Prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes das regiões Sudeste e Nordeste

Enviado por Joel A. Lamounier


1. Resumo

Objetivo: estudar a prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes da região Sudeste e Nordeste.

Métodos: dados da pesquisa sobre padrões de vida, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 1997. Estudadas 3.317 crianças e 3.943 adolescentes agrupados em faixas etárias. Sobrepeso (adolescentes) e obesidade (crianças e adolescentes) foram definidos segundo recomendações da Organização Mundial de Saúde. Comparação de prevalências por faixa etária, sexo e região geográfica pelo teste z, considerando 0,05 como nível de significância estatística.

Resultados: a prevalência de sobrepeso em adolescentes variou entre 1,7% no Nordeste, e 4,2% no Sudeste. A prevalência de obesidade em adolescentes variou entre 6,6% e 8,4%, e em crianças entre 8,2% e 11,9%, nas regiões Nordeste e Sudeste, respectivamente. Agrupando-se os dados das duas regiões, a prevalência no sexo feminino foi de 10,3% de obesidade entre crianças, 9,3% de obesidade e 3,0% de sobrepeso entre adolescentes. No sexo masculino, a prevalência foi de 9,2%, 7,3% e 2,6%, respectivamente.

Conclusões: a prevalência de obesidade é menor no Nordeste, com significância estatística entre crianças e adolescentes com idade entre 2-17 anos. O mesmo ocorreu com a prevalência de sobrepeso entre os adolescentes. A diferença de prevalência de obesidade entre lactentes e adolescentes acima de 18 anos não foi estatisticamente significante. Entre lactentes, a obesidade é mais prevalente no sexo feminino. Nas outras faixas etárias, não houve diferença estatisticamente significante entre os sexos. A comparação dos resultados com os de outros estudos é difícil pela diversidade de critérios utilizados na classificação nutricional.

obesidade, sobrepeso, infância, adolescência

2. Abstract

Objective: to study the prevalence of obesity and overweight among children and adolescents from Northeast and Southeast regions of Brazil.

Methods: data was collected form Life Pattern Research conducted by the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE) in 1997. A sample of 3,317 children and 3,943 adolescents was studied according age groups. Overweight (adolescents) and obesity (adolescents and children) were defined according to World Health Organization recommendations. Z-test was used to compare prevalence among age groups, sex and geographic region. The cut-off point for statistical significance was 0.05.

Results: overweight prevalence in adolescents was 1.7% in Northeast and 4.2% in Southeast. Obesity prevalence in adolescents was 6.6% and 8.4% in children and 8.2% and 11.9% in Northeast and Southeast, respectively. Considering both regions prevalence of obese female children was 10.3%, the rate of obese adolescents was 9.3% and overweight adolescents represented 3.0%. Among males prevalence was 9.2%, 7.3% and 2.6%, respectively.

Conclusions: obesity prevalence is lower in Northeast than Southeast among children with age from 2 to 17 years old. Overweight prevalence among adolescents was also lower in Northeast than in Southeast. The prevalence of obesity among younger than 2 and older than 18 years old was the same. Obesity prevalence is higher among breast-fed females. Among other age groups prevalence of obesity and overweight was the same for males and females. It is difficult to compare these results with other studies, since there are few populational studies and the criteria used to define overweight and obesity in children and adolescents varies in each study.

obesity, overweight, childhood, adolescence.

3. Introdução

A obesidade é considerada, em países desenvolvidos, um importante problema de saúde pública, e pela OMS, uma epidemia global(1). O aumento de sua prevalência em países em desenvolvimento, especialmente na América Latina, também já foi estudada, e em países como Índia e China o aumento de 1% na prevalência de obesidade gera 20 milhões de novos casos(2). Está associada com hipertensão arterial, doença cardíaca, oesteoartrite, diabetes tipo 2 e alguns tipos de câncer, e seu impacto é mais pronunciado na morbidade do que na mortalidade(1-3). Pessoas obesas, particularmente crianças e adolescentes, freqüentemente apresentam baixa auto-estima, afetando a performance escolar e os relacionamentos.

A prevalência de obesidade também está crescendo intensamente, na infância e na adolescência, e tende a persistir na vida adulta: cerca de 50% de crianças obesas aos seis meses de idade, e 80% das crianças obesas aos cinco anos de idade, permanecerão obesas(4,5). Além disso, evidências científicas têm revelado que a aterosclerose e a hipertensão arterial são processos patológicos iniciados na infância, e nesta faixa etária são formados os hábitos alimentares e de atividade física(6-8). Por isso, a preocupação sobre prevenção, diagnóstico e tratamento da obesidade tem-se voltado para a infância.

A antropometria é considerada o método mais útil para rastrear obesidade, por ser barato, não invasivo, universalmente aplicável, e com boa aceitação pela população(1,9). Índices antropométricos são obtidos a partir da combinação de duas ou mais informações antropométricas básicas (peso, sexo, idade, altura)(1). O uso do IMC para identificar adultos com sobrepeso e obesidade é consensual, e seu uso na avaliação nutricional de crianças e adolescentes começou a ser mais difundido após a publicação de Must et al.(10,11), que apresentaram valores de percentis por idade e sexo. Esses valores são considerados atualmente como referência pela OMS para identificar sobrepeso e obesidade somente em adolescentes, não sendo recomendados para crianças, as quais devem ser avaliadas com o índice peso/altura(1).

Dados brasileiros com relação à obesidade infantil são ainda escassos, e muitos autores estudam faixas etárias específicas (crianças ou adolescentes isoladamente), e muitas vezes com amostras não representativas da população(12). No presente estudo, foi avaliada a prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes das regiões Sudeste e Nordeste do Brasil.

4. Metodologia

Para o presente estudo, foram utilizados dados da pesquisa sobre padrões de vida (PPV) coletados em 1997, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em convênio com o Banco Mundial. Esta pesquisa avaliou as condições de moradia, tendências demográficas (migração, fecundidade e história de nascimentos), acesso aos serviços de educação e saúde, nutrição, condições de vida da população brasileira, além de dados de peso e altura(13). A amostra foi constituída por 19.409 adultos e crianças residentes em 5.000 domicílios, distribuídos em 554 setores censitários em municípios das regiões Nordeste e Sudeste do país. O processo amostral se deu em dois estágios de seleção, com estratificação das unidades primárias - setor da base geográfica do censo demográfico 1991 - e seleção proporcional a uma medida de tamanho, e seleção aleatória das unidades de segundo estágio domicílio. As medições antropométricas foram realizadas utilizando balanças de precisão dinamarquesas, marca Seca, modelo 890, calibradas até 150 kg, com intervalos de 1g. As medições da altura de todas as pessoas pesquisadas foram realizadas com antropômetros de madeira, com intervalos de 1 mm, procedendo-se as medições de acordo com treinamento adotado na Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição(13). Os dados obtidos foram disponibilizados em CD-ROM, pelo IBGE.

As informações referentes a peso, altura e sexo foram extraídos do banco de dados do IBGE e armazenados em um banco de dados secundário no software Epi-Info, versão 6.04(14).

Dentre os 4.313 adolescentes estudados pelo IBGE, 370 (8,6%) não tinham informações sobre peso e/ou altura. O mesmo ocorreu com 440 (11,7%) crianças, das 3.757 iniciais. Sendo assim, a amostra final deste estudo foi de 7.260 indivíduos, sendo 3.317 crianças, e 3.943 adolescentes.

A definição de obesidade no presente estudo seguiu as recomendações da OMS1. As crianças foram consideradas obesas quando o escore z do índice peso/altura, calculado pelo software Epi-Info, foi maior que dois. Para os adolescentes, utilizou-se o IMC, calculado pela fórmula: peso/(altura)², segundo os valores propostos por Must et al.(11,12). Considerado como sobrepeso o IMC igual ou acima do percentil 85 e menor que o percentil 95, e obeso o IMC igual ou acima do percentil 95. Para este fim, foi desenvolvido um programa no software Epi-Info que agrupava os adolescentes por sexo e idade.


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