A perda da visão - estratégias de prevenção



Artigo original: Arq. Bras. Oftalmol., Ago 2004, vol.67, no.4, p.597-601. ISSN 0004-2749 

1. Resumo

Introdução: A perda visual representa conseqüências adversas para o indivíduo e sociedade. O aumento da população mundial, com proporção maior de idosos, acarreta aumento de indivíduos com perda visual. A identificação e tratamento precoces de distúrbios oculares na infância constituem prioridades de programas de prevenção da cegueira. Medidas preventivas para doenças oculares devem ser planejadas e estabelecidas.

Comentários: Apresentam-se estimativas referentes à prevalência da cegueira e de baixa visão realizadas pela Organização Mundial de Saúde. Discutem-se aspectos relacionados à problemática e estratégias com vistas ao planejamento de programas preventivos. Ressalta-se a necessidade de realizar pesquisas epidemiológicas e operacionais para conhecimento da realidade, formação de recursos humanos e aperfeiçoamento da infra-estrutura de serviços especializados. Destaca-se a importância de identificar fatores psicossocioculturais para direcionar tais intervenções.

Descritores: Cegueira/prevenção e controle; Oftalmopatias/diagnóstico; Educação em saúde; Planejamento em saúde; Prestação de cuidados de saúde

2. Abstract

Introduction: Visual loss represents an adversity for the affected person and society as a whole. As the world's population increases and as a greater proportion survives into late adulthood, the number of people with visual loss will inexorably rise. The control of blindness in children is a priority within any blindness prevention programme. Preventive measures have to be planned and established.

Comments: The World Health Organization estimates on blindness and low vision are discussed and some strategies and planning of preventive programs are pointed out. Epidemiological and operational researches would contribute to health system needs, assessment and program management. Identifying social and cultural factors would better direct interventional efforts of blindness prevention.

Keywords: Blindness/prevention & control; Eye diseases/diagnosis; Health education; Health planning; Delivery of health care

3. Introdução

O atual conceito de prevenção da cegueira ampliou-se no seu enunciado, enfatizando-se a preservação da visão. Nesse sentido, relaciona-se estreitamente à qualidade de vida do ser humano, na qual desempenha importante função a capacidade visual.

O oftalmologista apresenta atuação bem mais abrangente do que diagnosticar e tratar doenças ou proteger a saúde ocular do paciente. Destaca-se a necessidade de sua liderança e participação em programas e em grupos interessados no controle e erradicação de afecções oculares, como também na prevenção da perda visual. Essas ações visam à preservação e/ou melhoria da visão, contribuindo, assim, para o alcance de melhor qualidade de vida e baseia-se na necessidade de identificar e tratar pessoas, ainda em tempo de manter a própria independência(1-3).

O conceito de oftalmologia em saúde pública é relativamente recente. Se os princípios de saúde pública forem aplicados a programas de prevenção da cegueira, o número de cegos de uma população ou de uma comunidade pode ser significantemente reduzido. O controle e a diminuição de índices de cegueira por meio de programas específicos assumem importância vital em programas nacionais de saúde ocular(4).

Sabe-se que tudo o que diz respeito ao órgão visual é área de atuação do oftalmologista. A tônica de programas de prevenção da cegueira, contudo, requer maior abrangência — envolve também fatores políticos, econômicos, sociais e psicológicos, entre outros, ou seja, componentes do campo da saúde pública. Esse enfoque exige a participação de diferentes profissionais, respeitadas as particularidades de cada campo e função, que se articulam em torno do propósito comum de uso da acuidade visual em toda a sua potencialidade, além de evitar e controlar a perda da visão.

De outro lado, deve-se garantir à população o acesso à assistência oftalmológica propiciada pelos avanços científicos e por recursos humanos especializados. A formação desses recursos e o emprego de tecnologia sofisticada na área oftalmológica justificam-se plenamente nesse contexto.

4. Magnitude do problema

A Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu cegueira como a acuidade visual menor do que 3/60 no melhor olho, com a melhor correção óptica, além de definir a incapacidade visual acentuada (baixa visão) como a acuidade menor do que 6/60 no melhor olho, com a melhor correção óptica(5).

Estimativas baseadas na população mundial de 1990 referentes à cegueira e baixa visão, divulgadas pela OMS, indicavam a existência de 38 milhões de indivíduos cegos e de 110 milhões apresentando visão deficiente e risco de cegueira(5). A extrapolação subsequente desses dados para a população de 1996 ampliou-os para 45 milhões de cegos — tomando por critério o resultado da acuidade visual menor do que 3/60 — e 135 milhões de indivíduos portadores de baixa visão, ou seja, acuidade visual entre 3/60 e 6/60 no melhor olho, com a melhor correção óptica(6).

Esses dados evidenciam o aumento progressivo da cegueira e deficiência visual no mundo, que pode ser atribuído, em especial, ao crescimento populacional, ao aumento da expectativa de vida(7), à escassez de serviços especializados, às dificuldades de acesso da população à assistência oftalmológica, às dificuldades econômicas e à ausência/insuficiência de esforços educativos que promovam a adoção de comportamentos preventivos.

Frick & Foster(8) ressaltaram que, se não ocorrerem intervenções adicionais, o número de casos de cegueira no mundo aumentará de 45 milhões para 76 milhões em 2020.

A OMS prevê o acelerado crescimento da cegueira de um a dois milhões de casos por ano, provavelmente dobrando o número total de casos ao redor do ano 2020, a não ser que sejam disponibilizados recursos suficientes para a prevenção(5,9).


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