Tolerância da soja ao desfolhamento afetada pela redução do espaçamento entre fileiras

Enviado por Lisandro Rambo


Artigo original: "Cienc. Rural, Abr 2004, vol.34, no.2, p.357-364. ISSN 0103-8478" 

1. Resumo

A redução do espaçamento entre fileiras de 40 para 20cm incrementa a interceptação da radiação, o índice de área foliar e o rendimento de grãos. Este trabalho objetivou avaliar se a redução do espaçamento entre fileiras influencia a tolerância da soja à perda de área fotossintética. O experimento foi conduzido, em semeadura direta na Estação Experimental Agronômica da UFRGS, na safra 2000/01. Utilizou-se o delineamento experimental de blocos ao acaso, com quatro repetições, em parcelas sub-subdivididas. Os tratamentos foram desfolhamento em três estádios de desenvolvimento (V9 – nono nó, R2 – floração e R5 – inicio enchimento de grãos), dois espaçamentos entre fileiras (20 e 40cm) e quatro níveis de desfolhamento (0 – testemunha, 33, 67 e 100%). Foi utilizada a cultivar FT-Abyara. Os desfolhamentos realizados no período reprodutivo reduziram o rendimento, sendo o estádio R5 o mais crítico. O rendimento médio de grãos da testemunha não desfolhada foi 21% maior no espaçamento de 20cm (4134kg ha-1) do que no de 40cm (3413kg ha-1) e manteve-se sempre superior, em todos os níveis de desfolhamento. O componente que mais influenciou o rendimento foi o número de legumes m-2. Estes resultados indicam que a redução do espaçamento entre fileiras de 40cm para 20cm é uma prática cultural favorável tanto para as plantas com área foliar intacta quando desfolhadas.

Palavras-chave: Glycine Max (L.) Merrill, rendimento de grãos, estádio de desenvolvimento, arranjo de plantas, área foliar.

2. Abstract

The row spacing reduction from 40 to 20 cm increase radiation interception, leaf area index and grain yield. This experiment aimed to evaluate if the row spacing reduction influence soybean tolerance to loss of photosynthetic area. The research was performed using no-till tillage system at the Agronomic Experimental Station of Universidade Federal do Rio Grande do Sul, during the 2000/01 growing season. Treatments were arranged in a split-split plot randomized complete block design, with four replications. Treatments included five combination of defoliation in three stages of development (V9 – ninth-node, R2 – full bloom and R5 – beginning of seed filling), two row spacings (20 and 40cm) and four defoliation levels (0 – control, 33, 67 and 100%). The cultivar tested was FT-Abyara. Defoliations performed at the reproductive stages decrease grain yield, especially when curried at the begging of grain filling (R5). The control grain yield was 21% higher when soybean was sown with rows 20cm apart (4134kg ha-1) than with 40cm rows (3413kg ha-1). Narrow rows always provided higher yields in all defoliation levels. The component that influenced yield the most was the number of pods m-2. These results indicate that row spacing reduction from 40cm to 20cm is a positive management strategy for soybean production regardless of defoliation level.

Key words: Glycine Max (L.) Merrill, grain yield, growth stages, plant arrangement, leaf area.

3 Introdução

A soja é uma planta que suporta determinado nível de redução de área foliar sem que haja decréscimo significativo do rendimento de grãos. A tolerância da soja ao desfolhamento depende do índice de área foliar (IAF), da taxa de fotossíntese, da quantidade de luz interceptada, da distribuição da luz nos estratos da planta e, possivelmente, da partição de fotossintatos entre as estruturas vegetativas e reprodutivas (HAILE et al., 1998b).

Insetos-praga desfolhadores atuam modificando a arquitetura do dossel, reduzindo a área foliar efetiva, diminuindo a intercepção da luz, a taxa de crescimento da cultura (TCC), o acúmulo de massa seca (MS) e, conseqüentemente, levando ao decréscimo do rendimento de grãos (HAILE et al., 1998b; GAZZONI & MOSCARDI, 1998).

A habilidade da soja de evitar redução substancial do rendimento após o desfolhamento depende de vários fatores entre os quais estão a intensidade do desfolhamento; o desenvolvimento fenológico da soja na ocasião do desfolhamento; a habilidade da cultivar em tolerar ou compensar o desfolhamento; os fatores ambientais, como radiação, precipitação e fertilidade do solo (PEDIGO et al., 1986).

Diversas pesquisas foram realizadas variando épocas (desde estádios vegetativos iniciais até reprodutivo final) e níveis (de 0 a 100%) de desfolhamento, demonstrando desde a não ocorrência de resposta até 87% de redução no rendimento (BOARD & HARVILLE, 1998; GRYMES et al., 1999; RIBEIRO & COSTA, 2000).

Algumas práticas de manejo podem ser utilizadas com a finalidade de aumentar a tolerância da soja ao desfolhamento. Resultados de pesquisas tem mostrado que a redução do espaçamento entre fileiras pode incrementar a massa seca, o IAF, reduzir a competição intraespecífica e, principalmente, possibilitar maior e mais rápida intercepção da radiação solar, em virtude da melhor distribuição das plantas na área, resultando em maior rendimento de grãos (PIRES et al., 1998, THOMAS et al., 1998; VENTIMIGLIA et al., 1999).

Trabalhos realizados com redução no espaçamento entre fileiras de 100 a 17cm, mostraram acréscimo de até 40% no rendimento de grãos da soja (HERBERT & LITCHFIELD, 1982; BULLOCK et al., 1998; PIRES et al., 1998a,b; THOMAS et al., 1998; VENTIMIGLIA et al., 1999). Entretanto, outros autores relataram não ter encontrado aumento no rendimento de grãos com redução do espaçamento entre fileiras (MAEHLER, 2000).

BOARD et al. (1992) e BOARD & HARVILLE (1996) relatam que o incremento no rendimento de grãos da soja em espaçamento entre fileiras estreito pode ser atribuído ao incremento da intercepção de luz durante o período vegetativo e período reprodutivo inicial (R1 até logo após R5). Uma das conseqüências da maior intercepção da radiação é que as folhas da porção inferior da planta, que normalmente não atingem seu potencial fotossintético (JOHNSTON et al., 1969), aumentam a assimilação de CO2.

Assim, a soja poderia tolerar níveis maiores de desfolhamento quando cultivada em espaçamento reduzido entre fileiras do que em espaçamentos amplos, pois as vantagens do espaçamento estreito (tais como maior área foliar e maior acúmulo de MS) permitiriam maior perda de área foliar, resultando na mesma redução da interceptação de luz de plantas menos desfolhadas em espaçamentos mais largos, mantendo o rendimento de grãos equivalente em ambos espaçamentos.

O presente trabalho teve como objetivo avaliar se a redução do espaçamento entre fileiras influencia a tolerância da soja a diminuição de área fotossintética, no sistema de semeadura direta.


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