniônica com uso de sulfato de amônio, em veículo palatável, oferecida na forma de ração total, não interferiu na ingestão de matéria seca. O pH urinário é excelente indicativo da eficiência da dieta aniônica e foram necessários 19 dias de consumo de uma dieta aniônica de –154,84 mEq/kg de MS para aumentar os níveis séricos de cálcio total em bovinos em crescimento.

Palavras-chave: Bovino, BCAD, cálcio, fósforo, ingestão de matéria seca, pH

2. Abstract

The dietary cation-anion balance (DCAB) effect on the macromineral (Ca and P) balance, urinary and fecal pH, blood concentration of ionic and total calcium, as well as on the dry matter intake, was studied in four Holstein steers. Initially the animals were fed on a basal diet with +74.12 mEq/kg DM of DCAB. Further the diets were supplemented with ammonia sulfate to decrease the DCAB at the level of –154.84 mEq/kg DM. There were no differences (P>0.05) on fecal pH, phosphorus balance, as well as on ionic calcium concentration in function of time. The urine pH reduced significantly with the decrease of DCAB (P<0.01). No treatment differences (P>0.05) were observed for calcium balance, however, in the urine the calcium was higher for anionic diet. The serum total calcium concentration increased significantly (P<0.05) from the 19th day. Therefore, anionic diets with ammonia sulfate, offered in total mixed ration form had no effect in the DM ingestion. Besides, the urinary pH is an excellent indicative of the anionic diet efficacy and it took 19 days for an anionic diet of –154.84 mEq/kg DM to raise the total seric calcium levels in Holstein steers.

Keywords: Steer, DCAB, calcium, phosphorus, dry matter intake, pH

3. Introdução

A homeostase ácido-base é de fundamental importância em qualquer espécie animal de interesse zootécnico (Miles & Butcher, 1993). A concentração de íons hidrogênio nos fluidos corporais é a mais cuidadosa função reguladora do corpo. Pequenas modificações nessa concentração podem causar alterações na velocidade das reações químicas das células (Guyton,1988). Segundo Kronfeld, citado por Fauchon et al. (1995), o equilíbrio ácido-base tem prioridade fisiológica no crescimento, lactação ou reprodução.

O balanço cátion-aniônico dietético (BCAD) representa a diferença entre os cátions e os ânions fixos totais. O BCAD, apesar de já usado na formulação de dietas para aves, tem uso relativamente recente na nutrição de ruminantes, em geral na prevenção da paresia puerperal em vacas. Poucos são os estudos relacionando o BCAD na nutrição de ruminantes em crescimento.

A principal ação do BCAD é atuar na regulação do equilíbrio ácido-base, apesar de não ser o único efeito na fisiologia do animal. Outras funções podem ser creditadas ao balanço cátion-aniônico, como por exemplo a manutenção da integridade osmótica, a relação com reações enzimáticas e a condução de impulsos nervosos, entre outras (Wheeler, 1980). As dietas aniônicas provocam acidose metabólica, sendo então acidogênicas. Quando existe predomínio de ânions a serem absorvidos no intestino grosso, o ânion é trocado pelo bicarbonato (HCO3-), com isso há perda de bicarbonato fecal e conseqüentemente diminuição da atividade do sistema tampão, que gera aumento de íons H+. Esses estados podem ser manipulados por meio do BCAD, interferindo no metabolismo de cálcio (Block, 1994).

A manutenção da calcemia nos animais envolve processos desde a absorção intestinal até a eliminação renal desse íon. Nesse processo inclui-se a participação de hormônios como o da paratireóide (PTH), a calcitonina (CT) e o 1,25 dihidroxicolicalciferol (1,25(OH)2D3). Em ruminantes, o tipo mais comum de distúrbio na homeostase do cálcio diz respeito à hipocalcemia associada ao parto. A hipocalcemia, segundo Tanor (1998), pode estar relacionada com cetose, deslocamento de abomaso, mastite e retenção de placenta.

A prevenção é a forma mais desejável de reduzir as perdas econômicas oriundas da paresia puerperal. Dentre os vários métodos de prevenção pode-se destacar a manipulação do BCAD. Segundo Sanchez (1995), o BCAD deve ir de -100 a -200 mEq/kg de MS para que possa prevenir de forma eficiente a paresia do parto. O aumento do cálcio sangüíneo oriundo da diminuição do BCAD pode ocorrer em função de alterações na absorção intestinal do cálcio e na função renal e pela maior mobilização óssea, interferindo no balanço de cálcio, tanto na absorção aparente quanto na sua retenção. Para Byers (1994), a alimentação com dieta aniônica deveria ser utilizada entre três a cinco semanas antes do parto. Segundo Leclerc & Block (1989), como existe relação entre cálcio e fósforo nos ossos, quando vacas são alimentadas com dieta aniônica ocorre mobilização óssea de fósforo.

O uso de dietas com BCAD negativo, apesar de ser eficiente na prevenção da hipocalcemia, apresenta uma série de problemas. Uma das dificuldades é o próprio cálculo do BCAD. As tabelas de composição de alimentos não contemplam todos os alimentos e muitas vezes não refletem a realidade. A análise de laboratório, além de representar custo extra, é difícil de ser realizada. Outra é a do monitoramento do pH urinário, que deve tornar-se ácido. A dieta aniônica não tem sido recomendada por muitos técnicos vinculados à nutrição animal por acreditarem que sua utilização acarrete queda na ingestão de matéria seca. Segundo o NRC (1989), a maior parte dos alimentos utilizados no arraçoamento bovino possui BCAD positivo. Para diminuir o BCAD da dieta deve-se fazer uso de sais aniônicos. Um sal é considerado acidogênico se o ânion for absorvido preferencialmente ao cátion (Goff et al., 1991).

O presente trabalho teve por objetivo verificar os efeitos de uma dieta aniônica sobre a ingestão de matéria seca, pH urinário, pH fecal, cálcio total no soro, cálcio ionizado no soro e fazer um estudo sistêmico no metabolismo do cálcio e fósforo, em bovinos em crescimento.


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