Prevalência de sobrepeso e obesidade em escolares da cidade de Santos, SP

Enviado por Mauro Fisberg


1. Resumo

O objetivo deste estudo populacional foi verificar as prevalências de sobrepeso e obesidade em escolas públicas e particulares da cidade de Santos, SP. Foram avaliadas crianças de 7 a 10 anos de idade, num total de 10.822 crianças. Para a determinação de sobrepeso e obesidade foram utilizados, respectivamente, os percentis 85 e 95 do IMC por idade propostos pelos Centers for Disease Control and Prevention — CDC (2000). As prevalências totais de sobrepeso e obesidade foram de 15,7% (IC 95%= 15,0% a 16,4%) e 18,0% (17,3% a 18,7%), respectivamente. A prevalência de sobrepeso foi de 13,7% (12,6% a 14,8%) nos meninos e 14,8% (13,7% a 15,9%) nas meninas das escolas públicas. Nas escolas particulares, foi de 17,7% (15,7% a 19,7%) nos meninos e 22,2% (20,0% a 24,4%) nas meninas. A obesidade foi prevalente em 16,9% (15,7% a 18,1%) dos meninos e 14,3% (13,2% a 15,4%) das meninas das escolas públicas. Nas escolas particulares, 29,8% (27,4% a 32,2%) dos meninos e 20,3% (18,2% a 22,4%) das meninas foram diagnosticados como obesos. Concluímos que a prevalência de obesidade é superior à de estudos nacionais e latino-americanos. Escolas privadas apresentaram prevalência de obesidade maior que escolas públicas (p= 0,001).

Descritores: Prevalência; Sobrepeso; Obesidade; Escolares

2. Abstract

The aim of this population-based study was to estimate the prevalence of overweight and obesity in public and private schools of Santos city, Brazil. We evaluated a total of 10,822 children aged 7 to 10 years old. Determination of overweight and obesity was obtained by the 85th and 95th percentiles of BMI for age, respectively, as proposed by CDC in 2000. The overall prevalence rates of overweight and obesity were 15.7% (CI 95%= 15.0% to 16.4%) and 18.0% (17.3% to 18.7%), respectively. The prevalence of overweight was 13.7% (12.6% a 14.8%) in boys and 14.8% (13.7% a 15.9%) in girls of public schools. In private schools, the rates were 17.7% (15.7% to 19.7%) in boys and 22.2% (20.0% to 24.4%) in girls. Obesity was found in 16.9% (15.7% to 18.1%) of the boys and 14.3% (13.2% to 15.4%) of the girls of public schools. In the private schools, 29.8% (27.4% to 32.2%) of the boys and 20.3% (18.2% to 22.4%) of the girls were obese. We concluded that the prevalence of obesity in public and private schools in the city of Santos is higher than other studies conducted in Brazil and in other countries of Latin America. Private schools showed higher prevalence rates of obesity than public schools (p= 0.001).

Keywords: Prevalence; Overweight; Obesity; School children

NOS ÚLTIMOS 30 ANOS, as prevalências de sobrepeso e obesidade em populações adultas vêm crescendo não só em países desenvolvidos como também nos países em desenvolvimento (1). Tal fato é também verificado em estudos com crianças e adolescentes, conferindo ao excesso de gordura corporal proporções epidêmicas (2-4).

Um ponto relevante quanto à verificação da prevalência da gordura corporal excessiva na infância refere-se à precocidade com que podem surgir os efeitos danosos à saúde, sabidamente associados à obesidade, além das relações existentes entre obesidade infantil e seu prolongamento até a vida adulta (5-9).

Os estudos nacionais sobre prevalência de sobrepeso e obesidade, no Brasil, são escassos. Normalmente os dados disponíveis a esse respeito são aqueles obtidos no Estudo Nacional da Despesa Familiar (ENDEF), realizado em 1974-75; na Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN), realizado de junho a setembro de 1989; e na Pesquisa sobre Padrões de Vida (PPV), realizada em 1996-97 somente nas regiões Sudeste e Nordeste do país.

As contribuições mais recentes nesta área surgem de estudos realizados em diferentes localidades do país, normalmente com abrangência municipal ou, muitas vezes, de pequenas comunidades, destacando-se alguns estudos isolados realizados recentemente em diferentes cidades, como São Paulo (10), Cosmópolis (11), Recife (12,13), Salvador (14), Rio de Janeiro (15) e Feira de Santana (16).

Há uma grande variabilidade entre os resultados de prevalência de obesidade em escolares quando comparados os diferentes estudos realizados no Brasil e no mundo. Entre estudos publicados recentemente, em Feira de Santana observou-se prevalência de excesso de peso de 9,2% em escolas públicas e 20,4% em escolas particulares (16); em Recife, 35,0% dos escolares apresentaram excesso de peso corporal (12); em Salvador, a prevalência de obesidade foi de 30,0% nas escolas particulares e 8,0% nas públicas (14); no Rio de Janeiro, a prevalência de excesso de peso foi de 23,0% para as meninas e 19,0% para os meninos. Estudo realizado por Abrantes e cols. (17) mostrou prevalência de obesidade de 8,2% em crianças da região nordeste e 11,9% da região sudeste do Brasil.

Em estudos realizados na América Latina verificam-se desde prevalências bastante baixas de obesidade infantil, como 5,0% em Quito, Equador (26), até prevalências muito elevadas, como 26,2% em San José, Costa Rica (30). Nos Estados Unidos, dados de 1999-2000 mostraram prevalência de obesidade de 15,3% para crianças de 6 a 11 anos de idade (31).

O objetivo do presente estudo foi descrever as prevalências de sobrepeso e obesidade em alunos de escolas públicas e particulares, comparando os resultados obtidos em relação ao sexo, idade e tipo de escola.

3. Material e métodos

O presente estudo descritivo, com delineamento transversal, foi realizado em escolas públicas e particulares da cidade de Santos, no litoral do estado de São Paulo, a partir de convênio celebrado entre a Prefeitura Municipal de Santos, a Universidade Federal de São Paulo (Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente — CAAA) e a Universidade São Marcos (Núcleo Qualidade de Vida).

A faixa etária objeto de estudo foi de 7 a 10 anos de idade, compreendendo um universo de 20.740 crianças em 99 escolas, sendo 30 públicas e 69 particulares. Todas as escolas receberam ofício da Secretaria Municipal de Saúde explicando o propósito do estudo e solicitando apoio para sua realização. No total, participaram do estudo os alunos de 28 escolas públicas e 50 escolas particulares, pois não houve possibilidade de acesso a duas escolas públicas na área continental do município, e em 19 escolas particulares os diretores não se dispuseram a participar do estudo.

Foram encaminhados aos pais de todos os alunos de 7 a 10 anos de idade, das escolas participantes, formulários de Consentimento Livre e Esclarecido, sendo que só participaram do estudo aqueles alunos cujos pais autorizaram e, também, que se dispuseram a ser medidos. Assim, o número total de sujeitos avaliados foi de 10.822 crianças (52,2% do universo de alunos na faixa etária), sendo 7.983 em escolas públicas e 2.839 em escolas particulares. Apenas 72 formulários, 0,35% do total, retornaram com a determinação expressa dos pais de que não queriam que seus filhos participassem do estudo, sendo que as demais perdas ocorreram por motivos diversos, como esquecimento das crianças de levarem os formulários para os pais ou de os trazerem de volta para a escola. A distribuição dos alunos por sexo, idade, tipo de escola e IMC médio é apresentada na tabela 1.

As crianças passaram por medidas de massa corporal e estatura, no período de agosto a novembro de 2002, realizadas por estagiários de educação física, nutrição, enfermagem e fisioterapia, devidamente treinados. As medidas foram executadas conforme modelo descrito por Costa (18), utilizando-se estadiômetros portáteis da marca Kawe, modelo 44.444, e balanças portáteis da marca Camry, modelo BMI. Com estas medidas calculou-se o índice de massa corporal (IMC), utilizando-se como valores de corte os propostos pelo CDC (19), sendo consideradas com sobrepeso as crianças com IMC para a idade maior ou igual ao percentil 85 e menor que o percentil 95; com obesidade, foram consideradas as crianças com o IMC para a idade maior ou igual ao percentil 95.

A análise dos dados foi realizada com o auxílio do software SPSS versão 10.0, sendo estimada a distribuição das prevalências e os respectivos intervalos de confiança (IC 95%) quanto ao sexo, idade e tipo de escola. Para a identificação de diferenças entre as prevalências encontradas nos diferentes grupos, foi utilizado o teste de comparação de proporções, adotando-se a significância estatística de p< 0,05 (20).

A realização deste estudo obedece aos princípios éticos para pesquisa envolvendo seres humanos, conforme resolução CNS 196/96, e foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo, conforme documento CEP nº 0074/02.


Página seguinte 



As opiniões expressas em todos os documentos publicados aqui neste site são de responsabilidade exclusiva dos autores e não de Monografias.com. O objetivo de Monografias.com é disponibilizar o conhecimento para toda a sua comunidade. É de responsabilidade de cada leitor o eventual uso que venha a fazer desta informação. Em qualquer caso é obrigatória a citação bibliográfica completa, incluindo o autor e o site Monografias.com.