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Validade da aferição da acuidade visual realizada pelo professor em escolares de 1a à 4a série (página 2)

Edméa Rita Temporini

 

5. Resultados

Em vista dos resultados obtidos neste tipo de estudo, os dados serão apresentados sob a forma de tabelas, para melhor análise individual, conjunta e comparativa.

A Tabela 1 apresenta a distribuição da diferença em número de linhas (tabela optométrica de Snellen) dos resultados obtidos pelo professor e pelo oftalmologista na aplicação do teste de acuidade visual em 1.352 escolares.

Observa-se que em 67,62% dos casos não houve discordância de resultados obtidos pelo professor e pelo oftalrnologista e que em 13,24% houve discordância de apenas uma linha em qualquer dos olhos. Isto nos dá um percentual de 80,86% de resultados concordes, considerando-se não significativa a diferença de uma linha.

À medida em que aumenta a diferença em número de linhas, há uma queda progressiva da discordância de resultados entre o professor e o oftalmologista; assim, nota-se que na diferença de 5 e mais de 5 linhas, aparecem somente 23 casos (1,70%) e 29 casos (2,14%), respectivamente.

A Tabela 2 apresenta a distribuição das diferenças em linhas (Tab. Snellen) de resultados obtidos pelo professor e pelo oftalmologista na aplicação do TAV, nas classes de pré-primário, de 1a a 4a série e de classe especial.

Tendo sido considerada a diferença de uma linha como não significante, observa-se um total de concordância em 80,86% dos casos (67,62% e 13,24%), distribuída pelas classes de pré-primário (60,00%), de 1a série (81,02%), de 2a série (77,77%), de 3a série (85,45%), de 4a série (81,23%) e de classe especial (66,68%). Considerando as diferenças de 5 e mais 5 linhas somadas, notam-se as seguintes freqüências relativas, 20,00%, 3,31%, 6,09%, 1,98%, 3,37% e 6,66 respectivamente para as classes de pré-primário, 1a, 2a, 3a e 4a séries e especial.

As Tabelas 3 e 4 apresentam as diferenças de resultados na aplicação do teste de acuidade visual pelo professor e pelo oftalmologista relacionada aos olhos testados, ou seja, em ambos os olhos (AO), olho direito (OD) e olho esquerdo (OE), separadamente, para uma melhor análise destas diferenças.

Observa-se que a diferença se apresentou em ambos os olhos em 237 casos (17,52%), no olho direito em 91 casos (6,73%) e no olho esquerdo em 110 casos (8,13%).

Nota-se ainda, por exemplo, que, na diferença de uma linha, aparecem 62 casos com discordância em ambos os olhos, 56 com discordância no olho direito e 61, no olho esquerdo, mostrando que tal discordância ocorre praticamente de maneira indiferente, qualquer que seja o olho testado.

Constata-se ainda pela Tabela 3 que à medida em que aumenta a diferença em número de linhas entre os resultados do teste do professor e do médico, diminui a freqüência de discordância, verificado em ambos os olhos (AO); assim é que, enquanto na diferença de uma linha encontramos 62 casos (26,16%), e na diferença de 2 linhas aparecem 75 casos (31,67%), ao mesmo tempo, na diferença de 5 e + de 5 linhas verificam-se 19 casos (8,01%). Observa-se a mesma diminuição da freqüência de discordância quando se considera OD ou OE separadamente.

6. Discussão

Tendo-se em vista que a diferença de uma linha não foi considerada significativa, encontrou-se uma concordância de resultados de 80,86% entre o professor e o oftalmologista (Tabela 1).

À medida em que aumentava a diferença em número de linhas, diminuia progressivamente a freqüência da discordância dos resultados. Pode-se supor que tal disparidade de resultados seja devida a fatores inerentes à criança (falta de atenção, simulação, timidez e vícios de refração); fatores do meio ambiente e fatores inerentes à execução da técnica de aplicação do teste (professor e médico)4,9.

Assim é que, em dois casos em que o resultado do TAV foi menor que 0,1 foram realizadas 3 retestagens pelo médico, após constatada emetropia pela esquiascopia estática. Somente na terceira testagem foi possível aferir a acuidade visual verdadeira, com resultado igual a 1,0 (normal).

Idealmente os resultados dos testes realizados ao nível das escolas deveriam corresponder aos obtidos pelo oftalmologista em seu consultório, entretanto, a medida da acuidade visual nem sempre se repete, mesmo quando realizada nas melhores condições. Ressalta-se tratar de um exame subjetivo, em que se depende da informação da criança (Sloane8, 1950), sendo o fator psicológico muito importante nesses exames (Berens1, 1938).

Lippman5 (1969) encontrou diferenças entre 10 a 20% dos resultados obtidos por oftalmologistas medindo a acuidade visual do mesmo grupo de crianças.

Borg & Sundmark 2, em estudos comparativos em escolares, mostraram que as crianças melhoram progressivamente as respostas ao teste com as retestagens, quer quando realizadas com os mesmos métodos, quer com métodos diferentes.

Observou-se que à medida em que aumentava a diferença em número de linhas entre os resultados do teste do professor e do médico, diminuia a freqüência de discordância.

Verificou-se também que, à medida em que aumentava a desigualdade da aferição entre o professor e o médico, isto acontecia em ambos os olhos, o que evidencia uma dificuldade de interpretação daquelas crianças para responder o teste. (Tab. 3 e 4)

Apesar do pequeno número de escolares de pré-primário e de classe especial incluídos neste levantamento, os resultados da Tabela 2 mostram que o percentual de concordância em tais alunos foi inferior aos encontrados nas demais séries, demonstrando que há uma maior dificuldade na interpretação do teste, requerendo, portanto, maior treino por parte do aplicador3.

7. Conclusões

– Considera-se altamente válida a aplicação do teste de acuidade visual em escolares pelo professor devidamente treinado, como tem ocorrido na rede de ensino estadual oficial do Estado de São Paulo.

– O professor deve ser alertado para os possíveis diferentes tipos de comportamento do aluno durante a testagem (simulação, falta de atenção, timidez).

– Como medida de saúde pública, nas condições atuais, deve ser o professor o elemento a aplicar o teste de acuidade visual nos alunos, para efeito de triagem a nível de escola.

 

8. Referências bibliográficas

1. BERENS, C. Kindergarten visual acuity chart. Amer. J. Ophthal., 21:667-9, 1938.

2. BORG, G. & SUNDMARK, E. A comparative study of visual acuity tests for children. Acta ophthal., 45:105-13, 1967.

3. HENDERSON, J. W. The significance of vision problems of children and youth ambliopia. J. Pediat. Ophthal., 6:11-5, 1969.

4. HOLLAND, N. W. Taking stock. Lancet, 2:1494-7, 1974.

5. LIPPMAN, O. Vision of young children. Arch. Ophthal., 81:764-75, 1969.

6. PLANO de Oftalmologia Sanitaria Escolar – São Paulo, Secretaria da Saúde e Secretaria da Educação, 1973. (Apresentado ao II Congresso Brasileiro de Saúde Escolar, Guanabara, 1973).

7. SCOBEE, R. G. Needless referals. Amer. J. Ophthal., 33:1302-3, 1950.

8. SLOANE, A. E. & ROSENTTHAL, P. School vision testing. Arch. Ophthal., 64:763-70, 1960.

9. TEMPORINI, E. R. et al. Supervisão em oftalmologia sanitária escolar na região da Grande São Paulo. [Apresentado ao XVIII Congresso Brasileiro de Oftalmologia, Fortaleza, 1975] (mimeografado).

* Embora a população alvo do POSE seja alunos de pré-primário, classe especial e 1a série do 1o grau, muitas escolas já vêm sistematicamente procedendo à verificação da acuidade visual nas demais séries do 1o grau.

Edméa Rita TemporiniI; Newton Kara JoséII; Alberto TaiarI; Maria de Lourdes FerrariniI - ertempor[arroba]usp.br

IDo Departamento de Assistência ao Escolar da Secretaria de Estado dos Negócios da Educação – Rua Piratininga, 85. São Paulo, SP – Brasil

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