Comportamento alimentar de adolescentes em relação ao consumo de frutas e verduras

Enviado por Mauro Fisberg


1. Resumo

Objetivo:

Este estudo avaliou o comportamento alimentar pelo Modelo Transteorético e o estado nutricional de adolescentes de escolas de ensino técnico de São Paulo, quanto a seu consumo habitual de frutas e verduras.

Métodos:

Investigaram-se o consumo alimentar habitual e a classificação nos estágios de mudança de comportamento, utilizando-se um questionário. Foram aferidos peso e altura para avaliação do estado nutricional pelo Índice de Massa Corporal. Para análise estatística, adotaram-se os testes "t" Student, Qui-Quadrado, Mann-Whitney e HSD-Tukey, com grau de significância de 5%.

Resultados:

Observou-se baixa prevalência de desvios nutricionais entre os 234 participantes: 3,8% foram classificados como baixo peso e 12,4% apresentavam excesso de peso. Apenas 12,4% e 10,3% consumiam frutas e verduras, respectivamente, conforme o recomendado pela Pirâmide Alimentar. Cerca de um terço da amostra foi classificada tanto em pré-contemplação como em manutenção. Observou-se uma discrepância entre o consumo referido e a percepção alimentar, tendo em vista que 79,7% e 83,7% dos adolescentes acreditavam, erroneamente, que seu consumo de frutas e verduras, respectivamente, era saudável.

Conclusão:

O alto percentual de adolescentes em pré-contemplação evidencia a importância do desenvolvimento de estratégias específicas contra a maior resistência desses a modificações dietéticas. A percepção errônea quanto às características de uma dieta saudável e o baixo consumo de frutas e verduras classificam os adolescentes como grupo de risco, exigindo atenção especial para a promoção de hábitos alimentares saudáveis e garantia de qualidade de vida.

Termos de indexação: adolescente; comportamento do adolescente; consumo de alimentos; estado nutricional.

2. Abstract

Objective:

The purpose of this study was to evaluate the eating behavior using the Transtheoretical Model and the nutritional status of adolescents from technical schools of São Paulo regarding their usual fruit and vegetable intakes.

Methods:

A questionnaire was used to collect data on the usual fruit and vegetable intakes and to classify the stages of change. Weight and height were measured to assess nutrional status using the body mass index. The statistical analysis comprised the Student's T-test, chi-square test, Mann-Whitney test and the HSD-Tukey test, all calculated using a significance level of 5%.

Results:

Low prevalence of nutritional disorders was observed among the 234 participants: 3.8% were classified as low weight and 12.4% were overweight. Only 12.4% and 10.3% had usual fruit and vegetable intakes, respectively, as recommended by the Food Guide Pyramid. Approximately one third of the sample was in the precontemplation and maintenance stages. A discrepancy was seen between self-rated food consumption and dietary perception, taking into account that 79.7% and 83.7% of the adolescents had a misperception about their fruit and vegetable intakes, respectively, considering them healthy.

Conclusion:

The high prevalence of adolescents in the precontemplation stage shows the importance of developing specific strategies against their resistance to dietary changes. Their misperception related to the characteristics of a healthy diet and the low fruit and vegetable intakes classify adolescents as a risk group that needs special attention in order to promote healthy dietary habits and to guarantee quality of life.

Indexing terms: adolescent; adolescent behavior; food consumption; nutritional status.

3. Introdução

As dificuldades para motivar os indivíduos a alterar o seu consumo alimentar têm sido muito estudadas, devendo-se considerar a complexa gama de fatores ambientais, nutricionais, psicológicos, sociais e culturais envolvidos nesse comportamento. Uma das maiores barreiras para a prática de mudanças na dieta é a crença de que não há necessidade de alteração dos hábitos alimentares, decorrente, na maioria das vezes, de uma interpretação errada do próprio consumo. Em diversos países foi observada alta prevalência de indivíduos que acreditam não ser necessário alterar sua dieta, por já possuírem uma alimentação saudável1-3. Contudo, restam dúvidas quanto aos reais meios de que a população dispõe para avaliar sua própria dieta, e se as supostas alterações dietéticas realizadas para a adoção de hábitos saudáveis correspondem às recomendações dos guias alimentares.

Esses dados representam um desafio para os nutricionistas em relação à busca de intervenções de sucesso, as quais sejam capazes de mobilizar os indivíduos para a adoção de práticas alimentares saudáveis. Um dos determinantes para que os indivíduos levem em consideração os comportamentos relacionados à saúde é a percepção da necessidade de praticar tal ação4. Pode-se inferir, portanto, que reconhecer a necessidade de alteração dos hábitos alimentares é um requisito fundamental para iniciar uma mudança dietética.

A capacidade de avaliação individual dos aspectos dietéticos é um fator indispensável a ser considerado no delineamento de orientações para adolescentes. O consumo alimentar adotado nesse estágio de vida tem sérias implicações no crescimento, na promoção de saúde, a longo prazo, e no desenvolvimento do comportamento alimentar durante a vida adulta5. Porém, o estilo de vida nessa fase, ao sofrer diversas influências, como as exercidas pelo convívio familiar, amigos, mídia e pressão social, freqüentemente não proporcionam meios para o suprimento adequado das necessidades nutricionais, as quais estão aumentadas devido ao rápido crescimento e desenvolvimento ocorridos nesse período.

Como instrumento de auxílio à compreensão da mudança comportamental relacionada à saúde, diversos estudos têm aplicado o Modelo Transteorético de Mudança de Comportamento6,7. De acordo com esse modelo, as alterações no comportamento relacionado à saúde ocorrem por meio de cinco estágios distintos: pré-contemplação, contemplação, decisão, ação e manutenção6. No estágio pré-contemplativo, a mudança comportamental ainda não foi considerada pelo indivíduo, ou seja, não foram realizadas alterações no comportamento e não há intenção de adotá-las num futuro próximo. No estágio de contemplação, o indivíduo começa a considerar a mudança comportamental. Na decisão, o indivíduo já decidiu alterar seu comportamento no próximo mês, apesar de nenhuma mudança ter sido cumprida até o momento. O estágio de ação está relacionado ao indivíduo que alterou seu comportamento recentemente, nos últimos seis meses. No estágio de manutenção, o indivíduo já mudou seu comportamento e o manteve por mais de seis meses.

Foi observado que os indivíduos classificados nos estágios mais avançados constantemente apresentavam um consumo menor de gordura e maior de frutas, vegetais e fibras8. Nos Estados Unidos, constatou-se que adultos classificados no estágio de manutenção consumiam 0,99 e 0,68 porções diárias a mais de frutas e vegetais, respectivamente, quando comparados àqueles nos estágios de mudança alimentar anteriores ao da ação9.

Foi demonstrado que o desenvolvimento de intervenções específicas para cada estágio de mudança de comportamento alimentar é mais eficaz para a motivação dos indivíduos a adotar e manter o comportamento alterado10. Portanto, os programas de educação nutricional direcionados à população adolescente podem ser muito beneficiados se considerarem os diferentes estágios de mudança comportamental, tendo em vista que cada um deles corresponde a diferentes atitudes e percepções perante a nutrição e a saúde.

A proposta deste estudo foi avaliar o comportamento alimentar e o estado nutricional de alunos adolescentes de escolas profissionalizantes do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) de São Paulo, em relação ao seu consumo habitual de frutas e verduras.


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