Efetividade da "multimistura" como suplemento de dietas deficientes em vitaminas e/ou minerais



(na recuperação ponderal de ratos submetidos à desnutrição pós-natal)

1. Resumo

Objetivo:

Avaliar a efetividade da "multimistura", usada como suplemento de dietas deficientes em vitaminas, deficientes em minerais, ou deficientes em vitaminas e minerais, na recuperação ponderal de ratos desnutridos.

Métodos:

Após o desmame, 56 ratos Wistar, submetidos à desnutrição pós-natal, foram aleatoriamente distribuídos em 7 grupos diferenciados segundo o tipo de dieta oferecida: controle, dietas deficientes em vitaminas, deficientes em minerais, deficientes em vitaminas e minerais e os grupos cujas dietas deficientes eram suplementadas com a "multimistura" (dietas deficientes em vitaminas + "multimistura", deficientes em minerais + "multimistura" e deficientes em vitaminas e minerais + "multimistura"). A "multimistura" (pó de casca de ovo, pó de folha de mandioca e farelo de trigo, na proporção de 1:1.8) foi adicionada ao nível de 4%. O ganho ponderal e os Coeficientes de Eficiência Protéica ou alimentar foram usados como indicadores da efetividade da "multimistura" como suplemento de vitaminas e/ou minerais.

Resultados:

Após 28 dias, todos os grupos apresentaram valores de ganho ponderal, coeficientes de eficiência protéica, e coeficientes de eficiência alimentar, inferiores aos do grupo controle (p<0,05), exceto aquele que recebeu dietas deficientes em vitaminas + "multimistura". O grupo que recebeu dieta deficiente em minerais apresentou os piores resultados. A suplementação dessa dieta com a "multimistura" determinou a obtenção de valores significantemente superiores, mas aquém daqueles observados no grupo controle.

Conclusão:

Esses resultados sugerem que a suplementação de dietas pouco nutritivas com a "multimistura", fornece as necessidades de vitaminas de ratos desnutridos e supre apenas parte das necessidades de minerais desses animais.

Termos de indexação: casca de ovo, desnutrição protéica, folha de mandioca, misturas vegetais, ratos, suplementos dietéticos.

2. Abstract

Objective:

To investigate the effectiveness of the "multi-mixture", consisting of powdered eggshell, powdered cassava leaf and wheat bran (1:1:8), as a vitamin and/or mineral supplement in the promotion of weight gain in undernourished rats.

Methods:

After weaning, 56 Wistar rats which had been submitted to under-nutrition since birth, were divided randomly into 7 groups, according to the diet supplied, namely: control, vitamin deficient, mineral deficient, vitamin and mineral deficient, vitamin deficient supplemented with "multi-mixture", mineral deficient supplemented with "multi-mixture", and vitamin and mineral deficient supplemented with "multi-mixture". The recorded weight gains during the treatment period, together with the protein efficiency ratios and the food efficiency ratios, were taken as indicators of the efficiency of "multi-mixture" as a vitamin and/or mineral supplement.

Results:

After 28 days, gains in body weight and the values of protein efficiency ratios and food efficiency ratios were significantly lower (p<0.05) than those of the control group for all treatment groups except for that fed on vitamin deficient supplemented with "multi-mixture". The lowest indicator levels were observed in the group fed on mineral deficient: supplementation of this diet with "multi-mixture" lead to significant improvements in weight gain, protein efficiency ratios and food efficiency ratios, but to values still below those obtained for the control group.

Conclusion:

The results suggest that supplementation with "multi-mixture" of diets low in nutritional value can provide the required vitamins, but only part of the mineral requirements of undernourished rats.

Indexing terms: egg shell, protein malnutrition, cassava leaf, vegetable mixtures, rats, dietary supplements.

3. Introdução

Apesar das evidências de que o Brasil esteja passando por um processo de transição nutricional e das reiteradas vezes em que os países membros das Nações Unidas têm reafirmado o compromisso de garantir o direito de todo ser humano de não padecer de fome1, a desnutrição infantil continua sendo um grave problema de saúde pública em nosso País, devido à sua magnitude e aos conseqüentes prejuízos para o crescimento, desenvolvimento e sobrevivência da criança2,3.

No Brasil, a partir da década de 70, houve redução na ordem de um terço na prevalência de desnutrição entre os menores de 5 anos, sendo que, especificamente para as formas moderadas ou graves, essa redução foi de quase dois terços4. No entanto, o problema está longe de ser controlado. Conforme dados da Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (1989), 17,3% das crianças brasileiras apresentam déficit de peso para idade e 26,9%, déficit de estatura para idade, sendo que, entre as crianças de menor nível socioeconômico, observam-se freqüências ainda maiores: 31,8% e 41,4%, respectivamente. É importante destacar que mais da metade desses desnutridos encontra-se na região Nordeste do Brasil5. Esses dados, baseados em médias populacionais, mascaram a gravidade com que a desnutrição acomete certos grupos sob condições especiais de risco nutricional. Em alguns estudos conduzidos em favelas em Alagoas, temos encontrado quase 50,0% das crianças com desnutrição crônica e mais de 93,0% acometidas pela anemia6,7.

Segundo Mahler8, sendo a desnutrição um produto da pobreza e da privação, em última instância, só poderá ser erradicada mediante uma ação política orientada a reduzir as desigualdades entre países e entre os habitantes de um mesmo país. Na ausência dessa política, a sociedade civil organizada busca soluções alternativas para dar respostas ao problema apresentado.

No contexto dessas ações, surgiu a proposta da alimentação alternativa, tendo por base o conceito que nem sempre se aproveita o alimento integralmente, de modo que folhas, cascas e sementes descartadas como lixo, seriam potencialmente nutritivas9. Esse conceito teve como principal desdobramento a elaboração da chamada "multimistura" (MM), um farelo formulado a partir desses subprodutos e usado como suplemento à alimentação habitual de crianças. Os principais argumentos apresentados pelos defensores de sua adoção como medida de prevenção e tratamento da desnutrição9 são a disponibilidade regional de seus ingredientes, a não interferência nos hábitos alimentares da população, o baixo custo, a possibilidade de preparação caseira e a acessibilidade a, praticamente, toda a população. Esses aspectos têm contribuído para sua utilização crescente por profissionais de saúde em grande número de municípios brasileiros.

No entanto, a proposição da "multimistura" como alternativa de combate à desnutrição tem recebido muitas críticas no meio acadêmico, em virtude da alegação da falta de comprovação científica de seus efeitos, ausência de controle sanitário relativo à sua preparação, assim como pela inadequação desses subprodutos para o uso humano, devido à possível ocorrência de toxinas e fatores antinutricionais1-14.

Embora se reconheça a presença de quantidades importantes de minerais e vitaminas na MM, argumenta-se que o valor nutritivo de qualquer alimento não pode ser estabelecido unicamente com base em sua composição química, haja vista que uma série de fatores tais como o equilíbrio de seus constituintes, as interações entre diversos compostos da dieta (ou do próprio alimento), o estado fisiológico do indivíduo, as condições de processamento e armazenamento e a ocorrência de antinutrientes, podem interferir na utilização desses nutrientes15.

No intuito de contribuir para a discussão dessa problemática, realizou-se o presente trabalho, objetivando avaliar a efetividade da "multimistura" como suplemento vitamínico e/ou mineral na recuperação ponderal de ratos submetidos à desnutrição pós-natal.


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