Seminário apresentado no Curso de Epidemiologia Médico-Entomológica da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, sob orientação do Prof. Dr. Oswaldo Paulo Forattini.
São Paulo, Brasil - 1974
Sendo as leishmanioses tegumentares americanas doenças transmissíveis, muita importância tem o conhecimento de sua epidemiologia. Os aspectos da transmissão, que eram tão pouco conhecidos, gradualmente vão sendo esclarecidos. Este é um processo que facilita um controle regional desta infecção. Os aspectos de maior interesse, na transmissão ao homem, são o objetivo deste trabalho.
Admite-se que a leishmaniose tegumentar seja autóctone da América neo-tropical. Vários aspectos distintos são encontrados na várias condições, dependentes dos aspectos específicos do meio físico e biológico. Assim, uma avaliação prévia dos fatores implicados vai condicionar o estudo da fonte, do meio e do suscetível.
Por fonte, consideramos o agente e o indivíduo reservatório. O agente etiológico das leishmanioses tegumentares americanas deve ser considerado como um complexo do gênero Leishmania. Adotando sistematização de Forattini (1973ª) e Lainson (1973), podemos apresentar o quadro:
Esta classificação, apesar de tudo, é um tanto rígida, pois as variedades não são facilmente identificadas. Podem estar superpostas numa mesma região, apresentando sintomatologia semelhante, o que dificulta muito esta tarefa.
Podemos distinguir dois níveis de transmissão, dependendo do hábito do indivíduo portador da leishmaniose (Garnham, 1971):
- Hábito silvestre, condicionando a enzootia propriamente dita. Além dos roedores, que são principalmente importantes, podemos encontrar infectados marsupiais, desdentados, etc. (Forattini, 1972, 1973 a; Manson-Bohr, 1971; Shaw, 1972 a; Telford, 1972; Tesh, 1971).
- Hábito domiciliado, ocasionando um elo importante na transmissão. Pode ocorrer com os cães, mas como estes também apresentam suscetibilidade diferencial às cepas nativas das várias regiões, o desempenho destes é restrito, como consideraremos posteriormente, quando nos referirmos à leishmaniose causada pela Leishmania braziliensis peruviana.
O meio atua no processo pela distribuição e seleção dos vetores. Fatores tais como temperaturas entre 20 a 30ºC, alta umidade relativa e baixa movimentação aérea propiciam o desenvolvimento destes indivíduos, que são restritos a estas condições. Eles só se afastam do microhabitat nos casos em que o macroclima é equivalente ao microclima ideal.
Passemos a examinar a possibilidade de transmissão ao suscetível. O homem, invadindo novas áreas, nas quais tanto a fonte de infecção quanto os vetores estão presentes, fica exposto a este sistema, eventualmente adquirindo a infecção.
A possibilidade da transmissão do agente etiológico ao homem está dependente de vários fatores:
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