Grãos de soja como fonte de urease na amonização do bagaço de cana-de-açúcar com uréia

Enviado por Rasmo Garcia


1. Resumo

A urease é a enzima responsável pela hidrólise da uréia em amônia. A utilização de fonte de urease no tratamento de bagaço de cana-de-açúcar com uréia pode melhorar o processo da decomposição da uréia em amônia, beneficiando o tratamento de amonização e, conseqüentemente, o valor nutritivo do material. O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito de níveis de soja crua, como fonte de urease, na amonização do bagaço de cana através da uréia. Utilizaram-se quatro níveis de soja crua (0; 2,5; 3,75; e 7,5% da matéria seca) em bagaço de cana-de-açúcar tratado com 7,5% de uréia (da matéria seca), armazenados por um período de 96 dias, em sacos de polietileno com capacidade de 50 litros. Foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado com quatro níveis de soja crua e três repetições. Os teores de matéria seca, proteína bruta e hemicelulose não foram afetados pelos níveis de urease; entretanto, verificou-se efeito quadrático positivo para digestibilidade in vitro da matéria seca e linear negativo para o teor de fibra detergente neutro. A utilização de até 3,75% de soja crua na amonização com uréia propiciou melhoria na digestibilidade da matéria seca do bagaço de cana.

Palavras-chave: amonização, bagaço de cana-de-açúcar, valor nutritivo, urease, uréia

Soybean grain as urease source for the sugarcane bagasse ammoniation with urea

2. Abstract

The urease is the responsible enzyme for hidrolisis of urea into ammonia. The use of a urease source for the treatment of sugarcane bagasse with urea can improve the urea decomposition process into ammonia, improving the nutritious value of the material. The objective of this work was to evaluate the effect of the level of ground whole soybean as a urease source for sugarcane bagasse ammoniation through urea. Four levels of whole soybean (0, 2.5, 3.75 and 7.5% on dry matter basis), were added to sugarcane bagasse treated with 7.5% of urea (on dry matter basis) and stored during 96 days in plastic bags (50 L). A complete randomized design with four treatments and three replicates was used. Dry matter, crude protein and hemicellulose contents were not affected by urease levels, there was, however, a positive quadratic effect for in vitro dry matter disappearance and a negative linear effect for neutral detergent fiber disappearance. The use of 3.75% of whole soybean in the ammoniation through urea was beneficial for the improvement of the dry matter digestibility of sugarcane bagasse.
Key words: ammoniation, sugarcane bagasse, nutritive value, urease, urea

3. Introdução

O Brasil tornou-se o maior produtor mundial de álcool, com cerca de 12 bilhões de litros/ano e 8,500,000 t/ano de açúcar, devido à implantação do Programa Nacional do Álcool, iniciado na década de 1970 (Bürgi, 1995). Em decorrência dessa crescente atividade sucro-alcooleira, vários pesquisadores têm conduzido diversos estudos de utilização dos subprodutos da cana, como levedura, vinhaça, torta de filtro, ponta de cana e bagaço, sendo este último quantitativamente o mais importante.

O bagaço in natura é um produto fibroso resultante do esmagamento da cana-de-açúcar, para obtenção de açúcar, álcool ou aguardente (Santana & Souza, 1984). Apesar de ser considerado um alimento de baixa qualidade para ruminantes, rico em fibra, baixo conteúdo celular, baixa digestibilidade, pobre em proteína e minerais (Santos, 1990), seu uso será eficiente, se o valor nutritivo for melhorado por meio de tratamento químico e/ou físico.

O tratamento via amonização promove aumento nos teores de nitrogênio não-protéico e atua na fração fibrosa causando solubilização de parte da hemicelulose, aumentando, assim, a digestibilidade e o consumo de volumosos de baixa qualidade (Garcia, 1992), além de atuar como fungiostático no material amonizado (Campos, 1995; Pires et al., 1999). A teoria que explica o efeito da amônia sobre a fração fibrosa das forragens foi denominada de "amonólise" (Tarkov & Feist, citados por Pires, 1995), que baseia-se na reação entre a amônia e um éster, a qual produz uma amida. As ligações ésteres entre a hemicelulose e a lignina com grupos de carboidratos são rompidas com a conseqüente formação de amida. Buettner et al., citados por Pires (1995) verificaram que a molécula de amônia, por meio de uma reação de amonólise, promoveu rompimento de ligações ésteres com conseqüente formação de amida, influenciando positivamente na digestibilidade do feno tratado.

Teixeira (1990) constatou aumento nos teores de proteína bruta de 153 e 273% na palha de milho mais sabugo tratada com 1,5 e 3%, respectivamente, comparada ao material não tratado. Reis et al. (1990) obtiveram valores de 0,7; 1,2 e 1,3% de proteína bruta e 84,1; 79,6 e 80,0% de fibra em detergente neutro para os níveis de 0,0; 1,5 e 3,0% de amônia anidra (base MS) em feno de capim-braquiária (Brachiaria decumbens Stapf). Bonjardim et al. (1992), aplicando níveis de 0,0; 1,5 e 3,0% de amônia anidra (base MS) em feno dos capins Coast cross (Cynodon dactylon L. Pers. cv. Coat cross) e Estrela da África (Cynodon plectostachhyus K. Schum), constataram diminuição no teor de fibra em detergente neutro de 76,9 para 70,5% e aumento da digestibilidade in vitro da matéria seca de 39,6 para 57,8%.

Em certas regiões, a amônia anidra não está disponível no mercado. A uréia, por outro lado, passa a ser uma alternativa, por ser um produto de alta disponibilidade e de menor risco à intoxicação humana (Garcia & Neiva, 1994).

A uréia, quando decomposta, forma amônia, como é visto a seguir (Garcia & Neiva, 1994): NH2CONH2 + H2O Þ 2NH3 + CO2.

Garcia & Neiva (1994) mencionam que na amonização com uréia há necessidade, em algumas situações, de adição de fonte de urease que garanta melhor conversão de uréia em amônia e, conseqüentemente, eficiente amonização. Os mesmos autores sugeriram o uso de grão de soja moído como fonte de urease, misturado à uréia. No entanto, Cândido et al. (1998) não constataram efeito da adição de soja crua como fonte de urease, na dosagem recomendada por Jayasuriya & Pearce (1983), que utilizaram a relação soja crua:uréia de 1:5 na amonização de bagaço de cana, com níveis de 2, 4, 6 e 8% de uréia (base MS). Portanto, por causa da carência de informações científicas nessa área torna-se necessária a avaliação do uso de soja crua como fonte de urease na amonização de bagaço de cana com uréia.

O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito de níveis de fonte de urease na composição químico-bromatológica e na digestibilidade in vitro da MS do bagaço de cana tratado com uréia.


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