Soroprevalência de Borrelia burgdorferi latu sensu associada à presença de carrapatos em cães de áreas rurais do Estado do Rio de Janeiro, Brasil



RESUMO

Pesquisou-se a presença de anticorpos contra Borrelia burgdorferi latu sensu em cães de áreas rurais de sete municípios do Estado do Rio de Janeiro, pelo ensaio imunoenzimático indireto, associando-se os resultados com a presença de carrapatos nestes animais. De 199 cães examinados, 15,58% estavam positivos, com títulos que variaram de 400 (13,57%) a 1600 (0,5%). Os casos positivos se distribuíram uniformemente nos sete municípios. Não houve diferença estatística (P > 0,05) de soropositivos entre as faixas etárias dos cães acima de seis meses. Carrapatos foram encontrados e coletados em 71 (35,68%) cães, dos quais 24,1% estavam infestados com Amblyomma cajennense, 13,6% com Rhipicephalus sanguineus, 2,5% com Amblyomma aureolatum e 1,5% com Amblyomma ovale. Dos animais soropositivos para B. burgdorferi, 38,7% apresentavam A. cajennense e 22,6% apresentavam R. sanguineus, não havendo, entretanto, correlação positiva entre a presença do carrapato e sorologia positiva.

Palavras-chave: Borrelia burgdorferi, Amblyomma sp., Rhipicephalus sanguineus, carrapatos, cães.

ABSTRACT

The prevalence of antibodies against Borrelia burgdorferi latu sensu was investigated in dogs from rural areas of seven towns of the Rio de Janeiro State, Brazil, using an indirect enzyme-linked immunosorbent assay. All dogs were also examined for the presence of ticks. From the 199 dogs, 15.58% were seropositive, with titers that ranged from 400 (13.57%) to 1600 (0.5%). The positive cases were equally distributed among the seven studied towns. No differences (P > 0.05) were found among the age groups of over six months old. Ticks were found and collected from 71 (35.68%) dogs. From this total, 24.12% were infested with Amblyomma cajennense, 13.6% with Rhipicephalus sanguineus, 2.5% with Amblyomma aureolatum and 1.5% with Amblyomma ovale. Amblyomma cajennense was found in 38.7% and R. sanguineus in 22.6% of the dogs with B. burgdorferi antibodies, although no positive correlation between the ticks parasitism and positive serology was found.

Key words: Borrelia burgdorferi, dogs, ticks, Amblyomma sp., Rhipicephalus sanguineus.

INTRODUÇÃO

A borreliose de Lyme, doença causada pela espiroqueta Borrelia burgdorferi é transmitida por carrapatos e pode acometer seres humanos e animais (HOSKINS, 1991). Os principais vetores desta bactéria são os carrapatos Ixodes scapularis nos Estados Unidos da América (EUA) e Ixodes ricinus na Europa (McKENNA et al., 1995). Contudo, outras espécies podem transmitir o agente, dependendo da região fisiográfica (SOARES et al., 2000).

Estudos soroepidemiológicos têm sido conduzidos no mundo inteiro para determinação da prevalência de anticorpos contra B. burgdorferi latu sensu em cães e da importância destes animais na epidemiologia dessa doença (McKENNA et al., 1995; WRIGHT et al., 1997; STEFANCIKOV et al., 1998). O conhecimento da soroprevalência em cães pode constituir-se em um importante indicador da dispersão do agente etiológico (HOSKINS, 1991), bem como indicar o risco de exposição humana (LINDENMAYER et al., 1991). Atualmente, cães são considerados animais sentinelas para a borreliose de Lyme, cuja prevalência correlaciona-se positivamente com aquela verificada para seres humanos, na mesma área (MERINO et al., 2000; OLSON et al., 2000).

Em cães, a infecção é usualmente assintomática. Entretanto, podem ser observados sinais envolvendo o sistema músculo-esquelético, com quadro de artrite progressiva (LEVY & DREESEN, 1992; STRAUBINGER et al., 1998; STRAUBINGER, 2000).

O diagnóstico da borreliose de Lyme é feito principalmente por meio de testes sorológicos, associado a sinais clínicos e a fatores epidemiológicos, já que seu encontro em líquidos orgânicos e secreções é difícil (STEERE, 1989). Com a utilização da técnica de reação em cadeia da polimerase, foi possível detectar DNA de B. burgdorferi em urina de cães (BAUERFEIND et al., 1998), em amostras de membranas sinoviais, pele, fluido cérebro-espinhal, bexiga, coração e medula óssea de cães com infecção sintomática (HOVIUS et al., 1999b; STRAUBINGER, 2000).

No Brasil, a borreliose de Lyme já foi diagnosticada em animais (FONSECA et al., 1996) e em humanos (YOSHINARI et al., 1997). JOPPERT et al. (2001) encontraram, em cães da cidade de São Paulo, 9,7% de sororeagentes pelo ensaio de imunoadsorção enzimática (ELISA) indireto; sendo que destes, 69,7% possuíam histórico de contato prévio com carrapatos. Em cães de área urbana, procedentes de municípios da Baixada Fluminense, Estado do Rio de Janeiro, SOARES et al. (1999a) reportaram 20% de animais soropositivos utilizando o teste ELISA indireto.

Várias espécies de carrapatos podem ser encontradas parasitando cães no Brasil de acordo com a região estudada. MASSARD et al. (1981) e O‘DWYER et al. (2001) constataram que cães criados em áreas urbanas eram parasitados principalmente por Rhipicephalus sanguineus, enquanto cães de áreas rurais apresentavam, preponderantemente, espécies de Amblyomma (A. ovale, A. tigrinum, A. aureolatum e A. cajennense).

Os carrapatos do gênero Amblyomma têm potencial de transmitir diversos agentes patogênicos, para cães e seres humanos. Sua possível participação na transmissão de B. burgdorferi no Brasil necessita de estudos. Além disto, B. burgdorferi e espécies correlatas já foram isoladas de carrapatos do gênero Amblyomma (BARBOUR et al., 1996; SOARES et al., 2000).

O presente estudo teve como objetivos avaliar a ocorrência de anticorpos anti-B. burgdorferi e verificar quais espécies de carrapatos ocorrem em cães de áreas rurais do Estado do Rio de Janeiro, correlacionando a detecção de anticorpos contra a espiroqueta com a presença do carrapato.

 


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