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Teoria da Localização de Krugman (página 2)

José Alberto Afonso Alexandre
Partes: 1, 2, 3

A Nova Geografia Económica de Paul Krugman

1 - Teoria da localização

2 - Teoria do comércio

3 - Modelo de organização da economia mundial

4- Modelo da concentração urbana

Embora os estudos de localização tenham uma tradição respeitável, especialmente na Europa Central, remontando ao século passado, o rápido crescimento do interesse pela Economia da Localização e das regiões é relativamente recente. Mesmo hoje, ainda é possível afirmar-se que a "teoria da localização e a economia regional não passam de filhos adoptivos na família da Economia". As razões dessa posição secundária são complexas e não muito claras, mas as considerações seguintes fornecem uma resposta parcial.

Em primeiro lugar, a Teoria Económica tradicional ignorava os aspectos espaciais. Embora os economistas clássicos escrevessem sobre a sequência evolutiva da actividade económica, a sua análise formal relacionava-se principal-mente com um mundo estático, não espacial (ou como diz Isard, um "país maravilho-so sem dimensões"). Muitas das suas formulações económicas foram elevadas à condição de imutáveis leis eternas, consideradas de validade universal.

Não é surpreendente que essa posição extrema tenha provocado reacções em várias direcções. Uma manifestação nesse sentido foi o desenvolvimento da Escola Histórica Alemã, cujos membros davam ênfase ao facto de que a teoria deveria ser verificada por referência à realidade social. Eles reconheceram explicitamente o significado do elemento tempo na análise económica, mas o reconhecimento dos factores espaço e distância foi implícito. Com algumas excepções, as considerações dinâmicas e o papel do tempo na economia forneceram um veio tão rico para o trabalho dos economistas que a análise dos problemas espaciais foi negligenciada durante muitas décadas.

Em certa medida, portanto, o hábito de não considerar o espaço deve ser explicado pela crença de que o tempo era a dimensão crítica na análise económica. As implicações teóricas do espaço apresentavam-se como secundárias, em comparação com o tempo, na avaliação do funcionamento da economia. O problema da localização óptima das actividades económicas e da população parecia bastante trivial, em comparação com as questões relativas ao crescimento e ao equilíbrio da economia nacional. Mais ainda, muitos problemas espaciais poderiam ser tratados dentro da estrutura da análise tradicional. Se os custos dos movimentos no espaço aparecessem, estes poderiam ser incorporados à teoria usual da formação dos preços. Uma vez que as vantagens de localização incluem economia de tempo para reduzir os atrasos nas entregas, alguns aspectos espaciais poderiam ser tratados como temporais.

Além disso, os elementos temporais rapidamente se prestaram à análise económica rigorosa, ao passo que os economistas em geral acreditavam que os seus instrumentos de análise só possibilitariam um entendimento parcial dos factores espaciais. Eles inclinaram-se a supor que factores não económicos tinham influência dominante no padrão espacial da actividade económica. A localização de muitos recursos naturais é dada, enquanto que considerações não-económicas são consideradas como determinantes das decisões sobre onde viver, trabalhar e mesmo produzir. Essa crença dá lugar a hipóteses surpreendentes na análise económica; por exemplo, o comércio internacional é normalmente considerado como ocorrendo numa economia mundial sem distâncias ou custos de transporte.

Outras ciências desenvolveram um grande interesse pelos problemas espaciais antes da Economia: Geografia, Sociologia e Demografia. De facto, o desenvolvimento de um novo campo de estudos denominado "Ciência Regional" reflecte as vantagens de uma abordagem interdisciplinar no estudo dos problemas locativos e regionais. Muitos desses problemas não podem ser compreendidos em função apenas da análise económica.

Mas a economia espacial caracteriza-se por muitas imperfeições na concorrência e a própria distância concede protecção monopolista. Existem resistências tanto económicas como não-económicas ao movimento dos factores. As forças de mercado não levam inevitavelmente à igualdade dos rendimentos regionais per capita ou à localização espacial óptima dos recursos e, em certas circunstâncias, podem operar de forma instabilizadora.

De facto, a economia de mercado pode levar a uma drenagem maciça de população de certas áreas para outras e a uma alta concentração dos recursos num número limitado de centros urbanos de alta densidade. O reconhecimento desses factores desperta a atenção para o problema do planeamento de como determinar a distribuição óptima da actividade económica de acordo com os objectivos políticos que harmonizam eficiência e igualdade. O desenvolvimento do planeamento exigiu maior compreensão dos problemas espaciais e aumentou o interesse por eles. Por outro lado também pode ter consequências contrárias, ou seja, a economia de mercado pode permitir às regiões ou nações mais desfavorecidas uma oportunidade de saírem do seu marasmo. Perante este dilema, vamos tentar aprofundar esta temática, com resultados, à partida, contraditórios.

A teoria da localização de Krugman tem muito em comum com a literatura do novo comércio e do novo crescimento: uma grande dependência do modelo de Dixit-Stiglitz da concorrência monopolística. Este modelo não só pressupõe que existem muitos produtos que, através da produção de bens distintos do ponto de vista dos consumidores, entram perfeitamente de forma simétrica na procura; também pressupõe que a função da utilidade individual toma uma forma particular e regularmente desigual. O modelo Dixit-Stiglitz foi a base dum enorme corpo da teoria económica em comércio internacional, crescimento económico e geografia económica.

Para Dixit-Stiglitz, modelar uma economia multi-locativa requer alguns pressupostos úteis. Uma simplificação chave é o pressuposto que os custos de transporte tomam a forma de um iceberg Samuelsoniano: em vez de modelar um sector de transporte separado, supomos que uma fracção de um bem transportado simplesmente é fundido ou se evapora em trânsito. Existe uma tremenda sinergia entre o pressuposto do iceberg dos custos de transporte e o modelo de Dixit-Stiglitz, no sentido que, combinando-os causam muitas complicações técnicas potencialmente difíceis.

É muito difícil falar acerca de geografia económica sem usar uma linguagem que sugira processos dinâmicos – quando se fala de «processos cumulativos» através dos quais a concentração espacial se reforça, existe uma imagem definitiva do efeito de bola de neve da concentração regional e urbana, desenvolvendo-se sempre. Ainda para insistir que os modelos da geografia económica explicitamente modelam as firmas e as famílias como fazendo decisões inter-temporais baseadas em expectativas racionais. É tentador fazer um atalho: abandonar os modelos estáticos, impondo dinâmicas ad hoc nestes modelos através do pressuposto que os trabalhadores migram só gradualmente para lugares que ofereçam elevados índices de salários reais – e usar este pressuposto ad hoc para categorizar alguns equilíbrios como estáveis, outros como instáveis.

A nova teoria do comércio

A nova teoria do comércio

Um importante desenvolvimento analítico de finais dos anos 1980 e início de 1990 foi a melhoria significativa da teoria do crescimento endógeno por autores como Paul Roomer (1986), Robert Lucas (1988) e Gene Grossman e Elhanan Helpman (1991). Parte desta nova teoria do comércio apoia-se nas relações entre o comércio internacional e o crescimento. Um dos modelos de Grossman e Helpman (1991, Cap. 6) ilustra os tipos de relações exercidas na nova teoria do crescimento e, em particular, como a política comercial pode afectar as taxas de crescimento. Para manter o modelo tão simples quanto possível, eles pressupõem que cada país é «pequeno» no sentido em que enfrentam os preços mundiais fixos para dois bens finais produzidos. Existem dois factores de produção, capital humano (ou trabalho qualificado) e trabalho não qualificado cuja oferta é fixa. Um dos bens finais é produzido utilizando capital humano e uma quantidade fixa de bens intermédios, diferenciados e não comercializáveis. Os bens intermédios não comercializáveis são produzidos em condições monopolisticamente competitivas com ambos factores de produção. Os rendimentos constantes à escala predominam para os bens finais e intermédios.

O capital humano também está envolvido em actividades de I&D que criam novas variedades de bens intermédios. Estes bens intermédios são a chave do aumento da produtividade: cada produto final requer um dado conjunto de produtos intermédios mas quanto maior for a variedade deste conjunto maior será a produção. Apreende-se que dividindo as tarefas em partes cada vez menores através da especialização conduz a rendimentos crescentes. Outro aspecto importante do processo de I&D é que não só produz novas variedades de bens intermédios mas também acrescenta ao stock de conhecimento aquilo que não é apropriado. Quanto maior for este stock de conhecimento, será necessária menor quantidade de capital humano para produzir novas variedades de bens intermédios. Assim, o processo de crescimento é endógeno, uma vez que a actividade de I&D cria novos bens intermédios que aumentam a produtividade e que se aumenta o stock de conhecimento geral. Por seu lado, quanto maior o stock de conhecimento mais se reduz a quantidade de pessoal qualificado necessário para produzir novas variedades de bens intermediários. O resultado de equilíbrio é uma taxa constante de crescimento da produtividade dos factores e uma taxa constante do crescimento da produção nos sectores que produzem os bens finais.

Agora consideremos os efeitos de uma tarifa sobre um bem importado. Se o país importa o bem que só utiliza capital humano como um input directo e exporta o bem intensivamente usando trabalho não qualificado, a taxa de importação aumentará o preço relativo dos bens internos produzidos utilizando capital humano intensivo e aumentam os salários relativos do trabalho qualificado. Este acréscimo no preço do capital humano baixará o nível de actividade de I&D devido ao aumento dos seus custos e assim conduzirá a um equilíbrio mais baixo da taxa de crescimento. Ao contrário, se o país importa os bens que são produzidos através de trabalho não qualificado, a protecção às importações baixará os salários relativos dos trabalhadores qualificados e acelerará a taxa de crescimento. Assim, neste modelo não existe uma resposta definitiva quer para o aumento da protecção quer para o decréscimo da taxa de crescimento. Tal depende da matriz das importações e das exportações. Além disso, utilizando o conceito dos rendimentos crescentes como a força directriz do crescimento endógeno, Grossman e Helpman (1991) e outros investigadores do crescimento introduziram outros conceitos como «knowledge spillovers» que resultam da comercialização de bens e do investimento directo estrangeiro bem como da habilidade para imitar os bens dos produtores estrangeiros como motores do crescimento endógeno. Assim, a protecção às importações geralmente reduz as taxas de crescimento, segundo esta teoria.

1 - Teoria da localização de Paul Krugman

Para o autor, Geografia Económica significa a localização da produção no espaço, ou seja, é o ramo da Economia que se preocupa com "o onde é que as coisas acontecem em relação a outras".

Os estudos de Economia tradicional abordam a localização da actividade económica como rendimentos constantes e de concorrência perfeita. Mas, na realidade, são os rendimentos crescentes e a concorrência imperfeita que interessa nos estudos de Geografia Económica.

A produção de algumas industrias está marcadamente concentrada no espaço. Esta concentração é mais evidente nos casos em que existem rendimentos crescentes. Se estes rendimentos são puramente externos às firmas, podem-se usar as ferramentas de análise competitiva; se os rendimentos crescentes são internos às firmas, estamos perante a necessidade de modelar a concorrência imperfeita.

A partir dos anos 1980 o comércio representou uma especialização arbitrária baseada em rendimentos crescentes mais do que um esforço em ter vantagens nas diferenças exógenas em recursos ou diferenças de produtividade. Mais recentemente, os teóricos do crescimento, re-introduziram a ideia de que o desenvolvimento sustentado deve surgir da presença de rendimentos crescentes, e que estes jogam um papel crucial nos ciclos económicos.

Para o autor, surgiu a hora de a Geografia Económica ressurgir como um campo maior dentro da Economia, e apresenta algumas razões porque é necessário começar a fazer geografia económica:

    1. Estudar a análise locativa das actividades económicas dentro dos próprios países;
    2. Estudar a fusão da economia internacional com a economia regional;
    3. Elaborar novos conceitos (novo comércio, crescimento, teorias dos ciclos económicos, rendimentos crescentes, concorrência imperfeita, múltiplo equilíbrio, …);
    4. Estudar a importância da História (mundo dinâmico conduzido por processos cumulativos).

O autor para explicar a importância dos rendimentos crescentes e dos processo cumulativos no desenvolvimento regional divergente, apresenta o exemplo da US Manufacturing Belt, uma cintura manufactureira relativamente estreita dentro da qual a preponderância da industria norte-americana se concentrou desde meados do século XIX até à década de 1960, e que em 1957 ainda continha 64% do emprego na indústria dos EUA.

Vida e obra de Paul Krugman

Paul Krugman nasceu em 1953 e cresceu nos subúrbios da cidade de Nova Iorque. Recebeu um B.A. em Economia em 1974, no Yale College. Ganhou enorme prestígio ao escrever um artigo para um seminário co-organizado por Tjalling Koopmans e William Nordhaus. Este último ofereceu-lhe emprego em part-time como assistente de investigador, tendo ganho uma bolsa do National Science Foundation em Economia que lhe permitiu prosseguir a sua graduação em Economia em qualquer programa que o aceitasse.

O primeiro desafio sério para Krugman em termos de economia política ocorreu um verão como fazendo parte de um grupo seleccionado de estudantes graduados do MIT que queriam trabalhar no Banco de Portugal num projecto liderado pelo Professor Richard Eckaus.

Logo depois do Verão passado em Portugal, em 1977, doutora-se no Massachusetts Institute of Technology. Passa uns anos como professor auxiliar em New Haven, Connecticut – onde já se licenciara, no Calhoun College, Yale – e começa a questionar a teoria do comércio internacional baseado nas vantagens comparativas através de argumentos de economia industrial e de geografia económica. No Verão de 1979, quando se iniciam os Institutos de Verão do National Bureau of Economic Research, apresenta o seu trabalho seminal, depois publicado no Journal of Political Economy. Nos países parecidos entre si, como os do Mercado Comum Europeu, ou os EUA e o Canadá, os ganhos do comércio internacional surgem não da diferença de custos mas sim das economias de escala. Nesses casos, não há os problemas de distribuição dos ganhos associados à escassez relativa dos factores (o trabalho ganha com a protecção no país abundante em capital, porque este tende a exportar o bem intensivo em capital, aumentando a remuneração deste factor relativamente ao que aconteceria com menos comércio, e diminuindo a remuneração do factor trabalho). Pouco depois, regressa como professor associado ao MIT, e desenvolve essas ideias em numerosos livros, tornando-se o iniciador da chamada nova teoria do comércio internacional, que hoje é ortodoxia indiscutida. Nos anos oitenta, a convite do presidente do NBER, passa um ano em Washington e "assume" a importância dos meios de comunicação no governo e nos mercados.

É então que começa a forjar a segunda carreira, que se resume em juntar duas palavras consideradas incompatíveis: economista e escritor. O seu primeiro livro de divulgação, que apareceu em 1990. Trata-se de A idade das expectativas diminuídas, em que inverte, como Marx fizera a Hegel, todo o raciocínio económico e político que se seguiu à II Guerra Mundial, segundo o qual as gerações futuras iriam viver melhor do que as gerações passadas e presentes. Na altura da euforia com a queda do muro de Berlim, esta mensagem incómoda arriscava-se a não ser ouvida.

Mas o livro estava bem escrito, e seguiu-se-lhe o primoroso Vendilhões da Prosperidade em 1994, no qual ataca com a mesma intensidade democratas e republicanos por esconder ao eleitorado americano que não tencionam cumprir as promessas eleitorais. Fazem essas promessas apenas para contrariar as expectativas diminuídas das pessoas, que recompensam com o seu voto os melhores vendilhões de prosperidade. Em Internacionalismo Pop e depois nas suas crónicas para a ciber-revista da Microsoft, Slate, que reuniu no Teórico Acidental, de 1998, desenvolve essas ideias e acrescenta-lhes um poderoso aliado, que é a internet.

A sua página pessoal, www.mit.edu/~krugman torna-se um local de visita constante em todo o mundo, beneficiando os seus escritos das economias de escala que ele antes tinha iden-tificado como fonte segura de ganhos de comércio entre países parecidos (em 1 de Agosto de 1999 equipara as consequências de uma queda precipitada do dólar a um choque negativo na procura mundial, que está já recessiva, e na oferta americana, que está no pleno emprego…).

A sua Economia da depressão critica duramente a "teoria da ressaca", segundo a qual a recessão é o castigo devido pela expansão, e vai ao ponto de atacar a frase dos economistas de que "não há almoços gratuitos", dando como exemplos a expansão monetária no Japão e controles de capitais nos mercados emergentes. Tudo menos as medidas estruturais que os políticos eleitos, quais os mágicos em Vendilhões da Prosperidade, prometem para nunca cumprir.

Quando esta faixa atingiu o seu apogeu, na passagem do século XIX para o século XX, a maioria das outras industrias consistiam ou no processamento de produtos primários ou na produção para o mercado local. Assim, a US Manufacturing Belt continha quase todas as indústrias que não estavam vinculadas a outra localização, pela necessidade de estarem próximas dos consumidores ou pela necessidade de utilizarem os recursos naturais próximos da sua fonte (matérias-primas, fontes de energia, …).

A questão está em saber por que é que esta faixa jogou um papel tão determinante durante tanto tempo, pois não havia vantagens em recursos naturais, embora no início as fábricas se localizassem perto dos cursos de água e das minas de carvão, mas a partir de meados do século XIX, as matérias-primas e as fontes de energia passaram a ser importadas de outras regiões.

Assim, a resposta está nas vantagens que cada empresa tem em estar próxima de outras empresas. E o aparente incentivo para as industrias se juntarem explica a persistência da faixa industrializada mesmo depois de parte da produção primária americana se ter deslocado para outras regiões. Uma vez a US Manufacturing Belt estar instalada, não era do interesse de qualquer produtor individual mover-se para fora dela.

Modelo da concentra-ção geográfica

Este modelo corresponde a um modelo do desenvolvimento endógeno, duma geografia económica de centro-periferia, baseado na interacção de economias de escala, custos de transporte e migrações.

O modelo, para explicar a aglomeração, analisa a interacção da procura, rendimentos crescentes e custos de transporte, que conduzem a um processo cumulativo de divergência regional, que resulta da procura de externalidades.

Pressupostos do modelo

Dadas economias de escala suficientemente fortes, cada empresário deseja servir o mercado nacional a partir de uma única localização. Para minimizar os custos de transporte, escolhe uma localização com procura local elevada. Mas a procura local é maior onde a maioria dos produtores decidir localizar-se. Assim, é um circulo vicioso que tende a manter a faixa industrializada em existência uma vez estabelecida.

Para explicar este fenómeno, Krugman considerou um país que continha duas localizações, Leste e Oeste, e produzia dois tipos de bens, agrícolas e industriais. A produção agrícola é homogénea, produzida sob rendimentos constantes e concorrência perfeita, assim, os bens agrícolas são produzidos usando um factor específico de localização (a terra), e como resultado, a população agrícola está equitativamente distribuída entre as duas localizações. A produção industrial consiste num número de produtos diferenciados, cada um produzido através de economias de escala, com uma estrutura de mercado monopolisticamente competitiva.

Os bens industriais podem ser produzidos em qualquer lugar, ou seja, em cada uma ou em ambas as localizações. Se um dado bem manufacturado é produzido numa só localização, então, os custos de transporte serão suportados pelo outro mercado. Por outro lado, se o bem é produzido em ambos os lugares, será suportado um custo fixo de funcionamento adicional.

A força de trabalho industrial é proporcional à produção industrial de cada lugar, e a procura de bens industriais em cada região é proporcional à localização da população.

Existem dois factores de produção, em que cada um é específico de cada sector. Os "agricultores" produzem bens agrícolas, os "operários" produzem bens manufacturados; os agricultores não se podem tornar operários ou vice versa. Os salários dos agricultores e dos operários são iguais em equilíbrio, os agricultores produzem os seus bens sob rendimentos constantes em escala.

As economias de escala na industria tomam a forma duma função de custos lineares, em que um custo fixo em termos de trabalho industrial deve ser sujeito de forma a produzir qualquer variedade individual de produtos manufacturados.

Finalmente, pressupõe que existem custos de transporte dos produtos manufacturados entre os dois lugares. Estes tomam a forma de um iceberg samuelsoniano, em que só uma fracção de um bem que é embarcado chega ao destino final (assim, os custos de transporte estão incluídos no bem transportado). Os preços do transporte dos bens agrícolas são elevados, um pressuposto tomado por conveniência analítica; assim, assegura que o lucro dos agricultores e o preço dos bens agrícolas são os mesmos nos dois lugares.

Preço e concorrência

Porque existe um largo número de bens industriais potenciais, cada um deles produzido sujeito a economias de escala, não existem razões para duas firmas tentarem produzir o mesmo bem; a estrutura de mercado de bens industriais seria por essa razão competitiva monopolisticamente.

Sustentabilidade dum padrão de Centro-Periferia

Não interessa qual o lugar que escolhemos; assim examinamos a sustentabilidade dum equilíbrio com o Leste como centro industrial e o Oeste como periferia agrícola.

Como veremos, existem duas forças "centrípetas" tendentes a manter a existência do centro industrializado, e uma força "centrifuga" tendente a despedaçá-lo.

As forças centrípetas são:

  • o desejo das firmas de se localizarem junto dum mercado maior;
  • o desejo dos trabalhadores terem acesso a bens produzidos por outros trabalhadores.

Estas duas forças podem ser os conceitos correspondentes respectivamente à ligação a montante e a ligação a jusante de Hirschman (1958).

Tendendo a separar o centro (força centrifuga) é o incentivo das firmas se moverem para fora, para servirem o mercado da periferia agrícola.

A concentração da produção depende da procura de externalidades. As industrias localizam-se onde o mercado é maior, e o mercado é maior onde as industrias se localizam.

No entanto, esta situação não se pode manter sempre: a agricultura pode dar um grande salto.

Conclusões:

  • Os rendimentos crescentes ao nível das firmas individuais e as externalidades resultantes da interacção das decisões destas firmas são importantes;
  • Os processos cumulativos são importantes;
  • Um acidente histórico pode ser decisivo para encetar um processo de mudança.

Processos de mudança

A relação em que a localização da procura determina a localização da produção e vice-versa pode ser uma profunda força conservadora, tendente a travar qualquer padrão centro-periferia já estabelecido.

Embora a estrutura geográfica da produção possa ser estável por longos períodos de tempo, quando mudar, deve mudar rapidamente. De facto, uma mudança gradual nas condições subjacentes pode levar, com tempo, a uma mudança explosiva, ou mais pontualmente, catastrófica.

A mudança quando ocorrer deve ser fortemente influenciada não só por condições subjectivas mas também por expectativas, expectativas que devem ser auto-satisfeitas.

2 - Teoria do comércio

O papel das economias de escala e de concorrên-cia imperfeita

Como os países são diferentes quanto aos seus recursos e quanto às suas tecnologias e se especializam nas coisas que fazem relativamente bem, e ainda, as economias de escala (ou rendimentos crescentes) tornam vantajoso para cada país especializar-se na produção de apenas uma variedade limitada de bens e serviços, levam a que os países se especializem e comercializem:

Quando se considera que existem rendimentos crescentes, as grandes firmas têm normalmente vantagem sobre as pequenas, de modo que os mercados tendem a ser dominados por uma firma (monopólio) ou, mais frequentemente, por algumas firmas (oligopólio). Quando os rendimentos crescentes entram no cenário do comércio, os mercados tornam-se normalmente concorrentes imperfeitos.

Os modelos de vantagens comparativas baseiam-se na hipótese de rendimentos constantes de escala. Isto é, pressupõe-se que, se os factores de uma industria fossem dobrados, a produção daquela industria iria também dobrar. Na prática, no entanto, muitas indústrias são caracterizadas por economias de escala, de modo que a produção é mais eficiente quanto maior for a escala na qual ela ocorre. Onde há economias de escala, dobrar os factores de produção de uma industria irá mais que dobrar a produção da mesma.

As economias de escala geram um incentivo ao comércio internacional. Para obter vantagens das economias de escala, cada país deve concentrar a sua produção num número limitado de bens. Se cada país produz apenas alguns dos bens, então cada bem pode ser produzido em escala maior do que se cada país tentasse produzir tudo, e a economia mundial pode produzir mais de cada bem.

O comércio internacional possibilita que cada país produza uma variedade restrita de bens e que se obtenha vantagem das economias de escala sem sacrificar a variedade no consumo. Por sua vez, o comércio internacional normalmente leva a um aumento na variedade dos bens disponíveis. O comércio pode ser mutuamente benéfico como resultado das economias de escala, pois cada país especializa-se na produção de uma variedade limitada de produtos, o que possibilita produzir esses bens mais eficientemente do que se o país tentasse produzir tudo por si mesmo; essas economias especializadas comercializam entre si para que se possa consumir toda a variedade de bens.

Para analisar os efeitos das economias de escala sobre a estrutura de mercado, no entanto, deve estar claro que tipo de aumento de produção é necessário para reduzir o custo médio. As economias de escala externas ocorrem quando o custo por unidade depende do tamanho do sector, mas não necessariamente do tamanho de qualquer firma. As economias de escala internas ocorrem quando o custo por unidade depende do tamanho de uma firma individual, mas não necessariamente de todo o sector.

As economias de escala externas e internas têm implicações diferentes para a estrutura dos sectores. Um sector em que as economias de escala são puramente externas (isto é, em que não existem vantagens para as empresas grandes) consistirá em várias firmas pequenas e será perfeitamente competitiva. As economias de escala internas, por sua vez, geram uma vantagem de custos das grandes firmas sobre as pequenas e levam a uma estrutura de mercado imperfeitamente competitiva.

As economias de escala externas e internas são causas importantes do comércio internacional. Entretanto, como elas têm diferentes implicações para a estrutura de mercado, é difícil discutir os dois tipos de economias de escala enquanto fundamentos para o comércio num mesmo modelo. Portanto, são tratadas separadamente.

Inicia-se com um modelo de comércio baseado em economias de escala internas. Como se acabou de argumentar, no entanto, as economias de escala internas levam à eliminação da concorrência perfeita. Este resultado força-nos a revermos a economia da concorrência imperfeita antes de passar à análise do papel das economias de escala internas no comércio internacional.

A teoria da concorrên-cia imperfeita

Num mercado perfeitamente competitivo – um mercado no qual há muitos compradores e vendedores, sendo que nenhum deles representa uma grande parte do mercado –, as firmas são tomadoras de preços. Isto é, os vendedores dos produtos acreditam que podem vender o quanto desejam ao preço corrente e não podem influenciar o preço que se paga pelo seu produto.

Quando apenas algumas firmas produzem um bem, no entanto, a questão é diferente. Na concorrência imperfeita, então, as firmas estão conscientes de que podem influenciar os preços dos seus produtos e que podem vender mais somente por meio da redução dos preços. A concorrência imperfeita é característica tanto de sectores nos quais há poucos e grandes produtores, como dos sectores nos quais o produto de cada produtor é visto pelos consumidores como intensamente diferenciado dos produtos dos concorrentes. Sob estas circunstâncias, cada firma considera-se uma formadora de preços, escolhendo o preço do seu produto, em vez de uma tomadora de preços.

Quando as firmas não são tomadoras de preços, é necessário desenvolver instrumentos adicionais para descrever como os preços e quantidades são determinados. A estrutura de mercado de concorrência imperfeita mais simples para esse exame é o monopólio puro, um mercado no qual a firma não tem concorrência; os instrumentos que se vão desenvolver podem depois ser utilizados em estruturas de mercado mais complexas.

Modelo de concorrência monopolística

Os lucros do monopólio são raramente incontestáveis. Uma firma com lucros elevados normalmente atrai concorrentes. Assim, situações de monopólio puro são raras na prática. Ao contrário, a estrutura usual de mercado em indústrias caracterizadas por economias de escala internas é de oligopólio: diversas firmas, cada uma delas grande o suficiente para afectar os preços, mas nenhuma com monopólio incontestável.

A análise geral do oligopólio é uma questão complexa e controversa, porque nos oligopólios as políticas de preços das firmas são interdependentes. Cada empresa de um oligopólio, ao determinar o seu preço, considerará não apenas as respostas dos consumidores, mas também as respostas esperadas dos concorrentes. Essas respostas, no entanto, dependem das expectativas dos concorrentes sobre o comportamento da firma – e estamos, portanto, num jogo complexo no qual as firmas estão tentando deduzir as estratégias umas das outras. Iremos discutir sucintamente os problemas do modelo de oligopólio. No entanto, existe um caso especial de oligopólio, conhecido como concorrência monopolística, que é relativamente fácil de analisar.

Nos modelos de concorrência monopolística, duas suposições básicas são feitas para tratar o problema da interdependência. Primeiro, cada firma é considerada apta a diferenciar o seu produto do produto dos seus rivais. Ou seja, dado que eles querem comprar este produto particular da firma, os seus clientes não se apressarão em comprar os produtos de outras firmas por causa de uma pequena diferença de preço. A diferenciação dos produtos assegura que cada firma tenha um monopólio no seu produto particular dentro do sector e está isolada de alguma maneira da concorrência. Segundo, cada firma pressupõe que os preços cobrados pelos seus rivais são dados – isto é, ela ignora o impacto no seu próprio preço sobre os preços das outras firmas. Como resultado, o modelo de concorrência monopolística assume que, mesmo que cada firma se esteja defrontando com a concorrência de outras firmas, ela comporta-se como se fosse um monopolista – daí o nome do modelo.

Modelo básico de concorrência monopolística: imaginemos um sector com diversas firmas. Estas firmas produzem produtos diferenciados – isto é, bens que não são exactamente os mesmos, mas são substitutos uns dos outros. Cada firma é, portanto, um monopolista no sentido de que não é a única firma a produzir um bem particular, mas a procura por seu bem depende dos outros produtos similares disponíveis e dos preços das outras firmas do sector.

Hipóteses do modelo

Iniciamos descrevendo a procura do ponto de vista de uma firma em concorrência monopolística. Em geral, imaginamos que a empresa venda mais quanto maior for a procura total pelo produto e quanto maiores os preços cobrados pelos seus rivais. Por outro lado, imaginamos que a firma venda menos quanto maior for o número de firmas no sector e quanto maior é o seu próprio preço. Uma equação particular para a procura da firma que tem essas propriedades é:

Q = S{1/n - bx (P - P’)} (1)

em que Q são as vendas da firma, S são as vendas totais do sector, n é o número de firmas no sector, b é uma constante representando a sensibilidade das vendas de uma firma ao seu preço, P, o preço cobrado pela firma e P’, o preço médio cobrado pelos seus concorrentes. Esta equação (1) tem a seguinte justificação intuitiva: se todas as firmas cobram o mesmo preço, cada uma terá uma parcela de mercado igual a 1/n. Uma firma que cobre mais do que a média das demais terá uma parcela de mercado menor; uma firma cobrando menos terá uma parcela de mercado maior.

É útil pressupor que as vendas totais S de um sector não são afectadas pelo preço médio P’ cobrado pelas firmas no sector. Ou seja, assumimos que as firmas possam ganhar clientes apenas à custa das outras. Essa é uma suposição irrealista, mas simplifica a análise e ajuda a enfatizar a concorrência entre as firmas. Em particular, significa que S é uma medida do tamanho do mercado e que, se todas as firmas cobram o mesmo preço, cada uma vende S/n unidades.

Equilíbrio de mercado

Para modelar o comportamento deste sector de concorrência monopolística, assumiremos que todas as firmas nesse sector são simétricas – isto é, a função de procura e a função de custo são idênticas para todas as firmas (mesmo que elas estejam a produzir e vender produtos diferenciados). Quando as firmas individuais são simétricas, a situação do sector pode ser descrita sem enumerar as características de todas as firmas em detalhe: tudo o que necessitamos saber para descrever o sector é quantas são as firmas e qual preço a firma comum cobra. Ao analisar o sector, por exemplo, para avaliar os efeitos do comércio internacional, necessitamos determinar o número de firmas n e o preço médio P’ que elas cobram. Uma vez tendo o método para determinar n e P, podemos perguntar como elas são afectadas pelo comércio internacional.

O nosso método de determinação de n e P envolve três passos.

  • Primeiro, obtemos a relação entre o número de firmas e o custo médio de uma firma normal. Mostramos que essa relação tem inclinação para cima; isto é, quanto mais firmas houver, menor é a produção de cada uma e, portanto, maior é o custo por unidade de produção.
  • Em seguida, mostramos a relação entre o número de firmas e o preço que cada uma cobra, que deve ser igual a P em equilíbrio. Mostramos que essa relação tem inclinação para baixo: quanto mais firmas houver, mais intensa é a concorrência entre elas e, como resultado, menores são os preços que elas cobram.
  • Finalmente, argumentamos que, quando o preço exceder o custo médio, mais firmas ingressarão no sector, já quando o preço é menor que o custo médio, as empresas saem do sector.

Concluímos então que o custo médio depende do tamanho do mercado e do número de firmas do sector. Quanto mais firmas houver no sector, maior será o custo médio. O motivo é que, quanto mais firmas houver, menos cada uma produz.

Por sua vez, o preço que a firma normal cobra também depende do número de firmas no sector. Em geral, poderíamos esperar que, quanto mais firmas houver, mais intensa será a concorrência entre elas e, portanto, menor será o preço. Quanto mais firmas houver no sector, menor será o preço que cada uma cobrará.

Quanto mais empresas houver no sector, menor será o preço que cada uma cobrará pois mais concorrência cada firma enfrentará, e maior será o custo médio de cada uma, pois, se o número de firmas aumentar, cada uma venderá menos.

No decorrer do tempo, as empresas entrarão na industria lucrativa e sairão das indústrias nas quais perdem dinheiro.

Temos agora desenvolvido um modelo de concorrência monopolística no qual podemos determinar o número de equilíbrio de firmas e o preço médio que elas cobram. Podemos utilizar este modelo para chegar a algumas conclusões importantes sobre o papel das economias de escala no comércio internacional.

Limitações do modelo de concorrência monopolistica

O modelo de concorrência monopolística capta certos elementos essenciais dos mercados em que há economias de escala e, portanto, há concorrência imperfeita. No entanto, poucas indústrias são bem descritas pela concorrência monopolística. Ao contrário, a estrutura de mercado mais comum é a de oligopólio de pequenos grupos, em que apenas algumas firmas estão envolvidas activamente na concorrência. Nessa situação, a hipótese básica do modelo de concorrência monopolística, que é o facto de a firma se comportar como se fosse um monopolista verdadeiro, provavelmente será abandonada. Por sua vez, as firmas estão cientes de que as suas atitudes influenciam as atitudes das outras e levarão essa interdependência em consideração.

Dois tipos de comportamento surgem no estabelecimento do oligopólio geral, mas são excluídos por hipótese do modelo de concorrência monopolística. O primeiro é o comportamento de conluio. Cada firma pode manter o seu preço mais elevado que o nível aparente de maximização do lucro, como parte do entendimento de que outras firmas farão o mesmo; uma vez que os lucros de cada firma são mais elevados se os seus concorrentes cobram preços elevados, tal entendimento pode elevar os lucros de todas as firmas (às custas dos consumidores). O comportamento colusivo de determinação de preços pode ser gerenciado por acordos explícitos (ilegais nos EUA) ou por meio de estratégias de coordenação tácita, como a permissão para uma firma agir como líder de preço na indústria.

As firmas também podem ligar-se em comportamento estratégico; isto é, elas podem fazer coisas que aparentemente reduzam os lucros, mas que afectem o comportamento dos concorrentes de maneira desejável. Por exemplo, uma firma pode investir em capacidade extra não para ser utilizada, mas para impedir os potenciais rivais de entrar na indústria.

Essas possibilidades para o comportamento colusivo e estratégico tornam a análise do oligopólio uma questão complexa. Não existe um modelo geralmente aceite do comportamento do oligopólio, o que torna problemática a modelação do comércio nas indústrias oligopolizadas.

A abordagem da concorrência monopolística do comércio é atractiva porque evita essas complexidades. Mesmo que ela desconsidere algumas características do mundo real, o modelo de concorrência monopolística é amplamente aceite como maneira de gerar pelo menos um primeiro corte sobre o papel das economias de escala no comércio internacional.

Concorrência monopolística e comércio

Subordinada à aplicação do modelo de concorrência monopolística do comércio está a ideia de que o comércio aumenta o tamanho do mercado. Nas indústrias em que existem economias de escala, tanto a variedade dos bens que um país pode produzir como a escala da sua produção são restringidas pelo tamanho do mercado. Comercializando entre si e, portanto, formando um mercado mundial integrado que é maior que qualquer mercado nacional individual, os países estão aptos a livrar-se dessas restrições. Cada país pode especializar-se na produção de uma variedade menor de produtos do que o faria na ausência de comércio; mesmo comprando de outros países bens que ele não produz, cada país pode aumentar simultaneamente a variedade dos bens disponíveis aos seus consumidores. Como resultado, o comércio oferece uma oportunidade de ganhos mútuos mesmo quando os países não diferem em recursos ou tecnologia.

O modelo de concorrência monopolística pode ser utilizado para mostrar como o comércio melhora a opção entre escala e variedade que as nações individuais têm. Iniciaremos mostrando como um mercado maior leva, no modelo de concorrência monopolística, a um preço médio menor e à disponibilidade de uma variedade maior de bens. Aplicando esse resultado ao comércio internacional, observamos que o comércio cria um mercado mundial maior que qualquer um dos mercados nacionais nele compreendidos. A integração dos mercados por meio do comércio internacional tem os mesmos efeitos que o crescimento do mercado de um único país.

Efeitos do aumento do tamanho do mercado

O número de firmas num sector monopolisticamente competitivo e os preços que elas cobram são afectados pelo tamanho do mercado. Em mercados maiores, haverá normalmente mais firmas e mais vendas por firma; aos consumidores num mercado grande serão oferecidos preços mais baixos e uma variedade maior de produtos que aos consumidores em mercados pequenos.

Concluindo, o comércio não necessita de ser o resultado de vantagens comparativas. Ao contrário, ele pode ser o resultado de rendimentos crescentes ou de economias de escala – isto é, de uma tendência de os custos por unidade serem menores com uma produção maior. As economias de escala dão aos países um incentivo a se especializarem e a comercializarem mesmo na ausência de diferenças entre os países quanto a seus recursos e à sua tecnologia. As economias de escala podem ser internas (dependendo do tamanho da firma) ou externas (dependendo do tamanho do sector).

As economias de escala levam normalmente a um colapso da concorrência perfeita, de modo que o comércio na presença de economias de escala deve ser analisado utilizando modelos de concorrência imperfeita.

Na concorrência monopolística, uma indústria contém diversas firmas produzindo bens diferenciados. Essas firmas agem como monopolistas individuais, mas firmas adicionais entram numa industria lucrativa até que os lucros do monopólio sejam eliminados. O equilíbrio é afectado pelo tamanho do mercado: um mercado grande comportará um número maior de firmas, cada uma produzindo numa escala maior e, portanto, a um custo médio menor do que em um mercado pequeno.

O comércio internacional permite a criação de um mercado integrado que seja maior que o mercado de qualquer país e, portanto, torna possível oferecer simultaneamente aos consumidores uma variedade maior de produtos e preços mais baixos.

3 - Organização da economia mundial

Efeitos da globaliza-ção

Um sector industrial competitivo monopolisticamente produz bens que são usados no consumo final e como produtos intermédios. O uso intermédio cria custos e procura ligações entre empresas e uma tendência para a aglomeração das indústrias transformadoras.

Com elevados custos de transporte todos os países têm alguma industria transformadora, mas quando os custos de transporte descem abaixo de um valor crítico, forma-se espontaneamente uma distribuição centro-periferia, e os países que se encontram na periferia sofrem um declínio no rendimento real. Com a continua descida dos custos de transporte dá-se uma convergência no rendimento real, em que os países periféricos ganham e os países centrais podem perder.

Recentemente aumentaram as preocupações entre vários observadores em países avançados sobre o impacte da globalização na capacidade destes países para manterem elevados padrões de nível de vida. Como certos países em desenvolvimento se têm destacado em termos de crescimento económico, como a China, estes observadores temem que o Terceiro Mundo cresça – conduzido por uma expansão das exportações de produtos industriais – às custas do Ocidente.

Segundo Krugman, nos anos 1970 iniciou-se o processo de globalização, que em vez de beneficiar todas as nações, tende a produzir ganhos para alguns à custa de outros. A visão geral era que a integração dos mercados mundiais produziam "desenvolvimento desigual", um aumento nos padrões de vida das nações ricas à custa das pobres.

A reivindicação de que o mercado global tende a aumentar a desigualdade entre as nações foi usada para justificar a procura de auxílios e esquemas de suporte do preço das mercadorias.

Os teóricos radicais argumentavam que o Sul só se desenvolveria se as suas economias estivessem "desligadas" do bem estabelecido Norte.

Reflexo de eventos recentes: o contraste entre o rápido crescimento das economias do Leste Asiático e as economias turbulentas dos países desenvolvidos. Propõe-se assim, terminar com o antigo conceito de "desenvolvimento desigual" e o novo conceito acerca do "empobrecimento do Norte" como sendo modas intelectuais, mais do que proposições analíticas sérias.

O desempenho do crescimento divergente geralmente reflecte factores internos, não a consequência inevitável de regras nacionais no sistema económico internacional.

Krugman e Venables com este artigo propõem-se apresentar algumas considerações acerca dos efeitos da globalização nos rendimentos nacionais reais. Para tal apresentam um modelo, segundo o qual não existem diferenças inerentes entre as economias nacionais, até que uma divisão internacional do trabalho pode espontaneamente surgir, e em que algumas nações podem aproveitar melhor esta divisão do que outras. Sendo assim, um modelo em que a economia mundial se deve organizar ela própria numa estrutura centro-periferia.

A globalização deve-se a uma melhor integração dos mercados mundiais, que afecta os rendimentos reais das nações centrais e nações periféricas.

Para tal colocam várias questões:

  • Deve a globalização beneficiar sempre todas as nações?
  • Deve prejudicar a periferia como foi afirmado durante a década de 1970?
  • Ou deve prejudicar o centro, como agora muitos crêem?

A sua resposta é que ambas as considerações acerca do desenvolvimento desigual e preocupações acerca da manutenção do padrões de vida do Primeiro Mundo face à competição do Terceiro Mundo têm alguma justificação. Em particular, elas aparecem, correspondendo a diferentes etapas do processo de globalização.

Suponhamos que os custos de transporte e de comunicações gradualmente descem. Então, o modelo prevê uma primeira etapa de aumento da desigualdade mundial: quando os custos de transporte descem abaixo de um valor crítico, uma distribuição centro-periferia forma-se espontaneamente, e as nações que se encontram na periferia sofrem um declínio nos seus rendimentos reais. Como os custos de transporte continuam a declinar, então, eventualmente surgirá uma segunda etapa de convergência nos rendimentos reais, em que as nações periféricas definitivamente ganham e as nações centrais podem muito bem perder.

Assim apresenta que um modelo relativamente simples prevê um padrão em forma de "U" da evolução económica global, de divergência seguida de convergência.

Além disso, existem igualmente outros factores, tal como a evolução nas tecnologias de produção, que tiveram um papel mais importante do que o declínio dos custos de transporte na condução das mudanças regionais.

A interacção entre os custos de transporte e o comércio ao nível intermédio cria externalidades que levam à aglomeração da actividade industrial. Estas externalidades são semelhantes àquelas criadas a partir da interacção entre os custos de transporte e a mobilidade do trabalho (Krugman, 1991).

No entanto este modelo difere do Krugman, 1991, de várias formas. O mecanismo gerador de externalidades são as ligações entre firmas (através da estrutura de entradas e saídas), mais do que ligações entre firmas e trabalhadores/ clientes (como em Krugman, 1991).

Desde que não se pressuponha a mobilidade do trabalho, o modelo é aplicável às economias internacionais bem como às economias interregionais. A imobilidade do trabalho também altera os resultados de forma importante. Modelos simples como o de Krugman, 1991, respondem ao declínio dos custos de transporte: quando estes custos descem abaixo de um nível crítico, a industria concentra-se numa região. Aqui, porque o trabalho é imóvel (e assim aparecem diferenças de salários entre as regiões), continuando as reduções nos custos de transporte eventualmente levando a uma reindustrialização da região de baixos salários. Tal representa uma distinção entre as economias interregionais e as internacionais, porque o trabalho é de facto muito menos móvel entre nações do que dentro das nações entre as suas regiões.

Pressupos-tos e conclusões do modelo

Os autores apresentam o Mundo com duas regiões: Norte e Sul, com idênticos recursos, preferências e tecnologia.

Cada região pode produzir dois tipos de bens:

  • bens agrícolas: é um sector perfeitamente competitivo que usa somente trabalho com rendimentos proporcionalmente constantes;
  • bens manufacturados: que estão sujeitos a rendimentos crescentes.

Inicialmente, o sector industrial produz um número de variedades de produtos diferenciados, tanto produtos finais vendidos aos consumidores bem como bens intermédios usados como matérias primas em outras industrias. Todos os países são igualmente peritos em ambos os sectores: nenhuma região tem qualquer vantagem comparativa na industria.

Suponhamos que inicialmente os custos de transporte entre as duas regiões eram muito elevados. Claramente, neste caso cada região quererá ser auto-suficiente, e cada região produzirá tanto bens industriais como bens agrícolas.

Agora imaginemos uma redução gradual nos custos de transporte. Haverá a possibilidade de comércio entre as regiões. Se existir grande variedade de produtos manufacturados, aparecerá algum comércio entre os dois lugares de bens industrializados. A certa altura, no entanto, um processo cíclico surge conduzindo a uma diferenciação regional. Suponhamos que uma região por alguma razão tem um sector industrial maior do que a outra. Esta região oferece um mercado maior para os bens intermédios, e assim torna a região num lugar mais atractivo para localizar a produção de certos bens (este efeito corresponde ao conceito de desenvolvimen-to tradicional de «ligações a montante»). Mas se uma região produz maior variedade de bens intermédios do que a outra, melhor acesso a estes bens quererá dizer menores custos de produção de bens finais (um efeito correspondente ao conceito de «ligações a jusante»), levando a uma futura mudança da produção para esta região, e assim por diante. Quando os custos de transporte caem abaixo de um ponto crítico, então a economia mundial organizar-se-á espontaneamente ela própria num centro industrializado e numa desindustrializada periferia.

Se o sector industrial é suficientemente grande, esta diferenciação de papeis estará associada com uma divergência nos salários reais. A vantagem de auto-reforço criada por ligações a montante e a jusante aumentará a oferta de trabalho na região industrializada, enquanto que o declínio da industria na outra região conduzirá à quebra na oferta de trabalho. Assim, os salários reais aumentarão na região que se tornou o centro e cairão naquela que se transformou na periferia. A integração económica global conduz ao desenvolvimento desigual.

Mas agora suponhamos que os custos de transporte continuam a cair. Bem como a importância de estar perto dos mercados e fornecedores – e assim, a importância das ligações a montante e a jusante – também declinará. Contudo, a região periférica oferecerá aos potenciais produtores a vantagem de salários mais baixos. Em certo ponto, o declínio nos custos de transporte será suficiente, bem como menores salários na periferia do que a compensação da desvantagem de estar distante dos mercados e fornecedores. Neste ponto, a industria terá um incentivo para se mover do centro para a periferia uma vez mais, forçando uma convergência do valor dos salários.

A fase final do processo de globalização aqui descrita, em que a difusão da industria para o Sul reduz relativamente ou talvez de forma absoluta os salários no Norte, obviamente corresponde a muitos receios de vários comentadores na economia mundial.

Uma tarifa no Norte afecta a localização da industria de duas maneiras. Primeiro, dificultando o acesso dos produtores do Sul ao largo mercado do Norte, isto tende a fixar firmas no Norte. Contra isto, as firmas do Norte pagariam mais pelos bens intermédios importados do Sul. O efeito é atrair as firmas do Sul para o Norte, alargando as diferenças salariais.

Duas cautelas cruciais podem, todavia, ser feitas acerca destes resultados. Primeiro, supondo que o Norte como um todo impõe uma tarifa contra o Sul, temos como efeito o de ir mais além de observar o Norte e o Sul como regiões e tratando-as como unidades políticas ou pelo menos como uniões aduaneiras. Uma eclosão geral de proteccionismo, em que as nações de elevados salários restringem as importações dos outros países, bem como nações de baixos salários, podem claramente produzir um rendimento muito diferente.

Aumentando os preços dos bens intermédios comercializados intra-Norte, a industria do Norte pode sofrer.

Partes: 1, 2, 3


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