Dificuldade visual em escolares: conhecimentos e ações de professores do ensino fundamental que atuam com alunos que apresentam visão subnormal



Artigo original: Arq. Bras. Oftalmol., Fev 2004, vol.67, no.1, p.65-71. ISSN 0004-2749  

1. Resumo

Objetivos: 1) Verificar os conhecimentos e ações desenvolvidas por professores do ensino fundamental, que atuam com alunos que apresentam visão subnormal, em relação aos sinais e sintomas indicativos de dificuldades visuais dos alunos; 2) Obter informações indispensáveis ao planejamento de ações preventivas direcionadas à saúde ocular na escola.

Métodos: Realizou-se levantamento entre professores do ensino fundamental de escolas públicas do município de Campinas/SP, que atuavam com alunos que apresentavam visão subnormal, no ano letivo de 1999. Foram incluídas 23 escolas onde se localizava essa população. Foi utilizado questionário auto-aplicável como instrumento de coleta de dados.

Resultados: De 84 professores, 68 (81%) responderam ao questionário. A média de tempo de experiência profissional de magistério era de 20,8 anos. A maioria (92,6%) não relatou formação na área da deficiência visual. Em relação ao conhecimento sobre os sinais e sintomas indicativos de dificuldade visual, a maioria indicou a dificuldade para ler na lousa (94,1%), seguida da cefaléia (89,7%) e a aproximação exagerada dos objetos aos olhos (88,2%). Desses professores, 55,9% identificaram alunos que apresentavam dificuldades visuais. Entre os que declararam ter identificado esses alunos, 84,2% proveram orientações ao escolar e 63,2% aos familiares para encaminhamento do problema. Somente 26,3% orientaram o aluno a procurar o oftalmologista.

Conclusão: Os professores apresentaram conhecimento insuficiente quanto à saúde ocular e, portanto, as ações desenvolvidas não foram completas e abrangentes. Sugere-se a implantação de um programa de saúde ocular em todo o sistema público de ensino, visando desenvolver ações de prevenção da incapacidade visual, promoção e recuperação da saúde ocular.

Descritores: Baixa visão; Transtornos da visão; Saúde escolar; Saúde ocular; Conhecimentos atitude e prática; Educação em saúde; Estudantes; Acuidade visual; Serviços de saúde escolar

2. Abstract

Purpose: 1) To check knowledge and actions developed by teachers of elementary schools working with low vision students, regarding signals and symptoms evidencing the students' visual difficulties: 2) To collect information useful for the design of preventing actions regarding eye health in school.

Methods: A survey was applied to teachers of elementary schools in 23 public schools in the country of Campinas / SP, with low vision students, during the academic year of 1999. A self-applied questionnaire was used as tool for data obtention.

Results: Of 84 teachers, 68 (81%) answered the questionnaire. The average teaching experience was 20.8 years. Most of those teachers (92.6%) did not report any previous specific training in visual deficiency. As concerns the recognition of signs and symptoms, most of the teachers indicated blackboard reading difficulty (94.1%), followed by headache (89.7%) and placement of subjects too close to the eyes (88.2%). A little over half of the teachers (55.9%) identified students showing visual difficulties. As regards developed actions 84.2% of the teachers declared to have oriented the students and 63.2% oriented parents and relatives and also informed the school about the fact. Only 26.3% oriented the student to look for an ophthalmologist.

Conclusion: Teachers did not show adequate knowledge about eye health and thus the developed actions were not comprehensive. Therefore, in order to develop actions regarding the prevention of visual impairment and to promote the enhancement of eye health, the implementation of a program aiming at the care of eye health in the public school is suggested.

Keywords: Vision, low; Vision disorders; School health; Eye health; Knowledge attitudes and practice; Health education; Students; Visual acuity; School health services

3. Introdução

A visão desempenha um papel predominante nos primeiros anos de vida, pois é um estímulo motivador para a comunicação e realização de ações. O relacionamento com o mundo exterior é realizado principalmente por meio da visão, de forma que os problemas oculares podem representar graves prejuízos para a aprendizagem e socialização das crianças(1). Até a idade escolar, a deficiência visual pode passar despercebida pelos pais e familiares porque, no ambiente doméstico, a criança não tem noção que não enxerga bem, pois não exerce atividades que demandem esforço visual. Isso fica agravado, principalmente, devido à ausência de exames oftalmológicos periódicos(2).

A deficiência visual mais acentuada e mais grave denomina-se baixa visão ou visão subnormal e pode ser definida como acuidade visual entre 6/18 (0,3) e 3/60 (0,05) com a melhor correção óptica no olho de melhor visão(3).

Para identificar a presença de dificuldade visual, Kara-José, Almeida, Arieta, Araújo, Beggara e Oliveira sugerem a obrigatoriedade de exames oftalmológicos ou, pelo menos, da medida de acuidade visual, em crianças de quatro anos de idade (em média), por ocasião da matrícula na educação infantil ou do ingresso no ensino fundamental, quando a criança tem, em média, sete anos de idade(4).

Estima-se que cerca de 20% de crianças em idade escolar apresentem dificuldades visuais devido a defeitos refracionais não corrigidos, estrabismo e ambliopia, entre outros. Em cada 1000 alunos do ensino fundamental, 100 são portadores de erros de refração, necessitando de óculos para a correção de hipermetropia, miopia e astigmatismo. Destes, aproximadamente 5% apresentam redução de acuidade visual, isto é, menos de 50% da visão normal(5).

Em pesquisa realizada sobre conhecimentos e práticas em saúde escolar com 1000 pessoas da cidade de Campinas - SP, verificou-se que apenas 24,4% dos informantes foram submetidos a exames oftalmológicos até os 7 anos de idade(6). Em outro estudo, encontrou-se que 45,5% dos alunos de 1ª a 4ª série do ensino fundamental, que necessitavam de óculos, tiveram suas prescrições indicadas, pela primeira vez, por ocasião da referida pesquisa(7).

Entende-se que toda criança deveria ser submetida a exame oftalmológico antes de seu ingresso na escola. Supõe-se que fatores socioeconômicos e culturais impeçam que isso ocorra, daí a importância da realização de programas de triagem da acuidade visual e detecção de problemas visuais na escola, preenchendo essa lacuna(8).

A capacitação de profissionais para atuarem na promoção da saúde ocular e a adequada atenção primária em saúde, que inclui os programas para avaliação da acuidade visual e identificação de crianças com significativos erros de refração, são essenciais para o controle da deficiência visual na infância(9).

Em relação à avaliação da acuidade visual, cabe ressaltar que ela vem sendo realizada nas escolas por meio do Teste de Snellen, utilizando-se o professor como examinador. Esta situação tem criado polêmica, gerando nos professores um descrédito em relação ao teste. Não se reconhece que a precisão do teste depende fundamentalmente de condições adequadas de aplicação e treinamento do examinador(10), conforme foi observado em estudo sobre avaliação dos critérios de triagem visual de escolares de 1ª série do ensino fundamental, mostrando que, 87,1% dos professores realizaram corretamente o teste de acuidade visual (todos os professores foram devidamente orientados, anteriormente)(11).


Página seguinte 



As opiniões expressas em todos os documentos publicados aqui neste site são de responsabilidade exclusiva dos autores e não de Monografias.com. O objetivo de Monografias.com é disponibilizar o conhecimento para toda a sua comunidade. É de responsabilidade de cada leitor o eventual uso que venha a fazer desta informação. Em qualquer caso é obrigatória a citação bibliográfica completa, incluindo o autor e o site Monografias.com.