Respostas metabólicas e cardiorrespiratórias ao exercício máximo e submáximo em meninas eutróficas e com desnutrição pregressa

Enviado por M. Fisberg


1. Resumo

Objetivo:

Verificar se a desnutrição pregressa, além de causar déficit na estatura de meninas também poderia estar causando uma limitação funcional à capacidade de realização de exercício máximo e submáximo em bicicleta ergométrica.

Casuística:

24 meninas, 12 eutróficas de idade (média ± DP) 9,13 ± 0,79 anos; peso 27,64 ± 3,64 kg; e altura 131,31 ± 6,04 cm; e 12 com desnutrição pregressa; idade 9,75 ± 1,10 anos; peso 25,16 ± 2,33 kg; e altura 125,06 ± 3,90 cm.

Metodologia:

Avaliação clínica e teste ergoespirométrico em bicicleta ergométrica, a partir do qual foram obtidas as variáveis metabólicas e cardiorrespiratórias analisadas. Protocolo de teste: 2 minutos iniciais a 25 watts, seguidos de incrementos de 15 watts a cada 2 minutos, até a exaustão.

Resultados:

Testes de esforço máximo: não foram observadas diferenças entre o grupo de meninas eutróficas (E) e o grupo de meninas com desnutrição pregressa (D) para nenhuma das variáveis analisadas: VO2max l/min., VO2max ml/min/kg, VEmax , R, FCmax, %FCmax prev e Watts max. Teste de esforço submáximo: foram observadas diferenças entre os grupos para as seguintes variáveis: VO2 l/min LA, % VO2max , FC LA, % FCmax LA, VE LA, % VEmax LA. Não foram encontradas diferenças entre os grupos para: VO2 ml/min/kg LA e Watts LA.

Conclusão:

O restabelecimento da relação peso para estatura em meninas com desnutrição pregressa, considerado como critério de eutrofia, é válido também para indicar ausência de limitação funcional da capacidade de realização de exercício.

Unitermos: Exercício. Consumo de oxigênio. Meninas. Desnutrição pregressa. Eutrofia.

2. Introdução

Um dos problemas mais característicos relacionados à nutrição é a desnutrição, pois a privação dos nutrientes essenciais nos primeiros anos de vida pode levar à diminuição da velocidade do crescimento e do desenvolvimento, causando um tipo de desnutrição conhecida por proteico-calórica. Este tipo é a mais comum e está associada a elevadas taxas de morbidade e mortalidade (Chaves, 1985) .

O Brasil apresenta um grande contingente de desnutridos, embora tenha evoluído favoravelmente da década de 70 para os dias atuais. Os dados da pesquisa nacional desenvolvida pelo INAN e pelo IBGE, em Março de 1990, indicam que 31% das crianças brasileiras menores de cinco anos apresentam algum tipo de desnutrição, sendo que 5% sofrem de desnutrição moderada ou grave. O Sudeste, embora não apresente o maior índice de prevalência de desnutrição, concentra o segundo contingente de desnutridos.

Nos países em desenvolvimento o retardo no crescimento, provocado pela desnutrição, pode afetar até 50% das crianças menores de cinco anos (Avelar et al., 1991). No Brasil, segundo pesquisa realizada em 1989 (PNSN, 1989), a prevalência de déficit de estatura/idade em crianças pré-escolares foi de 15,4%. Durante a infância a desnutrição crônica, e algumas doenças, atrasam o crescimento reduzindo o desenvolvimento ósseo e retardando a puberdade (Meredith & Dwyer, 1991).

A adaptação à baixa ingestão de nutrientes, condições sanitárias deficientes, e/ou doenças da infância, são freqüentemente caracterizadas por um menor potencial de crescimento, tornando os indivíduos menores do que a sua determinação genética (Greulich, 1958; Satynarayana et al., 1986).

Um estudo realizado em favelas de São Paulo mostrou elevada correlação entre a obesidade nos adolescentes e a desnutrição pregressa (Sawaya et al., 1995). A obesidade e o sobrepeso associados com a desnutrição pregressa, foram encontrados em 8,7% dos meninos e 7,5% das meninas, enquanto que em crianças com estatura normal para idade 3,7% daqueles e 4,7% daquelas apresentaram obesidade. Nos adolescentes a obesidade foi identificada em 35% das meninas com baixa estatura para a idade, enquanto que nas com estatura normal para idade (segundo NCHS ) a prevalência de obesidade só foi identificada em 13%. De acordo com os dados apresentados, parece que as meninas são mais afetadas pela obesidade quando comparadas aos meninos.

De acordo com Sawaya; Amigo & Sigulem (1989) as crianças com desnutrição pregressa, sem déficit de peso para a idade, são consideradas eutróficas. Em estudo mais recente com crianças com desnutrição pregressa, observou-se que estas apresentavam valores mais baixos para a taxa de metabolismo de repouso, expressos por calorias por dia, e valores mais altos quando expressos por quilograma de peso corpóreo, e massa magra quando comparadas a crianças eutróficas, alteração tipicamente descrita para as desnutridas (Grilo, 1996).

A desnutrição causa diminuição da massa muscular e pode influenciar o VO2máx (Spurr & Reina, 1990; Armstrong & Wesman, 1994). Quando o consumo de oxigênio é expresso em termos de massa corporal magra, a diferença entre desnutridos e eutróficos é drasticamente reduzida e, em alguns casos, ocorre uma inversão. Indivíduos desnutridos podem apresentar valores significativamente mais elevados do que os eutróficos, provavelmente associados a uma menor contribuição de gordura para o peso do músculo do desnutrido (Spurr & Reina, 1990; Armstrong & Wesman, 1994).

Segundo estudos realizados em cortadores de cana, em 1983, existe uma relação entre estado nutricional e produtividade, levando à especulação sobre os efeitos que a desnutrição crônica teria, durante a infância, no desenvolvimento do consumo máximo de oxigênio (VO2máx), o principal índice de aptidão cardiorrespiratória, bem como no possível prognóstico das capacidades do adulto serem influenciadas pela criança afetada. Foi observado que adultos com diferentes níveis de nutrição mostraram uma redução progressiva no consumo máximo de O2, de acordo com a severidade da desnutrição, relacionada com diferenças na massa magra (Spurr et al., 1983).

Em um estudo realizado com crianças de classe socioeconômica baixa, no interior de São Paulo, com deficiências de nutrição, observou-se que estas crianças apresentavam atrasos no desenvolvimento e pior performance física do que crianças eutróficas da mesma região, provavelmente devido a um quadro de desnutrição vigente (Desai et al., 1981).

Não foi possível encontrar na literatura dados a respeito de exercício em crianças com desnutrição pregressa. Uma vez que está comprovado que este tipo de desnutrição causa déficit em relação à estatura, torna-se importante verificar se houve também prejuízo no que diz respeito à capacidade normal para a realização de exercícios estimada pelo VO2max e limiar anaeróbio, e se, ao alcançar uma relação peso/estatura esperada, a criança passa a apresentar também respostas fisiológicas ao exercício semelhantes às crianças eutróficas.

O objetivo deste estudo foi comparar as respostas metabólicas e cardiorrespiratórias ao exercício máximo e submáximo de meninas eutróficas e com desnutrição pregressa e verificar se o déficit de estatura, resultado da desnutrição pregressa, causa algum tipo de influência ou de prejuízo na capacidade funcional da realização do teste de esforço máximo ou submáximo.

3. Metodologias

Casuística:

A amostra foi constituída de 24 crianças do sexo feminino pré-púberes, pois meninas apresentam uma maior prevalência para a obesidade, segundo estudo realizado em São Paulo7, na faixa etária dos 9 aos 11 anos, residentes em favelas da cidade de São Paulo. Doze meninas com peso e estatura normais - valores na faixa de 90 a 110% dos valores referência específico para a idade - e estatura/idade com 95% de adequação (NCHS, 1973), outras 12 com peso para estatura normal (90 - 110% dos valores de referência - NCHS), mas com os critérios para serem classificadas para desnutrição pregressa, definida como abaixo de 95% de estatura esperada para a idade, de acordo com o critério de Watelow (Waterlow, 1976, 1977).

Todas as crianças foram submetidas à uma avaliação clínica, e somente foram incluídas aquelas que não apresentaram alguma patologia prévia e nem contra indicação para atividade física intensa. O consentimento para a participação no estudo foi obtido dos pais ou responsáveis pelas crianças, que foram informados de todos os procedimentos, tendo liberdade para interromper a participação em qualquer momento da pesquisa.

Este estudo foi aprovado pela Comissão de Ética Médica da Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina (UNIFESP - EPM).

Avaliação antropométrica por crescimento:

Peso: O peso corporal foi obtido através de balança eletrônica, marca Kratos, com capacidade máxima para 150 kg e subdividida em 50g (Grilo, 1996).

Estatura: A estatura foi verificada com fita métrica (Microtoise - Stanley - Mabo Ltd), um instrumento simples, com extensão de 2,00 m, dividida em centímetros e subdividida em milímetros, com visor de plástico e esquadro acoplado a uma das extremidades (Grilo, 1996).


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