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A mediacao dos meios tecnológicos comunicativos (página 2)

Carlos Alberto Souza, Fábio da Purificação de Bastos, José André Peres Ango

 

Reconhecendo o trânsito dos alunos pelos MTC

Temos percebido que o professor, em geral, tem maior dificuldade de se apropriar dos MTC, do que os alunos. Em nenhum momento da história da educação, tivemos uma assimetria em favor dos alunos como neste. Atualmente, a simetria está mais pendendo para os alunos, em especial os filhos das classes médias, com computadores em rede nas casas. Esta oportunidade histórica nos incentiva e responsabiliza, criando expectativas para transformar as práticas escolares. O professor sempre esteve em vantagem, pois independente de sua concepção educacional, não podemos negar sua compreensão dos conhecimentos necessários. Por mais que um aluno conheça determinado assunto, o professor já o estudou, se preparou para a aula, resolveu um grande número de problemas, tem maior experiência, etc. Quando se trata dos MTC, a situação se modifica completamente, pois os alunos trazem informações e levantam questionamentos que, não raro, ainda não vivemos.

Podemos dizer que nos sentimos mais inseguros quanto ao nosso conhecimento ao tratarmos dos MTC. Para exemplificar, apontamos as questões relacionadas sobre os sistemas operacionais mais conhecidos; as vantagens e desvantagens em utilizar um ou outro; linguagens de programação orientadas a objetos.

Diferentes autores apontam para a mudança de postura por parte dos envolvidos a partir da utilização dos MTC. Em estudo sobre o uso educativo dos MTC, Kenski (1996), ressalta os caráteres multimídias como o som, imagem e cor para a aprendizagem de nossos alunos. Longe do espaço monótono, monofônico e monocromático que a escola pode oferecer. Os MTC são fundamentais para o estímulo de capacidades, que compõem a inteligência global, tendo em vista o conhecimento: imagem, som, movimento, linguagem falada e escrita.

Alguns problemas - aliás, velhos - são apontados por nós educadores: número excessivo de alunos, quantidade de aulas do professor, número de turmas em que leciona, programa de CNMT, falta de participação e cumprimento das tarefas pelos alunos, número reduzido de aulas semanais da disciplina de Física, etc. Mas, parece que, não temos dado a devida atenção a eles. Pois convivemos com estes problemas e pouco fazemos pela sua solução. Talvez, porque alguns estejam ou pareçam estar fora do alcance do professor.

Podemos consolidar e gerar mudanças pedagógicas?

A curiosidade nos move, nos inquieta e nos insere na busca. Por isso, também os MTC se justificam, pois permitem dinamicidade no processo. Quanto de curiosidade temos permitido aos nossos alunos? Consideramos as tarefas - que nas escolas chamam de pesquisas - que fazem, copiando páginas de livros - agora da rede - sem conhecer seu real conteúdo, como sendo um incentivo à curiosidade. Será isto educativo para nossos alunos? Será que neste processo ‘curioso’, o aluno consulta também dicionários, computadores, livros, pessoas? Ou ele apenas cumpre uma tarefa para conseguir nota, desprovido de total interesse pela aprendizagem e pelo conhecimento? Quem se atreve a negar o enorme potencial de estímulos e desafios à curiosidade que a tecnologia põe a serviço das crianças e dos adolescentes? Ressaltamos que diferentemente dos jogos tipo Mortal Kombat, Doom, Duke Nukem, Postal, Requiem e Blood - alguns jogos de computadores que chegam às crianças, são altamente desafiantes. Atualmente, o Counter Strike é de longe o jogo mais popular. Você escolhe entre ser policial ou terrorista, comprar armas e criar estratégias para destruir o inimigo. Os cenários são variados, desde uma cidade asteca até um galpão em uma megalópole. Mesmo podendo trocar mensagens eletronicamente, verificamos inúmeros gritos e provocações entre os participantes.

Das críticas sobre estes jogos, por exemplo: "estimulam a violência, isolam e alienam os jovens, apresentam sintomas de dependentes de drogas", também há quem apresente contribuições, como: "desenvolve a capacidade para trabalhar em equipe, melhora a percepção visual e espacial, o raciocínio lógico e estratégico".

Como educadores, poderíamos nos questionar: porque os alunos passam horas ‘estudando’ regras e estratégias do referido jogo e não se interessam pelas aulas? O que exatamente é atrativo a ponto de ‘mergulharem’ profundamente nesse aprendizado? O que faz com que fiquem horas exercendo a mesma atividade? O que poderíamos transpor dos jogos para as nossas aulas? Como tornar as aulas desafiadoras para os alunos? De que forma as tecnologias modernas poderiam contribuir com a aprendizagem, estimulando, não somente os alunos, mas também nós professores? Estas considerações nos fazem acreditar que os MTC podem ser utilizados em proveito de um novo encantamento na escola, com múltiplas e diferenciadas possibilidades de ações. As críticas aos MTC nas escolas dificilmente ultrapassam o senso comum. O primeiro passo é reconhecer que, como educadores, pouco sabemos sobre os mesmos. Isto também é motivo para que ingressemos no estudo sistemático da apropriação e discussão crítica dos MTC em sala de aula.

A sala de aula já começou, ainda que lentamente, segundo Angotti (1999) a viver algumas possibilidades de ensino-aprendizagem com auxílio de multimeios, com destaque para os vídeos - por exemplo, a série Galáctica: Enciclopédia Britannica - e computadores/redes. Além das temáticas específicas discutidas, podem enriquecer com as teorias/conceitos científicos que lhes dão suporte.

Sem deixar de mencionar os cd-rom e as redes que proporcionam desenvolver diferentes e ricas atividades de simulações. Logo, devemos incorporar as multimídias em nossas aulas, ampliando os horizontes de possibilidades didático-pedagógicas.

Trazer o audiovisual para o domínio da educação é uma necessidade, tanto pelo fato de sua centralidade no domínio do pensar e sentir humanos, quanto pela sua constante presença no mundo contemporâneo, moldando novas formas de apreensão da realidade. O fato das novas gerações conhecerem o mundo, majoritariamente, por vias audiovisuais já é uma justificativa razoável.

Algumas considerações

Estamos convictos de que os MTC na prática pedagógica somente amplia os horizontes e força a mudança da prática escolar. Principalmente, quando acompanhada de critérios, como a concepção escolar-investigativa. Da mesma forma, acreditamos que fortalece o papel pedagógico do professor, favorecendo a construção de conhecimentos escolares por parte dos alunos. Práticas IV ENCONTRO IBERO-AMERICANO DE COLETIVOS ESCOLARES E REDES DE PROFESSORES QUE FAZEM INVESTIGAÇÃO NA SUA ESCOLA pedagógicas que, na escola brasileira, em ambiente de comunicação e aprendizagem constante, poderão contribuir para minimizar, ainda mais, a educação bancária, de memorização, indo ao encontro do que Freire (1985) tem denominado de educação dialógica, por isso, significativa e emancipatória.

Acreditamos que não podemos propor soluções se não estivermos investigando durante a ação. Por isso, desenvolvemos o programa TEIA e AMEM, incorporando e ampliando as possibilidades didático-metodológicas no processo de ensino-investigação-aprendizagem, tornando mais efetiva a mediação dos MTC em sala de aula.

A formação inicial dos professores ainda carece da utilização dos MTC. Se os cursos possuem uma dívida na formação inicial dos alunos, que ainda não concluíram a graduação, o que podemos dizer dos seus egressos? Nesta perspectiva, observamos que os currículos precisam avançar, pois a maioria dos docentes formadores de professores ainda não incorporou os MTC em suas práticas cotidianas. São raras as iniciativas no sentido de garantir que o futuro professor construa estratégias didático-metodológicas para a prática escolar com o aluno, o computador, o vídeo, a internet e trabalhe com softwares educativos. Enfim, é possível afirmar que "presos às formas tradicionais de interação face a face, na sala de aula real, os cursos de formação ainda não sabem como preparar os professores que vão exercer o magistério nas próximas duas décadas" (BRASIL, 2001, p. 19).

Bachelardianamente falando, em nome dos pré-requisitos deixam de abordar e aprofundar determinados conhecimentos com vínculo ao cotidiano, logo mais modernos. Isto para manter a linearidade dos antigos planos de ensino. Por outro lado, é preciso atenção, pois a atualização não deve representar um trabalho artificial nem um empobrecimento cognitivo. Mas um aprofundamento nas questões científico-tecnológicas, provocando mudanças pedagógicas.

Consideramos, como Carr (1990), que a mudança educacional está diretamente relacionada ao desenvolvimento profissional dos docentes. A formação de professores em instituições que não valorizam a prática investigativa reforça a visão dicotômica entre teoria e prática e distancia os sujeitos em formação da possibilidade de considerar que sua prática escolar requer investigação. A familiaridade com, os procedimentos de investigação, processo histórico de produção e disseminação de conhecimento é, quando muito, apenas um item a mais em alguma disciplina teórica, sem admitir sua relevância para os futuros professores. Essa carência os priva de um elemento fundamental para a compreensão da processualidade de produção e apropriação de conhecimento e da provisoriedade das certezas científicas.

Referências

  • AMEM - Ambiente Multimídia de Educação Monitorada na perspectiva da investigação-ação. Coord. F. M. Müller, UFSM/FAPERGS, Porto Alegre, 2000.
  • ANGOTTI, J. A. P. Ensino de Ciências e Complexidade. In: ABRAPEC - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS PESQUISADORES DO ENSINO DE CIÊNCIAS, 2, Águas de Lindóia, SP, 1999. Anais do II ABRAPEC. São Paulo:Editora, 1999.
  • ATAS da VIII Escola de Investigação-Ação Escolar. Camboriú/SC, 2003.
  • BACHELARD, G. A Formação do Espírito Científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Tradução Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996. 314p. Título Original: La formation de l'esprit scientifique: contribution a une psychanalyse de la connaissance.
  • BELLONI, M. L. Tecnologia e Formação de Professores: rumo a uma pedagogia pós-moderna? Revista Educação e Sociedade. n. 65, 1998.
  • IV ENCONTRO IBERO-AMERICANO DE COLETIVOS ESCOLARES E REDES DE PROFESSORES QUE FAZEM INVESTIGAÇÃO NA SUA ESCOLA BRASIL. Sociedade da Informação no Brasil. Educação na Sociedade da Informação. Livro Verde, cap. 4, 2000. Disponível em: <http://www.socinfo.org.br/livro_verde/capitulo_4.htm >. Acessado em: 04/11/2000.
  • BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio: ciências da natureza, matemática e suas tecnologias. Brasília, 1999a, 114p. www.mec.gov.br <http://www.mec.gov.br/> CARR, W. Cambio educativo e desarrollo profesional. Investigación en la Escuela, Sevilla, n. 11, p. 3-11, 1990.
  • CARVALHO, A. M. P. et al. Termodinâmica: um ensino por investigação. São Paulo: FEUSP, 1999, 123p.
  • FREIRE, P. Pedagogia do Oprim. 14a. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
  • KENSKI, V. M. O Ensino e os Recursos Didáticos em uma Sociedade Cheia de Tecnologias. In: VEIGA, I, P. A. (org.) Didática: o ensino e suas relações. Campinas: Papirus, 1996, p. 127- 147.
  • KOMATSU, R. S.; ZANOLLI, M. B.; LIMA, V. V. Aprendizagem Baseada em Problemas. In: Educação Média. Coordenadores Eduardo Marcondes e Ernesto Lima Gonçalves. São Paulo: Sarvier, 1998.
  • MEIRIEU, Philippe. Aprender ... sim, mas como?... 7ª ed. Porto Alegre: ArtMed, 1998.
  • SOUZA, C. A., DE BASTOS, F. P., ANGOTTI, J. A. P. Redes e formação inicial dos professores em ciências naturais e tecnologia. Marco Antonio Moreira, Ileana Maria Greca e Sayonara Cabral da Costa (Orgs.). Atas do III Encontro de Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências. São Paulo: SBF, 7-10/11/2001. (CD-Rom).

 

Carlos Alberto Souza (carlosal[arroba]ced.ufsc.br)
Fábio da Purificação de Bastos (
fbastos[arroba]ce.ufsm.br)
José André Peres Angotti (angotti[arroba]ced.ufsc.br )



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