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Efeitos das restrições pré e pós-natal sobre o crescimento e o desempenho de cordeiros Santa Inês (página 2)

Juan Ramón Olalquiaga Pérez, Luciana Castro Geraseev, Cristiane Leal dos Sa

 

4. Material e métodos

O experimento foi conduzido no Setor de Ovinocultura do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras (UFLA) no período de março de 2000 a novembro de 2001. Foram utilizados 68 cordeiros da raça Santa Inês, sendo 24 filhos de ovelhas que sofreram restrição energética durante o terço final da gestação e o restante, de ovelhas que não sofreram qualquer tipo de restrição alimentar durante a gestação. No grupo de cordeiros nascidos de fêmeas que não sofreram restrição durante a gestação, os animais foram novamente divididos em dois grupos (um recebeu alimentação à vontade e o outro, alimentação restrita) para que pudessem ser identificados os efeitos tanto da restrição pré quanto pós-natal.

Desse modo, os tratamentos consistiram de três grupos de cordeiros: um que sofreu restrição pré-natal, um que sofreu restrição pós-natal e um outro que não sofreu nenhum tipo de restrição (cordeiros controle).

Os cordeiros utilizados foram provenientes de 150 ovelhas Santa Inês, divididas em três grupos e confinadas aos 100 dias de gestação. As ovelhas pertencentes aos dois primeiros grupos foram confinadas em conjunto e receberam alimentação à vontade, permitindo-se sobras de 20% do total de ração oferecida. As ovelhas pertencentes ao terceiro grupo foram confinadas individualmente e receberam alimentação restrita para satisfazer 60% das suas necessidades energéticas.

O cálculo das necessidades energéticas e da quantidade de ração oferecida às ovelhas submetidas à restrição alimentar foi feito diariamente, com base nas recomendações do ARC (1980), considerando-se o peso da ovelha, o tempo de gestação e o número de fetos que cada ovelha estava gestando.

As composições da dieta total e do concentrado oferecidos às ovelhas encontram-se nas Tabelas 1 e 2.

 

Ao nascer , os cordeiros permaneceram com suas mães durante três dias para ingestão do colostro e, depois deste período, foram separados e alojados em baias coletivas até os 15 dias de idade, quando foram alojados individualmente. Após a separação das mães, foram aleitados artificialmente até os 60 dias de idade.

Além do sucedâneo do leite, os animais tiveram acesso,duas vezes ao dia, à dieta experimental, balanceada segundo recomendações do ARC (1980). Os animais dos grupos controle e restrição pré-natal receberam sucedâneo do leite à vontade e ração em quantidade para permitir sobra de 30% do total fornecido, enquanto os animais do grupo com alimentação restrita receberam quantidades de sucedâneo e ração suficientes para proporcionar ganho de 150 g/dia. A composição do sucedâneo encontra-se nas Tabelas 3 e 4 e a da dieta experimental nas Tabelas 5 e 6.

O controle do consumo do sucedâneo e da dieta experimental foi feito diariamente. A avaliação do desenvolvimento dos animais foi feita por meio de pesagens semanais e em dias específicos: ao nascer, no início do período experimental (três dias de idade), ao serem alojados individualmente (15 dias de idade) e ao desmame (60 dias de idade). As pesagens foram feitas sempre no mesmo horário, antes do fornecimento da ração, às 7 h, visando ao controle do crescimento e à obtenção do ganho de peso médio diário.

As análises químicas foram feitas no Laboratório de Nutrição Animal do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras, segundo a metodologia descrita por Silva & Queiroz (2002). Nas amostras dos ingredientes do sucedâneo, foram determinados os teores de MS, PB, EE, Ca e P e, nas amostras dos ingredientes da dieta e das sobras, as concentrações de MS, FDN, FDA, PB, cinzas, Ca e P.

O período experimental teve duração de 57 dias, que correspondeu à entrada dos animais com três dias de idade até o desmame aos 60 dias.

As variáveis peso ao nascer, peso aos 15 dias, peso ao desmame, consumo de sucedâneo e ganho de peso dos cordeiros lactantes foram analisadas em um delineamento experimental inteiramente casualizado, com três tratamentos e 24 repetições para peso ao nascer, 16 para peso ao desmame e 20 para as demais variáveis, sendo que cada animal representou uma unidade experimental. Estas variáveis foram analisadas utilizando-se o seguinte modelo estatístico:

Yij = µ + ai + eij,

em que Yij são os valores observados para as variáveis supracitadas no nível i de tratamentos de restrição, na repetição j; µ, a média geral; ai, o efeito do nível i de tratamentos (i = 1,2,3); eij, o erro experimental associado à observação Yij, que, por hipótese, tem distribuição normal com média zero e variância s².

A curva de crescimento dos animais lactantes foi obtida utilizando-se o peso ao nascer de todos os animais e os pesos aos 3, 10, 15 e 60 dias daqueles mantidos no experimento. A análise do crescimento dos animais foi realizada por meio de equações de regressão do peso em função da idade dos animais, utilizando-se o seguinte modelo estatístico:

Yij = µ + b1x1i + eij

em que Yij = valores observados para o peso do animal (kg) no nível i de tratamentos de restrição, na repetição j; µ= média geral; b1= coeficiente de regressão; x1i = idade do animal; eij = erro experimental associado à observação Yij, que, por hipótese, tem distribuição normal com média zero e variância s².

5. Resultados e discussão

Na Tabela 7 são apresentadas as médias de peso ao nascer dos cordeiros dos grupos controle, restrição alimentar pós-natal e restrição alimentar pré-natal. Os valores médios para peso ao nascimento, de 4,628 kg (controle) e 4,421 kg (restrição pós-natal), são semelhantes ao de 4,6 kg observado por Oliveira et al. (1996), em cordeiros da raça Texel em campo nativo, e superiores ao de 3,39 kg registrado por Girão et al. (1999), em cordeiros Santa Inês.

Verificou-se que os pesos ao nascer dos animais dos grupos controle e restrição pós-natal foram semelhantes e superiores aos do grupos restrição pré-natal (Tabela 7), o que comprova o comprometimento do desenvolvimento dos animais que sofreram restrição alimentar durante a gestação. Diversos pesquisadores relataram redução do peso ao nascer em cordeiros filhos de ovelhas submetidas à restrição de energia ou proteína durante a metade e/ou final da gestação (Robinson, 1982; Holst et al., 1986; Silveira et al., 1992; Sibbald & Davidson, 1998)

De acordo com Ferrel (1992), o peso ao nascer dos cordeiros pode ser reduzido 30% em média, como conseqüência da restrição alimentar imposta às ovelhas durante o terço final da gestação. Neste trabalho, constatou-se redução de 34,66% no peso ao nascer dos cordeiros da restrição pré-natal em relação aos cordeiros do grupo controle.

O peso ao nascer dos cordeiros é o resultado final do crescimento fetal, que é o saldo do balanço entre o potencial genético para o crescimento, refletido na demanda de nutrientes pelo feto, e os limites impostos ao suprimento destes nutrientes pelo ambiente materno. Durante o terço final da gestação, quando ocorre o maior desenvolvimento do feto e, conseqüentemente, a maior demanda por nutrientes, restrições alimentares impostas às ovelhas gestantes limitam a expressão do potencial genético para o crescimento do feto (Ferrel, 1992).

A importância desta variável na produção animal consiste no fato de o peso ao nascer estar diretamente correlacionado à mortalidade perinatal e ao crescimento pós-natal. No Rio Grande do Sul, Oliveira & Barros (1982) observaram que 80% dos cordeiros que morreram em razão do complexo inanição/exposição ao ambiente pesavam menos que 3,5 kg ao nascer. Segundo esses autores, o incremento do peso ao nascer é importante para o aumento da produtividade da ovinocultura.

Na Tabela 8 constam os resultados referentes ao consumo médio de sucedâneo dos cordeiros submetidos aos diferentes manejos alimentares.

Os resultados obtidos demonstram que o consumo médio de sucedâneo dos cordeiros do grupo controle foi superior ao dos demais, provavelmente em decorrência do controle do consumo imposto aos cordeiros da restrição pós-natal e do comprometimento do desenvolvimento dos cordeiros da restrição pré-natal durante a gestação, tornando-os animais com menor peso ao nascer e limitando seu consumo, em razão do reduzido tamanho de seu trato gastrintestinal. Portanto, mesmo sendo alimentados à vontade, estes animais não apresentaram o mesmo consumo dos cordeiros controle.

Greenwood et al. (1998) também observaram maior consumo de sucedâneo em cordeiros com maior peso ao nascer em relação àqueles com menor peso ao nascer. No período do nascimento até 20 kg de PV, o consumo dos cordeiros sem restrição pré-natal foi em média 13% maior. Neste experimento, a diferença no consumo entre os cordeiros dos grupos controle e restrição pré-natal foi de 37%.

Na Tabela 9 constam os pesos médios (kg) aos 15 dias de idade e ao desmame e o ganho de peso médio diário (kg/dia), durante todo o período experimental, dos cordeiros submetidos aos diferentes manejos alimentares.

Aos 15 dias de idade os efeitos da restrição pós-natal sobre o peso dos cordeiros não puderam ainda ser observados, entretanto foram notados no peso ao desmame, conseqüência do menor ganho de peso apresentado por esses animais em relação aos do grupo controle (Tabela 9). O maior ganho de peso diário dos cordeiros do grupo controle durante a fase de aleitamento resultou do maior consumo de sucedâneo (Tabela 8) por esses animais.

Os animais sob restrição pré-natal, no entanto, apresentaram, aos 15 dias de vida, peso menor que o dos cordeiros dos demais tratamentos, em razão de seu menor peso ao nascer (Tabela 7). Ao desmame, porém, não houve diferença no peso dos animais com alimentação restrita, como reflexo do consumo de sucedâneo (Tabela 8) similar entre esses dois grupos, resultando em ganho de peso semelhantes durante a fase de aleitamento.

Greenwood et al. (1998) também registraram menores taxas de ganho de peso absoluto e fracional (% peso vivo ganho/dia) em cordeiros submetidos à restrição pré-natal durante o início da vida pós-natal. Segundo esses autores, animais sob restrição alimentar apresentaram menor peso ao nascer e um período mais prolongado de adaptação à vida pós-natal, o que resulta em menor crescimento.

De acordo com Houssin & Davicco (1979), durante as primeiras semanas de vida, existe correlação positiva entre a digestibilidade dos alimentos e o peso ao nascer. Portanto, o menor crescimento dos animais durante este período pode ser limitado pela capacidade digestiva.

Na Figura 1 encontram-se as curvas de crescimento do nascimento ao desmame dos animais controle, com restrição pré-natal e com restrição pós-natal. A curva de crescimento dos animais deste experimento foi similar àquelas obtidas por Huidobro & Villapadierna (1992) e Krausgrill et al. (1997), que verificaram rápido crescimento nas primeiras fases de vida dos cordeiros.

Os coeficientes de determinação encontrados para as equações de regressão demostram que houve ajuste adequado dos dados, com pouca dispersão. Os coeficientes de regressão "b" foram significativos (P<0,01) para todos os manejos alimentares, indicando aumento linear do peso do animal com o avançar da idade.

Foi realizada análise comparativa, aos pares, entre as equações de crescimento (Snedecor & Cochran, 1967) dos animais submetidos aos diferentes manejos alimentares.

Os resultados desta análise indicaram que os interceptos das equações dos animais dos grupos controle e restrição pós-natal foram semelhantes entre si e superiores àqueles submetidos à restrição pré-natal, comprovando o efeito negativo da restrição alimentar pré-natal sobre o desenvolvimento desses animais durante a gestação.

Quanto aos coeficientes de regressão, foram encontrados valores de 0,200; 0,153 e 0,162 para os cordeiros dos grupos controle, restrição pós-natal e restrição pré-natal, respectivamente. O ganho de peso dos cordeiros do grupo controle durante a fase de aleitamento (0,200 kg/dia) foi semelhante ao observado por Cotterill & Roberts (1979), para as raças Poll Dorset e Lincoln: 0,198 e 0,209 kg/dia. Foi inferior, entretanto, ao verificado por Oliveira et al. (1996) e Carvalho et al. (1999), em cordeiros Texel e ¾ Texel (0,229 e 0,316 kg/dia, respectivamente).

O coeficiente de regressão dos cordeiros do grupo controle foi superior ao daqueles submetidos às restrições pós-natal (P<0,05) e pré-natal (P<0,079). Estas diferenças no coeficiente de regressão resultam em menor peso ao desmame dos cordeiros com alimentação restrita, revelando a importância da adoção de um nível nutricional adequado para fêmeas no final da gestação e para os cordeiros durante a fase de aleitamento.

A comparação dos coeficientes de regressão comprovou não haver diferença entre os animais submetidos à restrição alimentar, demonstrando que os cordeiros da restrição pré-natal, mesmo sendo alimentados ad libitum após o nascimento, apresentaram desempenho semelhante àqueles com alimentação restrita. Esse desempenho foi reflexo do consumo de sucedâneo (Tabela 8), que foi similar entre os dois grupos, resultando em ganho de peso semelhantes durante a fase de aleitamento.

6. Conclusões

Cordeiros submetidos à restrição alimentar pré-natal, mesmo com alimentação ad libitum na fase de aleitamento, não atingem a mesma taxa de crescimento e o mesmo peso à desmama dos animais que não sofreram restrição, como reflexo do seu baixo peso ao nascer, que afeta o consumo de alimento líquido ao longo desta fase. Portanto, a restrição nutricional na vida intra-uterina pode comprometer o desempenho produtivo de cordeiros.

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Correspondências devem ser enviadas para: lgeraseev[arroba]nca.ufmg.br

1 Parte da tese de Doutorado da primeira autora apresentada à Universidade Federal de Lavras.

Luciana Castro GeraseevI; Juan Ramón O. PerezII; Paulo Afonso CarvalhoIII; Rodrigo Palomo de OliveiraIII; Fábio Arantes QuintãoIII; Alison Luis LimaIV lgeraseev[arroba]nca.ufmg.br

IUFMG – Montes Claros – MG

IIUFLA – Lavras – MG

IIIUFLA – Pós-graduação

IVZootecnista



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