Da era do ouro para a era do barro

Enviado por Cristiane Ap. Ramos do Prado - cristianeungida[arroba]gmail.com


  1. A era do ouro do rádio e o início da Indústria Cultural
  2. A indústria cultural transforma o ouro em barro
  3. Bibliografia

1. Da era do ouro para a era do barro

O rádio é ‘democrático’, pois transforma os antigos interlocutores em meros ouvintes", ‘para entregá-los autoritariamente aos programas das estações (DUARTE, 2003, p.52).

"Mamãe eu quero, mamãe eu quero. Mamãe eu quero mamar! Dá a chupeta, dá a chupeta, ai, dá a chupeta. Dá a chupeta pro bebê não chorar!" (autoria Jararaca E V. Paiva) cantada por vários cantores da década de 20 e 30, mas lembrada e interpretada principalmente pela saudosa Carmem Miranda. Foi com esta marcha de carnaval, que iniciou o documentário sobre a Era do Rádio, com duração de aproximadamente 50 minutos, exibido pelo Multi Show, que pertence a GloboSat Programadora Ltda.

Nesse programa foram realizadas entrevistas com profissionais do rádio (locutores, atores, atrizes e cantores) os quais deram seus depoimentos sobre como a denominada era do rádio ou era do ouro, entusiasmou e fez tremendo sucesso no Brasil.

Por outro lado, no começo nem tudo era entusiasmo, em conseqüência do amadorismo radiofônico. Caso um espectador liga-se o rádio, ele não teria uma audição uniforme dos programas que iam ao ar, pois, eram cheios de ruídos, ou então alguns cantores em pleno ao vivo, afinavam seu violão ou ensaiavam, enquanto isso o ouvinte esperava, fato esse que hoje é inconcebível. Mas mesmo assim, a nova era da comunicação a longa distância dava sua arrancada para uma nova história.

O crédito da criação do rádio, no final do século XIX, é atribuído ao inventor e cientista italiano Guglielmo Marconi, da cidade de Bolonha, na Itália. Depois de um período, em 6 de abril de 1919, no Brasil, é implantada a Rádio de Pernambuco por Oscar Moreira Pinto, no Recife. Entretanto, o maior destaque nacional aconteceu mesmo em 1922, através de Edgard Roquete Pinto (considerado pai do rádio no Brasil) que difundiu o meio radiofônico e também a cultura popular, sem num primeiro momento ter pretensões ideológicas de manipulação das massas (Indústria Cultural). Sendo que nesse ano, foi transmitido o discurso do presidente da época Epitácio Pessoa para comemorar o Centenário da Independência, realizada no Corcovado, no Rio de Janeiro.

1.1 A era do ouro do rádio e o início da Indústria Cultural

A implantação desse meio de comunicação veio de norte ao sul do país transformar e influenciar a vida das pessoas. Aqueles que não ouviam o rádio e não ficavam sabendo das últimas informações eram considerados fora da realidade, porque ao entrar em rodas de conversa não podiam comentar dos programas transmitidos pelo rádio, ou do novo cantor/cantora, com isso eram tachados de outsider. Na atualidade isso ocorre principalmente com as transmissões televisivas.

Como exemplo de cantores/cantoras da época famosos, pode ser citado: Francisco Alves, Vicente Celestino, Dalva de Oliveira, Emilinha Borba (rainha do rádio), Bob Nelson (símbolo sexual), Carmem e Aurora Miranda, entre muitos outros. Um dos programas musicais que cativaram o ouvinte foi o do locutor Ademar Casé, que pagava aos cantores e exigia exclusividade. "(...) o rádio pos à disposição de milhões de ouvintes um repertório musical ao qual, até só se podia ter acesso em determinadas ocasiões" (ECO,1998, p.316-317).

Além do auge dos programas musicais, as radionovelas, abalavam e prendiam o receptor em frente ao rádio para não perderem nenhuma parte da história. De 1950 a 1955, o rádio, transmitiu a novela mais longa de caráter nacional, isso seduzia os ouvintes que liberavam suas imaginações e construíam em suas mentes o cenário que quisessem.

Já o Repórter Esso, um dos programas jornalísticos de destaque da época, considerado imperdível, ficou no ar por 25 anos, unindo o Brasil e informando a todos sobre os fatos nacionais e internacionais, foi por ele que muitos espectadores não deixavam de ouvir as últimas notícias da Segunda Guerra Mundial. Outros programas que marcaram a história do rádio brasileiro foram: Os calouros do Ary; O Trem da Alegria; Gerônimo, o Herói do Sertão; Tancredo e Trancado; A crônica da Cidade; e A felicidade bate à sua porta.

Em 1932 pela autorização do governo Vargas houve a inclusão de publicidade no rádio que gerou a esse meio uma elevação comercial e popular. Nesse ínterim, lançou-se o primeiro dingo publicitário sobre uma padaria localizada no Rio de Janeiro, a Padaria Nássara, propaganda essa que foi criada especialmente conforme o desejo do proprietário, e daí em diante não pararam mais de serem inclusas propagandas no rádio. Duarte (2003, p.68) cita a opinião de Horkheimer e Adorno a respeito da publicidade, a qual é taxada como "elixir de vida da indústria cultural, encetando o infindável circuito de promessas e frustrações que mantém a economia em funcionamento".

Como diz o ditado popular, a propaganda é a alma do negócio, uma propaganda bem feita traz venda e frisa a marca na mente dos consumidores, por ela a indústria cultural tem se mantido firme, e conseguido seus objetivos, vender, vender e vender. Enquanto, muitos adquirem coisas advindas do seu fetiche incitado pela indústria cultural, sem pensar na utilidade do objeto e na conta a pagar, as pessoas vão cada vez mais se afundando no barro, e sem perceber estarão sujas com sua própria incensatez e arrancando os cabelos para pagar as contas. Mas mesmo assim, querendo comprar mais e mais. "O inimigo que se combate é o inimigo que já está derrotado, o sujeito pensante" (ADORNO, p.140).

Ainda na década de 30 se instaurou a comercialização com a rádio Philips, esse um dos indícios evidentes da implantação da Indústria Cultural que permanece até hoje, no rádio, nos jornais, na Internet e no veículo mais acessado por todos na face da terra: a televisão. A Rádio Nacional com características luxuosas mantinha os melhores cantores, atrizes/atores, orquestra, possuía tudo da melhor qualidade. Em pleno 2007, essa rádio ainda está no ar, 60 anos depois de sua primeira transmissão, é considerada, o berço dos programas de auditório e radionovelas da história do país, mas hoje poucos a escutam, porque o rádio perdeu espaço para a televisão.

Criada em 1936, a Rádio Nacional, esteve por anos em primeiro lugar no ranking nacional do meio radiofônico brasileiro, lançada durante o governo de Getúlio Vargas (Estado Novo) e após a Primeira Guerra Mundial, tornou-se um meio de unir o país de norte a sul. Pois o Brasil precisava de uma voz para impedir qualquer incidente inoportuno que viesse afetar a segurança nacional. "Ela surgiu pela razão e acabou ganhando o coração". Não existiam anunciantes para mantê-la no ar, mas era subsidiada pela sociedade, ou seja, apoio cultural. Seus programas eram copiados de países estrangeiros, principalmente modelos americanos, tudo considerado novidade para o povo brasileiro, e pode-se dizer que a indústria cultural estava sendo ativada no contexto comunicacional, fato inevitável.

Em plena década de 50 foram às transmissões dos jogos de futebol que cativaram a atenção do ouvinte que pela locução enfeitada ficava preso ao rádio. As locuções emocionavam e aumentavam a imaginação dos ouvintes que sempre ficavam com o coração na mão, por acharem que sempre era perigo de acontecer um gol, nesse período dá para dar ênfase no trabalho do locutor mais famoso da época, Ari Barroso. Era assim, que pelos jogos, pelas radionovelas, pelos cantores, que o receptor criava imaginação de como seriam as pessoas do rádio.

Aproveitando a curiosidade coletiva então o cinema trouxe os profissionais do rádio para as telas. Segundo Alice Gonzaga, cineasta, em entrevista ao multi show, a junção do rádio com o cinema fez com que o cinema seguisse as mesmas diretrizes do rádio: história mais musical mais enquête, "cinema e rádio ficaram de mãos dadas, casamento do rádio, música e cinema". Enfim, o rádio criou no povo a vontade de ver os ídolos e o cinema se aproveitou disso, isso é uma peculiaridade da indústria cultural. Criar necessidades antes inexistentes no público para então oferecer os produtos à venda e suprir tais necessidades criadas, gerando assim lucro. Segundo Adorno (1991, p. 124) "(...) o sistema da indústria cultural provém dos países industriais liberais, e é neles que triunfam todos os seus meios característicos, sobretudo o cinema, o rádio, o jazz e as revistas".


Página seguinte 



As opiniões expressas em todos os documentos publicados aqui neste site são de responsabilidade exclusiva dos autores e não de Monografias.com. O objetivo de Monografias.com é disponibilizar o conhecimento para toda a sua comunidade. É de responsabilidade de cada leitor o eventual uso que venha a fazer desta informação. Em qualquer caso é obrigatória a citação bibliográfica completa, incluindo o autor e o site Monografias.com.