Utilização de recursos ópticos e equipamentos por escolares com deficiência visual



1. Resumo

Objetivo: Verificar percepções e conduta de escolares portadores de deficiência visual, em relação aos recursos ópticos e equipamentos utilizados no processo de escolarização.

Métodos: Estudo descritivo transversal em população de escolares de 12 anos e mais, portadores de deficiência visual, congênita ou adquirida, em processo de escolarização, inseridos no sistema público de ensino no município de Campinas no ano de 2000. Aplicou-se questionário por entrevista, elaborado com base em estudo exploratório.

Resultados: Foi obtida população de 26 alunos, sendo 46,2% portadores de visão subnormal e 53,8% portadores de cegueira. A maioria cursava o ensino fundamental (65,4%) em escolas com salas de recursos (73,1%). Entre os recursos utilizados em atividades de leitura e escrita 94,1% dos escolares declararam utilizar a máquina Braille e 81,8% relataram que o colega dita a matéria. A maioria dos escolares com visão subnormal utilizavam óculos (91,7%) e 33,3% utilizavam lupa como recursos ópticos. Entre os recursos não ópticos destacaram-se os ambientais - aproximação da lousa (75,0%) e da janela (66,7%%) para maior iluminação.

Conclusões: Foi evidenciado o fato de que escolares portadores de visão subnormal utilizavam recursos destinados a portadores de cegueira como a aplicação do sistema Braille. Verificou-se reduzido número de portadores de visão subnormal utilizando recursos ópticos e não ópticos referentes à sua problemática, o que indica provável desconhecimento de seu potencial visual e de recursos apropriados para melhorar sua eficiência.

Descritores: Recursos audiovisuais; Leitura; Baixa visão; Portadores de deficiência visual; Cegueira/prevenção & controle; Estudantes

2. Abstract

Purpose: To verify perceptions and conduct of students with visual impairment regarding devices and equipment utilized in schooling process.

Methods: A transversal descriptive study on a population of 12-year-old or older students in schooling process, affected by congenital or acquired visual impairment, inserted in the government teaching system of Campinas during the year 2000. An interview quiz, created based on an exploratory study was applied.

Results: A group of 26 students, 46% of them with low vision and 53.8% affected by blindness was obtained. Most of the students were from fundamental teaching courses (65.4%), studying in schools with classrooms provided with devices (73.1%). Among the resources used in reading and writing activities, 94.1% of the students reported they used the Braille system and 81.8% reported that the reading subject was dictated by a colleague. Most of the students with low vision wore glasses (91.7%), and 33.3% utilized a magnifying glass as optical devices. Among the non-optical devices, the most common were the environmental ones, getting closer to the blackboard (75.0%) and to the window (66.7%) for better lighting.

Conclusions: It became evident that students with low vision eye-sight made use of devices meant for bearers of blindness, such as applying the Braille system. A reduced number of low vision students making use of optical and non-optical devices applicable to their problems were observed, indicating a probable unawareness of their visual potential and the appropriate devices to improve efficiency.

Keywords: Audiovisual aids; Reading; Vision, low; Visually impared persons; Blindness/prevention & control; Students

3. Introdução

Esta pesquisa versa sobre escolares portadores de deficiência visual, inseridos no sistema público de ensino no município de Campinas, São Paulo, suas percepções e conduta em relação ao próprio processo de escolarização.

Adota-se como conceito de deficiência visual a presença de cegueira ou visão subnormal. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é considerado portador de cegueira o indivíduo com acuidade visual desde 3/60 (0,05), no melhor olho e melhor correção óptica possível, até ausência de percepção de luz, ou correspondente perda de campo visual no melhor olho com a melhor correção possível(1). A definição de visão subnormal corresponde à acuidade visual igual ou menor do que 6/18 (0,3) mas, igual ou maior do que 3/60 (0,05) no melhor olho com a melhor correção possível.

Visão subnormal (VSN) é definida também como uma perda acentuada da visão que não pode ser corrigida por tratamento clínico ou cirúrgico, nem com óculos convencionais. Também pode ser descrita como qualquer grau de enfraquecimento visual que cause incapacidade funcional e diminua o desempenho visual(2).

Os profissionais que atuam na reabilitação e educação de indivíduos deficientes visuais necessitam deter conhecimentos sobre as limitações desses indivíduos bem como sobre o sistema de ensino e reabilitação vigentes. A escola e a reabilitação devem caminhar juntas, suprindo as reais dificuldades da criança, do adolescente e do adulto portador de deficiência visual.

Reconhece-se no mundo todo a necessidade de identificar indivíduos portadores de afecções oculares. O dimensionamento de aspectos dessa problemática, por meio da investigação científica, provê base concreta para o planejamento de ações curativas e preventivas relacionadas à saúde ocular.

Em termos de Saúde Pública destacam-se três campos principais a merecerem investigação: os que compreendem a variável técnica ou tecnológica, a variável administrativa e a variável humana ou social(3).

"O planejamento de ações de saúde que requerem a participação da comunidade deve ser realizado mediante o conhecimento prévio acerca do que aquelas pessoas sabem, acreditam, desejam ou rejeitam e fazem, em relação ao problema de saúde, objeto do programa"(3-4). Esse princípio é aplicável também às ações educativas.

Nesse enfoque, a metodologia deste estudo refere-se à pesquisa de fatores humanos.

Segundo a OMS a avaliação multidisciplinar envolvendo médicos, psicólogos e educadores levam à compreensão das necessidades educacionais especiais da criança(5). Estes novos conceitos associados à melhor compreensão das conseqüências psicológicas e educacionais da deficiência visual aumentam as oportunidades dessas crianças, mesmo as portadoras de níveis de visão quantitativamente baixos. Programas foram desenvolvidos não apenas para avaliar os níveis de percepção visual, como também para valorizar as informações clínicas sobre acuidade e campo visual.

A sociedade arca com prejuízos elevados em decorrência da falta de atenção com a saúde visual, representados pela diminuição de produtividade da sua força de trabalho e o elevado custo de ações de reabilitação. Acrescem-se a isto, conseqüências psicológicas, sociais e econômicas para o deficiente visual devidas às restrições ocupacionais, diminuição da renda, perda de "status", de auto-estima, de autoconfiança. Desse modo, a qualidade de vida é afetada, como vem-se observando especialmente em países em desenvolvimento(6-8).

Nesse sentido observa-se a necessidade de conhecer melhor a situação dos deficientes visuais para que haja o planejamento de ações que minimizem tais prejuízos.

A criança/adolescente, portadora de deficiência visual está inserida no sistema público de ensino? Ela conhece e utiliza os recursos apropriados às suas necessidades para viabilizar seu processo de escolarização?

Essas indagações deram origem ao presente estudo, que teve o objetivo de verificar percepção e conduta de escolares portadores de deficiência visual em relação aos recursos ópticos e equipamentos utilizados no processo de escolarização.


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