Topofilia, ecologia e imaginário: os velhos cariris da paraíba

 

 

Belarmino Mariano Neto (*)

1. Memória Cultural e Natureza:

Pensamento, Sentimento, Vontade Pensar a natureza e o homem nos dias atuais, passa por um caminhar de volta às nossas raízes e nesses passos encontrarmos com a natureza primeira, transportados pela produção cultural de uma comunidade, seu imaginário e sua percepção, só será possível se enveredarmos pelas trilhas de uma ciência do povo calcada na tradição, na memória e na realidade da existência, como também pela interpretação do que vemos. (Cascudo, 1971:26).

Este artigo ou capítulos da dissertação de mestrado é a busca da idéia de natureza percebida pelos homens e mulheres dos Velhos Cariris do Rio Paraíba a partir da topofilia, extraída do imaginário, da percepção e da simbolização das comunidades que vivem nas margens do Alto Paraíba. Topofilia como sendo "o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico", onde a memória cultural e a inteligência emocional se fundem na construção do conviver com o semi-árido (Tuan, 1980:106).

A palavra ‘topofilia’ é um neologismo, útil quando pode ser definida em sentido amplo, incluindo todos os laços afetivos dos seres humanos com o meio ambiente material. Estes diferem profundamente em intensidade, sutileza e modo de expressão (ibid. p. 107).

As respostas ao meio ambiente podem ser estéticas, prazerosas, táteis no sentido de sentir a água, o ar, a terra. Sensações que vão enraizando os humanos ao lugar, tornando-os parte integral do meio.

"Mais permanentes e mais difíceis de expressar são os sentimentos que temos para com um lugar, por ser o lar, o locus de reminiscências e o meio de se ganhar a vida. A topofilia não é a emoção humana mais forte.

Quando é irresistível, podemos estar certos de que o lugar ou meio ambiente é o veículo de acontecimentos emocionalmente fortes ou é percebido como um símbolo".(Ibid. 1980, p. 107)

A pesquisa desenvolveu-se na Mesorregião da Borborema (Microrregião do Cariri Oriental da Paraíba)1[1], especificamente no povoado de Riacho Fundo, que se localiza nas margens do Alto Paraíba. Lugar onde realizamos trabalho de campo, com técnicas de investigação oral priorizando a camada mais idosa da população local.

Pesquisamos não a partir de uma temporalidade linear, pois as idéias de passado, presente e futuro se misturam, como em uma "roda de fumaça" (Atlan, 1992:9) dos que viveram e vivem naquele ambiente recheado de incertezas. Daí, filtrarmos a visão, percepção e simbolização da "natureza mãe" (Boff, 1993:39) daquele lugar, que já foi embebida pelos ritmos acelerados da modernização.

Foi nessa área que nasceram meus antepassados, estudá-la sob o prisma da topofilia foi (re)buscar o "religare" de um lugar marcado por uma busca interior, das imagens que quando criança não puderam ser construídas. O direito de ser plenamente sertanejo, pois aos quatro anos de idade fui trazido para viver no litoral da Paraíba. Assim, não pude sentir plenamente o mormaço da tarde, o cheiro da terra molhada ou o trafegar das nuvens que o céu do Cariri possui. Perdi de ver na infância o quanto é suprema e bonita a natureza de minha terra natal. Perdi de ver, de vez, o que talvez não veja jamais.

Neste trabalho, temos na poesia de diversos sertanejos, alguns argumentos que demonstram um certo grau de topofilia pelo Semi-árido, também podendo ser lida na literatura regionalista que em muito marcou o modernismo brasileiro. As práticas culturais seculares, os relatos ou histórias de vida das pessoas idosas, os cantadores de viola que rebuscam na natureza nordestina o sentido de seus versos, e que os poetas populares buscam como corpo identificador das sensações, emoções e atitudes dos que fazem do Cariri paraibano, uma terra de se viver.

A certeza, escreveu Einstein, não vem das provas, mas é anterior a qualquer prova. Ou seja, a certeza vem da evidência imediata da própria realidade. E é a teoria que decide aquilo que podemos observar. Assim será a construção passo a passo, na busca de êxito e no desenvolvimento dos caminhos a serem percorridos.

Nos quais, a flexibilidade e o respeito pelas diferenças apresentam-se como princípios norteadores. É nesse momento que destacamos o tripé: Pensamento/Sentimento/Vontade. No sentido de idéia, sensação e percepção. Onde podemos trabalhar com a consciência doadora do sentido de valorização do vivido, tanto de forma física quanto memorial. O pensamento como representação do conhecimento e da imaginação, buscando-se a experiência forjada pelo subconsciente, ativando possibilidades para o trabalho intelectual; o sentimento como sendo o emocional, o afetivo, a sensação e busca do que foi silenciado em nível do aprender a sentir o mundo. ( Aranha & Martins, 1992:386). O humano enquanto ser que deseja e reage afetivamente aos acontecimentos do meio; a vontade como desejo, ação e criatividade, intenção de procura, de percepção, ou sentir sensorial e emocional, que permitem uma comunhão entre a natureza e o sujeito, onde a afetividade possibilita um reagir aos acontecimentos. Este tripé é a base para a leitura de qualquer realidade, desde que seja usado com equilíbrio holístico, pois "o objetivo do conhecimento não é descobrir os segredos do mundo, mas dialogar com seus mistérios"( Morin,/1995:13).

Esse saber científico, extraído do saber popular e simultaneamente da natureza e dos seus processos naturais, nos mostra um mundo aberto, produtivo e inventivo. E esse momento criativo que estrutura as revoluções científicas, pede o máximo de temperança nessa construção da ciência/natureza/sociedade. Este é um dos nossos caminhos. Buscar no mito, na razão e na emoção a organização da experiência vivida pelos moradores dos Velhos Cariris do Paraíba. Isto é, transformar a experiência vivida em objeto de conhecimento através do sentimento e da imaginação. Uma ciência com consciência emocional, pensamento divergente e intuitivo, no sentido do conhecimento imediato, empírico e racional que nos permita filtrar o que está por trás da aparência exterior do mundo semi-árido.

A imaginação como mediadora entre o vivido e o pensado, entre a presença bruta do objeto e a representação. Assim, "a imaginação alarga o campo do real percebido, preenchendo-o de outros sentidos". (Aranha & Martins, 1992:387).

Levamos em conta um método de análise calcado no modelo da incerteza, (Atlan, 1990:159) onde uma rede de hipóteses, observações e generalizações do mundo empírico observado, será necessária para o desenvolvimento do estudo.

Pois, "A verdade não é dada através de nenhuma consideração objetiva da evidência. A verdade é subjetivamente admitida como parte da experiência e da perspectiva global da pessoa". (TUAN, 198:108).

Uma sociedade cria história e cultura em sua direta e intensa relação com a natureza (Le Goff, 1994:35). Buscaremos através da história oral as idéias de natureza, história de vida e do imaginário, que privilegiem a percepção e topofilia ao longo do tempo pelo Cariri paraibano e os problemas ambientais decorrentes da busca desenfreada pela sobrevivência.

"O novo saber que o gênero humano vem adquirindo não suplanta o saber que se propaga simplesmente pela transmissão direta e oral e uma vez perdido não se pode mais readquiri-lo e retransmiti-lo: nenhum livro pode ensinar aquilo que só se pode aprender na infância ao se prestar ouvidos e olhos atentos ao canto e ao vôo dos pássaros e se houver ali alguém que saiba o nome deles." (CALVINO, Ítalo. Palomar, Trad. Ivo Barroso. São Paulo: Cia das Letras, 1994:25).

A história oral vem no sentido de valorização do conhecimento popular e das experiências vividas pelos que fazem os Velhos Cariris do Paraíba.

A cultura influência a percepção a ver coisas inexistentes. Logo, os conceitos de cultura e meio ambiente serão superpostos aos de homem e natureza. Onde o olhar dos que vivem na região pesquisada deve ser complexo por estar imerso na totalidade de seu meio ambiente.

A escolha do referencial bibliográfico a partir de trabalhos escritos sobre a região, produções teóricas calcadas nos paradigmas da incerteza, imaginário, topofilia, relação sociedade natureza, visão holística, espiritualidade, afetividade, cultura e ecologia social, entre outros, os quais subsidiaram nossa leitura do processo de modernização, da ciência e da técnica moderna, pilares fundamentais para entender as culturas fragmentadas, desenraizadas do mundo natural, desencantadas de seus mitos, explicações mágicas e tradições seculares, a partir de um olhar geo-ecológico2[2] sobre a paisagem, identificando os diferentes aspectos do meio ambiente holístico; Yu-fu Tuan, em sua obra TOPOFILIA - Um Estudo da Percepção, Atitudes e Valores do Meio Ambiente, é um dos principais norteadores das idéias de construção dessa pesquisa. A leitura e interpretação de seus trabalhos influenciaram toda uma rede de desejos em aprofundar o estudo das idéias e valores do semi-árido, em relação aos aspectos da cultura, da natureza, homem e meio ambiente.

As obras do pensador Cornelius Castoriadis nos permitiram construir uma teia de relações com outros pesquisadores do imaginário, para daí apreendermos a construção de imagens do semi-árido no Cariri do Paraíba.

Apesar de estarmos fazendo um corte diferencial em relação a estes autores, consideramos todos os demais e seus livros que aparecem na relação bibliográfica, como os responsáveis pela pluralidade de idéias que nos permitiram enveredar por tão complexa proposição.

Os capítulos que tratam dos aspectos sócio-econômicos e fisiográficos foram produzidos com base em dados do IBGE, SUDENE, do Atlas Geográfico do Estado da Paraíba/UFPb e de pesquisas realizadas por estudiosos da Região.

Adotamos como estratégia básica para coleta de dados, a "técnica do diálogo, dando privilégio para história oral," especialmente os relatos de pessoas idosas, e adultos do Cariri Oriental, para a partir de suas práticas culturais identificarmos a relação sociedade/natureza. Os símbolos da paisagem que surgem nas mentes, nas lembranças e que respondem emocionalmente aos aspectos do lugar (Gay, 1990:38). Estes elementos se apresentam como corpo que relaciona-se diretamente com as práticas cotidianas dos diferentes grupos sociais, onde o testemunho oral representa a gênese da investigação, esclarecendo os eventos ou processos que as vezes não seriam elucidados de outras formas.

Os testemunhos orais foram depoimentos de pessoas em geral analfabetas ou semi-analfabetas, que geraram entrevistas sistematizadas e dissolvidas no corpo geral da pesquisa, resultado de diálogos e aproximação direta entre os sujeitos envolvidos, permitindo a definição dos caminhos alternativos de nossas interpretações.

A escolha da história oral dialogal veio na perspectiva do tempo presente, legitimada pelas fontes vivas e conviventes, recuperando-se e recriandose o objeto da pesquisa por intermédio da memória dos que se dispuseram a relatar suas práticas de vida, suas impressões do mundo, suas crenças, recordações, esquecimentos e sonhos. Narrativas que nortearam nossas reflexões, funcionando como uma espécie de ponte entre a teoria e a prática, influenciando imbricações das histórias despertadas pela memória. (Ferreira, M. 1996:31-3).

Memória e oralidade possibilitaram as lembranças e o reencontro com os momentos vividos, dos tempos bons e ruins que a história de vida traz ao pensar do tempo presente nos permitindo obter e desenvolver conhecimentos novos, fundamentando nossas análises em novas e inéditas fontes, criando espaço de contato e influência sobre nossos passos e interpretações da vida e a experiência dos que convivem com a natureza semi-árida do Cariri paraibano Os depoimentos orais complementam outras fontes documentais, pois consideramos a evidência oral como uma renovação no estabelecimento de relações com as pessoas entrevistadas, criando-se a integração e vínculo pessoal com os que participaram. E que mesmo não sabendo escrever puderam se expressar, expondo sentimentos e atitudes frente ao mundo. Rememorando experiências vividas, às vezes em fragmentos de memórias, recheados de sensibilidade, alegria ou dor, onde tanto os que contam, quanto os que escutam, se emocionam, criando esse novo ambiente, onde um vive e o outro revive e, no reviver, o recriar da história. É uma experiência cuidadosa e de aproximação, onde a confiança é de extrema importância, pois partilhar de histórias de vida é revirar os segredos do alheio, mesmo autorizado. Pois a memória quando ativada, se torna livro aberto e história viva.

O mais importante foi recuperar experiências e pontos de vistas individuais e coletivos daqueles que nem sempre são considerados. Com isso, buscar uma idéia da natureza, de baixo para cima, onde a memória seja incorporada às outras fontes, métodos e abordagens. A memória coletiva como sendo energia e imaginação para nossos diálogos construtivos. Mapas mentais da história de vida que completam o sistema dos fenômenos físicos, biológicos, psicológicos, afetivos, sociais e culturais, em completo estado de inter-relação e interdependência essencial.

Para análise do material empírico e confronto com a base teórica, fizemos uma quadrangulação entre o imaginário, a oralidade, a natureza e a topofilia percebida, usando como forma de linguagem, a narrativa descritiva e informativa para expor literalmente e diagnosticar até que ponto o processo de modernização já acha-se desenvolvido na região, interferindo diretamente no cotidiano e práticas culturais locais, bem como a influência desse desenvolvimento na constituição do imaginário dessas comunidades, pois essa linguagem permitiu um modelo de compreensão teórica do objeto, onde a narrativa, assim como a descrição possibilitaram espelhar a nossa percepção e a percepção que a comunidade possui de si e da natureza ao seu redor, se reconhecendo, identificando os problemas e potencialidades, para uma possível análise da realidade natural, cultural e social, resultantes das práticas cotidianas.

Entre os recursos técnicos utilizados no desenrolar da pesquisa, optamos pela aplicação da técnica de análise de conteúdo, por considerar um recurso que se ajusta à análise dos fenômenos e conteúdos decorrentes de uma pesquisa que envolva imaginário, historia de vida e memória oral. Considerando a observação de estrema importância para nosso planejamento da pesquisa, reflexões, leitura e registro de diferentes ações.

Fizemos uma cobertura fotográfica da região estudada, que resultou em um olhar ecológico da paisagem do Cariri do Paraíba. Adaptamos produtos cartográficos de ordem temática com mapas já existentes sobre a região, filtrando aspectos do meio ambiente natural histórico e social da área; além de anotações, relatos e experiências em relação às comunidades estudadas.

Com estes passos, olhamos ecologicamente a natureza das coisas naturais e humanas no delimitado espaço, a partir de uma pesquisa empírica.

Para tanto, nos prenderemos às apreensões que o homem faz do mundo através dos seus sentidos: nas formas, nas cores, nos sons, nos odores, nos seus movimentos corporais, nos sabores do comer e beber, e nos sentidos de reflexão e reação dessa construção que imaginamos ser o real.

Mais que um "trivium" de sensação, percepção e representação, acrescentamos a este simbolismo da vida individual e coletiva, comunicação e identidades. Um pentagrama do universo emocional e material do humano.

Confirmando-se assim os sentidos superiores, onde as sensações recebidas e percebidas se comunicam para a construção das imagens que permitem todos os comportamentos que nos identificam no meio ambiente.

 

2. Os fios invisíveis da grande teia

"Marco Polo descreve uma ponte, pedra por pedra.
- Mas qual é a pedra que sustenta a ponte? Pergunta Kublai Khan.
- A ponte não é sustentada por esta ou aquela pedra - responde Marco, - mas pela curva do arco que estas formam.
- Kublai Khan permanece em silêncio, refletindo. Depois acrescenta.
- Por que falar das pedras? Só o arco me interessa.
Polo responde,
- Sem pedras o arco não existe.
(CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 1998)

Este é o nosso desafio, falar dos fios invisíveis que formam a grande teia que permite o existir das coisas da vida. Coisa que Calvino faz com grande força, demonstrando não só as forças que sustentam a matéria, mas também aquelas que dão sentido ao existir.

Usar categorias como o imaginário em nossa pesquisa é trazer para o campo das ciências ligadas à natureza e especificamente à ecologia o imaginário como objeto de reflexão acadêmica e mais um caminho real em uma pesquisa empírica sobre o meio ambiente, visando ampliar o conhecimento de forma holística.

Para tanto, chamamos a atenção de três aspectos: o primeiro visa situar historicamente a idéia de imaginário, pois trata-se de uma categoria polêmica no meio acadêmico. Neste sentido, apontaremos os principais autores que trabalham com o imaginário e os clássicos pensadores que negaram o imaginário como viabilizador científico.

O segundo aspecto que aponta para a conceitualização de imaginário e, finalizando, contamos com a viabilidade do imaginário enquanto fonte de análise e explicação para as relações homem/natureza, tendo a terra como fonte de símbolos e significados, a força desses símbolos, as imagens e o imaginário como base das representações humanas sobre o meio ambiente semi-árido do Cariri paraibano, como morada humana.

O imaginário pode ser entendido como fonte atuante da idéia e da representação mental da imagem. Energia que se formaliza individual e coletivamente, materializando-se em ações informadas por imagens e símbolos.

Desvendar o imaginário significa revelar o substrato simbólico das ações concretas dos atores sociais tanto no tempo como no meio ambiente vivido. Isto é, a mediação essencial entre o mundo interior e exterior, entre o real e o imaginário, supondo-se a utilização de símbolos, signos e alegorias (CASTORIADIS, 1987:447).

A força dos símbolos, das imagens e do imaginário explicam as representações humanas sobre o meio ambiente. A terra como um registro simbólico e fonte de sobrevivência, práticas codificadas e ritualizadas no imaginário estabelecido nas relações homem/natureza (ATLAN, 1992:176). Estes elementos adquirem uma existência mental que se configura entre o cérebro humano e o ambiente. A consciência-memória e os padrões de imagens formam-se ininterruptamente, acumuladas na memória e projetadas num futuro por definição imaginado.

Passamos a considerar o imaginário conceitual e empiricamente como uma alternativa metodológica para lidar com a complexidade dos fenômenos ecológicos e sociais - incorporação do não racional, do emocional, do impreciso, e de suas contradições.

Sabemos dos riscos e inconvenientes das questões abordadas, pois algumas idéias ou correntes de pensamentos perfazem períodos históricos muito longos, daí a prevenção em relação aos possíveis erros de interpretação, pois se uma ponte não preenche o vazio, assegura no entanto uma passagem e uma continuidade (LENOBLE, 1990:127) . A história permanece fragmentária, mas pelo menos sem um hiato, pois buscamos elos que liguem cada um dos contextos que integralizam a pesquisa. Mesmo que a ponte esteja sobre o abismo, onde o cronológico pareça fractal, mas a lógica filosófica nos aponte uma leitura ou interpretação do mundo.

 

2.1 Os mistérios da imagem

Nas diferentes civilizações, a imagem é algo que se propaga de forma ambígua. Primeiro o homem faz a imagem de Deus em barro, pedra, madeira, metal, montanhas, vulcões, etc. Estátuas, imagens estáticas de uma natureza humana, que deixa de ser imagem para ser fragmentos do real, pois a imagem se afasta do material escultural, perdendo a idéia de amuleto ou totem e ganha sentido imaginário.

O humano como uma modelagem de argila, imagem e semelhança que em um sopro divino é configurado busca no vazio desta imagem atingir o ser, o sopro divino. O homem enquanto imagem visível e exposta pelo sopro do "espírito criador," vai se construindo pelas abstrações da mente, a "luz invisível" que conduz, caracteriza e fundamenta toda a lógica judaico/cristã. "O homem como imagem de Deus" (Gên. I, 21). O poder diferencial de elaborações a partir do visível e do invisível, nos permite construir fragmentos da realidade, a invenção do oculto, recheado de símbolos invisivelmente imaginados. As imagens em ídolos de ouro, barro, madeira e metal... O verbo que se faz carne para arquitetar a criação e a origem do mundo dos homens.

Desde a Antigüidade grega que as questão imagem/imaginário e razão estão colocadas como substratos de busca da verdade e do conhecimento, mesmo estando em completa tensão.

Para Sócrates, Platão e Aristóteles, a verdade só seria possível através da experiência dos fatos. Mesmo assim, o pensamento platônico via no mito um caminho para aquelas verdades não demostráveis, graças a sua imagem simbólica.

Platão identifica o animal selvagem dentro de nós passando do estado de natureza ao estado de graça, o homem animal e espiritual construído no limiar da razão e do mito. A identidade do pensamento e do verbo estabelece o nome das coisas, permitindo a crença, o encanto e o desencanto. O sonho aparece como uma irrupção do exterior no interior de "nossa caverna". O filósofo diz que, "Nem um pensamento nos vem ao espírito sem um fundamento em si". Logo a "imagem mais espontânea, ou a idéia mais gratuita, será aceita como produto de um objeto exterior". (Russell, 1969: 135 - 136) Aristóteles afirma que "a essência será aquilo que se diz comumente ser uma coisa e a lei aquilo que acontece habitualmente". (Russell, 1969:187) O pensamento materializado pelos elementos abstratos. Mesmo que em essência, as coisas sejam desprovidas de consciência, ou que as nossas fantasias sejam consideradas como o inexato. A fonte das idéias encontra-se nos elementos externos (empírico) e nos elementos internos (inconsciente). Aí reside a construção mágica. Qual a razão da consciência, se não a razão da magia? Os gregos buscam no espaço astronômico e geografia de suas montanhas e vales a condição sine qua non para justificar seus deuses. Zeus e o trovão como dardo de poder; Vulcano com seu sopro; e os ventos uivantes como a voz de Eólo, deus das tempestades. Essa mistura de matéria e imaginação que se faz divino para os que olhavam o olimpo magicamente. O sol, o mar, o vento, as montanhas, e amor de Zeus, uma sábia e mitológica ordenação rudimentar da natureza em seus elementos. Saturno ou Cronos, filho que se liberta ao matar o pai. Os deuses pagãos do Olimpo que conviviam no imaginário dos gregos, partilhavam as injustiças, aventuras e tragédias dessa civilização. (Lenoble, 1990:55-6) O homem grego que nos deu o legado do pensamento e cultura ocidental, lia na entrada do templo de Delfo: "Lembra-te de que não passas de um homem". Nos chama para o conhecimento de nossa dependência e limites, mas ao mesmo tempo nos coloca na condição de homens que dialogam com o divino.

Sócrates, com toda sua construção moral e antropocêntrica, nega-se a pensar nas coisas sem alma e sem fala, apontando "o espírito humano como o conquistador do mundo, e quando se liberta das sombras começa a ver uma natureza que ilumina tudo." (Lenoble, 1990:59).

Estes podem ser considerados os artesãos da mente, de uma mentalidade primitiva que associam o mundo ao labirinto de imagens que torna o homem consciente de si. A idéia de natureza como imagem de violência e temores da consciência atormentada cede lugar para a fenomenologia platônica como princípio único. E Tales e Heráclito reencantam o homem. Tales discorre sobre a gruta das nínfas e coloca a água como a mãe da vida; Heráclito identifica o fogo como princípio de vida para os alquimistas. (Lenoble, 1990: 62) Sócrates demonstra uma psicologia do espírito concreto e Pitágoras ver a matemática como ciência do espírito puro e isolado das coisas. Platão vê o mundo como "um imenso animal, o animal perfeito que encerra todos os outros, e Deus pôs nele uma alma racional". Ele harmoniza as memórias mágicas herdadas da mente primitiva dos gregos. (Aranha & Martins, 1992: 38 - 42) As obscuras imagens e formas de pensar de Homero e Hesíodo nessas tradições, buscavam o sentido de alguma verdade oculta. Imaginário que desafia o tempo.

 

2.2 Imagem, imaginação, imaginário

No século XVI, o pensamento racionalista é enfático em dizer que toda reflexão precisaria estar calcada na experiência e na razão, pois só assim acessavase o verdadeiro conhecimento. Com isso os racionalistas entendiam que a imaginação por constituir fontes de falseamentos e erros, não poderia ser incluída enquanto objeto de reflexão.

Os pensadores iluministas desprezaram a imagem/imaginação, pois argumentavam que o imaginário e a realidade concreta são plenamente contraditórios. Pensadores como Descartes, Pascoal e Spinoza argumentavam que o imaginário era uma fonte de ilusões, fantasias e ausência ou negação da razão. Por tanto, não davam nem uma contribuição ao desenvolvimento da ciência. (Aranha & Martins, 1992:) Estas correntes de pensamento se consolidam quando Descartes afirma que o método proposto é exclusivamente o único meio de acesso à verdade científica.

(Aranha & Martins, op. Cit., 1993:85). A ciência moderna estabelece suas bases e relega à imagem a arte de falsear a razão, sombreando a verdade e não podendo demonstrar o conhecimento verdadeiramente.

Do século XVIII ao XIX restaram apenas os fragmentos platônicos como alicerces para a crítica do domínio da razão como única fonte de acesso à verdade.

Kant aponta alguns caminhos de resistência ao racionalismo dogmático, na obra "Crítica da Razão Pura". No século XIX, as críticas se voltaram para os excessos do mecanicismo cartesiano. Talvez estejam aí os primeiros passos de resgate da imagem não apenas como objeto do conhecimento, mas como todo objeto possível de uma representação (Sartre, 1980:327). Chegamos ao século XX, momento de prática e exercício dos preceitos da ciência moderna, mas também um tempo de intensificação das polêmicas em relação ao real, a razão e ao imaginário.

No que tange à imagem, imaginação e imaginário, destacamos aqui alguns autores como Castoriadis, Sartre, Bachelard, entre outros.

Como nosso objetivo aqui é apenas argumentar em favor do uso do imaginário como objeto de reflexão e possibilidade metodológica na pesquisa empírica na área de ecologia, apresentaremos alguns fragmentos e argumentações que estes autores desenvolveram em seus campos de pesquisa.

Todo esse pensamento passa pelo simbólico. Entendemos que os signos, símbolos desse imaginário, se processam necessariamente no meio ambiente, fonte dessas construções. "O imaginário é a conexão obrigatória, através da qual se constitui toda e qualquer representação humana." ( Durand apud., Castro, I. et al. 1997:168).

Sendo o imaginário função e produto da imaginação, acaba por incorporar e reconstruir o real, mediando a realidade. As imagens e a imaginação são percebidas como faculdades de conhecimento e estado de conhecimento essenciais em nossa direta relação com o mundo. O imaginário é o objeto de reflexão que não pode ser excluído pela razão. (Sartre, 1980 e Castoriadis, 1991).

O imaginário como sendo a "criação incessante e essencialmente indeterminada de figuras, formas, imagens, a partir das quais somente é possível falar-se de alguma coisa" ou aquilo que denominamos "realidade e racionalidade" como sendo seus produtos (Castoriadis, 1991:94).

Se a razão iluminista e a objetividade necessárias ao fazer científico expulsam de suas argumentações tudo o que não tiver existência concreta ou que não puder ser explicado de acordo com a razão, faculdade que tem o ser humano de avaliar, julgar, ponderar, classificar, justificar. Essa razão se mostra limitada, pois não abre espaço para novos percursos intelectuais que superem a rigidez de um esquema explicativo.

Claro que não queremos perder de vista o princípio do método, mas algumas questões passam pelos paradigmas científicos dos fenômenos complexos, que não podem ser simplificados ou reduzidos às suas casualidades, concretas, visíveis e objetivas.

Na psicologia e na psicanálise Freud (1974) e Jung (1987) em suas pesquisas e experiências, argumentaram em favor do imaginário pois, para eles as imagens representam mensagens que chegam à consciência a partir do inconsciente. Talvez Jung bem mais que Freud, tenha revalorizado a imagem e o simbólico que permitem o resgate psicológico do imaginário. Em seu método terapêutico, identifica os arquétipos - imagens psíquicas do inconsciente coletivo, herança de toda a humanidade - do coletivo ao indivíduo (imaginário social).

Como podemos ver, a conexão das idéias sobre imaginação, imagem e imaginário são utilizados quase que exclusivamente por autores na filosofia, antropologia, sociologia e psicologia. O uso do termo imaginário amplia as possibilidades empíricas de utilização do conceito. Usá-lo no campo da ecologia enquanto contribuição para o debate e à elaboração de novas questões que de um ponto de vista acadêmico representem um avanço tanto para o tema em geral, como para a nossa área em particular.

Ao considerar que podemos ser profundamente influenciados pelas coisas da natureza, certa colina ou montanha, o vale de um rio, uma baía, ou um lago, podem oferecer profundo foco emocional para a vida de uma pessoa, família ou comunidade. Talvez, aí resida o verdadeiro sentido da ecologia enquanto uma ciência que pense o melhor para a Terra, logo para todos os filhos dessa Terra. Pois, o princípio de aproximação, reconhecimento e relação direta com o ambiente não permitiria a perturbação do meio. Isso pode ocorrer com a natureza que se encontra perto de nós, revelando em nós uma ecologia da alma e do coração (Moore, 1993:34).

Para as ciências emergentes como a Ecologia, que está relacionada com o desenvolvimento humano e a natureza, trabalhar com o imaginário torna-se mais que nunca necessário. Esse é um dos caminhos que aponta como definidor consensual de novos paradigmas científicos e quando incorporamos à imagem, ao simbólico e ao imaginário como problemas que devem ser considerados na busca do conhecimento, isso tudo vinculado à natureza, e aos componentes da construção humana; associação e experiências com a natureza, estamos de fato tentando ampliar nossos horizontes e possibilitando uma melhor leitura dos fenômenos naturais e humanos.

Nossa preocupação não é apenas encontrar uma definição de imaginário humano, queremos apenas apontar as possibilidades para a compreensão das formas de interação, apropriação e relação do homem com o meio ambiente.

Sabemos o quanto as ciências sociais contribuíram no desenrolar dessa polêmica do real/razão, imagem/imaginação. E nas contradições, desejos, pulsações e conflitos vividos pela ciência e pela sociedade, chegamos aos momentos de crises paradigmáticas e epistemológicas. Isso tudo, na tentativa de novos caminhos. E se as ciências sociais utilizam os valores simbólicos como recurso empírico para compreender o imaginário, para daí conhecer as formas de organização social, buscaremos a terra e o homem como fundadores do imaginário humano. Seus mitos e rituais, signos e símbolos como fontes das relações homem/natureza. A motivação simbólica dos elementos terrestres: terra, água, fogo, ar, mineral, vegetal, e os elementos bióticos em geral, como fundamentadores da imaginação criadora.

Os valores do espaço habitado, a casa constitui a concha protetora e criadora de imagens que permanecem guardadas escondidas nas profundezas da alma humana. Assim, o valor simbólico do meio ambiente vivido está contido na proposta de pesquisa, a topofilia para determinar o valor humano do lugar, enquanto espaço de posse, espaço proibido, as forças adversas, espaços amados (Castoriadis 1991:107). Uma espécie de relação psicológica do homem com seu meio - os lugares físicos de nossa vida íntima - o elo afetivo entre a pessoa e o lugar. Sua dimensão emocional e material - o indivíduo no meio e no coletivo.

O ambiente é um nicho, um abrigo no qual o laço se torna lugar - imaginário territorial, onde os objetos naturais ou construídos estão diretamente relacionados com a existência humana (Maffesoli, 1987:52).

Assim, a memória se alimenta de uma materialidade, uma espécie de coleção de imagens presentes que a memória lembra e reconstitui em relação ao lugar, objeto ou sentimento. Assim, os elementos da natureza como rios, montanhas, campos, florestas e as construções humanas transformam-se em imagens, caminhos e representações de uma comunidade em sua vida quotidiana. Podemos notar isso, no modo de ser das pessoas e no falar da terra. As imagens da natureza, os fragmentos da lembrança em busca de um sentido, compreensão das imagens mentais que estabelecem a idéia de natureza. A terra, a vida e o homem formam esse complexo físico, biológico e antropológico (Morin & Kern, 1995:55).

"o homem não nos interessa apenas por que somos homem. O homem deve nos interessar porque, de acordo com tudo que sabemos, o fantástico nó da questão está ligado à existência do homem. Ao tipo ontológico de ser por ele representado não é resistível à física ou à biologia" (Cf. CASTORIADIS, 1987, p.227).

Na busca dessa ligação conceitual entre ecologia e imaginário, chegamos à "Terra - Pátria" de Morin, onde o autor afirma que está cada vez mais convencido de que a ciência antroposocial tem de articular-se com a ciência da natureza, e que esta articulação requer uma reorganização do saber.

"A revolução nas concepções do mundo, da terra, do homem, que se operou no século XV ocidental não passou de uma crise ministerial em relação às formidáveis subversões que as aquisições científicas de finais do século XX trouxeram. Tivemos de abandonar um Universo ordenado, perfeito, eterno, por um universo em devir disperso, nascido do esplendor, onde jogam ordem, desordem e organização. (...) Tivemos que abandonar a idéia de um homem sobrenatural resultante de uma criação separada, fazendo-o emergir de um processo em que ele se separa da natureza sem, contudo, dela se dissociar. (...) A vida é uma emergência da história da terra, e o homem uma emergência da história da vida terrestre. (Cf. MORIN &KERN. Terra Pátria 1995, p. 50).

O "homo sapiens" passa a ser considerado como um novo ponto de partida.

E, para sua sobrevivência no ambiente atual, serão preciso novas adaptações biosócio- culturais que respondam com uma prática de equilíbrio homem/meio/homem.

A imaginação como mediadora entre o vivido e o pensado, entre a presença bruta do objeto e a representação. Pois a imaginação ao tornar o mundo presente em imagens, nos faz pensar (Aranha & Martins, 1992:386). Saltamos dessas imagens para outras semelhantes, fazendo uma síntese criativa. O mundo imaginário assim criado não é irreal. É antes pré-real, isto é, antecede o real porque aponta suas possibilidades em vez de fixá-lo numa forma cristalizada. Assim, a imaginação alarga o campo do real percebido, preenchendo-o de outros sentidos.

As imagens do Nordeste enquanto região das secas passam a marcar significada importância neste momento do trabalho, pois a realidade semi-árida pode ter vários sentidos e significados para os que vivem este meio natural socialmente.

 

3. Terras desencantadas, imagens desfocadas

Antes mesmo de adentrarmos em nossa área de pesquisa específica e considerarmos a natureza vista como suporte para a subsistência ou para o processo de desenvolvimento econômico, até as perspectivas dos entraves naturais a ambos, apresentaremos de forma bem clara, alguns elementos simbólicos e imagens que cristalizam o imaginário de Nordeste Semi-árido, tanto regional, quanto nacional.

Estas imagens aqui apresentadas são bastante amplas, mas podemos notar suas reproduções locais ou de nossa área de pesquisa.

Desde o século XIX, a natureza semi-árida é vista como principal causa dos problemas da região e tem sido amplamente utilizada no discurso das elites regionais para obtenção de maiores benefícios.

A idéia de que o clima semi-árido é o principal responsável pelo atraso do Nordeste faz parte do imaginário regional e nacional, revelando-se a percepção na qual o determinismo da natureza está implícito, na idéia de Euclídes da Cunha, em que o "o sertanejo é antes de tudo um forte" (Castro, J. de. 1997:178).

Temos o estabelecimento de uma imagem em que a região e seu povo estão condenados à pobreza e ao sofrimento, por uma natureza difícil de ser domada.

Sendo assim, a seca deixa de ser um fenômeno natural representado pela ausência temporária de chuvas, e torna-se o símbolo identificador da região Nordeste e todos os problemas sócio-econômicos que são peculiares às condições de sua natureza hostil, como miséria, doença, fome, analfabetismo, descapitalização, etc.

O texto que segue é uma matéria jornalística publicada pela revista Veja, no dia 21/05/1998, escrita por Ana Cíntia Campos e outros, intitulada O Fantasma da Fome, fazendo um resgate dos prolongados períodos de estiagem no Nordeste brasileiro:

"A seca não apenas é previsível como obedece a um ciclo físico perfeitamente regular. A pior veio em 1877.

Arreganhou sua carranca braba nos céus do Sertão e ceifou a vida de 57.000 nordestinos. Quando soube da tragédia, diz a História que Dom Pedro II chorou.

Neste século, ela já irrompeu 23 vezes. Nunca mais foi tão devastadora como há 121 anos, mas sempre deixou seu rastro horrendo - miséria aguda, doenças ou epidemias, enormes migrações, choro e desespero.

Desta vez, como espectro sinistro, ela lança sua ameaça sobre 10 milhões de nordestinos em 1.209 cidades. Já é a pior dos últimos quinze anos. Se o sol continuar inclemente pode vir a ser tão cruel quanto a de 1983, a mais devastadora deste século" (Veja, Abril [on-line], São Paulo: 21/05/1998).

Nesta matéria, fica premente a idéia ou imagem da seca como base dos problemas do Sertão nordestino. Este fenômeno se reveste de um gigantesco corpo que ofusca todo e qualquer desajuste do mundo social na região. O texto jornalístico continua enfocando a seca como o maior problema dos nordestinos, enquanto que os problemas sócio-econômicos são escamoteados e o fantasma da fome, que assola todos os recônditos lugares dos Sertões, é revestida como fenômenos naturais, ou vontade de Deus, em função da falta de chuvas.

São comuns os discursos de políticos nordestinos dizendo que a ausência de água no Nordeste desagregou famílias inteiras, semeou miséria, fome e sofrimento, vitimando milhares de pessoas (Castro, I. 1997:181-82).

Observando uma série de dados da SUDENE3[3] sobre áreas de exceção da Paraíba e dos sertões de Pernambuco, hidrologia, irrigação, e aproveitamento hídrico, constatamos que, na atualidade já temos uma grande quantidade de reservatórios de água, fruto da açudagem e outros meios, que desde o início do século torna a região sertaneja do nordeste brasileiro, como sendo a região semiárida com forte presença de água à nível mundial. Mesmo assim, os representantes políticos regionais e alguns meios de comunicação da atualidade alimentam o imaginário da miséria e atribuem as dificuldades de desenvolvimento aos fatores gerados pela seca.

A literatura regionalista da segunda fase do Modernismo, reflete bem essa tônica e tema. Em 1938, Graciliano Ramos é um dos melhores exemplos no trato com temas que relacionam com a seca, a fome, a fé e a bravura do povo sertanejo.

Assim são os filhos da seca. "Vidas Secas". Uma geografia dos condenados pela sociedade e pela natureza. O escritor narra o sofrimento da família de retirantes e juntamente com sua cachorra Baleia fogem do Sertão em busca de uma cidade imaginária, onde a fartura e a dignidade seriam restituídas.

Graciliano nasceu em 1892. Estamos em 1999, ou seja, mais de um século e a situação de muitos sertanejos ainda é quase a mesma, e apesar de Graciliano não responsabilizar apenas a seca pela tragédia familiar, para muitos, ela é identificada como causadora dos grandes problemas do Nordeste brasileiro.

Enquanto isso, as capelas são uma marca em cada lugarejo do Nordeste.

Falta tudo, mas é o sofrimento que alimenta a fé dos que teimam em personificar a saga do sofrimento.

É comum culpar a terra de ruim, responsabilizar a seca como a grande culpada pela fome, enaltecer o sertanejo chamando-o de bravo que jamais se entrega. Aquele que olha para o céu e vendo uma nuvem passando, indo embora, mesmo assim ele resiste, teima em ficar. Outros detratam os homens e mulheres simples dos sertões considerando-os moribundos em seus trajes de apagar fogo, analfabetos e rudes. São assim os personagens de "Vidas Secas". É assim o real dos que vivem a "tragédia nordestina".

Os "industriais da seca" ( latifundiários, prefeitos, deputados e governadores), garantem com os ‘votos de cabresto’ poder regional. Estes mandatários do Nordeste fazem questão de identificar a seca como algo incerto, imprevisível, e atribuem toda a sorte de problemas a este fenômeno natural.

O mais grave é que as pesquisas cientificas já confirmaram este fenômeno natural, como previsível. Ou seja, não existe a hipótese de uma seca, ela é uma certeza, equivalente a um ciclo de vida/morte a triangular o nascimento, o desenvolvimento e o declínio de uma vida estável.

Em média, a cada 13 anos, teremos um período de prolongada estiagem. E, se ela agrava os problemas sociais, resta aos governantes sanarem os problemas sócio-econômicos e planejarem projetos de convivência com a seca. Mas parece que a melhor opção é eternizar os personagens de Graciliano Ramos, em cada família pobre. Assim, "Vidas Secas", escrito há sessenta anos, pode ser lido em cada canto do Nordeste. Este romance pode ser folheado página por página, cujos cenário e personagens, inalterados, permitem a narrativa do real.

As imagens do céu sertanejo parecem que nunca mudam. Um céu seco de água estaticamente amedronta e cria esperanças, mesmo que sejam passageiras.

Seguir a rota das nuvens é buscar a mágica de uma viagem sem fim pelo Sertão afora. As "vidas secas" imaginam nuvens cinzentas para derramar água no leito de morte dos muitos rios temporários do Nordeste. As nuvens secas se dissipam entre o cristal e a fumaça das incertezas (Atlan, 1992). São objetos fractais ao acaso, formas criadas pelo caos. Uma geometria da natureza, que para muitos, pode representar uma aberração, mas que desafia os homens a conviver com esse ambiente.

Ao lado da saga de "Vidas Secas", temos a "Triste Partida", outra saga dos nordestinos. Uma leitura do poeta Patativa do Assaré, que no sofrimento de um povo, consegue identificar as profundezas de suas raízes ao lugar. Imagens que nos levam a uma topofilia percebida (Assaré, 1985:355) 4[4].

A "Triste Partida", enquanto poesia é um desafio a nossa imaginação. Uma seqüência de sofrimento, esperança e desesperança. Algo parecido com "a via crucis" dos sertanejos nordestinos em que o filho deposita a sua fé clemente em Deus. Sofrimento, resignação, e desespero diante das forças da natureza.

Ter que sair da terra, fugir, ser retirante, errante pelas estradas que cada vez mais lhe distancia de sua terra de origem, partir de um lugar que se ama, onde estão enterrados os seus mortos, cravadas as suas lembranças e seus sonhos de uma vida. Esta linguagem narrativa coloca o roceiro e sua família enquanto seres humanos simples e fortemente apegados à terra natural. Imagens que buscam fidelidade até no resgate do português falado nessa região, dentro da lógica mutante de uma língua em formação, ligada às misturas étnico-culturais que foram se processando nesse ambiente, lócus onde experimentaram uma vida ligada à esta natureza semi-árida, onde se apegar a Deus deseperadamente e buscar de todo jeito um jeito de ficar (SOUZA NETO, 1997:37-8).

"No dia 12 a noite, coloca-se uma tábua com os nome dos meses de janeiro a julho. Depois põe-se uma pedrinha de sal em cima de cada mês. Se, ao amanhecer, as pedras de sal estiverem todas juntas, dissolvidas, então o ano vai ser bom de inverno. Ao contrário será seca. (...) Perceber a forma dos experimentos, por serem de caráter empírico e metafísico, pois o resultado que se obtém não do conhecimento das leis da circulação atmosférica, nem da quantidade de água no ar, capazes de provocar hidratação do sal que perdendo sua condição saturada, desmancha-se. Ora, o que provoca chuvas é a saturação do ar pela água ou, em outras palavras, um aumento a 100% da umidade relativa do ar". (Ibid. 1997:40-1).

O menino Jesus, Santa Luzia, Virgem Maria, São José, Padre Cícero, São Severino dos Ramos, e mesmo se agarrando a todos os santos, tem anos que o homem semi-árido não é atendido em suas preces e experiências nas pedras de Sal.

A experiência da véspera do dia 13 de dezembro (dia de Sta. Luzia) é uma medida certa para o sertanejo, mesmo os experimentos não confirmando as chuvas, ele continua firme em suas esperanças e busca outras formas de prever à tão esperada invernagem, da qual depende o seu continuar a tão amada e amarrada vida a este chão. Espera a barra, que em dezembro pode anunciar a chuva e o prenúncio de nascimento do menino Jesus, observa o comportamento dos pássaros de arribação como a asa branca ou a acauã.

"No Sertão há quem diga que acauã possui certos poderes encantados. Através de fenômenos variados prevê a mudança de estação. De fato no auge do verão ele entoa seu cântico de tristeza. De repente um milagre, uma surpresa. Cai chuva benéfica e divina.

Quem lhe diz quem lhe mostra, quem lhe ensina? Só pode ser o autor da natureza." (Cf. Ivanildo Vila Nova e Xangai, Mutirão da Vida. RJ.: KCD Kuarup, 1998).

Em Riacho Fundo, ouvindo algumas experiências sobre as forças da Natureza, o Sr. José Costa do Bonfim (Zé Paizinho), 75 anos, nos conta que existem várias formas de saber sobre o inverno. Uma é quando as rãs ficam fazendo "raque, raque no pé do pote", ela está adivinhando chuva; ou quando o anum preto fica latindo feito um cachorro novo. "De madrugada esse pássaro fica grunindo como um cachorrinho novo, pode esperar que é chuva na certa, pois ele dá o sinal. Você pode esperar chuva que ela vem. Junta uns dois três e começa a latir, e rã rapa, ela dá sinal".

Sobre promessa para chover, a resposta foi que é pecado pedir a Deus coisas impossíveis, mesmo tendo o direito de crer em Deus, só podem rogar aos santos.

"Pedir prá chover é muito ruim, porque as coisas só vêm se Deus quiser, se ele não quiser não vêm. Ele é quem manda, ele é o dono de tudo". Rapidamente ele muda a conversa para a terra, dizendo que nós estamos na terra, mas não temos terra.

"Quem disser que tem terra tá enganado. A gente vive no domínio de Jesus, agora Jesus deu a terra pra o cristão se apossar, morar e trabalhar. Agora brigam, arengam por terra aí, mais não adianta. Morre e fica tudo aí pros outros arengar, brigar." (...) "Agora se vai chover só os profetas, os intendidos ficou pra isso. Você tem o saber, o saber mesmo, você estuda, lê e pronto, já tem os livros próprios que indicam, as escrituras sagradas, tudo se indica. A gora chuva, ninguém pode pedir, é só quando ele quer. Agora você sabe porque as vez demora a chover e fica seca? Aquilo é por causa de muito pecado da terra, do mundo. Aí tem de pagar os pecados, na terra, é na terra que se paga, e vai pra lá livre".(Paizinho, 1998).

A construção do ideário judaico–cristão fica nítido na fala do Sr. Zé Paizinho.

O interessante é que ele imagina que estes animais sabem pois são inocentes e puros de pecado, por isso sabem o que vai acontecer. "Imagino que são coisas de Deus, pois são animais livres de pecado"

"Então disse o Senhor Deus: eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, pois, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente; O Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado."(Gên. 3:22-23).

"A terra será maldita por causa de tua obra. Tu tiraras dela o teu sustento à força de trabalho. Ela te produzirá espinhos e abrolhos: e tu terás por sustento as ervas da terra. Tu comerás o teu pão no suor do teu rosto"( Gên.3, 17-9).

A idéia do purgatório na própria terra. Pagar os pecados e resgatar a salvação. A imagem de sofrimento como resignadora dos defeitos humanos e purificação da alma. A relação entre o religare, a natureza e o cotidiano, destacando o pecado original enquanto condição humana.

As raízes dos pensamentos do Sr. Paizinho estão profundamente arraigadas na tradição cristã, mas em alguns momentos se misturam com as experiências vividas, observadas nos animais, nas plantas e nas nuvens. Nos dizendo que "num ano de muita seca a juriti é quem primeiro foge da estiagem." Ou seja na atitude de um tipo de pássaro, as conclusões de fenômeno natural.

Sobre as pessoas que adivinham se vai chover, o Sr. Zé Paizinho, com 75 anos, diz que esse pessoal mais velho que estudou, tem um certo conhecimento da natureza. Nos contou que o finado Mariano, plantava arroz, planta difícil para aquela terra, e ele plantava antes de chover, pois tinha experiência da natureza:

"O finado Mariano. Ele tinha uma história de encher um litro branco de água, quando tava perto desse tempo de janeiro, fevereiro. Aí ele chegava no monturo5[5] da casa, lá no fundo do monturo, cavava um buraco e enterrava o litro inteirinho, lacrado e em pé. Aí ele deixava passar um tempo, dependia do tempo, se tava frio ou quente, dependia assim. Aí ele arrancava. Se a água tivesse pipocando assim, como fervendo, podia esperar. Ele plantava no seco, que ia chover, que aquele pipocada era a temperatura dentro, e com a temperatura vinha a chuva.."

Ele nos disse que viu com "os próprios olhos que a terra há de comer, a plantação no seco e com três dias choveu." Fala do mais velho que lhe antecedeu, como profundo conhecedor, estudioso da natureza. Seu relato em relação ao evento nos coloca diante de um cientista em seu laboratório, testando formulas, buscando descobrir os segredos da alquimia no semi-árido. Neste caso, a busca vem do interior da terra, de dentro e não do céu, caminho natural das chuvas. A pesquisa se justifica pelos objetivos, método, técnica e resultados práticos. Conseguir produzir em condições não favoráveis, tentar formas de descobrir os enigmas da natureza que possam garantir uma agricultura que alimente a família. Mesmo sabendo que este era um cientista que aprendeu na escola da vida, pois nunca teve oportunidade ou acesso a outro tipo de estudo.

Mesmo argumentando que tem uma memória curta e pouco estudo, o Sr. Zé Paizinho continua com suas histórias sobres os pássaros do Nordeste que adivinham chuva. E em sua relação são muitos: o gavião, o acauã, a seriema, e o anu-preto.

"O anum preto se você ouvir de 4 pra 5 horas da manhã feito um cachorro novo você pode esperar 3 dias, que com três dias chove." O conhecimento da natureza está embutido nas imagens místicas ou religiosas. Arraigadas no castigo e pecados, idéias que foram propagados pelo catolicismo. E mesmo quando o homem rogando aos santos e interrogando Deus sobre o que será da vida, demonstra submissão ou ausência de vontade própria, chegando ao ponto de não se achar com condições de pedir a Deus, coisas fundamentais como a chuva mesmo que tardia. Mas, alguns homens velhos, pássaros e rãs são capazes de prever o que vai acontecer. Nestas contradições de idéias, valores religiosos e observações na natureza, o sertanejo vai tecendo imaginariamente o território, com o herdado das gerações passadas e com suas próprias experiências cotidianas.

A idéia de propriedade é logo remetida a Deus, aos homens apenas uma posse temporária. Mas na "Triste Partida" como na fala do Sr. Zé Paizinho, fica eminente a luta pela propriedade. Os fazendeiros como aves de rapina ficam a espreita para comprar a preço de quase nada sua "miunça"6[6] de pertences.

Principalmente se por acaso for um pedaço de terra. Terra que o Sr. Zé Paizinho diz ser de Deus, mas que aqui na terra tem dono certo.

Para retirar-se do local da catástrofe é necessário que o roceiro se desfaça do que tem, já aí começa um parto doloroso, por que quando um trabalhador do sertão consegue algo, isso representa toda uma vida de trabalho. Suas posses são seus instrumentos de labuta, os animais que certamente utiliza para arar a terra ou transportar mercadorias ou ainda para locomover-se.

Em suma, o pobre proletariza-se, metamorfoseia-se em mercadoria circulante, mão-de-obra vendável, com destino já traçado, no caso: São Paulo. (Cf. SOUZA NETO, 1997:45).

Vidas Secas, Morte e Vida Severina, Triste Partida, imagens que demonstram sofrimento, separação e profunda afetividade com o lugar que deixa. Fragmentos de um viver que morre com a partida. O desfazer de uma vida, de uma família podendo ser sentido em pequenas coisas que com sofrimento se perde, se desfaz. A boneca, o cachorro, que aparece em "Vidas Secas" e reaparece na "Triste Partida," e que pode ser visto em cada um dos terreiros, o "pé de roseira e o gatinho da menina, que de fome, sede e sem trato pode morrer." Falando sobre os enigmas do mundo, amor e tempo, unidos por uma teia, segredos cuja chave perdera, Suassuna (1996) escreveu alguns sonetos que se encaixam bem nessa literatura sobre o semi-árido enquanto um leito de vida e morte. Ele fala de um tempo que corta o vidro da redoma sagrada, identificando a morte como toque do divino a percorrer os campos encantados que se espraiam arredondados como dragões antigos nas curvas dos rios, caatingas e carrascais do sertão. Achando que a morte é uma mulher, uma divindade que é ao mesmo tempo terrificante e acolhedora:

"Eu vi a morte, (...) com manto negro, rubro e amarelo.

Vi o inocente olhar, puro e perverso, e os dentes de coral da desumana. Eu vi o estrago, o bote, o ardor cruel, os peitos fascinantes e esquisitos. Na mão direita a cobra cascavel, e na esquerda a coral, rubi maldito.

Na fronte uma coroa e o gavião, nas espáduas as asas deslumbrantes que ruflando nas pedras do sertão, pairavam sobre urtigas causticantes, caule de prata, espinhos estrelados e os cachos do meu sangue iluminado. (...) Mas eu enfrentarei o sol divino, o olhar sagrado em que a pantera arde. Saberei por que a teia do destino não houve quem cortasse ou desatasse. (...) Ela virá a mulher aflando as asas, com os dentes de cristal feitos de brasas e há de sagrar-me a vista o gavião. Mas sei também que só assim verei a coroa da chama e Deus meu rei assentado em seu trono do Sertão. (Suassuna, Poesia Viva, 1998, CD:14 e 15 ).

Estes fragmentos de sonetos, carregados de signos, enigmas e imagens únicas são o elementos do semi-árido, percebidos por Ariano Suassuna. Neste imaginário, as figuras da morte, vestida com adereços de elementos da natureza sertaneja, nos fazem viajar pelas palavras para na morte a sublimação da carne, onde o sol é um testemunho vivo de tal sede. Assim, símbolos da natureza semiárida são ressaltados como poderosos e sagrados, ao ponto de o divino centralizar sua força nestas terras. Em outras partes do soneto, Suassuna ressalta a morte como um toque inapelável do divino, maciez, vida e obscuro, toque de um Deus no homem. O lugar e seus elementos como o gavião, a cascavel, a coral, a vida e a morte como figura feminina, que em suas palavras ganham um profundo significado.

O destino, outro elemento muito forte na cultura nordestina, que em sua "triste partida" pode estar traçado, e diante da morte é preferível vagar pelas terras alheias, na espera de um dia voltar. Pois o destino traçado em suas mãos vai além de seus poderes terrenais.

Nos anos que fazem boas safras trazem na lembrança as imagens da mesa farta. Enquanto isso, os grandes fazendeiros beneficiados da seca pilham em seu montante do já possuído as pequenas riquezas de vidas a fio.

Ao sair, tendo como destino o desconhecido, o sertanejo carrega consigo as lembranças, as imagens, e os mapas mentais do já construído. A única certeza agora é vagar mundo na esperança de um dia retornar, como retornam a asa branca e outros pássaros de arribação. Um pensar com as asas cortadas pois o desconhecido e a incerteza amedrontam até o mais forte e bravo dessa terra de pedra e espinho, que em seu lugar enfrenta a morte com a certeza de estar diante do sol divino.

 

4. Imaginário percebido

Fica claro que estes últimos recursos apresentados sobre imagem/imaginação, fortalecem nossas argumentações em favor do imaginário como parâmetro conceitual e metodológico aplicados à ecologia enquanto ciência.

Isso tudo a partir de situações vividas, onde estas formas de relacionar e conceber nos permitem um olhar ecológico do fazer científico.

Nosso objetivo não é propor um modelo para possíveis leituras e interpretações do ambiente, pois sabendo dos limites de nossos óculos, pretendemos apenas olhar ecologicamente a natureza das coisas naturais e humanas no delimitado espaço, a partir de uma pesquisa empírica.

Para tanto, nos prenderemos às apreensões que o homem faz do mundo através dos seus sentidos: nas formas, nas cores, nos sons, nos odores, nos seus movimentos corporais, nos sabores do comer e beber, e nos sentidos de reflexão e reação dessa construção que imaginamos ser o real.

Sensação, percepção, representação, comunicação e identidades. Um pentagrama do universo emocional e material do humano. Confirmando-se assim os sentidos superiores, onde as sensações recebidas e percebidas se comunicam para a construção das imagens que permitem todos os comportamentos que nos identificam.

Sabemos que as nossas imagens do mundo não são idênticas ao mundo.

Quotidianamente, estamos mapeando o mundo ao nosso redor com a imaginação.

As idéias humanas vão sendo expressas pela natureza. Imagens vindas do mundo exterior e que povoam os cérebros humanos. A terra imaginária ou utópica vem sendo construída nas entranhas do coração e da alma humana. Esse mapeamento não é anônimo, mas uma busca do ser, do existir enquanto essência e existência, mesmo sabendo que o que pensamos e dizemos não seja a realidade, mas, imagem e imaginação. Uma visão humana da natureza, que não é a natureza como ela é, mas apenas a visão de como somos na natureza.

"Por não amarmos a terra nem as coisas da terra, mas apenas as aproveitarmos (...) perdemos o toque da vida. (...) Perdemos o sentido da ternura, essa sensibilidade, essa reação às coisas belas, e será apenas com o reavivar dessa sensibilidade que conseguiremos compreender o que é a verdadeira relação" (Krishnamurti, 1997:10).

Essa busca da verdadeira relação permeia nosso entendimento de como nosso mundo interior de pensamentos e emoções está diretamente ligado ao mundo exterior da humanidade e do meio ambiente. Krishnamurti nos chama para amar a terra, usá-la, respeitando o significado do uso.

A natureza estrutura-se como realidade integral, total, unitária e diversa.

Experimenta-la, saboreá-la instintivamente, é também alimentar a mente. Saber, sapiência, ciência, que pode ser lida na fala de uma anciã, dizendo que tais e tais plantas servem para este ou aquele tipo de doença. Ao dizer isso, afirma categoricamente com base em uma tradição de experiências antepassadas, em que para se chegar a este conhecimento, muitas folhas e raízes podem ter envenenado seus provadores. Quando um velho do Cariri ao vivenciar alguns comportamentos da vida cotidiana e conseguir observar neles fenômenos da natureza, ou testando formulas de melhor produzir na terra, consegue resultados positivos, nessa busca, temos um gigantesco banco de conhecimentos já testados, experimentados e que precisam desse reconhecimento e mérito. Este é um argumento que deve valer para todo o conhecimento popular em relação ao mundo experimental, sabedoria levada até os balcões da academia e que em muitos casos, se desconhece os verdadeiros produtores desse saber.

Nesse estágio de nosso trabalho acreditamos ter chegado talvez ao imaginário como sendo uma espécie de combustível da mente, um material inodoro, incolor, disforme e etérico. Uma das resultantes desse processo como sendo a retroalimentação de nosso espírito científico. Quanto mais tentamos desvendar o mundo real, em mais imagens ele é transformado. Nossa razão é pura imagem do que modelamos como real. Imagem em ação, cons(ciência), indicadores de que agimos em razão da imagem e não em função do real.

Não basta pensar e logo existir. Se assim fosse, estaríamos nos dando uma forma e sentido precisos e definitivos. Acreditamos muito mais que este estado de razão ainda é uma busca do próprio homem. Razão e consciência solitária, tentando encontrar interlocutores (Morin, 1995:142).

Com quem conversar nesse (in)finito? Será que a humanidade a si, se basta? Será que como na oitava praga do Egito, a humanidade se assemelha ao exército de gafanhotos, onde os indivíduos instintivamente formam um só corpo? Quando "O homem é a natureza adquirindo consciência de si própria." (RECLUS, In. Andrade, 1986:38). Fica claro que esta consciência não é razão humana, mas apenas imaginação.

Comunicações, trocas, crenças, atitudes, mitos, ritmos, ritos, signos, símbolos... um trânsito dinâmico de imagem, imaginação e imaginário. Cimento de (des)contínuas gerações e indivíduos que através do tempo espalha-se em invisíveis chamas e ardentemente cria expectativas para a construção que edificamos nesse abstrato passar. Um gradativo vitral que pontua mutações e soterra as lógicas da natureza humana. Os labirintos e complicações da mente desafiam o desconhecido.

O imaginário é reconstruir em prismas os segredos dos fragmentados e coloridos cacos de uma rede de pensamentos, um conjunto de formas e possibilidades (Mariano Neto, 1996:5).

Não basta apontar apenas para a massa classe ou totalidade, mas, considerar o potencial de cada sujeito enquanto parte ativa do coletivo. Este é um dos sentidos da existência humana, pois estando no mundo experimentamos sua natureza e sempre emitiremos uma sensação ou reação, participando efetivamente de forma emotiva, abrindo espaços para o desenvolvimento da capacidade criadora. Nessa construção temos as lembranças fragmentadas e guardadas na memória. Imagens retiradas da terra quente e seca, que quando é banhada pela chuva, espalha um cheiro de infância ao entardecer.

Do modo como sabemos, as imagens em nossas cabeças formam um saber baseado na experiência e na imaginação, em que a mente é a natureza revelada; a imaginação o filme e olhar; e a razão um negativo momentâneo, diante do oculto, místico e esotérico, ou ainda não desvelado. E, não podemos querer congelar a natureza viva em fotos de nossa mente, achando que possam ser reais. Mesmo sabendo que a foto é uma poesia aos nossos olhos e a prisão de uma imagem congelada. Essa linguagem poética da paisagem precisa ser percebida e concebida a partir de uma ecologia do coração, pois é assim com os atos da natureza. Imagens que despertam sentimentos, nos invadem como em o vento e a rocha cristalina, onde o escultor e a escultura bailam ao acaso, ritmados pelos sons do tempo, expostos à contemplação ou interferências, e completamente alheios à razão humana. Daí, concluirmos este capítulo com o seguinte pensamento "na ciência tradicional, aprendemos a separar o coração da mente, a emoção da razão.

Desaprumamos a humanidade e a ciência perdeu o seu sentido" (Moore, 1993:145).

Com estas palavras, ele nos chama para sermos profundamente influenciados pela natureza, ritmados pelo triângulo de sentimento/pensamento/vontade.

 

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Notas

(*) Doutorando em Sociologia UFPB/UFCG. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/UFPB. Especialista em Geografia e Gestão Territorial, CCEN/UFPB. Prof. Adj-4 da UEPB, Centro de Humanidades.

7[1] Esta é uma classificação atual, elaborada por MOREIRA, Emília de R. F.

Mesorregiões e Microrregiões da Paraíba. João Pessoa, GAPLAN, 1988. Mas na verdade usaremos para efeito de denominação Cariris Velhos do Paraíba, classificação feita em Microrregiões homogênias de 1968, Cf. Moreira, Emília. Atlas de Geografia Agrária da Paraíba, João Pessoa: Editora Universitária, 1997. Pois essa terminologia é mais ampla e se encaixa a uma regionalização com características socioculturais e históricas dos antigos habitantes desse lugar.

8[2] A expressão "olhar geográfico" foi muito usada por vários geógrafos franceses como: Jules Sion, Blauchard, Deffontaine. Em nosso caso, o uso da expressão "olhar Geo-Ecológico" tem o sentido de uma versão, acrescentando-se nesse olhar, não apenas o contemplativo, visível. Mas também o imaginário, o emotivo, o percebido em todos os sentidos da existência natural e humana.

9[3] SUDENE. levantamento Exploratório - Reconhecimento de Solos do estado da Paraíba. Ministério da Agricultura. DRN/SUDENE. Boletim Técnico, vol. 17, 1985. / Áreas de Exceção da Paraíba e dos Sertões de Pernambuco. Recife, Vol. 19, 1988. / Avaliação do Programa de Irrigação - PROHIDRO. Fortaleza: Série Prjeto Nordeste, Vol. 16, 1985.

10[4] A triste Partida encontra-se integralmente no anexo, pois apesar de muito extensa, consegue retratar com fidelidade algumas imagens que o poeta Patativa do Assaré, um autodidata e camponês do Cariri cearense, consegue de sua terra.

11[5] Munturo é o local onde coloca-se restos de comidas, folhas, cascas, palhas, sabugos de milho e outros tipos de lixo, geralmente nas proximidades da casa, servindo como lugar para as galinhas ciscarem em busca de alimento.

12[6] Miunças – objetos pequenos e de pouco valor, animais de pequeno porte, como cabras, ovelhas e aves, colheita fraca, resto de roçado.

 

Belarmino Mariano Neto*
belogeo[arroba]yahoo.com.br


 
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