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A bacia hidrográfica do Rio Côa (Portugal) (página 2)

José Alberto Afonso Alexandre

1.2- O Rio e a Bacia Hidrográfica

O Rio Côa, afluente do Rio Douro, estende-se com uma orientação grosseiramente sul-norte, numa extensão de 135 Km, a esta orientação, não serão estranhos os elementos ligados à tectónica e à diversidade de materiais litológicos em que se instala, alternando de uma forma muito genérica entre o complexo xisto-grauváquico no sul, as rochas granitoides no centro e novamente o complexo xisto-grauváquico grupo do Douro, na parte inferior da bacia, a norte, na zona da sua confluência com o Douro. Tem a nascente a NE da Serra da Malcata, a meio caminho entre esta serra e a Serra de Gata, a uma altitude de 1175 metros, no sitio de Lameirão, freguesia de Foios, Concelho de Sabugal, a 200 metros da fronteira com Espanha, próximo do vértice geodésico fundamental "Mezas", indo confluir na margem esquerda do Douro próximo de Vila Nova de Foz Côa.

A caminho da nascente do Rio Côa (Fronteira Portugal-Espanha)

Rio Côa no Sabugal

A princípio corre em direcção a NW, de seguida toma a direcção SW, toma depois a direcção W, passa para WNW até ao Sabugal, fazendo uma grande curva, muda depois para NNE, tomando a direcção N até Castelo Mendo, tomando aí a direcção NNW, próximo de Pinhel toma novamente a direcção W até Bogalhal, retomando por último a direcção N até à sua confluência.

Rio Côa próximo de Pinhel

Em termos absolutos pode-se dizer que a bacia hidrográfica se localiza entre os 40º15’N e 41º04’N de latitude e os 6º45’W e 7º20’W de longitude, confinando a norte com a bacia do Rio Douro propriamente dita, a NE com a da Ribeira de Santa Maria de Aguiar, a SE com a do Rio Águeda, a NW com a do Rio Távora, todos eles afluentes do Douro, a SW com a do Rio Mondego e a Sul com a do Rio Zêzere, afluente do Tejo, drenando uma área total de 2.638Km2. As altitudes mais elevadas da bacia localizam-se a Sul e SW, apresentando uma orientação geral SSE-NNW, estando inserida em grande parte na Meseta Ibérica.

A grande imensidão da Meseta Ibérica (Imagem captada do pico Jálama – Sierra de Gata – Espanha)

2- LITOLOGIA

Para estudar o regime de um rio é de primordial importância estudar os materiais litológicos em que este se instala, pois são estes que permitem ou não a acumulação das águas que constituem os lençóis subterrâneos.

2.1- Soco Précâmbrico

Constituído por migmatitos, gnaises e xistos metamórficos paleontológicamente estéreis.

2.2- Complexo Xisto-Grauváquico

Extensas manchas do norte e sul da bacia do Côa pertencem ao conjunto do complexo xisto grauváquico ante-ordovicíco e séries metamórficas derivadas. Como a própria designação sugere, as rochas que o constituem são fundamentalmente xistos e grauváques. Não contendo fósseis significativos do ponto de vista estatigráfico, sabe-se apenas que o complexo xisto-grauváquico é anterior ao Ordovícico, pois sobre ele assentam os terrenos deste sistema. Poderá, no entanto, corresponder aos primeiros tempos do Câmbrico. Estes terrenos estão, de uma maneira geral, afectados por um metamorfismo de baixa pressão ou intermédio. Por sua vez, o metamorfismo de contacto, relacionado com a intrusão dos mais jovens granitos hercínicos, originou auréolas metamórficas relativamente estreitas, constituídas por xistos mosqueados e corneanas pelíticas, estas ultimas por vezes bastante duras e postas em evidência pela erosão diferencial.

2.3- Rochas Fossilíferas do Paleozóico

As rochas fossilíferas do Paleozóico ocupam uma área bastante reduzida. No entanto, porque delas fazem parte quartzitos, rochas muito duras, introduzindo no relevo uma marcada individualidade, como é o caso da Serra da Marofa, que se levanta vigorosamente de uma superfície de aplanamento que arrasa os xistos e os granitos.

2.4- Granitos Hercínicos

Os granitos hercínicos são, de longe, as rochas mais largamente representadas. A Carta Geológica de Portugal, 1:500.000 (Fig. 6 e 7), divide-os em dois grupos, uns ante-vestefalianos, predominantemente alcalinos, de duas micas, raramente porfiroides; outros, pós-estefanianos, são granitos predominantemente calco-alcalinos, biotíticos, em geral porfiroides.

2.4.1- Série dos Granitos Hercínicos mais Antigos

Embora algumas variedades dos granitos hercínicos mais antigos mostrem estruturas gnaissoides, por via de regra estes granitos apresentam-se como rochas indeformadas. No entanto, é frequente uma foliação, devida à orientação dos megacristais de feldspato ou das lâminas de mica. Esta foliação e as estruturas gnaissoides mostram-se geralmente paralelas às direcções regionais dos enrugamentos hercínicos. Neste sentido se pode falar de granitos sintectónicos tardios, pois, embora atravessem as dobras hercínicas, apresentam uma estrutura interna concordante com as direcções desta tectónica.

Do ponto de vista químico, os granitos mais antigos, alcalinos, distinguem-se dos granitos mais recentes, calco-alcalinos, por uma norma contendo menores percentagens de anortite e uma percentagem mais elevada de corindon.

2.4.2- Série do Granitos Hercínicos mais Jovens

A série dos granitos hercínicos mais jovens representa um desenvolvimento essencialmente discordante em relação às direcções regionais dos enrugamentos hercínicos. Os complexos de granitos jovens são envolvidos por estreitas auréolas metamórficas de contacto, constituídas por xistos mosqueados e corneanas.

Os granitos jovens apresentam uma grande variedade textural e mineralógica:

2.4.2.1- Pequenas intrusões de rochas intermédias a básicas (Grupo I). Constituem as rochas mais antigas da série dos granitos jovens.

2.4.2.2- Granitos calco-alcalinos a alcalinos, geralmente não porfiroides, de grão médio a fino, biotíticos ou de duas micas, ricos em biotite (Grupo II). Várias caracteristicas permitem distinguir estes granitos dos granitos não gnaissoides da série mais antiga, predomínio de feldspato potássico e biotite relativamente à plagioclase e moscovite.

2.4.2.3- Granitos calco-alcalinos a alcalinos, de grão médio a grosseiro, de duas micas, frequentemente porfiróides(Grupo III).

2.4.2.4- Granitos calco-alcalinos, biotíticos, porfiroides de grão grosseiro(Grupo IV). São os mais abundantes, tendo o mais baixo teor em corindon normativo e os mais elevados teores em anortite, de todos os granitos da área em estudo. A existência de corindon normativo deve-se fundamentalmente à abundância de biotite. Apresentam grandes megacristais de feldspato potássico, com dimensões de 5-15 cm de comprimento, numa massa de grão médio a grosseiro.

2.4.2.5- Granodíoritos e granitos de grão fino de duas micas (Grupo V), ocorrem localmente em pequenas extensões.

2.5- Depósitos Superficiais

Podem-se classificar em dois tipos: arenitos arcósicos, situados em Nave de Haver; e depósitos grosseiros de tipo raña, de que se encontram vestígios em vários lugares, mas atingindo maior importância no sopé da Serra da Marofa.

2.5.1- Arcoses de Nave de Haver

Estas arcoses constituem a extremidade SW de uma mancha de depósitos paleogénicos continentais, existindo uma formação de base, constituída por arenitos feldspáticos de origem granítica e, uma formação superficial, constituída por aluviões. A formação inferior, a mais espessa, é constituída por um arenito arcósico bastante homogéneo, com raros veios de calhaus pequenos, geralmente de quartzo. O arenito dispõe-se em assentadas grosseiramente horizontais. A formação superior é descontinua, constituída por um arenito arcósico grosseiro, de cor avermelhada, com abundantes veios de calhaus e disposição entrecruzada.

2.5.2- Depósitos grosseiros de tipo raña

Trata-se de um depósito de calhaus fundamentalmente quartzíticos, subangulosos, com dimensões que chegam a ultrapassar os 20 cm de comprimento, envolvidos numa escassa matriz argilo-arenosa, de cor avermelhada, sem indícios de estratificação.

Estes revestimentos peculiares de cascalheiras ocorrem em vários outros lugares, por exemplo entre Vilar Formoso e Aldeia da Ponte, próximo do vértice Guinaldo (888 m).

3- GEOMORFOLOGIA

Entre o Rio Côa e a fronteira espanhola, a planitude é quase perfeita. Para W a superfície da Meseta perde a sua rigidez, sobretudo a Sul do alinhamento de relevos da Marofa, sendo entalhada por um feixe de vales que rebaixam ou estreitam os interflúvios planos. Os retalhos bem conservados da superfície da Meseta cortam indiferentemente rochas muito diversas. Os quartzitos da Serra da Marofa foram praticamente as únicas rochas a escapar ao arrasamento. Junto ao Douro, a superfície plana desapareceu por completo nos xistos, enquanto ela se encontra bem conservada nos granitos. Na zona de Vila Nova de Foz Côa constitui a única excepção a esta regra, o que talvez possa relacionar-se com a ocorrência, nesta área, de xistos ardosíferos muito duros. Outros factores que terão contribuído para a degradação da Meseta são a heterogeneidade litológica do substracto e a elevada fragmentação tectónica do mesmo. Quanto à natureza do substracto, além de granitos alcalinos e calco-alcalinos, estão representados xistos e grauvaques, um complexo xisto-migmatítico e intercalações quartzíticas. Para sul do paralelo de Pinhel a superfície da Meseta desenvolveu-se num substracto constituído quase exclusivamente por granitos calco-alcalinos de granularidade diversa. A grande degradação desta superfície do lado ocidental, contrastando com a perfeita conservação a leste do Côa, está relacionada com diferenças petrográficas no seio dos granitos.

Junto à fronteira, o bom estado de conservação da superfície da Meseta permite verificar que esta se encontra nitidamente inclinada para norte: com uma altitude de 950 metros no sopé da Serra da Malcata e apenas 600 metros a 6 km a sul do Douro. Há pois, uma descida de 350 metros numa distância de 70 km (declive médio de 0,5%). A norte do paralelo de Almeida, a superfície da Meseta é também afectada de um declive para oeste. Isto significa que a superfície da Meseta inclina para NW, a norte do paralelo de Almeida, atingindo um declive médio de 0,7% entre esta localidade e Vila Nova de Foz Côa. Para sul daquele paralelo não é discernível a pendente para oeste, havendo, pelo contrário, um ligeiro soergimento no contacto com a terminação NE da Serra da Estrela.

No entanto a bacia hidrográfica do Côa contém formas de relevo que se sobressaem à planitude da Meseta, são eles, a Serra da Malcata a Sul, a Serra da Marofa a norte e formas de relevo resultantes de filões de quartzo, um pouco por toda a área da bacia.

Relevo quartzítico (Serro de Vansemelha – Miuzela)

3.1- Serra da Malcata

A Serra da Malcata constitui um relevo modesto que se levanta da superfície da Meseta, atingindo um comando que não ultrapassa geralmente 100 a 150 metros. O contacto entre estes dois elementos do relevo é sobretudo nítido do lado NE entre Aldeia do Bispo e Soito, onde apresenta um carácter relativamente abrupto e rectilíneo, com direcção NW-SE. No sopé, a superficie da Meseta apresenta-se como um plano inclinado, inclinação que pode cifrar-se em 1,3% na rampa que vai de Aldeia do Bispo a Lageosa da Raia. A oeste do meridiano de Souto o contacto é muito menos nítido, devido à dissecação que progride ao longo do Côa. Ao longo do Côa a superfície da Meseta penetra no seio da Serra da Malcata por um vale largo que segue claramente até Foios.

O caracter grosseiramente rectilíneo dos limites da Serra da Malcata deve-se a uma origem tectónica, no entanto, as vertentes actuais parecem ter-se adaptado a um contacto litológico do lado NE e estão muito degradadas a NW e a sul. Depois das deslocações tectónicas deve ter ocorrido um retoque na superfície da Meseta, durante a qual se terão desenvolvido as rampas do sopé NE e o nível ao longo do Côa.

Malcata

3.2- Serra da Marofa

Esta Serra é um sinclinal ordovícico que emerge do complexo xisto-grauváquico, devendo o seu relevo à particular dureza das assentadas quartzíticas skidavianas. O sinclinal é estreito e apresenta uma direcção W-E para oridente do vértice Marofa (975 m), inflectindo um pouco para SW, a ocidente deste vértice. As vertentes do flanco norte inclinam com valores da ordem dos 50º. No flanco sul, é de tal maneira densa a fracturação, que se torna difícil dizer qual o valor exacto da inclinação das camadas.

Ténue linha da Serra da Marofa, vista do castelo de Vilar Maior

As maiores altitudes ficam no cabeço da Marofa (975 m), no cabeço da Serra da Vieira (879 m) e na longa cumeada que, para SSW destes cabeços, se prolonga até ao vértice S. Marcos (855 m), correspondendo aos lugares onde as assentadas quartzíticas alcançam maiores espessuras. O ramo meridional desaparece para leste do cabeço da Marofa, possivelmente porque a espessura dos quartzitos era originalmente fraca, tendo sido presa fácil da erosão. O ramo setentrional prolonga-se até à fronteira, mas os afloramentos quartzíticos, muito estreitos e descontínuos, atravessados por filões e lenticulas de quartzo, dão origem a relevos muito modestos, é o caso de Nave Redonda (776 m) e de Caldeirada (714 m), que sobem apenas algumas dezenas de metros acima do nível geral da Meseta. Do lado ocidental, este flanco termina no cabeço do Azevo (667 m), depois de atravessar o Côa. Por sua vez o ramo meridional prolonga-se bastante mais para W, dando relevos estreitos e de fraca altura, como a crista que vai de Stº Antão (669 m) e o cabeço de S. Pedro (614 m), este já para ocidente da Ribª de Massueime.

Levantando-se vigorosamente de uma superfície quase plana, o alinhamento de relevos da Marofa constitui um acidente importante e a sua silhueta inconfundível é visível a longa distância. De cada lado das alturas culminantes da Serra da Marofa, os delgados e descontínuos afloramentos quartzíticos, por vezes arrasados pela aplanação geral, constituíram obstáculos muito difíceis de vencer por rios como o Côa ou a Ribª de Massueime. Aliás os quartzitos mostram-se bastante sensíveis à erosão mecânica, devido à fracturação e diaclasagem que resultaram das pressões tectónicas a que foram submetidos. Cursos de água minúsculos, como a Ribª da Penha de Águia, talharam gargantas estreitas nesses quartzitos, aproveitando estas linhas de fraqueza. O abundante material que cobre o sopé e as vertentes da Marofa foi também preparado pela fragmentação tectónica. A posição dominante desta serra deverá resultar de uma longa evolução morfológica, onde a alteração química terá desempenhado um papel relevante, preparando o material em que actuaram os processos de aplanamento. Por outras palavras, os relevos da Marofa devem-se talvez mais a uma resistência à alteração química do que a uma particular resistência à erosão mecânica.

3.3-Formas de relevo resultantes de filões de quartzo e "montes ilhas" ou "inselberg"

O substracto em que se desenvolveu a superfície da Meseta é atravessado por um notável sistema de filões de quartzo, de direcção quase sempre NNE-SSW. Muitos deles salientam-se com nitidez na paisagem, dando relevos de baixa altura, mas alongados. É o exemplo da Senhora das Preces (784 m), a leste de Rapoula do Côa. Portanto a maioria dos filões de quartzo, por constituírem afloramentos muito estreitos, não devem ter resistido ao arrasamento geral da Meseta, tendo sido postos em evidência pela erosão posterior.

Vale do Côa (Visto das ruínas de Carya Atalya)

Caso idêntico é o das pequenas elevações, relacionadas também com a dureza das rochas, como granitos de grão mais fino ou corneanas, como é o caso do Jarmelo (943 m), Fráguas (1018 m) e S. Cornélio (1008 m). O melhor exemplo é o de Fráguas: com uma altura de poucas centenas de metros, vertentes bastante abruptas, apresenta uma fisionomia que sugere um inselberg. Estes relevos têm de comum o facto de se desenvolverem em manchas de granito não porfiróide, de grão médio, envolvidos por granitos geralmente porfiróides de grão grosseiro.

São Cornélio (1008 m)

Fráguas (1018 m)

Vale do Côa e relevos de tipo «inselberg» (Serros de Vansemelha e do Seixo)

3.4- As Formas de Dissecção

Para ocidente do Côa e para sul da linha de relevos da Marofa, a superfície da Meseta reduz-se a retalhos estreitos, separados por vales largos e pouco profundos, de traçado quase paralelo. No entanto os vales percorridos por cursos de água de caudal muito fraco, são os de menor profundidade e os mais largos. Apesar do fraco caudal, o perfil longitudinal é pouco declivoso.

Estes vales parecem ligados a uma certa incapacidade da erosão vertical e a uma arenização activa, o que permitiu o fácil alargamento das vertentes. A fraca erosão vertical estará relacionada, não apenas com o fraco caudal dos cursos de água, mas também com o nível de base pouco profundo ou distante. Contrastando fortemente com estas formas, as profundas gargantas que se desenvolveram ao longo do Rio Côa e da Ribª de Massueime, até ao paralelo da Marofa, são o resultado de uma importante erosão regressiva que, em função do Douro, actualmente se faz sentir ao longo desses rios. A juventude do encaixe está bem patente no facto de no percurso de 15 km a Ribª de Gaiteiros corre paralelamente ao Côa, apenas a uma distância de 2 km e a cerca de 150 metros acima deste rio, condições favoráveis a uma captura que, entretanto, não se deu.

Para norte de Vilar Formoso e leste do meridiano de Pinhel a drenagem sublinha a inclinação da meseta para NW, mas o Côa, a jusante da Marofa, e os afluentes da margem esquerda que confluem com ele neste sector apresentam sentidos de escoamento compreendidos entre S-N e SW-NE. Por sua vez, entre a confluência com o Noémi e Sabugal, o Côa corre de SSW para NNE, convergindo para ele um importante feixe de afluentes, com direcção aproximada SSE-NNW na margem direita e W-E na margem esquerda. Para além da importância que as fracturas possam ter, inflectindo localmente a direcção dos cursos de água, este dispositivo da rede hidrográfica mostra que a inclinação para NW da superfície da Meseta, não é geral, e sugere que o Côa poderá ter-se instalado num acidente tectónico.

Próximo da Guarda a superfície da Meseta encontra-se bastante degradada pelo feixe de vales afluentes da margem esquerda do Côa. No entanto, ela pode ser restituída a uma altitude compreendida entre 850 e 900 metros, sobretudo a norte do Noémi, entre Pessolta e Vila Fernando.

4- CLIMATOLOGIA

Para compreender os problemas hidrológicos e morfológicos que se põem, têm que se fazer algumas considerações sobre aspectos climáticos actuais e passados que interessem à área em estudo. Assim, e pensando em termos de clima actual, em vez de uma caracterização climática exaustiva, que não é esse o objectivo deste trabalho, apenas se referem alguns elementos que são mais directamente responsáveis pelos caudais verificados e pela sua variação, bem como pelo evoluir das formas.

Vale do Côa (Ponte Sequeiros – Valongo) : Agosto de 2006

Quadro I- Precipitação Média e Valores Extremos de 1952/82

     

Máx. Anual

Min. Anual

Max. Diário

Estação

Altitude

(m)

Média

(mm)

Valor

(mm)

Data

Valor

(mm)

Data

Valor

(mm)

Data

Pinhel

600

646.1

1032.5

1955/56

357.1

1980/81

83.0

14DEC55

Miuzela

820

806.9

1131.0

1978/79

445.4

1980/81

98.5

05NOV73

Aldeia da Ponte

815

788.9

1319.5

1978/79

333.3

1956/57

114.0

09FEV79

   

747.3

           

Dentro desses elementos, aparece-nos a precipitação, na área quase exclusivamente pluviosidade, com base nos dados disponíveis pelas estações udométricas de Miuzela, Pinhel e Aldeia da Ponte, vemos que a média anual no período em análise é de 747.3 mm (Quadro I). Contudo nota-se que a precipitação média ocorrida varia consoante a altitude, a direcção dos ventos predominantes, a orientação das montanhas e, com menor importância a latitude, sendo mais intensa a Sul do que a Norte, onde as altitudes são mais elevadas e todos os factores se combinam. No entanto, a variabilidade interanual é grande, como se mostra no mesmo quadro, onde a Estação de Miuzela ilustra bem, pois se compararmos os dados do ano hidrológico de 1978/79 em que ocorreu o máximo anual de precipitação e o ano de 1980/81, durante o qual ocorreu o mínimo anual, ou seja uma variação espectacular verificada em três anos consecutivos.

As precipitações concentradas fundamentalmente no Inverno, deixam o Verão praticamente seco, tendo-se registado alguns casos (Quadro II), em que num ou dois meses de Verão não se regista qualquer precipitação, contudo aconteceram casos pontuais que foram excepções à regra, como exemplos, Março de 1966, Janeiro de 1968, Fevereiro de 1971 e Dezembro de 1980 em Aldeia da Ponte; Janeiro e Novembro de 1981 em Miuzela e Novembro de 1981 em Pinhel, pois os meses secos também aparecem no Inverno.

Quadro II - Meses sem Queda Pluviométrica (1957/82).

Estação

1957/58

1958/59

1959/60

1960/61

1961/62

1962/63

1963/64

1964/65

1965/66

Miuzela

-

-

-

-

Jul+Ago

Jul+Ago

-

-

-

Pinhel

-

-

-

-

Jul+Ago

-

-

Ago

-

A. Ponte

-

-

Jul

-

Jul+Ago

Ago

Ago

Jul

Mar+Jul

Estação

1966/67

1967/68

1968/69

1969/70

1970/71

1971/72

1972/73

1973/74

1974/75

Miuzela

-

-

-

-

-

Ago

-

Ago

Jul

Pinhel

Jul

-

Ago

-

-

Ago

-

Ago

Jul+Ago

A. Ponte

Jul

Jan+Jun

Ago

Jul

OutFevSet

Ago

-

Ago

Out+Jul

Estação

1975/76

1976/77

1977/78

1978/79

1979/80

1980/81

1981/82

Miuzela

-

-

Jul+Ago

Ago

Set

Jan

Nov

Pinhel

-

-

Ago

Ago

-

-

Nov

A. Ponte

-

-

Ago

Ago

-

Dez

Nov

Sem tomar em linha de conta as diferenças quantitativas, de estação para estação, mas sim a variabilidade da sua distribuição ao longo do ano, constata-se que a distribuição da precipitação média anual é idêntica em todas as estações, com máximos de Novembro a Fevereiro e mínimos em Julho e Agosto (Quadro III).

Quadro III - Variação Média Anual da Precipitação

(valores em mm)

 

Meses

           

Estações

Out

Nov

Dec

Jan

Fev

Mar

Abr

Mai

Jun

Jul

Ago

Set

Anual

Prec.Máx

Pinhel *

65.8

73.1

82.3

79.0

80.6

67.2

56.2

46.0

37.5

10.6

11.4

36.3

646.1

83.0

Miuzela **

89.6

94.2

94.1

110.7

101.3

71.0

68.1

63.0

43.5

22.2

10.4

38.6

806.9

98.5

A. Ponte***

77.7

98.4.

95.7

95.3

111.2

74.4

66.6

57.9

35.9

18.0

14.6

43.4

788.9

114.0

Obs.: (*) 1952/82; (**) 1956/82; (***) 1955/82

Além da precipitação temos ainda o orvalho e a geada, havendo distinção entre eles no período em que ocorrem.

Nas noites e madrugadas calmas, com céu descoberto e com vento fraco do final do Outono, Inverno e inicio de Primavera forma-se geada, onde nas vertentes sombrias chega a permanecer durante longos períodos de tempo, sendo a sua acção importante para a erosão dos solos.

Nas noites e madrugadas de Verão o orvalho é importante para fornecer humidade à parte superficial do solo, ajudando a vegetação a suportar os Verões mais secos.

É de realçar a importância destes valores para compreender o comportamento hidrológico do Côa. No Verão o seu caudal é diminuto, chegando às vezes quase a secar, enquanto que no Inverno, com o seu grande volume de águas provenientes da precipitação o poder da erosão é enorme.

No entanto, face ao aspecto dos vales, não podem atribuir-se a processos erosivos desenrolados somente sob a influência de um tipo climático de características semelhantes ao da actualidade, mas sim de um clima muito mais húmido, originando grandes caudais que ao longo do tempo foram escavando os vales encaixados na superfície plana da Meseta.

5- ESCOAMENTO FLUVIAL

A precipitação, ao encontrar a superfície topográfica, ou se evapora, regressando à atmosfera, ou se infiltra, passando a integrar o escoamento subterrâneo, ou escorre à superfície, dando origem ao escoamento superficial. Este escoamento, conjugado com aquele que aflora através das nascentes, acaba por se concentrar nas linhas de água, gerando o escoamento fluvial.

5.1- O Regime Fluvial

O regime fluvial da bacia hidrográfica do Côa caracteriza-se por uma irregularidade interanual e estacional, variando o seu ritmo de mês para mês e de ano para ano.

A quantidade de água escoada por um curso de água durante o ano exprime-se pelo seu módulo absoluto (caudal médio anual em m3/s), ou ainda pelo seu módulo especifico, que se obtém dividindo o módulo absoluto pela superfície da bacia hidrográfica e exprime-se em litros/s/km2 ou em mm de chuva escoada(Quadro IV).

Quadro IV - Módulo Absoluto e Módulo Específico do Rio Côa (1984/85)

Estação Hidrométrica

Sup. de Bacia Drenada

(km2)

Módulo Absoluto

(m3/s)

Módulo Específico

(l/m3/km2)

Cidadelhe

1605

20.06

11.91

Castelo Bom

897

11.93

18.80

Total do Côa

2638

   

O ritmo estacional dos caudais constitui o critério mais cómodo para definir os regimes fluviais. De uma forma genérica, os regimes estacionais comportam um certo grau de regularidade com uma distribuição de águas altas no final de Outono e Inverno e de águas baixas no Verão (Quadro V), o que não impede que haja irregularidades interanuais.

Quadro V - Alturas Hidrométricas e Caudais do Rio Côa em Cidadelhe (1984/85)

 

OUT

NOV

DEC

JAN

FEV

MAR

ABR

MAI

JUN

JUL

AGO

SET

Med.Mens

(m3/s)

0,07

15,68

29,60

80,26

85,54

26,72

22,00

12,97

13,02

1,05

0,08

0,00

Max.Inst

(m3/s)

0,02

50,00

73,80

157,00

291,00

100,00

64,50

66,90

71,00

3,10

0,11

0,00

Alt.Max.Inst

(em metros)

0,65

3,10

3,54

4,68

6,23

8,94

3,87

3,41

3,50

1,19

0,49

0,00

Normalmente, estas variações analisam-se através da altura das águas e do volume dos caudais. Havendo dois meses que se destacam de todos os outros, são eles Janeiro e Fevereiro, em que o volume das águas e por conseguinte a sua altura é muito superior à dos outros meses, a situação diametralmente oposta ocorre nos meses de Agosto, Setembro e Outubro. Isto não quer dizer que seja nestes meses que ocorra menos precipitação, como vimos atrás, mas sim deve-se ao escorrimento das águas subterrâneas que se faz sentir no fim da Primavera, fazendo com que o caudal não chegue a secar logo nos primeiros tempos do estio, mas sim já no final do Verão. Em Setembro e Outubro, embora ocorra alguma precipitação, esta é logo absorvida pelo solo ressequido, não chegando para alimentar as mais simples linhas de água.

Caudal Médio Mensal do Rio Côa em Cidadelhe (1984/85).

Máximo Instantâneo do Rio Côa em Castelo Bom (1984/85)

Altura Máxima Instantânea do Côa em Cidadelhe no ano de 1984/85.

5.2- O Regime do Rio Côa

Assim, o regime do rio Côa comporta duas épocas bem nítidas, com características opostas. Uma de abundância, ocorre no período de precipitação mais elevada, enquanto a outra de escassez, coincide com a de quase ausência de precipitação. Neste período, a substancial diminuição da precipitação e o grande incremento da evapotranspiração são suficientes para eliminar quase por completo o escoamento, pois as águas subterrâneas são escassas e isto deve-se à fraca permeabilidade das rochas constituintes da bacia, tais como os xistos e os granitos.

6- CONCLUSÃO

Para concluir, apresenta-se uma explicação resumida da actual disposição da bacia hidrográfica do Côa. Na era Précâmbrica dá-se a aplanação geral da Meseta, tendo sido postas em evidência formas de relevo de dureza (ex: granitos mais duros). No Ordovícico emerge a Serra da Marofa, tendo soergido a Cordilheira Central durante o Oligo-Miocénico e com ela a Serra de Malcata. A partir daqui dá-se a organização da rede de drenagem actual.

Do ponto de vista climático, a bacia do Côa é caracterizada por uma fraca precipitação, esta situação deve-se à existência de altas altitudes a oeste, não deixando passar os ventos húmidos do Oceano. Outra característica da precipitação é a irregularidade dos quantitativos anuais, com maior número de dias de precipitação de Outubro a Maio e um número insignificante de Junho a Setembro.

De uma forma muito geral, a humidade na bacia do rio Côa aumenta de norte para sul, à medida que a altitude aumenta. No Verão o clima é quente e seco, no Inverno é ameno quando chove e frio e seco quando o céu está descoberto com o vento de norte.

O regime do Côa está directamente relacionado com as características climáticas, apresentando duas estações hidrológicas bem distintas, águas altas no Inverno e baixas no Verão.

A variabilidade e irregularidade das precipitações reflecte-se logo no regime do Côa, pois com base nas características das rochas existentes no conjunto da bacia, conclui-se que estas possuem pouca permeabilidade, predominando assim o escoamento superficial dependente das precipitações.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1- Documentos cartográficos

a) Cartas Topográficas

Carta Militar de Portugal, Esc. 1:25.000, Serviços Cartográficos do Exército, Lisboa. Folhas: 141, 150, 151, 152, 160, 161, 162, 170, 171, 172, 181, 182, 183, 192, 193, 194, 203, 204, 205, 214, 215, 216, 225, 226, 227, 236, 237, 238.

Carta Militar de Portugal, Esc. 1:50.000, Serviços Cartográficos do Exército, Lisboa. Folhas: 15-I, 15-II, 15-III, 15-IV, 18-I, 18-II, 18-III, 18-IV, 21-I, 21-IV.

Carta Militar de Portugal, Esc. 1:250.000, Serviços Cartográficos do Exército, Lisboa. Folha: 4

b) Cartas Geológicas

Carta Geológica de Portugal, Esc. 1:50.000, Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa. Folhas: 15-A, 15-B, 15-C, 15-D, 18-A, 18-B, 18-C, 18-D, 21-A, 21-B.

Carta Geológica de Portugal, Esc. 1:500.000, Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa, 1972.

2. Outras Publicações

CUNHA, L. (1981) - «O Dueça a montante de Miranda do Corvo. Apresentação de alguns problemas morfológicos», Revista da Universidade de Coimbra, Vol. XXIX, Coimbra, pp. 451-520.

DIRECÇÃO-GERAL DOS RECURSOS E APROVEITAMENTOS HIDRÁULICOS - Anuário dos Serviços Hidráulicos - Hidrometria, 1984/85, Direcção-Geral dos Recursos e Aproveitamentos Hidráulicos, Lisboa.

DIVISÃO DE HIDROMETRIA - Precipitações de 1952 a 1982, Direcção dos Serviços de Hidrologia, Direcção-Geral dos Recursos e Aproveitamentos Hidráulicos, Lisboa.

FERREIRA, A. DE BRUM (1978) - Planaltos e Montanhas do Norte da Beira, Centro de Estudos Geográficos, Lisboa.

GIRÃO, A.(1941) - Geografia de Portugal, Lisboa.

GONÇALVES, F.(1966) - Carta Geológica de Portugal. Noticia explicativa da Folha 18-D (Nave de Haver), Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa.

LOURENÇO, L.(1989) - O Rio Alva, Hidrogeologia, Geomorfologia, Climatologia e Hidrologia,Instituto de Estudos Geográficos, Faculdade de Letras, Coimbra.

MARTONNE, E. DE (1953) - «Traité de Geographie Physique», Trad. Port. in Panorama da Geografia, Vol. I, Cosmos, Lisboa, pp. 397/428.

TEIXEIRA, C. e PERES, A.M. (1960) - Carta Geológica de Portugal. Noticia explicativa da Folha 21-B (Quadrazais), Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa.

TEIXEIRA, C.; MARTINS, J.A.; MEDEIROS, A.C.; MESQUITELA, L.P.; FERRO, M.N. e PILAR, L.(1963) - Carta Geológica de Portugal. Noticia explicativa da Folha 18-C (Guarda), Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa.

TEIXEIRA, C.; MARTINS, J.A.; MEDEIROS, A.C.; MESQUITELA, L.P.; PERES, A.M. e PILAR, L.(1965) - Carta Geológica de Portugal. Noticia explicativa da Folha 21-A (Sabugal), Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa.

TEIXEIRA, C.; MEDEIROS, A.C.; PILAR, L. LOPES, J.T.; e ROCHA, A.T. (1959) - Carta Geológica de Portugal. Noticia explicativa da Folha 18-B (Almeida), Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa.

Nota: as fotos foram captadas pelo autor em 2006.

 

Dados do Autor:

José Alberto Afonso Alexandre

jaaalexandre[arroba]gmail.com

jaaalexandre[arroba]hotmail.com

Mestre em Inovação e Políticas de Desenvolvimento (Universidade de Aveiro)

Licenciado em Geografia (Universidade de Coimbra)

Publicação em «monografias.com» de:

«O planeamento estratégico como instrumento de desenvolvimento de cidades de média dimensão», (https://www.monografias.com/pt/trabalhos/planeamento-cidades/planeamento-cidades.shtml);

«Rumo à sustentabilidade: o planeamento urbano participativo», (https://www.monografias.com/pt/trabalhos2/sustentabilidade-urbana/sustentabilidade-urbana.shtml);

O turismo em Portugal: evolução e distribuição, (https://www.monografias.com/pt/trabalhos2/turismo-portugal/turismo-portugal.shtml).

Universidade de Coimbra

1995



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