A violência na adolescência: um problema de saúde pública



1. Resumo

Este artigo trata da problemática da violência na adolescência, fenômeno extremamente grave hoje, do ponto de vista social e de saúde pública. Procura-se mostrar que a "adolescência" como etapa biológica da vida possui, na sua configuração, um peso social fundamental. Não existe adolescência em geral, assim como não há violência em geral. Tomando como base a classificação da Organização Mundial da Saúde, constata-se que as "causas externas" constituem a primeira causa de morte na faixa etária de 5 a 14 anos (46,5%) e dos jovens de 15 a 29 anos (64,4%), no conjunto das causas de mortalidade desses grupos de idade.

2. Abstract

The present article deals with the problem of violence in adolescence, an extremely serious problem from the social and public health point of view. On attempt is made to show that "adolescence" as a biological stage of our lives, has a fundamental social weight in its configuration. There is no general adolescence, just as there is no general violence. Based on the classification of the World Health Organization, it was found out that "external causes" constitute the major death cause in age groups of 5-14 (46,5%) and 15-29 (64,4%)in the overall death causes among these age groups.

3. Introdução

Então comecei a questionar a possibilidade de falar dos jovens do mundo, ou da juventude contemporânea: o que existe de comum no adolescente camponês, seminu, desnutrido, estranho em sua terra, na terra de seus antepassados, errante e náufrago de sua própria cultura, com o jovem de Boston, Los Angeles ou com o adolescente dos subúrbios da cidade do México, Bogotá e Buenos Aires? Que tinha em comum esse garoto de cabelo comprido, moreno, fraco e adormecido para sempre no anfiteatro de Manágua (com as mãos crispadas pelo último disparo e um infindável sorriso de incredulidade ante a morte) com aquele outro jovem que vi entrar no hospital de Nova York, para ser tratado de um problema de superalimentação (excesso de proteínas, vitaminas, etc )? Muito pouco. Realmente muito pouco.

4. André Vernot

É muito importante que, num Fórum de debate sobre a saúde do adolescente, a questão da violência seja colocada, embora essa abordagem no campo da saúde seja ainda hoje muito limitada. A análise da morbi-mortalidade é feita através da Classificação Internacional das Doenças da Organização Mundial da Saúde (CDD — 9, 1975) como "causas externas": causas não-naturais — lesões e envenenamentos — que afetam as pessoas, bem como todos os tipos de acidentes e violências que originam essas lesões.

A mortalidade por causas externas constitui-se hoje no terceiro grupo de causas no conjunto da mortalidade geral no Brasil, portanto como um grave problema de Saúde Pública. É esse mesmo grupo de causas que explica, respectivamente, 46,5% das mortes na faixa etária de 5 a 14 anos e 64,4% da morte dos jovens de 15 a 29 anos (Szwarcwald, 1989), sendo nesses segmentos etários a primeira causa de morte. São dados estarrecedores que apresentamos em tabelas, a seguir, como pano de fundo para uma reflexão mais reveladora.

Evidentemente que esse grupo de causas não consegue dar conta de todos os tipos de violência que nossa consciência social conhece. No entanto, constituem parâmetros importantes para pensarmos, do ponto de vista da saúde, tanto a "previnibilidade" como a "previsibilidade" das ações, como chama a atenção Mefio Jorge (1988).

1) A etapa da vida humana de maior risco de mortes por causas violentas éade10 a 19 anos, portanto a adolescência.

2) Os meninos estão sempre mais vulneráveis que as meninas, numa relação de 10 para 1 a 2.

3) Os homicídios e acidentes de trânsito concorrem entre si como motivos para a morte dos adolescentes e, curiosamente, os suicídios — que nas nossas estatísticas não possuem um grau de significância considerável — também ocorrem com maior freqüência no grupo masculino de 10 a 14 anos.

4) Dentro dos dois sexos, a mortalidade por causas externas é crescente nas faixas de mais idade.

5) A mortalidade por homicídio na adolescência, no Brasil, tem sua relevância maior no eixo Rio—São Paulo, as duas maiores metrópoles do país, e é preocupante e crescente em Recife.

6) A magnitude da mortalidade por causas externas em adolescentes é extremamente alta nos municípios das capitais dos estados das regiões Sudeste e Sul e é muito mais significativa nas áreas urbanas que no interior.

Como se pode ver, os quadros e tabelas de mortalidade sobre o tema que aqui nos preocupa já podem ser montados com uma certa precisão, embora todos os epidemiologistas se queixem das dificuldades que encontram para estabelecer a fidedignidade dos dados. Do ponto de vista da morbidade e do custo social, pouco se tem conseguido. Vários autores calculam que a morbidade gerada pela violência chega a ser 200 a 400 vezes maior do que a mortalidade (Mello Jorge, 1988, 16).


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