2.8 Iluminações

A Iluminação é definida no Budismo como a descoberta da natureza própria da mente, de natureza celestial, onde através de intensos esforços as nuvens ilusórias se desvanecem e pessoa consegue ver a realidade tal como ela é (RINPOCHE, 1999, p.74). Um verdadeiro "insight", um grande choque, em que a partir deste instante que se desperta a pessoa muda radicalmente sua forma de ver a vida, tornando-se espiritualmente profunda e consciente. A Iluminação é a manifestação extraordinária da consciência, e existem muitos casos no Budismo e no Cristianismo.

Buda, após receber orientações dos maiores Mestres da época, Arada e Uraka (KHARISHNANDA, 1998, p.50), e praticar as maiores mortificações, resolveu abandonar os métodos usuais e sentar embaixo de uma árvore, decidindo só se levantar após se Iluminar. Ao conseguir compreender a verdade integral da vida, libertou-se das cadeias da ignorância acabando definitivamente com o sofrimento e frustração, adquirindo uma paz permanente e imortal (RINPOCHE, 1999, p.75 e 85).

Shantideva, um dos maiores filósofos budistas, era considerado um grande preguiçoso no Templo que morava na Índia, pois não memorizava nada dos textos sagrados, irritando seus colegas monges.

O abade o advertiu que, se na manhã seguinte ele não recitasse de memória as Escrituras, seria expulso do templo. À noite, o abade foi até a cela onde Shantideva dormia, e lhe ensinou um mantran (palavra sagrada) de Manjushri, o Buda da Sabedoria, que deveria ser recitado a noite inteira para que assim obtivesse ajuda divina e na manhã seguinte conseguir cumprir o dever de monge.

Amarrando sua gola com uma corda no teto, para que assim sua famosa preguiça não o tombasse no chão, Shantideva orou com o mantran a noite inteira, mas ao nascer o sol viu que não estava nenhum um pouco mais esperto. Em alguns instantes teve a visão da Divindade chamada Buda Manjushri, que lhe concedeu a realização de cada qualidade da perfeita sabedoria.

Ao dirigir-se ao palanque, que tinha como platéia o próprio rei, pediu silêncio e perguntou ao rei se queria que ele recitasse um texto da Escritura ou algo original. O rei sabendo da má fama de Shantideva, solicitou com ironia que fizesse algo de sua autoria. Assim Shantideva começou a recitar um dos mais famosos textos budistas, "O Guia para o Modo de Vida do Bodhisattwa". Ao terminar o último capítulo, levitou e desapareceu nas nuvens (SHANTIDEVA, 1998, p.51-57).

Dentro do Cristianismo, temos a história de Moisés, que teve sua vida comum mudada para líder espiritual depois do diálogo com um anjo em forma de chama de fogo em uma sarça ardente (Ex 3,1-14).

Temos também mudanças especiais que se assemelham às experiências da Iluminação: para os apóstolos, o dia que mudou suas vidas dando-lhes mais capacidade foi o dia de Pentecostes, quando ficaram cheios do Espírito Santo (At 2,1-4).

Saulo muda de ser e de nome no caminho para Damasco, após a visão de Jesus (At 9,1-8). Para o Lama budista americano Surya Das, que tem sua origem tradicional no Judaísmo, tornando-se posteriormente um instrutor do Budismo tibetano, esta é uma autentica experiência da Iluminação. Define ainda: A Iluminação é um processo não diferente de Deus (DAS, 2001, p.26).

Francisco de Assis obtém seu grande momento espiritual quando ouve uma voz ordenando que restaure a Capela de São Damião. Após esse fato, renuncia a todos os bens, veste-se como eremita e começa a reforma. Abraça a pobreza e vence a si mesmo indo pedir esmolas (Sociedade das Ciências Antigas, 2005).

Nenhum místico tem maior semelhança com o Budismo do que Francisco de Assis, com seus votos de pobreza, suas sessões de oração, seus êxtases místicos típicos de meditadores, seu extremo amor com todas as formas de vida. O Budismo reverencia todos os seres como Divinos, e Francisco os Diviniza como irmãos, desde o sol e a lua, até os animais e plantas (BOFF, 1999, p.168-170). Tudo para Francisco é extremo cuidado, sendo hoje esta a tônica da Teologia da Libertação para poder salvar a natureza da destruição do homem.

Todas as experiências dos santos e místicos não poderiam passar despercebidas como autênticas experiências de Iluminação.

O Ocidente apenas aceita essas experiências para pessoas que já faleceram, a ponto de alguns correntes teológicas afirmarem que a Revelação de Deus acabou com os apóstolos, restando para nóstolos, restando para n aplaç experi aututra pessoa piritual.idade religiade um pouco amiro ç seja dor, prejuhipocrisias. Ondes unicamente os escritos da Bíblia.

No Oriente, a tradição das experiências pessoais de Revelação de Deus continua no contato entre Mestres e discípulos, renovando suas práticas e deixando acesa a chama da Iluminação.

3. SEMELHANÇAS DOUTRINÁRIAS

Entrando no campo da doutrina, exporemos a síntese conceitual comparativamente das duas culturas, mesmo que afastada por séculos e por costumes. Exporemos ainda os aparentes conflitos entre fé e Iluminação, e a comparação entre a negação de si mesmo com a doutrina do Vazio.

Como se não bastasse, percorreremos também o porquê das diferenças Teístas e Ateístas das duas religiões, conseguindo ainda encontrar respaldo para mostrar os mais variados aspectos de irmandade do Oriente e Ocidente.

3.1 O primeiro discurso

O primeiro discurso marca a entrada na vida pública dos Mestres, uma das mais importantes fases na missão.

Jesus dá o seu primeiro discurso para uma grande multidão, mas Buda dá para apenas cinco monges, pois entendia que apenas eles teriam capacidade de compreender facilmente a revolução espiritual que estaria por vir.

O 1º discurso de Jesus, o Sermão da Montanha, trata de consolar e mostrar a praticidade do caminho espiritual: ter um coração puro e ser misericordioso. Consola ainda os que choram, os que têm fome de justiça e os injuriados. Promete também grandes recompensas aos que forem perseguidos por causa do Cristo (Mt 5,1-14).

Em meio a toda desolação que viviam os deserdados de Israel, pisados pela dominação Romana e pela inflexibilidade Judaica, Cristo os convoca a terem um coração puro e misericordioso, pois essa seria a única forma de trazer paz a tanta turbulência. Ódio só gera mais ódio, e se não houver a misericórdia, perdão e compaixão, todos se autodizimarão. Mesmo que haja dor e injustiças, o coração puro e misericordioso é o que sustentará a força e o triunfo de uma vida, mesmo que seja assassinado, mesmo que perca tudo, pois poderá provocar o benefício de muitos no futuro. Essa foi a vida Crística.

Buda também em seu primeiro discurso mostra o caminho mais prático para a espiritualidade, e ao invés de consolo, usa a repreensão, pois eram ensinamentos para pessoas a quem já tinha intimidade, e não para uma multidão em geral. Proferiu na cidade de Varanasi, Índia, para os cinco monges ascetas com quem praticara as mais violentas mortificações. Mostrou-os que a espiritualidade baseia-se no caminho do meio, o equilíbrio em todas as coisas, e advertiu-os que as mortificações não limpariam seus defeitos, sendo vãs se a personalidade persiste em desejar os prazeres do mundo e dos céus (KHARISHNANDA, 1998, p.78-79).

O equilíbrio entre o material e o espiritual sempre foi um grande desafio para todos os que buscam com afinco o caminho espiritual, ou a vida da Iluminação. Os monges ascetas amigos de Buda acreditavam que deveriam praticar com todo seu sangue unicamente a via espiritual, e que só assim atingiriam a meta. Embora Buda mostrasse que estavam enganados, seus esforços não foram em vão, pois Buda os considerou como os únicos que estariam aptos a compreenderem a revolução que iria empreender. Isso por que os cinco ascetas praticavam com verdadeira sinceridade, e não para se exibirem aos outros, mostrarem-se superiores ou para adquirir orgias ou riquezas espirituais.

Buda viveu em um mundo de ascetismo fanático, mas que buscava a Deus mesmo que fosse com os maiores sacrifícios. Jesus, porém, conviveu em um mundo contaminado pela política, exploração, injustiça e violência. Estes foram os motivos porque Jesus transmite consolo e fé, e Buda receita o equilíbrio e harmonia da vida material e espiritual.

3.2 A síntese dos ensinamentos por eles mesmos

Segundo seus próprios fundadores, em que se resumem os ensinamentos Cristãos e Budistas?

Podemos encontrar uma forte semelhança também entre a síntese de todo o conhecimento de Buda e Jesus, que provocaram a revolução de suas culturas.

Buda, na Índia, luta contra a exclusão da espiritualidade das castas inferiores e abole a idolatria, entrando em conflito com os brâmanes que detinham o monopólio do ensinamento religioso da tradição hinduísta (TOYNBEE, 2005). Entra também em conflito com os líderes ascetas, pois via o equilíbrio como o único caminho sólido espiritualmente, abrindo também o leque espiritual para aqueles que não queriam se afastar da vida social. Também teve um radical desinteresse teológico em favor do problema existencial, pois era uma época em que se contestava a existência dos Deuses (PIAZZA, 1991, p.278).

A linguagem de Buda voltou-se então totalmente para o esforço humano em prol da Iluminação e cessação dos sofrimentos, uma linguagem totalmente nova em todas as épocas da humanidade, agradando sobretudo àqueles que não se inspiravam com as idéias devocionais do Hinduísmo, nem com os extremos do Jainismo. Daí seu principal ensinamento ser voltado às quatro nobres verdades:

1- O sofrimento existe;

2- As causas do sofrimento são os desejos;

3- O sofrimento pode ser cessado;

4- A forma para eliminação dos sofrimentos é o caminho óctuplo: Compreensão correta, intenção correta, fala correta, ação correta, meios de subsistência corretos, esforço correto, atenção correta e meditação correta (KHARISHNANDA,1998, p.70-71).

As três primeiras verdades são para reforçar a importância de se praticar a quarta nobre verdade, o caminho espiritual denominado de óctuplo.

O caminho óctuplo possui ainda três subdivisões: Treinamento em sabedoria, ética e meditação. Compreensão e intenções corretas pertencem ao Treinamento em Sabedoria. Fala, ação e meios de vida corretos são do Treinamento em Ética, e Esforço, atenção plena e Meditação corretas fazem parte do Treinamento em Meditação.

A compreensão correta engloba o estudo do apego, insatisfação, carma, samsara, eu, vazio, impermanência e morte. A doutrina da Impermanência é um dos assuntos mais destacados, pois segundo esta, tudo não passa de uma ilusão, pois tudo nasce e morre. Se a pessoa não se aprofunda na meditação sobre a impermanência, verá como verdadeiras as coisas ilusórias, gerando o apego à família, bens materiais etc; e verá como ilusórias as coisas verdadeiras, como por exemplo, o esforço de progresso interno, que permite a pessoa sair do ciclo de dor da vida.

A intenção correta engloba as diversas técnicas para desenvolver o coração bondoso e compassivo, com práticas de imaginações e reflexões.

Este é o treinamento em Sabedoria, para conseguir ver a realidade dos fenômenos (DAS, 2001, p. 108-182).

O Treinamento em Ética objetiva uma vida de acordo com os preceitos sagrados.

A fala correta ensina os benéficos de dizer a verdade, não falar dos outros e a utilização dos mantrans.

A ação correta ensina a agir com generosidade, tentar matar nenhum ser vivo, não se embriagar, e não utilizar equivocadamente a energia sexual. Utilizar indevidamente a energia sexual seriam os relacionamentos sem sentimentos, por puro prazer carnal, em que se vê a pessoa com desprezo, como apenas um objeto de satisfação orgânica. Tal procedimento vai contra os ensinamentos do Tantrismo Budista.

O meio de vida correto ensina a ter uma profissão que não prejudique os outros, como vender bebidas alcoólicas. Aos monges era permitido viver de esmolas dos leigos Budistas nos países Orientais, pois as crianças desde cedo eram educadas a darem esmolas. Mas com vinda do Budismo para o Ocidente, em que não há essa educação e veneração de sustentar monges, devido a avareza ocidental e os inúmeros escândalos de lideres religiosos exploradores da boa fé, os monges passaram a aprender profissões e se sustentarem como qualquer outro cidadão (DAS, 2001, p. 183-277).

Adentrando no Treinamento em meditação, temos o esforço correto, que foca o esforço de controle e percepção mental, para estudar os pensamentos negativos, como evita-los, e como desenvolver os pensamentos positivos.

A atenção e concentração plena ensinam as técnicas de concentração, como postura, respiração, forma de olhar, como não dormir na prática, e como diminuir a agitação mental.

A meditação correta ensina as técnicas de Meditação, como por exemplo, a técnica de observar a respiração, ou de observar os pensamentos, ou de imaginar a própria morte, ou de utilizar perguntas sem resposta, como por exemplo, "Onde eu estava antes de nascer?". (DAS, 2001, p.278-395)

Jesus também reformou sua época e a maneira como era vista a espiritualidade, com seus inúmeros rituais e a prática adoção de sistemas de castas pelos escribas e fariseus, que fechavam as portas aos párias do judaísmo.

Simplifica o judaísmo e todas as suas leis, profecias e rituais em um único ponto: Amar a Deus de todo o teu coração, e ao próximo como ti mesmo. (Mt 22,34-40).

A coluna vertebral do Cristianismo está na abertura do coração, e a do Budismo está na disciplina mental.

A evidência em "Amar Deus de todo o teu coração" implica em uma devoção que acha forças onde não existe nada; que galga conquistas pessoais onde o ser humano não conseguiria supor conseguir; que acumula virtudes para chegar o mais próximo possível à perfeição; que luta contra seus conflitos para não se afastar da sua meta perfeição. Este é o sentido da devoção a um Ser Superior, pois do contrário, o ser humano poderia não ter um ideal tão elevado a conquistar. Quem seria um exemplo humano de maior ideal? Júlio César, Napoleão, Nietzsche? Seriam ideais por demais pequenos, quando comparamos ao Ser Superior que criou tudo. Só amando Deus de todo o seu coração é que Alguém conseguiria entregar sua honra e corpo para dar esperança e força para uma multidão que não conhece.

No entanto, amar unicamente a Deus pode jogar o individuo em um enclausuramento social, sem poder utilizar todo o potencial desenvolvido na sua busca pela proximidade da Perfeição. Mais vale um miserável que colheu uma fruta para um companheiro, do que um grande sábio que passou sua vida escondido em uma caverna. Daí a complementação Crística de "Amar ao próximo" para "Amar ao próximo como a si mesmo"!

Este "Amar ao próximo como a si mesmo" pode ressoar como algo extremamente ególatra, vaidoso e narcisista, mas o sentido jamais poderia ser esse. Amar a si mesmo indica fazermos aquilo que seja o melhor para nós, sempre e a todo instante. Seria o correto discernimento entre o que é ilusório e o que é real. Trabalhar toda uma vida para ter conforto material, passando por cima dos outros, não seria amar a si mesmo, pois se dedicou a algo ilusório, que a qualquer momento poder se desvanecer, e que no futuro provoca irremediavelmente a solidão e o desprezo dos outros, provocando uma vida inútil e depressiva. Não raro muitos que levam uma vida assim se suicidam. Não possuem paz. Amor devocional deve gerar um amor engajado no social.

Dedicar-se ao real seria o próprio aprimoramento pessoal e interior, em prol do engrandecimento da humanidade em todos os seus aspectos. Isso é o que qualquer um poderia fazer de melhor para si, e não uma vida materialista, que implicaria consequentemente na destruição e sofrimento de muitas pessoas e da própria natureza em si, que é o que acontece hoje em nosso planeta massacrado. O homem destruindo tudo, todos, e a si mesmo. Pelo prazer momentâneo e ilusório, o homem se suicida ao assassinar a natureza e seus semelhantes. O contrário do "Amar a si mesmo" é o lema da nossa humanidade, "Destruir ao próximo e a si mesmo"...

Os quatro votos budistas, feitos quando o neófito decide ingressar nas fileiras do Budismo, espelham fortemente que o campo do possível é a completa mediocridade, incondizente com a energia do esforço pessoal ou espiritual a ser conquistada no cotidiano:

Embora os seres vivos sejam inumeráveis, eu me comprometo a salva-los. Embora meus desejos sejam inesgotáveis, eu me comprometo a me libertar deles. Embora os ensinamentos sejam ilimitados, eu me comprometo a aprendê-los todos. Embora o budismo seja inalcançável, eu me comprometo a atingi-lo. (SUZUKI, 1994, p.44)

Jesus, assim como Buda, resume sua síntese do caminho espiritual também no esforço humano, independente de graça ou recompensa divina. Jesus ordena amar a Deus e ao próximo, e Buda manda encontrar a felicidade extirpando os defeitos e prazeres mundanos. Jesus prega a devoção divina e humana, e Buda a purificação. Mas como ter devoção de qualquer espécie estando com a mente carregada de egoísmos, ganância, desprezo pelo próximo, orgias, irritação, angústias, medos, traição, vinganças, remorsos, traumas e mágoas? Nenhuma devoção, nem pelo Divino, nem pelo companheiro poderá existir sem uma disciplina de eliminação de todas essas distorções mentais. Não seriam então os dois caminhos, técnicas diferentes e complementares com o mesmo objetivo?

Jesus resumiu seu ensinamento em uma oração, e Buda em quatro. Isso indica que o Cristianismo prima pela simplicidade de conceitos, em quantidade muito menor que o Budismo. Só para se ter uma idéia, Buda ensinou 84.000 técnicas para a Iluminação.

3.3 Os mandamentos

Os mandamentos constituem as regras de conduta para as comunidades, o caminho moral e ético que deve ser seguido.

O Cristianismo adotou os mesmos mandamentos do Judaísmo, e estes permanecem em incrível semelhança, havendo diferenças diminutas, como por exemplo, a citação do amor de Deus no Cristianismo que é inexistente no Budismo; e a abstenção de drogas e álcool inexistente no Cristianismo. Embora o Budismo não coloque a devoção a Deus, evidencia a orientação de não desrespeitar as Divindades, quando exorta a não blasfemar.

São Mandamentos no Budismo: não matar, ser compassivo, dar e receber com generosidade, abster-se de drogas e álcool, na adulterar, ser casto, não mentir, não caluniar, não jurar, não blasfemar, não cobiçar, não invejar, purificar o coração da ira e aprender a verdade (KHARISHNANDA, 1998, p.99-159).

No Budismo temos mandamentos de conduta que não dizem respeito a verdades universais, como por exemplo, abster-se de álcool. Ora, exagerar no álcool é sem dúvida um grande empecilho no desenvolvimento espiritual como em qualquer outro desenvolvimento da vida, tais como trabalho, família e convívio social. Mas o Budismo estabelece abstenção total devido os grandes prejuízos que provocam na mente para a prática da meditação, pois o álcool provoca uma grande agitação mental impedindo a concentração.

Já no Cristianismo temos: Amar a Deus sobre todas as coisas, não matar, não roubar, não adulterar, não caluniar, não cobiçar a mulher do próximo, não tomar o nome de Deus em vão, honrar pai e mãe, não jurar falso testemunho, honrar o próximo (Dt 5,1-21).

Todos os mandamentos do Cristianismo praticamente se aplicam a verdades universais, pois o objetivo Cristão é a simplificação de regras para a comunidade, em oposição às numerosas regras do Judaísmo.

3.4 Como tratar os inimigos

O Antigo Testamento dá pouco valor ao perdão contra os inimigos, ou mesmo nenhum valor, pelo rigor da Lei Judaica. A regra estabelecida é "Olho por olho, dente por dente", e o perdão é aplicado apenas secretamente entre a pessoa e Deus: "Porque tu, Senhor, és bom, e pronto a perdoar, e abundante em benignidade para com todos os que te invocam." (Salmos 86,5).

Com o Cristianismo, se introduz a nova idéia do perdão aos inimigos: todos devem perdoar indefinidamente seus inimigos. Não apenas sete vezes, mas setenta vezes sete (Mt 18,22), que metaforicamente, quer dizer ilimitado, sem contagem.

A idéia lançada pos Cristo vai muito mais longe ainda, radical ao extremo: não só se deve amar seus inimigos (Mt 5,44), como também lhe dar a outra face quando agredido (Mt 5,39)!

E porque alguém faria tão grande esforço, amado os inimigos e oferecendo a outra face para a agressão? A explicação dada na Bíblia seria a recompensa celeste.

Não há mais explicações nas Escrituras para isso. Sem fundamentos que explicassem motivos sólidos que não envolvessem os lucros pós-mortem, a filosofia do perdão Cristão tornou-se inócua e sem resultados, e o Cristianismo tornou-se cada vez mais intolerante e violento, não só deixando de perdoar os inimigos, mas enxergando inimigos em todos seus recônditos, seja nos fiéis das outras religiões (os pagãos), seja em alguns fiéis dela mesma (os hereges).

E que conceitos profundos poderíamos deflagrar dentro dos ensinamentos Cristãos no tratamento com os inimigos? Podemos encontrá-los em sua Irmã Oriental, o Budismo...

Como visto em itens anteriores, o Budismo Mahayana coloca como principal objetivo a compaixão, e todo esforço depreendido pela compaixão acelerará rapidamente a cessação dos sofrimentos, único objetivo da vida. O Dalai Lama diz ainda que a compaixão é a forma de egoísmo mais inteligente, porque beneficiando os outros, estaremos beneficiando muito mais a nós mesmos.

No entanto, sem paciência jamais conseguiremos ter o mínimo de compaixão. A paciência é a grande chave, e sua conseqüência natural é o perdão (DALAI LAMA, 2001a, p.114).

Há um livro largamente utilizado e memorizado dentro do Budismo Tibetano, chamado "Guia para o modo de vida do bodhisattwa", do filósofo budista indiano do século VIII, Shantideva. Enumera em oito capítulos as grandes vantagens da paciência, e os grandes malefícios do maior inimigo do ser humano: o ódio.

Para Shantideva e o Budismo, os inimigos são verdadeiros tesouros! Por quê?

Por quê o mais importante para um autentico Budista é a sua vida espiritual, mesmo que sua vida material se reduza a uma tigela e um manto. São os inimigos que irão dar a verdadeira fortaleza espiritual, nossos mestres em desenvolver a paciência, a virtude mais importante a ser adquirida. Através da paciência se consegue a concentração tão necessária para meditar; o perdão para acumular méritos; e a compaixão para acelerar a Iluminação. Então por que ter raiva dos inimigos se eles nos fazem tão bem?

A pessoa pode sentir raiva dos inimigos por que pensa que eles assim agem no propósito de prejudicar, no entanto não é bem assim. Ninguém possui uma independência de pensamentos e atitudes, tudo é interdependente. Se alguém procura prejudicar alguém, é por que existem situações, pessoas, desejos que o obrigam a fazer isso, que por sua vez são já são controlados por outros fatores que são controlados por outros (DALAI LAMA, 2001a, p.15-105). Por exemplo: alguém tenta tomar injustamente a propriedade de outra pessoa. Tal atitude pode ter origem no mau exemplo dos pais, em alguma injustiça cometida contra este, com a influência de uma outra pessoa, um desequilíbrio emocional, o desespero de ajudar alguém, etc e etc.

Então são fatores que regem outros, e o verdadeiro inimigo não é a pessoa que está sendo manipulada. Se alguém bate em outro com o porrete, de quem devemos sentir raiva? Da pessoa ou do porrete? Por que da pessoa, se a dor vem do porrete? Por que do porrete, se quem o manipula é a pessoa? Shantideva conclui que o grande inimigo é quem controla isso, o ódio. E seria burrice querer mudar os outros, infrutífero, pois: "O que é mais fácil: cobrir o mundo inteiro de sola, ou apenas nosso pés?" (DALAI LAMA, 2001a, p.27).

No entanto, existe uma raiva chamada de positiva, que é quando nos indignamos para ajudar os outros. Porém, deve-se meditar para ter controle sobre essa raiva, senão a pessoa nunca conseguirá atingir a concentração necessária pela ausência de paz na mente, dissipando seu caminho espiritual como uma tênue fumaça. Raiva positiva pode, mas não um "ódio positivo", que já indica um completo descontrole.

Portanto, se o mais importante é o caminho espiritual, a paciência tem que ser conquistada, custe o que custe. A outra opção é bem mais desvantajosa: desistir do caminho de eliminação dos sofrimentos para rumar no materialismo, buscando tirar vantagens em cima dos outros, sofrendo com as angústias da mente, sendo massacrado pela pior conduta da podridão humana, e nunca conseguindo a felicidade, porque a vida se reduziu a uma busca incessante de satisfação dos desejos, vazia e inútil.

3.5 A fé

Qual seria a definição de fé? As definições são as mais ambíguas possíveis, indo da crença ao poder.

Estabelecer fé como crença seria um grande erro, um estratégia sectária para fidelização de prosélitos. Um grande reducionismo para uma das palavras mais ricas do Cristianismo, provavelmente com mais definições e exemplos do que no Budismo.

Assim, o líder religioso utiliza o termo fé para designar unicamente a crença no Cristianismo, que quando abandonado ou decidido mudar para outra religião, "perdeu-se" a fé. Ora, a pessoa deixou de ter interesse na espiritualidade? A outra religião escolhida não possui espiritualidade? Unicamente o Cristianismo possui fé e espiritualidade? E por que as maiores atrocidades da humanidade foram cometidas sob a égide de povos cristãos? Que fé tão exclusiva é essa que explora, tortura e mata o irmão?

Para não cairmos em termos sectários, poderíamos definir a fé como o poder da comunicação com Deus, e todas as demais conseqüências que isso possa acarretar.

Na maioria de suas curas milagrosas, Jesus dizia: "Tua fé te salvou!" Então ele se anunciava como um mediador, um receptor da mensagem de Deus para operar os milagres, mas ele por si próprio não o faria. A fé seria a grande condição para os milagres, uma fé gerada pelo arrependimento, pois sem o arrependimento não haveria as condições necessárias para a comunicação divina e a manifestação do poder. Fé sem arrependimento torna-se também hipócrita. Reduz-se a crença e nada mais.

A definição de fé do Cristianismo retirou da pessoa a fonte do poder mágico, que a exemplo dos magos egípcios, conseguiam fazer encantamentos através de seus treinamentos e ritos (Ex 7,22), vangloriando-se e considerando-se superiores, acima da Divindade. O poder mágico agora só pode vir da fé, da sua comunicação e submissão ao Divino, e sem esta, nada pode ser feito:

Disse-lhes ele: Por causa da vossa pouca fé; pois em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele há de passar; e nada vos será impossível. (Mateus 17,20).

No Budismo tibetano, a fé também é um grande poder devocional, imprescindível para o caminho. No entanto, essa fé deve ser direcionada para um Mestre, pois é ele que irá lhe dar inspiração e conhecimento para seu trabalho espiritual. Enquanto a fé no Cristianismo Católico é direcionada para a Trindade ou os Santos, no Budismo é devotada aos Budas, Bodhisattwas e para o Mestre espiritual, o guru.

Se a confiança não for extrema no Mestre espiritual, o discípulo não poderá ir longe no caminho. Se a fé que tem é de apenas de aluno-professor, o máximo que conseguirá é ser professor. Se a fé entre um discípulo e um Buda, pois vê o mestre como o próprio Buda, então o discípulo terá contato com o Buda.

Enquanto a fé do Cristianismo é incorpórea, a do Budismo é física e corpórea.

Porém, a fé Budista deve ser inteligente, racional, analisando se o guru realmente é capacitado para tamanha fé (DALAI LAMA, 2001b, p. 73-74 e 103). Deverá ser uma pessoa íntegra, ética, compassiva, e possuir realizações espirituais, como por exemplo, conquistas na meditação, facilitação em fornecer experiências aos discípulos, conhecimentos das ilusões mentais, e atitudes genuinamente compassivas. Pois do contrário será "cego guiando cego", e o discípulo não irá longe, conforme prenuncia Cristo:

Deixai-os; são guias cegos; ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão no barranco. (Mateus 15,14).

Porque hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e prodígios; de modo que, se possível fora, enganariam até os escolhidos. (Mateus 24,24).

Jesus amplia ainda os problemas dos falsos Mestres apontados por Buda. Buda aponta que um Mestre ou professor qualificado deve ter realizações espirituais, mas Cristo adverte que também os falsos instrutores conseguem produzir grandes prodígios, podendo então confundir os aspirantes que esses prodígios são realizações espirituais, deixando-os em um completo labirinto.

De que forma então Cristo ensina a resolver essa confusão? Através da convivência, pois só através dela é que poderá se observar os frutos produzidos por esses Mestres, pois só a árvore boa produz bons frutos (Mt 7,17).

3.6 A importância do esforço pessoal

Qual o critério para um Cristão receber suas recompensas celestes? A graça divina baseada na fé, ou o esforço pessoal?

Dessa questão polêmica, muitos cismas foram alimentados entre Católicos e Protestantes. Algumas linhas Protestantes afirmam categoricamente que o principal é a graça divina, independente da conduta que tenha a pessoa. Este é um conceito perigoso, pois pode justificar e desenvolver a própria preguiça, irresponsabilidade e hipocrisia dentro do ser humano, bastando que freqüente os cultos e faça suas doações à Igreja!

"Fora da Igreja, que cometam os piores desatinos que serão sempre perdoados... Mas não abandone a Igreja, senão o fogo ardente o consumirá!" Assim poderia pensar qualquer crítico ou líder religioso mercantilista.

No entanto, analisando vários trechos das escrituras Cristãs, podemos asseverar fortemente que não é assim. Admitir que o esforço pessoal é insignificante diante da graça divina seria aniquilar o próprio sentido puro da religião, e ir contra a própria humanidade. Mesmo porque, quem poderá assegurar que é digno da graça divina? Assegurar-se-á em algum trecho Bíblico? Por que seria digno da graça divina um estuprador, assassino, falsário, estelionatário que não mudou sua conduta?

Há trechos Bíblicos que são bastante incisivos quanto à prática do esforço pessoal, por exemplo, amar os inimigos e orar pelos que perseguem (Mt 5,44). Existiria um esforço maior do quê o perdão a um inimigo que não se arrepende?

Outro trecho mais claro sobre o esforço pessoal está contido na parábola dos talentos. Jesus ensina que o servo que recebeu talentos, e não os usa para dar lucro ao seu patrão, é um servo indigno e deve ser lançado às trevas exteriores (Mt 25,14-30). No caso, os talentos foram uma metáfora a uma moeda da época, mas na tradução encaixa-se literalmente nos talentos que indicam qualidades, virtudes, dotes que devem ser desenvolvidos, pois este é o principal objetivo da vida e das próprias religiões: desenvolver o ser humano de forma total, a fim de aproximar-se do Divino. E sem o sacrifício e esforço não é possível esse desenvolvimento, pois para ser dado é necessário pedir; e para entrar tem que bater na porta (Mt 7,7).

O discurso não pode estar alijado da prática. E para seguir os passos de Jesus é necessário tomar a cruz do sacrifício, e pôr suas palavras em prática para ter uma vida espiritual segura, uma casa com fundação na rocha (Mt 7,24).

Conclui-se com estes trechos que a prática é mais importante que as palavras, que estas se tornam vazias sem uma vida adequada. Tornam-se unicamente mentiras e hipocrisias. Onde está a graça de um hipócrita?

Purificar-se para receber a graça divina não é algo considerado errado no Budismo, mas não é citado, pois o Budismo enfatiza a luta pelo sacrifício de si mesmo, o trabalho de lapidação dos defeitos e desejos para acabar com os sofrimentos dos outros, e assim também acabar os seus, já que somos todos dependentes uns dos outros.

Um Budista não almeja recompensas. Almeja unicamente conseguir acabar com os sofrimentos de todos, pois ele não diferencia Deus das pessoas, dos animais, das plantas, das pedras, dos mosquitos, das baratas, dos ratos ou de qualquer outro ser. Tudo é Deus, tudo deve ser respeitado, e todos devem ser ajudados a encerrarem seus sofrimentos e se liberarem. E a única forma de conseguir isso é adotar uma disciplina mental livre do ódio, luxúria e intenções nocivas (DALAI LAMA, 2001b, p.17).

Para o Budista, esses méritos não chegam nem sequer a ser uma recompensa, mas uma conseqüência natural para a Iluminação, assim como beber água mata a sede.

A grande ênfase dada nas recompensas celestes pelo Judaísmo e Cristianismo, parece ser uma linguagem dirigida a povos de tradições comerciantes, em que todo passo é medido através do lucro que se vai ter. Para grandes lucros, grandes passos devem ser dados, mas se o lucro é pequeno, só um pequeno passo é necessário. O pensamento oriental é diferente.

Contam que um grande Mestre tibetano, Geshe Chekawa, difundiu uma prática para desenvolver a compaixão, chamada de prática "Dar e receber", tornando-se um grande especialista nesta. Através dessa prática, a pessoa medita imaginando dar tudo que possui de mais precioso, e receber tudo de negativo dos outros, seja dor, prejuízos, angústias, medo etc. Isso com o propósito de eliminar a noção do eu e desenvolver a compaixão. Chekawa desenvolveu tanto a compaixão, que confidenciou a seus discípulos perto da hora de morrer, que havia tido visões que renasceria em locais celestes, mas que seu desejo era renascer em locais infernais para poder ajudar as almas agonizantes, e pediu que orassem para que ele renascesse assim, tamanha era a força de vontade em ajudar os outros, mesmo que fossem incorpóreos, mesmo que fossem demônios (DAS, 2001, p.168-170).

Assim pensa o budismo da linha Mahayana: nada de lucro, nada de recompensas, nada de eu. Apenas o altruísmo, nem que para isso a pessoa sofra e passe misérias.

Essa disciplina é adquirida através de um esforço constante para observar profundamente os pensamentos no dia a dia e na meditação. O convívio com as pessoas é extremamente valioso para se estudar na meditação, pois sem esse convívio não seria possível desenvolver a compaixão, o estado mais elevado da mente e que conduz mais rapidamente à Iluminação.

Ter compaixão é cuidar de todos os seres, estar atento a todos, seja uma formiga que está prestes a ser pisada, seja uma planta que precisa de água, seja uma pessoa que precisa de consolo. Esta é a força espiritual do Budismo reformado, o Budismo Mahayana , onde a principal meta é desenvolver um estado altruístico da mente que tenha a finalidade de se iluminar para beneficiar todos os seres (DAS, 2001, p.43). Ou seja, a compaixão vem como prioridade em relação à Iluminação.

O esforço deve ser tão grande, que para se gerar um estado de compaixão perfeito, a pessoa deve extirpar de si todo traço de egoísmo, preocupando-se exclusivamente com os outros. Deve esquecer o seu próprio "eu". O "eu quero", "eu exijo", "eu não admito", "eu te odeio" devem ser mortos para o bem de todos os seres, pois o próprio eu não existe. A compaixão é um estado de fortaleza mental, que permite atrair forças ocultas no âmago humano para ajudar os outros, enquanto que o egoísmo gera fragilidades mentais, depressões, distúrbios e doenças psicossomáticas, retirando o próprio ânimo de viver.

Isso para um ocidental pode aparentar muito complicado, pois essa é a complexa doutrina do Vazio Budista, mas dentro dessa doutrina de negação com o eu há uma íntima relação com o um famoso trecho Bíblico de Mateus: "Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo (...)" (Mateus 16,24).

Quando alguém nega-se a si mesmo, destrói sua concepção de eu, não havendo mais um "meu corpo" com o que se tenha tanto apego. Se tem apenas um veículo de osso, sangue, carne e órgãos para ajudar os outros, não importa se esse veículo sofra maus tratos e violências em nome de uma missão maior de ajuda humanitária. Mas fazer o veículo corporal sofrer por um capricho pessoal ou financeiro (esportes, espetáculos, desafios da mídia) ou negligência é um grande equívoco, em que se afirma tenazmente a egolatria e mostra que não houve a negação de si, ou do eu. Também não existe mais um "minha vida", "minha honra" ou "meus orgulhos", mas apenas uma série de atitudes sensíveis que buscam a felicidade do outro radicalmente e por muito tempo. Existe apenas o cumprimento do dever.

Não ligar para o conforto do corpo nem para o risco de ser um fracassado materialmente e socialmente, em prol de uma mudança espiritual profunda, consistente e duradoura de todo um planeta, não seria a própria vida do Cristo? Que outro exemplo tão marcante teríamos de alguém que negou a si mesmo, deixando-se voluntariamente ser execrado publicamente e logo após, assassinado lentamente?

Negar a si mesmo não poderia ter outra conotação que não guarde semelhança com a Doutrina do Vazio. Nenhuma religião poderia sobreviver sem a negação de si mesmo dos seus fiéis, negando seus interesses pessoais em prol da comunidade.

Por quê Vazio? O Vazio seria a completa ausência de sofrimentos, e isto não pode acontecer se existe uma separação entre o "eu" e o "outro". Sempre que existir essa diferenciação, o "eu" sempre irá querer o melhor para si, considerar-se o mais importante, e cedo ou tarde, irá prejudicar o outro. A compaixão ensina a dar mais importância ao outro, estar sempre atento se ele está sofrendo. Dessa forma, atingindo-se o mais alto grau da compaixão, vê-se que nossa felicidade depende da felicidade do outro, que somos todos interdependentes, que temos que estar sempre focados no outro e esquecidos do eu. Esquecidos do eu, vemos que o eu não existe, e então não teremos mais sofrimento, pois não há mais um corpo ou sentimento que reclame conforto.

No Sermão da Montanha, Cristo define os possuidores dos céus como os humildes de espírito (Mt 5,3). Em outras versões bíblicas, a tradução define como "Pobres de espírito". Tal assertiva vem a configurar como pessoas vazias de arrogância, orgulhos, vaidades, exigências e idéias pré-concebidas. Seriam os humildes de espírito as pessoas simples, inocentes, vazias de maldade, mas não vazias de inteligência, pois isto significaria os "santos tolos". Vazias de uma inteligência que cria para destruir, mas ricas em uma inteligência que pratica o viver no momento presente, resolvendo cada problema em seu devido tempo, sem preocupar-se com o futuro e sem guardar mágoas do passado. É o viver desperto, sem pensar, sem lembrar, sem projetar. O autêntico não-pensar.

Se formos vazios do eu, seremos o próprio Vazio, a própria ausência de angústias e dramas. Esta é a doutrina.

3.7 Crítica à vaidade

Grande importância é dada à crítica da vaidade nas escrituras cristãs e budistas. A vaidade representa o mais puro materialismo, em que a vida centra-se em si próprio, nos seus prazeres, egoísmos, egolatrias, orgulhos, poder e riquezas. Tudo é eu, eu e eu. Finda-se assim a vaidade como a grande oposição do caminho espiritual, que se sustenta no altruísmo, sacrifício, devoção, fé e partilha com o próximo. Ou se é vaidoso, ou se é espiritualista. Nunca os dois.

No livro de Jó, a vaidade eiva-se como o fracasso na vida espiritual, pois Deus não ouve os gritos da vaidade (Jó 35,13); nos Salmos e Eclesiastes a vaidade retira o objetivo final da vida, provocando uma grande perda de tempo na estadia física.

Que grande objetivo de vida é este? Por que grande perda de tempo? Se para a Bíblia o grande objetivo de vida é o caminho espiritual, a vaidade seria o afastamento dela por alimentar em demasiado a egolatria, ou em termos tibetanos, o "eu". Alimentar a egolatria estende a uma concepção de superioridade ao Divino, pois o homem é para si próprio o principal foco de vida.

Para Jesus, as boas obras não devem ser feitas diante dos homens, pois assim não se receberá a recompensa celeste. Dar esmolas e orar com alarde é típico dos hipócritas, que desejam receber glórias humanas (Mt 6,1-5).

Da mesma forma, Buda exorta seus discípulos a não se vangloriarem de suas virtudes ou nenhuma qualidade sobre-humana, pois assim ficará envaidecido, alimentando o egoísmo e tirando proveito pessoal (KHARISHNANDA, 1998, p.99-100).

Todo o cuidado que Jesus e Buda tiveram em alertar seus discípulos para não se envaidecerem com suas obras, é com o objetivo primordial para que continuem sempre a crescer espiritualmente. No entanto, se a vaidade engrandece, a noção de superioridade e busca de prazer terminarão em encerrar as atividades espirituais, provocando o fracasso de todos.

No caminho espiritual tem que se lutar contra a egolatria. Eu e Espírito são totalmente incompatíveis.

3.8 A concepção de Deus

Muitos escritores ocidentais e até orientais concebem o Budismo como ateu. A que Budismo referem-se, já que são várias as correntes? O Budismo tem como uma de suas características mais peculiares, adaptar-se às mais diferentes culturas sem esmagá-las, mesclando-se entre si. Assim temos correntes das mais devocionais, com o Budismo Tibetano, até as correntes mais pragmáticas e impessoais, como as escolas Zens. Some-se a isso também as diferenças de linguagem, regiões, épocas, costumes e concepções entre orientais e ocidentais.

A concepção de Deus dentro do Cristianismo também não é das mais simples. Embora reforme o judaísmo transformando-se em uma nova religião, o Cristianismo não abole uma só vírgula de seus ensinamentos, mas os amplia e simplifica ao mesmo tempo. Assim temos as concepções mais impessoais e indefiníveis para Deus; como também as pessoais, esboçadas no caráter do próprio Cristo; e outras que tramitam entre a pessoalidade e impessoalidade, como a Trindade em Um só Deus. A definição da Pessoalidade e Impessoalidade de Deus é brilhantemente definida por Sri Ramakrishna, um grande reformador do Hinduísmo no Século XIX. Ramakrishna acaba com o preconceito existente esclarecendo que ambas as visões são devoções autênticas, pois satisfazem a níveis de intelecto diferentes. Os devotos do Deus Impessoal normalmente são pessoas mais intelectualizadas e praticantes de disciplinas espirituais reflexivas, e os devotos do Deus Pessoal são as pessoas mais simples, que necessitam de quadros, imagens e gravuras para direcionarem sua fé, o que seria muito difícil sem uma imagem para adoração. De forma alguma poder-se-ia considerar a devoção ao Deus Impessoal ou Sem Forma, superior à devoção ao Deus Pessoal ou com Forma, pois Deus sabe perfeitamente que "ambos chamam pelo Seu Nome." (ABHEDANANDA, 1995, p. 25-42)

As semelhanças entre o Budismo e o Cristianismo entram tanto no aspecto pessoal como no aspecto impessoal de Deus.

No Cristianismo encontramos a concepção impessoal de Deus em pelo menos dois livros: Êxodo e Apocalipse.

No Êxodo, Deus apresenta-se a Moisés sem definição de nome, com nuances de Impessoalidade:

Então disse Moisés a Deus: Eis que quando eu for aos filhos de Israel, e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós; e eles me perguntarem: Qual é o seu nome"? Que lhes direi? Respondeu Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos olhos de Israel: EU SOU me enviou a vós.(Êxodo 3,13-14).

No Apocalipse sua definição se estende do início ao fim, quando utiliza a 1ª e a última letra do alfabeto grego, revestida de extremo poder: "Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, e que era, e que há de vir, o Todo-Poderoso" (Apocalipse 1,8).

Para Buda, Deus é algo impessoal, e não se interessa em defini-Lo como Criador, Sustentador, Reformador ou qualquer outro atributo usado muito no Hinduísmo. Seu desinteresse teológico nestas discussões é completo, não significando dizer que O negue: "Além da morada de Brahma, há um poder estável e Divino, existente antes do princípio e não terá fim." (KHARISHNANDA, O Evangelho de Buda, 1998, p.87).

No século de Buda, o politeísmo Hindu já dava sinais de mercantilismo com seus inúmeros Deuses, em que o povo vivia de rituais com o objetivo de adquirir recompensas, sejam elas materiais ou espirituais. Por isso, Buda para inovar e satisfazer a sede espiritual do povo de uma forma sólida, baniu de seus ensinamentos toda especulação teológica, tornando-se nesse ponto um extremo ao Hinduísmo com seus incontáveis Deuses. Dessa forma, mostrava-se muito claramente como uma nova religião totalmente diferente, diferente na aceitação social e na concepção teológica. Deus passa a ser chamado também de "Mente Grande", uma mente perfeita, aberta, observadora, compassiva, natural e sem sofrimentos (DAS, 2001, p.58). Derrotar a nossa mente pequena seria extirpar todos os traços de erros e egoísmos, podendo então unir-se à Mente Grande, à Grande Perfeição Natural.

Séculos mais tarde o Budismo sofreu grandes mudanças com a sua introdução no Tibet.

Entrando no campo da devoção a um Deus pessoal, temos a grande devoção aos santos do Catolicismo, que em muitos casos é mais fervorosa que a adoração ao Pai ou a Jesus. Da mesma forma procede-se no Budismo Tibetano, com sua devoção por seus santos ou Mestres, chamados de Bodhisattwas (seres que firmaram o compromisso de viverem apenas com o propósito de ajudar os outros). A devoção ao mestre é algo comum no Oriente, em que os fiéis sempre procuram um Mestre e praticam com ele o tempo necessário, mas sempre observando se os Mestres obedecem as regras de moral, ética e realização espiritual.

Dentro da seara da Trindade Cristã, o Budismo, após os acréscimos advindos das terras Tibetanas, passou também possui a sua própria Trindade, composta por seres vindos do Vazio (não nascidos), e seres humanos que se santificaram com seus esforços pela humanidade, os Bodhisattwas.

São o Adi-Buddha, Dhyana-Buddhas e Dhyana-Bodhisattwas (PIAZZA, 1991, p.302)

Adi-Budha é o Buda primordial, ou Buda Cósmico, sem começo nem fim, nascido do vazio; Deste Buda Único , se produz pela autoconsideração de si mesmo a segunda categoria da Trindade: os Dhyana-Buddhas, formada pelos Cinco Budas da Contemplação: Vairochana, Vajrasattwa, Ratnasambhava, Amitaba e Amoga-sidi (SAMDUP, 2003, p.26). Estes cinco Budas produzem por auto-reflexão os Dhyana-Bodhisattwas, os Bodhisattwas da Contemplação, que atuam no mundo dos fenômenos para Iluminar a humanidade. Já foram quatro as manifestações dos Bodhisattwas da Contemplação: Avalokiteshvara, Amitabha, Manjushri e Sakiamuni, o Sidarta Gautama.

Portanto, vemos a semelhança que há entre Cristo sendo a 2ª Pessoa da Trindade Cristã, e Buda pertencendo a 3ª Pessoa da Trindade Budista, embora a Trindade Budista tenha uma complexidade um pouco maior para as concepções ocidentais arraigadas de dogmas.

Podemos ainda nos debruçar sobre a semelhança dos "auxiliares de Deus" no Catolicismo com o Budismo, os santos. Santos são os mártires que a Igreja beatificou, e estão sempre prontos para beneficiarem os devotos que lhe oram.

No Budismo Tibetano, temos inúmeras Divindades, sejam elas Pacíficas ou Iradas. As Divindades Pacíficas ajudam e orientam os seres a desenvolver as virtudes, e as Iradas testam com seu aspecto e atitudes coléricas os defeitos, tais como o medo e a ira.

As Divindades Iradas possuem um papel especial na hora da morte da pessoa. São elas que testam o grau de desenvolvimento espiritual do discípulo, se este conseguiu extirpar as ilusões de sua mente e desenvolvido as virtudes. Por isso elas se apresentam com aspectos demoníacos, desagradáveis. Caso o discípulo tenha tido uma grande disciplina espiritual em vida, permitindo que consiga manter a estabilidade da mente nesses momentos de provação pós-morte, ele poderá Iluminar-se ou renascer em locais celestes (SAMDUP, 2003, p.74-91).

CONCLUSÃO

Vimos as semelhanças básicas entre duas religiões de épocas, culturas, hemisférios, linguagens e fundadores diferentes, mas mesmo assim irmãs.

Expor que estas religiões possam contribuir uma com a outra pode soar como a mais pura blasfêmia para seus estudiosos mais fervorosos, não só no Cristianismo, a religião dos impérios e da dominação mundial, mas também dentro de certos grupos sectários budistas.

Muitas críticas são lançadas ao Cristianismo devido sua expansão proselitista mundial, sua falta de exigências, seu alinhamento omisso com governos descomprometidos, seus erros do passado e seus bilhões de adeptos, cuja maioria não pratica com profundidade seus ensinamentos. Mas isto é algo mais ou menos natural para uma religião que se tornou a maior do planeta. O que não é natural é ela se fechar em si mesma, e não avançar em passos decisivos rumo ao Ecumenismo.

Ecumenismo é uma palavra de sérias restrições entre os meios teológicos, especialmente os protestantes. Muitos teólogos advertem que pode haver respeito entre as religiões, mas jamais compartilhamento de doutrinas. Há um temor muito grande de perda de fiéis, assim como uma empresa ou país teme a perda de investimentos, ou a fuga de capital.

Há ainda o temor que se formem opiniões sobre a superioridade de uma religião sobre a outra. Seria o Budismo superior ao Cristianismo, já que aquele possui um cabedal de teorias mais complexas, ou seria o Cristianismo superior justamente por sua simplicidade? Estes seriam pontos fatais que impediriam por completo uma interação religiosa ecumênica.

Partamos do ponto da inexistência de superioridade de religiões. Com certeza, dos dois bilhões de Cristãos no mundo, a grande maioria ao conhecer com mais profundidade o Budismo não acenaria mudar de Religião, nem consideraria uma religião superior por possuir conhecimentos mais complexos. Isto porque o que motiva as pessoas a praticarem religião não é o seu cabedal de conhecimentos ou especulações, mas sim a INSPIRAÇÃO RELIGIOSA que nelas provoca! Para muitos, uma meditação sobre a vida de Buda não lhe provocaria muita emoção e motivação, mas meditar e imaginar sobre os sofrimentos de Cristo poderiam lhe provocar fortes lágrimas. Não é possível outra conclusão, quando alinhamos o livro de Mateus com o Evangelho de Buda por Kharishnada (1998), harmonizados brilhantemente pelo Padre Piazza (1991).

E é exatamente por essa ausência de inspiração que se muda de religião. Quando, por exemplo, não se têm mais emoções ou não se satisfaz com os conceitos do Catolicismo, muda-se para o Protestantismo, ou para os Ortodoxos, ou para os Espíritas, Hindus, Budistas etc.

Se sua religião não é mais capaz de provocar arroubos místicos ou impulsos de melhoria individual, é porque talvez você possa estar necessitando renovar o entendimento sobre a sua religião, ou, sendo mais radical, deva participar de um novo grupo religioso mesmo.

Muito embora tenha sido contundente nas críticas ao Cristianismo e Judaísmo, cabe enumerar que estas só cabem em determinadas épocas e grupos isolados, pois o Cristianismo também absorve em seu seio as mais primorosas formas de devoção humana, como a vida e o trabalho de Francisco de Assis, Madre Teresa de Calcutá; as autênticas devoções do povo em Canindé, Aparecida do Norte, Fátima na Itália, Santiago no Chile e tantas outras manifestações, com seus sacrifícios, caminhadas, procissões e arrebatamentos de fé das pessoas mais humildes e sinceras... Seria insensato generalizar uma religião extremamente heterogênea em seus dois bilhões de fiéis.

Creio que dessa forma, explanando as pesquisas e reflexões a respeito do Sincretismo, da Negação de Si Mesmo, da Compaixão, do Teísmo Budista, e de todas as semelhanças entre o Oriente e Ocidente, ter contribuído com mais uma vírgula na aproximação Ecumênica das religiões no mundo.

Na guerra do Iraque, o ódio que os soldados americanos mostravam contra os muçulmanos tinha origem religiosa. Tudo por que eles crêem em Alá, que nós não cremos. Há séculos atrás, o motivo para as tribos bárbaras usarem da mais extrema crueldade com os inimigos era o uso de drogas, pois estando conscientes de si não conseguiriam tamanha perversidade. Hoje, basta adotar uma religião diferente para que a selvageria do inimigo ultrapasse os limites da guerra.

Diferenciar e menosprezar religiões é guerra, é morte. E não precisamos mais disto, se queremos ainda deixar algo para nossos descendentes.

GLOSSÁRIO

Arhat – ser que conseguiu a suprema liberação, o Vazio. Comparável aos anjos do Cristianismo e Judaísmo.

Bardo – Dimensões da natureza ou da mente, podendo indicar o plano físico, o mundo dos sonhos, os mundos infernais, o paraíso e a pós-morte.

Bodhisattwa – ser místico que trabalha incondicionalmente para dissipar o sofrimento de todos os seres do Universo, dando sua vida e tudo que possui em nome da compaixão. Comparável aos Santos do Catolicismo.

Brahma – Deus supremo dentro da religião politeísta da Índia, o Hinduísmo.

Carma – doutrina oriunda do Egito antigo, segundo a qual todos os maus feitos das pessoas são anotados pelas Divindades e gerados castigos, seja na própria existência ou na seguinte. O carma é uma forma de remédio para que não se cometam os mesmos atos novamente. Tal doutrina é largamente estudada no Hinduísmo e Budismo.

Dalai Lama – chefe político do Tibet, e chefe espiritual da seita Tibetana chamada Gelug, uma das quatro principais. Significa "Oceano de Sabedoria". Vive hoje exilado na Índia, devido a invasão comunista chinesa em seu país. Dedica-se a difundir o Budismo, a manter uma diálogo ecumênico entre as religiões, e a buscar a paz no mundo, o que lhe rendeu o Prêmio do Nobel da Paz em 1989.

Hinayana – Pequeno veículo. É o budismo ortodoxo, que não permite novos textos além dos discursos de Buda, mas apenas interpretações. Sua essência é a meditação e os votos monásticos para atingir a liberação dos sofrimentos. Seus Mestres recebem o título de Swami.

Impermanência – doutrina Budista da transitoriedade de todos os fenômenos, em que tudo nasce e morre. A impermanência impregna de sofrimento tudo o que existe, sendo então ilusório e imaturo o apego a qualquer coisa que se dissipará com o tempo. As reflexões e meditações sobre a Impermanência enfocam a imaginação na morte da própria pessoa e dos seus entes queridos, como forma de ver que tudo é um ciclo natural, para fazer nascer uma fortaleza dentro da pessoa que não permita que ela se desespere quando acontecer a morte de alguém próximo, ou de sua própria morte.

Lama – Mestres espirituais do Budismo Tibetano. Quando os discípulos são reconhecidos como Reencarnações, recebem o título de Tulku. Quando são reconhecidos como reencarnações de grandes Mestres do passado, recebem ainda o título de Rinpoche.

Mahayana – Grande Veículo. É o Budismo reformado, provavelmente por influência do Cristianismo no Século I. Adota a aceleração da liberação, através da renúncia à sua libertação pessoal em prol de todos os seres do universo. Configura o amor e a ajuda permanente ao próximo como superior ao afastamento monástico da sociedade.

Mantran – palavras sagradas que produzem poderes quando pronunciadas repetidamente. São utilizados na língua Tibetana, ou em Sânscrito.

Nirvana – estado de cessação dos sofrimentos, ou o paraíso celeste.

TantrismoReligião oriunda da Índia, com rituais secretos revelados apenas aos Iniciados. Utiliza ritos mágicos, mantrans, meditações e também a energia sexual. Difundiu-se entre várias religiões, como o Hunduísmo, Budismo e Gnosticismo. Originariamente, a prática sexual chamada de maithuna, só podia ser praticada por casais de união estável, mas depois surgiu a vertente chamada Tantrismo da Mão Esquerda, que pregava as práticas de união sexual entre quaisquer pessoas, tenham vínculos ou não, provocando o repúdio e desprezo da sociedade pelos Grupos Tântricos, diminuindo muito seus adeptos, a ponto de quase extingui-los.

Samsara – Ciclo de reencarnações que a pessoas estão submetidas enquanto possuírem dívidas a pagar com a humanidade.

Swami – Título dado a Mestres espirituais no Hinduísmo e Budismo da linha ortodoxa. São na grande maioria das vezes monges que estabeleceram votos de pobreza e castidade.

Vajrayana - Veículo de Diamante. Desenvolvido no Tibet, sob a influência do Tantrismo na Caxemira, Índia e da religião original do Tibet, a religião Bon. Utiliza a premissa Mahayana de amor ao próximo como fundamental, mas acrescenta ritos mágicos para auxiliar no caminho da liberação.

Vazio – Estado de completa ausência de pessoalidade, em que não se diferencia o eu e o outro. Todos são um, e o um é tudo. É o desenvolvimento da autêntica compaixão, indicando a autêntica e não-transitória felicidade, ou o estado da suprema Iluminação. Estado ou região superior ao Nirvana.

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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a minha esposa, aos meus pais, e a todos aqueles que lutam pelo respeito entre as religiões.

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Deus de todas as religiões, por ter se expressado de formas tão diferentes para o bem da humanidade.

"Não há absolutamente nada

que não seja mais fácil com o conhecimento."

(Shantideva)

 

Francisco Adalberto

Nascido em Milagres/CE, em 07/11/69, residente em Maranguape/ CE, é graduado em Ciências da Religião pela UVA/ CE.

ZANGPOSOB[arroba]YAHOO.COM.BR

UNIVERSIDADE DO VALE DO ACARAÚ - UVA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA DO NORDESTE – FAETEN

CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

Maranguape/ CE

2005


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