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Níveis de fósforo para caprinos: perda endógena fecal e exigência líquida para mantença (página 2)

Mauro Sartori Bueno, Eduardo Antonio da Cunha, Luis Eduardo dos Santos

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tabela 3 mostra os dados de consumo e excreção do P, eficiência de absorção e balanço de P, assim como os teores de P no plasma e na saliva dos animais submetidos a níveis crescentes de P na dieta. Não foi detectada diferença significativa entre períodos (P>0,05) em nenhuna das variáveis estudadas.

 A quantidade de P consumida aumentou consideravelmente com a suplementação crescente de fosfato bicálcico. Os animais sem suplementação fosfórica ingeriram pequena quantidade de P e isso foi devido aos baixos teores de P presentes na dieta (Tabela 2). O National Research Council (1981) preconiza o valor de 1,4 g de P/animal/dia para caprinos em mantença apenas e em condições de estabulação total e atividade física mínima. Desta maneira, as quantidades de P consumidas diariamente podem ser consideradas como insuficiente, adequada, e elevada, para os animais que não receberam suplementação ou receberam um ou dois g de P/dia, respectivamente.

A relação cálcio:fósforo dos tratamentos, apesar de mais elevada para os animais sem suplementação fosfórica, encontra-se dentro dos valores considerados normais para ruminantes (Salviano, 1996).

A quantidade diária de P excretado nas fezes (Y) apresentou efeito linear positivo (P<0,01) com o P consumido (X), expressa pela equação Y = 19,67 + 0,79X (r= 0,89). O aumento da quantidade de P excretado nas fezes em função do aumento do P consumido também foi encontrado por Akinsoyinu (1986) em caprinos, e braithwaite (1985) e Louvandini & Vitti (1994) em ovinos.

A quantidade de P excretado nas fezes foi maior que o P consumido pelos animais sem suplementação e pelos que receberam 1g/dia, e levemente inferior pelos que receberam 2 g/dia. Desta maneira, o balanço positivo de P só foi constatado em alguns animais que receberam a maior suplementação. Isso não significa que a homeostase só foi conseguida neste tratamento, pois sendo, a absorção do P, passiva (Braithwaite, 1984), o aumento da quantidade de P absorvido acima das necessidades levou a uma maior secreção salivar de P e maior perda fecal (Braithwaite, 1985; Scott et al., 1985), o que contribuiu para o aumento do P excretado nas fezes. A correlação positiva significativa (P<0,01) entre P absorvido e P excretado (r=0,72) (Tabela 4) corrobora esta afirmação.

O P endógeno fecal (Y) mostrou aumento linear (P<0,01), em função do P consumido (X), representado pela equação Y = 10,36 + 0,58X (r=0,94). O aumento do P endógeno fecal causado pelo aumento da ingestão de P, deve-se ao aumento da quantidade de P absorvido, que após ser secretado pela saliva é perdido em maior quantidade pelas fezes. Esse fato pode ser confirmado pela correlação positiva (r=0,84, P<0,01) entre o P absorvido e o P endógeno fecal (Tabela 4). Essa tendência de aumento do P endógeno fecal concorda plenamente com os resultados de Challa & Braithwaite (1988) e Challa et al. (1989) com bezerros em crescimento, Braithwaite (1984), Braithwaite (1985) e Louvandini & Vitti (1994) com ovinos, e Akinsoyinu (1986), com caprinos.

Foi observada uma correlação positiva (r=0,94; P<0,01) entre o P excretado e o P endógeno fecal, denotando que o aumento da excreção fecal de P é acompanhado de aumento de P endógeno fecal. A porcentagem de P endógeno no P total das fezes foi de 60,5; 68,6 e 68,8 %.

A regressão para o nível zero de P forneceu o valor de 10,36 mg/kg de peso vivo, que seria, segundo o Agricultural Research Council (1980), a perda endógena fecal mínima de P, que somado à perda urinária, representaria a exigência líquida para mantença. Como não foi encontrada excreção urinária de P nesses animais, esse valor poderia ser considerado como a exigência líquida para mantença de caprinos nas condições experimentais.

O valor de perda endógena mínima de P encontrado concorda com o preconizado em ovinos (Agricultural Research Council, 1980; Braithwaite, 1984; Louvandini & Vitti, 1994). O valor observado por Akinsoyinu (1986) em caprinos anões (15,6 mg/kg de peso vivo/dia) foi superior ao deste estudo, e, provavelmente, deve-se à maior demanda pelo elemento por aqueles animais, e maior consumo de MS, visto estarem ganhando peso.

O National Research Council (1985) indicou o valor de 20 mg/kg de peso vivo como perda endógena mínima em ovinos, valor superior ao encontrado neste estudo, devido à maior excreção de P endógeno em animais em produção.

Braithwaite (1985) encontrou o valor de 23,8 mg P/kg peso vivo como perda endógena fecal mínima em ovinos em crescimento com ganho de peso diário ao redor de 200 g, concluindo que animais em produção apresentam maior perda endógena fecal que os animais em mantença.

Desta maneira, pode-se concluir que os animais devem absorver 10,36 mg P/kg de peso vivo/dia para suprir as perdas inevitáveis. Portanto, os animais sem suplementação absorveram quantidade de P inferior às perdas inevitáveis, e esse fato provavelmente refletiu nos menores valores de P plasmáticos encontrados.

Para converter o valor de perda endógena mínima em requerimento para mantença, pode-se utilizar o valor de eficiência de absorção de 65,76%, média dos tratamentos suplementados, obtendo-se o valor de 15,75 mg/kg peso vivo/dia como exigência dietética diária em caprinos em mantença. Este valor é menor que o utilizado pelo National Research Council (1981).

A quantidade de P absorvido (Y) pelos animais apresentou relação linear positiva (P<0,01), em função do P consumido (X), representado pela equação Y = -10,11+0,80 X (r=0,94). O aumento da quantidade de P absorvido foi conseguido por maior ingestão de P, somado a aumento na eficiência de absorção do elemento, o que concorda com Braithwaite (1984), Challa & Braithwaite (1988) e Louvandini & Vitti (1994).

A eficiência de absorção do P (Y) das dietas pelos animais apresentou efeito linear positivo (P<0,05) com o consumo de P (X), sendo descrita pela equação Y= 35,42 + 0,44X (r= 0,59). O aumento na eficiência de absorção encontrado concorda com Braithwaite (1985), denotando o efeito da suplementação com P proveniente do fosfato bicálcico, que parece possuir maior disponibilidade que o P da dieta básica. Challa et al. (1989), em estudo com bezerros em crescimento, também observaram menor eficiência de absorção em dietas sem suplementação de P na forma inorgânica, em que todo o P provinha do alimento. Os valores encontrados nos animais suplementados são similares aos citados por Kessler (1981) em relação a caprinos, e superiores aos valores de Vitti et al. (1991) relativos a ovinos suplementados com fosfato bicálcico.

Quando se subtraiu o efeito da eficiência de absorção do P da dieta (P orgânico), obtido pelos animais sem suplementação, foram encontrados os valores de 76,2% e 80,3% em relação à eficiência de absorção do P do fosfato bicálcico para os animais com suplementação de 1g e 2 g P/dia, respectivamente.

A regressão entre consumo de P e eficiência de absorção, apesar de significativa estatisticamente (P<0,01), apresentou valor r muito baixo (0,59) e valores elevados de desvio-padrão, devido às grandes variações individuais. Pode-se, então, concordar com Field et al. (1984) e Solomon et al. (1991), que observaram a existência de grande variação na eficiência de absorção entre animais que receberam mesma quantidade de P, ligada às suas características genéticas.

O P inorgânico no plasma (Y) apresentou efeito linear positivo e significativo (P<0,05) com o consumo do elemento (X), descrito pela equação Y = 4,32 + 0,029 X (r=0,54), e está de acordo com Braithwaite (1985) e Scott et al. (1985), em estudo com ovinos, e Challa & Braithwaite (1988) e Challa et al. (1989), com bezerros. As correlações positivas e significativas entre P absorvido e P inorgânico no plasma (r=0,70; P<0,01), e entre P endógeno fecal e P inorgânico no plasma (r=0,55; P<0,05) (Tabela 4) denotam a estreita ligação entre essas variáveis.

O teor de P inorgânico no plasma encontrado nos animais sem suplementação fosfórica foi muito inferior aos valores dos tratamentos com suplementação. Tais resultados sugerem que a absorção de quantidade insuficiente de P, ou seja, abaixo da perda endógena mínima, foi responsável por esse valor. Desta maneira, o valor de 4,0 mg/dL, preconizado pelo National Research Council (1985) como o limiar de carência para ovinos, parece ser inadequado para caprinos, e então será, para esta espécie, em torno de 5,0 mg/dL. Quando os animais receberam suplementação de P, a concentração plasmática foi superior a 6 mg/dL, o que indica que estes valores refletem absorção acima da exigência de mantença.

Os teores de P inorgânico plasmático observados são inferiores aos encontrados por Akinsoyinu (1986) em caprinos anões com consumo elevado de P. Já Unanian & Silva (1985) e Girdhar et al. (1991) citam, quanto a caprinos, amplitude de valores similares aos encontrados neste estudo.

A porcentagem de P nas fezes (Y) mostrou aumento (P<0,01) em função do P consumido (X), e é descrita pela equação Y = 0,073 + 0,0029X (r= 0,84). Esse resultado está de acordo com Vitti et al. (1988) e Sanson et al. (1990), que também encontraram relação entre o P consumido e o teor de P nas fezes de bovinos. Foram observadas correlações significativas entre a porcentagem de P nas fezes e o P excretado, o P endógeno e o P absorvido (Tabela 4), o que evidencia sua utilidade como indicador do "status" de P nesses animais. Assim, a porcentagem de P nas fezes pode ser utilizada como indicador de consumo e absorção de P na espécie caprina, o que está de acordo com Rosa (1988), que afirmou que esse parâmetro fornece a melhor indicação da ingestão desse elemento por ruminantes.

A concentração de P na saliva não apresentou efeito (P>0,05) com o P consumido ou absorvido, o que indica que a concentração de P na saliva não foi um bom indicador do consumo ou absorção de P, e desta maneira, concorda com Vitti et al. (1988) em estudo com bezerros. Parece que o método de coleta de saliva da boca do animal não representa a secreção salivar da parótida, que, segundo Ternouth et al. (1985), é responsável pela reciclagem do P endógeno.

CONCLUSÕES

1. O consumo de P determina a absorção, a excreção fecal total e endógena do elemento.

2. O balanço de P e sua concentração na saliva não são indicadores do consumo do elemento.

3. A porcentagem de P nas fezes reflete o consumo do elemento.

4. O teor de P no plasma é um bom indicador de consumo insuficiente de P.

5. A exigência líquida de P para mantença de caprinos nas condições experimentais é de 10,36 mg/kg de peso vivo/dia.

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Mauro Sartori Bueno /2 e Dorinha Miriam Silber Schmidt Vitti /3
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3. Bióloga, Dra., CENA/USP, Piracicaba, SP.
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