Observância da orientação médica pelo usuário de lentes de contato



1. Resumo

Objetivo: Avaliar a observância da orientação médica pelo usuário de lentes de contato, oferecendo informações para o planejamento de programas de educação dirigidos à comunidade, visando contribuir para o uso confortável e prevenção de complicações.

Métodos: Realizou-se pesquisa entre usuários de lentes de contato que exerciam atividades profissionais no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás. Fizeram-se entrevistas individuais por meio de questionário estruturado, utilizando-se amostra não probabilística formada por indivíduos que consentiram em tomar parte no estudo.

Resultados: Duzentos e um usuários de lentes de contato foram entrevistados. A média de idade foi de 23,5 anos. Observou-se predominância do sexo feminino, com 139 (69,2%) dos indivíduos sendo mulheres. Dos entrevistados, 171 (85,1%) relataram atuar no hospital, na área de medicina. Dos indivíduos, 172 (85,6%) declararam ter recebido orientação, entretanto, 109 (54,2%) não se consideraram bons usuários e apontaram, como razões, principalmente, a limpeza inadequada das lentes e do estojo e a falta de observância das orientações médicas.

Conclusões: A simples informação ao paciente não assegura o seguimento da orientação, sendo necessário conferir o conhecimento e a conduta do usuário em cada consulta de controle. Campanhas de esclarecimento público devem ser realizadas com o objetivo de conscientizar os usuários da necessidade de seguirem as recomendações médicas.

Descritores: Lentes de contato; Lentes de contato/efeitos adversos; Atitude frente a saúde; Educação em saúde; Educação do paciente, Cooperação do paciente

2. Abstract

Purpose: To evaluate compliance with contact lens wearing and care procedures among wearers who were health-care providers; to provide information for the planning of educational programs and to contribute to comfortable contact lens wearing and prevention of complications.

Methods: A survey was performed among contact lens wearers engaged in profes-sional activities at the "Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás". Individual interviews were conducted by means of a structured questionnaire in a non-probabilistic sample consisting of individuals who consented to participate in the study.

Results: Two hundred one contact lens wearers were interviewed. The respondents` age averaged 23.5 years. Their majority consisted of women (69.2%). 85.1% of the interviewees were employed in medical services. Of the individuals, 172 (85.6%) stated having received medical instructions, but 54.2% did not consider themselves good wearers, because of inadequate cleaning of the contact lenses or their case and also because noncompliance with medical advice.

Conclusions: Providing mere information to patient does not mean automatic compliance. Wearer's understanding and handling the lenses must be checked at every visit. Safe and comfortable contact lens wearing and the important of compliance should be fostered by educational campaigns.

Keywords: Contact lenses; Contact lenses/adverse effects; Attitude to health; Health education; Patient education; Patient compliance

3. Introdução

Nos últimos anos a oftalmologia tem passado por um extraordinário pro-gresso. As lentes de contato têm tido participação muito importante nesta evolução, trazendo grandes benefícios para os que necessitam de correção visual(1). Materiais que causam cada vez menos transtornos à fisiologia ocular e desenhos cada vez mais compatíveis com a topografia da córnea têm marcado, sobremaneira, o aumento do uso das lentes de contato(1). A modernização dos métodos de fabricação, com redução dos custos tem permitido a produção de lentes descartáveis de um dia e de uma semana, bem como daquelas de troca planejada(1). Fabricam-se lentes de contato de alta transmissibilidade de oxigênio, baixa ionicidade, resistência a depósitos e descartabilidade(1).

Os procedimentos para cuidados das lentes de contato estão cada vez mais simplificados. Um ou dois produtos são suficientes para boa manutenção, conservando as lentes limpas e desinfetadas, facilitando a observância dos usuários à orientação do oftalmologista.

Entretanto, apesar dos inquestionáveis avanços, continuam ocorrendo complicações, desde ceratites superficiais, reações tó-xicas e alérgicas, até gravíssimas úlceras infecciosas de córnea(1).

As lentes de contato podem alterar a fisiologia corneana. Sua adaptação é um processo contínuo e dinâmico, sujeito a variações, a qualquer momento, podendo tanto curar quanto provocar doenças(2). Devido às possíveis complicações decorrentes de seu uso, o controle pelo oftalmologista deve ser constante. O exame deve ser minucioso quanto à seleção do candidato. Além disso, é responsabilidade do especialista instruir e educar o paciente para adaptação boa e segura, cuidados com o manuseio, tempo de uso das lentes e riscos de complicações(2).

O uso de lente de contato representa para a indústria um negócio de um bilhão de dólares por ano(3). Entretanto, constitui problema de saúde pública freqüentemente ignorado devido ao grande número de usuários de lentes de contato, com finalidade cosmética e o risco potencial de complicações. Durante os últimos 40 anos a incidência de ceratite microbiana aumentou 435%, estando este aumento diretamente relacionado ao uso de lentes de contato(4). A morbidade das infecções corneanas deixa 50% dos pacientes com visão abaixo de 20/50 (0,4), podendo mesmo levar à cegueira(5).

A inobservância da orientação médica e a contaminação das lentes de contato, dos seus estojos e dos produtos de manutenção são importantes fatores de risco de alterações da flora conjuntival(6).

O paciente que não segue a orientação médica corta drasticamente os benefícios da terapêutica, aumenta os custos econômicos e humanos e frustra o médico. A magnitude do problema é evidente quando se observa que pelo menos um terço dos pacientes não segue a orientação médica e que um terço dos estudos mostra 50% ou mais de inobservância(7). Por outro lado, o médico de um modo geral subestima a proporção de inobservância, sendo pouco preciso na identificação de pacientes nesta condição. O desconhecimento da magnitude do problema leva à discrepância entre estimativa do médico e proporção real de inobservância(8).

A crença de que o paciente segue suas recomendações e aceitam sua autoridade dá ao médico uma sensação de importância, que o conduz a superestimar o verdadeiro nível de observância(8); 67% dos médicos atribuem a falta de adesão à personalidade não-cooperativa dos pacientes, enquanto somente 26% julgam que o médico poderia ser responsável pelo problema(7). Por outro lado, pacientes menos conscientes e menos preocupados com a saúde têm maior tendência a não seguir as recomendações médicas(8).

Em pesquisa realizada em 1982, encontrou-se uma média de 44% dos pacientes que não seguiam a orientação médica(9). Em revisão de literatura, encontrou-se uma variação de 8 a 92%(9). À medida que aumenta o tempo de uso das lentes de contato, crescem a confiança e a tranqüilidade do usuário, ao lado de relaxamento com relação aos cuidados. Daí a importância de avaliar a conduta do paciente em cada exame. Talvez o necessário, no momento, seja entender melhor a inobservância da recomendação médica e instruir o usuário de forma mais eficiente.

É necessário conhecer o que as pessoas pensam e fazem em relação à prevenção de distúrbios ou agravos oftalmológicos, antecedendo o estabelecimento de ações e programas preventivos em oftalmologia(10).

Esta pesquisa tem como objetivo avaliar a adesão do usuário à orientação médica, oferecendo informações para o planejamento de programas de educação dirigidos à comunidade e visando contribuir para o uso confortável de lentes de contato e prevenção de complicações.


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