Fatores associados à duração do aleitamento materno em três municípios na região do Alto Jequitinhonha, Minas Gerais, Brasil



1. Resumo 

O objetivo do estudo foi identificar e analisar as variáveis associadas à menor duração do aleitamento materno em três municípios da região do Alto Jequitinhonha, Minas Gerais, Brasil. Este foi um estudo do tipo transversal, com dados retrospectivos, em três municípios da região. Foram consideradas, para o estudo, todas as crianças com até 24 meses de idade. A análise estatística foi feita utilizando-se o método de Kaplan-Meier e o modelo de regressão de Cox. Foram estudadas 450 crianças. Três variáveis foram associadas com a duração do aleitamento materno: risco de interrupção precoce 1,59 [1,08;2,36] vez maior se a escolaridade paterna for maior ou igual ao segundo grau completo, 1,52 [1,00;2,34] vez maior quando o pai não reside com a criança e 3,07 [2,17;4,34] vezes maior quando as crianças usaram chupeta. Assim sendo, maior escolaridade paterna, uso de chupeta pela criança e o fato de o pai não residir com a criança foram os fatores associados com menor duração do aleitamento materno.

Aleitamento Materno; Desmame; Lactente

2. Abstract

The objective of this study was to identify and analyze variables associated with shorter duration of breastfeeding in the Alto Jequitinhonha region, Minas Gerais, Brazil. This was a cross-sectional study, using retrospective data, in three cities of the region. All children up to 24 months of age were considered in the study, with a total sample of 450 children. Statistical analyses employed the Kaplan-Meier method and Cox regression model. Three variables were found to be associated with breastfeeding duration. Risk of premature interruption was 1.59 [1.08;2.36] times higher if the father had completed the second grade or greater in school, 1.52 [1.00;2.34] times higher if the father did not live with the child, and 3.07 [2.17;4.34] times higher if child had used a pacifier. Thus, greater education of fathers, use of pacifiers by children, and fathers not living with the children were factors associated with shorter duration of breastfeeding.

Breast Feeding; Weaning; Infant

3. Introdução 

O leite materno é o alimento ideal para o crescimento e desenvolvimento adequados de crianças, sendo indicado de forma exclusiva até o sexto mês e complementado com outros alimentos até, pelo menos, 24 meses de idade. Desde a antiguidade, o ser humano já procurava alternativas à alimentação de suas crianças com o leite da própria mãe. Nessa época, alguns povos já utilizavam as amas-de-leite. Além disso, alguns objetos, como xícaras com biqueiras, foram encontrados por arqueólogos em sepulturas infantis datando de 2000 a.C., o que sugere uma possível utilização, mesmo que ocasional, de outros alimentos que não o leite humano 1. Mas há evidências de que alguns povos, como os egípcios, amamentavam suas crianças, como em um estudo em fósseis humanos 2, mostrando a introdução de alimentos complementares no esquema alimentar de crianças aos seis meses e amamentação até aproximadamente três anos de idade. Os relatos sobre os benefícios da amamentação vêm desde Hipócrates, que descrevia maior mortalidade entre aqueles que não eram amamentados ao peito 3. Na Idade Média, a prática de utilização de amas-de-leite se difundiu pela Europa, inicialmente pelas famílias pertencentes à aristocracia, difundindo-se posteriormente para outras camadas sociais. Isso fez com que a prática de amamentar entre os indígenas que habitavam o Brasil causasse surpresa aos descobridores 4.

Mas foi no século XX que a prevalência e a duração do aleitamento materno diminuíram difusamente e de forma mais intensa, com o conseqüente aumento, principalmente nos países subdesenvolvidos, dos índices de mortalidade infantil. Alguns fatores contribuíram para o abandono da amamentação, como a industrialização promovida pelo capitalismo, ocasionando a inserção da mulher no mercado de trabalho. Além disso, a utilização de tecnologias modernas possibilitou a produção e conservação de leites e alimentos infantis industrializados. Esses alimentos foram amplamente divulgados pela indústria como substitutos eficazes do leite materno. As ações dos fabricantes, com divulgação de seus produtos junto à população e principalmente entre os profissionais de saúde, aliados à falta de políticas governamentais no sentido de regulamentar essas ações e estimular o aleitamento materno, além da mudança de hábitos na sociedade moderna, foram elementos que contribuíram decisivamente para o abandono da prática da amamentação 5.

Apesar de ter havido um crescimento nítido na freqüência e duração da amamentação nas últimas décadas 6,7, o quadro ainda é preocupante, e, sendo assim, deve-se estimular a manutenção e a intensificação dos esforços destinados a aumentar estes índices para níveis satisfatórios. Esses esforços são justificados pela associação entre amamentação e saúde infantil, principalmente devido a uma proteção contra doenças infecciosas, especialmente dos tratos digestivo e respiratório, com diminuição importante da morbi-mortalidade por diarréia 8,9 e pneumonia 10,11. Além disso, o leite materno tem várias vantagens nutricionais, sendo considerado o alimento ideal para um crescimento adequado nos primeiros meses de vida 12,13, e até psicológicas, auxiliando na formação de um melhor vínculo mãe-filho 14.

A duração da amamentação pode ser influenciada por diversos fatores, que não atuam de forma independente. No entanto, o efeito que cada um dos fatores pode exercer sobre a duração desse hábito é variável e, muitas vezes, até contraditório, de acordo com resultados de estudos recentes. As explicações mais prováveis para as diferenças encontradas são a utilização de diferentes metodologias e a diversidade das condições sócio-econômico-culturais das populações pesquisadas.

Assim, a identificação de fatores que influenciam a duração do aleitamento materno é importante e poderá auxiliar na elaboração e implementação de ações de incentivo, apoio e promoção da amamentação, principalmente em regiões mais carentes, onde os hábitos alimentares podem influir de forma decisiva nas taxas de mortalidade infantil.

O objetivo deste estudo foi identificar e analisar as variáveis associadas à menor duração do aleitamento materno em três municípios do Alto Jequitinhonha, Minas Gerais, Brasil, uma das regiões menos desenvolvidas do ponto de vista sócio-econômico no Estado.

4. Material e métodos

O estudo foi realizado nos municípios de Carbonita, São Gonçalo do Rio Preto e Datas, na região do Alto Jequitinhonha. Os três municípios pertencem ao Consórcio Intermunicipal de Saúde do Alto Jequitinhonha (CISAJE) e são subordinados à Diretoria Regional de Saúde de Diamantina, com localização, respectivamente, a 30, 50 e 120 quilômetros desta cidade. Eles foram selecionados para serem incluídos no estudo por terem cobertura total do Programa Saúde da Família (PSF) e por terem convênio para a realização de estágio curricular do Internato Rural, Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCMMG), o que viabilizou a realização da pesquisa. A população dos municípios é de aproximadamente 11 mil habitantes em Carbonita, 3 mil habitantes em São Gonçalo do Rio Preto e 5.100 habitantes em Datas. O poder aquisitivo da população é baixo nos três municípios, sendo as atividades econômicas principais a exploração madeireira e carvoarias em Carbonita, e a agropecuária em São Gonçalo do Rio Preto e Datas.

O estudo foi do tipo transversal, com dados retrospectivos. Os dados incluíram respostas de fenômenos ocorridos com até 24 meses de antecedência, havendo a possibilidade da ocorrência de viés de memória. No entanto, vários estudos já confirmaram a confiabilidade de informações retrospectivas das mães em relação à duração do aleitamento materno 15,16.

Foram consideradas, para o estudo, todas as crianças com até 24 meses de idade nos três municípios. A estimativa era cerca de 580 crianças para serem incluídas no estudo, conforme dados fornecidos pelas secretarias municipais de saúde, baseados nos cadastros das equipes de PSF. Em Datas, durante o trabalho de campo, o número de crianças encontradas foi menor do que o previsto inicialmente. Provavelmente, isso pode ser atribuído à discrepância entre os dados oficiais decorrente da migração de famílias para o interior de São Paulo e outras regiões de Minas Gerais, para trabalhar na agricultura no período da pesquisa. Assim, foi possível a inclusão de 450 crianças nos três municípios.


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