Emprego de metáforas bélicas na linguagem do futebol

Enviado por João Machado de Queiroz (joaomachado[arroba]compubras.com.br)


  1. Resumo
  2. Introdução
  3. Metologia
  4. Futebol e a linguagem jornalística
  5. Denotação e conotação
  6. Considerações finais
  7. Bibliografia
  8. Abreviaturas
  9. Jornais e Revistas consultados
  10. Notas

Resumo:

A partir de um acompanhamento sistemático na mídia impressa contemporânea brasileira, procedeu-se a uma investigação com o objetivo de averiguar a incidência de metáforas bélicas empregadas na codificação de notícias, reportagens e entrevistas relacionadas à prática do futebol. Dentro desse contexto promoveu-se uma análise da freqüência e da motivação que conduzem o profissional da imprensa esportiva empregar de forma intensiva vocábulos do domínio militar.

Palavras-chave: Futebol, jornalismo esportivo, metáforas bélicas.

Abstract:

From a systematic accompanying of the Brazilian contemporary media, an investigation was conducted with the aim of seeing the occurrence of bellicose metaphors on the coding of news, new articles and interviews related to the practice of soccer. Inside of this argument, it was carried out an analysis of the frequency and motivation which drive the press sporting professionals to employ, intensively, military-domain names.

Key-words: Soccer , journalism sporting , metaphors bellicose.

1. Introdução

Atribuir a um jogo a conotação de uma batalha e, a cada jogador a de um soldado que busca, persegue e extermina o inimigo é prática comum na mídia impressa, quando da cobertura de eventos esportivos, principalmente aqueles que envolvem os denominados "esportes de massa", caso específico do futebol (em oposição aos "esportes de elite", como, por exemplo, o tênis).

Partindo das observações de Martins, em Introdução a Estilística (Edusp, 1998) e Fernández, em Futebol: fenômeno lingüístico (1974), procurou-se demonstrar que a mídia, na cobertura dos esportes coletivos, dotados de forte apelo popular, na busca de uma linguagem expressiva, utiliza-se de associações semânticas que remetem o leitor a um clima de guerra e, em razão disso, metáforas bélicas de conotação hiperbólicas povoam o imaginário da linguagem futebolística.

A meta do presente artigo é averiguar o grau de motivação e a intensidade de ocorrências de vocábulos e expressões condutoras de semas especificadores de violência, relativos ao domínio bélico, que são sistematicamente disseminados pela mídia, por meio de suas normas peculiares de codificação, ao relatarem assuntos concernentes ao futebol.

2. Metologia

A seleção das fontes representativas na mídia, dos quais se extraiu o material lingüístico constitutivo do corpus, foco da presente investigação, levou em conta:

a) Textos de jornais e revistas, envolvendo o registro da prática do futebol, com ênfase para a mídia sediada no eixo Rio São Paulo, em um recorte espacial situado entre 1995 e 2005.

b) A representatividade e circulação desses periódicos no âmbito de sua área de cobertura e seu destaque no território nacional.

3. Futebol e a linguagem jornalística

Entende-se por jornalismo a atividade profissional direcionada para a coleta, processamento e disseminação periódica de informações, atualizadas por meio da mídia impressa (convencional e sites na Internet).

Nos esportes de massa, invariavelmente detentores de torcedores fanáticos, caso específico do futebol, as manchetes e os comentários relativos a um jogo, costumam receber dos profissionais de imprensa uma abordagem, por vezes, tão entusiasta e passional como a de seus próprios leitores.

3.1 Metaforização da linguagem

Martins (1998, p. 96) assim define a metáfora:

A metáfora é o emprego de um significante com um significado secundário ou a aproximação de dois ou mais significantes, estando nos dois casos, os significados associados por semelhança, contigüidade, inclusão. [...] Ela faz o jogo complexo do significante e do significado, pode ser traduzida, parafraseada, pois é um desvio em relação à linguagem comum, transferência ou mudança de significado.

A transferência de sentido está assentada em uma percepção subjetiva, atribuindo-se conceitos por meio de expansão semântica.

Barros (2004, p. 220) utiliza do seguinte argumento para descrever uma relação polissêmica: A polissemia constitui, então, uma situação em que dois ou mais conceitos, em relação de oposição transistiva são designados por uma mesma unidade lexical ou terminológica.

A mídia impressa, por não dispor de recursos expressivos da linguagem oral, emprega, com freqüência, na escritura do registro do futebol, processos de criação caracterizados por associações que envolvem afetividade, similaridade e contigüidade. Exemplos:

banheira: jogador posicionado irregularmente na área adversária.

bonde: jogador que chega ao clube precedido de grande fama, mas que não corresponde.

pipocar: saltar para fugir de uma jogada ríspida ou de uma bola dividida.

3.2 Metáforas bélicas na linguagem do futebol

Historicamente existe uma estreita relação entre a prática do futebol e a guerra. Os primeiros registros de um esporte jogado com bola, extremamente violento (muitas vezes, a cabeça decepada de um inimigo substituia a bola), em que se utilizavam os pés para impulsioná-la, remontam à China, onde constatou-se em 2600 a.C., a prática de de um jogo chamado "Tsu Chu = bater com os pé em uma bola" usada no treinamento militar.

Se atualmente a violência da prática do futebol é atenuada por regras específicas (dezessete), a violência verbal é, contudo, reforçada na linguagem jornalística. A imprensa esportiva especializada emprega de forma indiscriminada um vocabulário repleto de designações bélicas, enfatizando o conceito de que o jogo futebol é uma guerra, em que táticas militares como sabotagem e espionagem fazem parte de suas estratégias.

A imprensa esportiva, ao registrar eventos relacionados ao universo do futebol, sobretudo quando se trata de um jogo configurado no enfrentamento direto entre duas equipes rivais, costuma comparar tais competições com ferozes combates: os jogadores se transformam em destemidos soldados de chuteiras, que munidos de canhões nos pés e fuzis nas mãos, partem para impiedosos ataques. Dão tiros, arremessam petardos, detonam bombas de diversas espécies e, por fim, fuzilam os goleiros em fogo cerrado.

O jogo de futebol é uma batalha, o adversário um inimigo, portanto o objetivo é exterminá-lo de forma impiedosa.

Como em um castelo medieval, o estádio tem bandeiras com brasões e é circundado por um fosso. No centro, existe uma linha divisória em branco, demarcando o território objeto de disputa. Nas extremidades existem balizas, alvos a ser bombardeados. Antecedendo a pugna, no círculo central, capitães trocam flâmulas e cumprem um ritual semelhante a uma declaração de guerra.

Nesse contexto, vocábulos e expressões relativos à exterminação e à violência reorganizam-se no plano sêmico e incoporam-se, por expansão de sentido, ao vocabulário do futebol.

O jogador que tem boa pontaria e acerta com freqüência a meta adversária, marcando muitos gols, é um artilheiro. Muitas vezes, por ocasião da marcação de um gol, os artilheiros comemoram o feito apontando para um alvo imaginário, com os dedos médio e indicador, simulando o manuseio de um revólver.

O técnico, considerado estrategista, elege seu capitão, emprega armas secretas e prepara fulminantes ataques pelos flancos, contra as linhas inimigas.

Uma equipe massacra o adversário quando muitos gols são feitos em apenas um jogo.

A linguagem do futebol, reforçada pela mídia, converte-se, então, em uma guerra simbólica.

O aspecto de designações bélicas e o extermínio implacável do inimigo, contidos de forma explícita na linguagem do futebol, recebeu de Fernández (1974, p. 63) o seguinte comentário.

O tiro deve ser certeiro, a intervenção perigosa. É preciso ir a revanche, mostrar agressividade, fazer jogadas ofensivas e violentas. Avançar, Investir. Dar combate. Furar o bloqueio. Dominar as ações. Levar perigo ao campo adversário. Liquidar com o inimigo. Massacrar.

Ressalte-se que o espírito belicoso, não é somente virtual nem se restringe apenas ao campo de jogo, haja vista a guerra protagonizada pelas torcidas organizadas que, freqüentemente, confrontam-se antes, durante e após as competições.

Uma série de pontos demonstra existir um paralelo entre o futebol e a guerra, no que diz respeito a estrutura de ambas:

Estrutura da Guerra

1- Participantes: Soldados em posições antagônicas que se digladiam no campo de batalha.

2- Partes: As estratégias, as manobras, ataque defesa, contra-ataque.

3- Etapas: As condições da batalha: Os combatentes ocupam seus respectivos espaços. O objetivo é defender esse espaço e invadir as linhas inimigas.

a) Início: Um dos exércitos toma iniciativa de atacar.

b) Meio: Emprego sistemático de manobras ofensivas e defensivas, contra-ataques ou retirada.

c) Final: Trégua ou vitória de uma das partes envolvidas no conflito.

Estrutura do Futebol

1- Participantes: Duas equipes com onze jogadores que disputam, no campo de jogo, uma partida de futebol.

2- Partes: Esquemas táticos envolvendo ações de defesa, ataque e contra-ataque.

3- Etapas: As condições do jogo: Os jogadores de cada equipe ocupam áreas dintintas no campo de jogo. O objetivo é defender esses espaços e levar a bola dentro da meta adversária.

a) Início: Uma das equipes toma a iniciativa de atacar.

b) Meio: Combinação de esquemas táticos defensivos, ofensivos. Contra ataque e recuo.

c) Final: Empate ou vitória de uma das equipes.


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