Atendimento oftalmológico de escolares do sistema público de ensino no município de São Paulo – Aspectos médico-sociais



1. Introdução

Segundo dados do Ministério da Educação (1998), a população escolar da primeira série do ensino público fundamental é constituída por cerca de 5.800.000 crianças, a maior proporção delas na idade de 7 anos. Nessa fase da vida, com o ingresso na escola, a criança é solicitada mais intensamente para atividades intelectuais e sociais, que requerem prontidão e habilidades psicomotoras e visuais. Admite-se que 85% do aprendizado se faça por meio da visão 5, contudo, apenas parcela inexpressiva dessas crianças submeteu-se a algum tipo de avaliação oftalmológica em idade pré-escolar. Supõe-se que isso ocorra em função de dificuldades sócio-econômicas da família e/ou de acesso a serviços especializados 1.

Aproximadamente 20% das crianças em idade escolar apresentam alguma perturbação oftalmológica (erros de refração, ambliopia, conjuntivite, estrabismo, seqüela de acidente ocular, malformação congênita, etc.). Cerca de 10% dos escolares necessitam de óculos (5% apresentam menos de 50% da visão normal sem correção). Os defeitos de visão não corrigidos, contribuem para um déficit do aproveitamento escolar e socialização1-7, 9.

Considerando a importância da visão na educação e socialização da criança; a alta prevalência de problemas oculares na infância e a disponibilidade de recursos para prevenção ou cura da grande maioria dos problemas oculares, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) desenvolveu em 1998 ampla Campanha Nacional de promoção da saúde ocular, com o atendimento de alunos da primeira série do Ensino Fundamental, de escolas públicas, com prescrição de óculos e facilitação da aquisição ou doação dos óculos1.

A Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) participou da referida Campanha, atendendo os escolares do sistema público de ensino da região oeste do município de São Paulo, matriculados na primeira série do ensino fundamental. Essa população foi estimada em 17500 crianças.

Operacionalizou-se o desenvolvimento da campanha no HCFMUSP em três fases, realizadas nos meses de março e abril de 1998, descritas a seguir:

• 1ª fase -Treinamento de professores da primeira série da região a ser atendida, a cargo de médicos oftalmologistas do HCFMUSP. Conteúdo abordado em palestras: anatomia e fisiologia ocular, afecções oculares mais freqüentes na infância, prevenção dessas afecções, técnica de aplicação do teste de acuidade visual (TAV) com a tabela optométrica de Snellen. Foi exibido vídeo explicativo, produzido pelo CBO especificamente para a Campanha Veja Bem Brasil. Outros recursos audiovisuais utilizados na orientação foram: o Manual Veja Bem Brasil1, tabelas de Snellen, oclusores, cartazes de divulgação e o Manual da Boa visão8.

• 2ª fase – Aplicação do teste de acuidade visual nos alunos alvo da programação pelos professores treinados, e registro desses resultados em fichas específicas elaboradas pelo CBO. As crianças que apresentaram dificuldades no TAV foram submetidas ao reteste, realizado pelos professores, que também se encarregaram da seleção de alunos para o exame oftalmológico. Os escolares selecionados receberam ficha de comunicação de dificuldade visual dirigida aos pais e de solicitação de autorização para serem submetidos ao exame oftalmológico.

• 3º fase – Realização da consulta oftalmológica em datas previamente agendadas, no HCFMUSP.

O comparecimento à consulta agendada mostrou-se defasado, houve ausência de 52% e de 42% dos escolares encaminhados respectivamente nos dois dias destinados ao atendimento. Esse fato mostrou a necessidade de tentar novo agendamento de consultas e de investigar as razões da ausência ao atendimento inicialmente proposto.

Esta pesquisa teve por objetivo verificar características sócio-econômicas da população de escolares que compareceram ao exame oftalmológico agendado pela segunda vez, bem como obter informações sobre a saúde ocular e identificar possíveis obstáculos à realização do exame oftálmico.


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