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Uso de drogas na adolescencia e familia (página 3)

Nathalia Justino
Partes: 1, 2, 3

2 Tratamento e Políticas Públicas Sociais em Dependência Química

2.1 Tratamento da Dependência Química na Adolescência e o Acompanhamento Familiar Durante o Processo

Para iniciar esta instigante discussão, buscamos a princípio compreender como se estabelece a dependência química nos adolescentes, que possui suas particularidades e entraves. Utilizando as análises de Stewart e Brown (1995) apud Scivoletto (2001), o quadro de abuso de substâncias na adolescência pode ser reconhecido em alguns níveis de consumo de álcool e outras drogas, que muitas vezes são considerados normais durante a adolescência.

Segundo a versão mais recente, a quarta edição do DSM (DSM – IV, Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), o diagnóstico de distúrbio por uso de substâncias psicoativas, seja o quadro de dependência ou abuso, implica um padrão de uso mal adaptado da substância, que leva a disfunções e prejuízos, caracterizados através de critérios que são definidos, separadamente, para dependência e abuso.

Portanto, o diagnóstico de dependência ou abuso de substâncias na adolescência implica que estes apresentem prejuízos e disfunções causados pelo uso. Entretanto, há poucos estudos sobre a aplicabilidade dos critérios existentes para o diagnóstico de abuso e dependência para adolescentes.

Scivoletto (2001, p.68) argumenta que a maioria dos estudos que procuram validar os critérios diagnósticos atuais é realizada com pacientes adultos. São necessários estudos específicos sobre as características particulares do uso de drogas na adolescência para validação dos critérios diagnósticos empregados nesta faixa etária.

A autora vai afirmar que uma das principais diferenças encontradas nestas duas populações (adultos e adolescentes) é que os adolescentes da mesma maneira que iniciam o consumo de substâncias mais cedo, estes, tendem a iniciar o tratamento com menor tempo de uso, desta forma, os jovens teriam menos tempo para apresentar deterioração de suas funções físicas, psicológicas e sócias.

Outro fator que dificulta o diagnóstico entre adolescentes, é que estes, dificilmente apresentam sintomas físicos de dependência, na forma de tolerância e sintomas de abstinência. Scivoletto volta a argumentar a respeito da necessidade de programas de tratamento especialmente desenvolvidos para faixas etárias mais jovens, uma vez que as necessidades desta população são diferentes das dos adultos.

Scivoletto (2001) ainda discute sobre a efetividade dos tratamentos para adolescentes que requer uma intervenção ou tratamento para minimizar o nível de disfunções causadas pelo uso abusivo de drogas, assim como prevenir conseqüências prejudiciais futuras. Entretanto, apesar do conhecimento de que qualquer modalidade de tratamento possa ajudar muito dos pacientes usuários ou dependentes de drogas, não se beneficiam de um tratamento padrão ou tradicional. Indivíduos diferentes necessitam de tipos, intensidades e combinações diferentes de tratamento.

As principais dificuldades metodológicas citadas por Scivoletto (2001, p.69), sobre efetividade no tratamento para adolescentes incluem a avaliação inicial que se trata de uma avaliação detalhada do padrão de consumo de drogas pelo adolescente, fornecendo informações sobre o nível de envolvimento com as drogas e a gravidade do quadro clínico. Esta avaliação é especialmente importante na elaboração da estratégia terapêutica, por exemplo, se o tratamento se dará em regime de internação ou ambulatorial.

Entre as dificuldades metodológicas citadas acima, também incluem a falta de uma definição clara do que é sucesso ou fracasso terapêutico, mensuração pobre e inadequada das variáveis durante o seguimento e falhas no acompanhamento, incluindo a baixa aderência ao tratamento e pouco tempo de seguimento.

Um dos problemas relacionados ao tratamento de adolescentes é que a maioria dos tratamentos disponíveis na área de dependência de drogas foi desenvolvida para a população adulta, como foi citado acima, incluindo basicamente desintoxicação, programas ambulatoriais de psicoterapia e internação farmacológica (SEMLTTZ e GOLD, 1986 apud SCIVOLETTO, 2001 p.69).

Quando é solicitado dos adolescentes que fiquem abstinentes ao álcool e as drogas no inicio do tratamento, eles encontram dificuldades porque não conseguem e, muitas vezes, não sabem preencher seu tempo com atividades não relacionadas às drogas.

Diferentemente dos adultos, que já haviam desenvolvido seus papéis na sociedade antes da disfunção causada pelo uso indevido de álcool e/ou drogas, o adolescente ou pré-adolescente sabe, instintivamente e logicamente, que não pode retornar aos 08 ou 10 anos de idade.

Portanto, é indiscutível a necessidade de programas de tratamento especialmente desenvolvidos para as faixas etárias mais jovens, uma vez que as necessidades desta população são diferentes dos adultos.

Geralmente as abordagens terapêuticas existentes necessitam serem articuladas, principalmente por partirem da premissa de que não existe um padrão único de usuário/dependente de drogas, da mesma forma que não existe um tratamento único.

Conforme Scivoletto (2001, p.78) Uma das modalidades de tratamento é a Hospitalar em Regime de Internação, este tipo de abordagem permite que se tenha total controle sobre o comportamento do jovem e que se possa oferecer-lhe a certeza de que estará longe das drogas em uso e também de quaisquer outros comportamentos impulsivos.

Mas para essa modalidade são reservadas algumas indicações, tais como: comportamento suicida; risco de desenvolver síndrome de abstinência ou outras complicações clínicas; necessidade de tratamento de outras co-morbidades psiquiátricas e falência na tentativa de tratamento ambulatorial. Idealmente, os programas devem ser multidisciplinares, para que possam oferecer uma abordagem biopsicossocial e também envolver a família no processo.

Kaminer e Szobot (2004) afirmam ainda, que no Brasil existem leis a respeito da internação de crianças e adolescentes destacando-se a necessidade de um ambiente propício a essa etapa de desenvolvimento. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em seu artº12, recomenda que os adolescentes sejam internados com acompanhamento de um familiar ou responsável, em tempo integral. Os autores ainda observam que uma unidade psiquiátrica designada para adultos não é ambiente recomendado para internação de um adolescente usuário de drogas.

Outra modalidade de tratamento é a Ambulatorial, esta forma de tratamento é mais comum atualmente, mais apresenta certas dificuldades quando há negação do problema pelo jovem ou sua família, ausência do desejo de abstinência, recusa em renunciar aos comportamentos praticados pelos companheiros de grupo que usam drogas e falta de motivação.

O tratamento ambulatorial é o tipo mais acessível de tratamento, não só pelo seu menor custo, como pelas vantagens que ele apresenta. Ao contrário do que se imagina o tratamento ambulatorial, é mais efetivo do que a internação, pois procura tratar a pessoa sem tirá-la do ambiente no qual ela vive e nem afastá-la das tarefas do dia-a-dia. Também é possível desenvolver com o paciente um tipo de atendimento mais longo que inclua reinserção social, prevenção de recaída, etc. Quando o paciente é encaminhado para um serviço ambulatorial, a família deve estar envolvida no tratamento sendo que o paciente deve ter consciência da sua responsabilidade no processo.

Alguns recursos comunitários são indicados tais como, os serviços de aconselhamento, grupos de mútua ajuda (Alcoólicos Anônimos – AA e Narcóticos Anônimos - NA), Centros de informações, Serviços educacionais e vocacionais e Centros comunitários de saúde mental (COVERT e WANGBERG, 1992; LAWSON, 1992 apud SCIVOLETTO, 2001 p.80).

Os grupos de auto-ajuda são grupos organizados por ex-dependentes e têm como base a troca de experiências, o aconselhamento e a religião. Os grupos de auto-ajuda não seguem nenhuma teoria específica, mas são extremamente eficientes, pois lidam com relatos de experiências vividas por outros dependentes que, desta forma, percebem o seu problema de uma outra maneira. Existem diferentes tipos de grupos de acordo com a dependência. Os A.A (Alcoólicos Anônimos) destinam-se a alcoólicos, os N.A. (Narcóticos Anônimos) são para dependentes químicos, o Amor exigente e ALANON são para familiares de dependentes. Para os adolescentes existe o ALATEEN.

O ALATEEN nasceu em 1957 quando os adolescentes da família de alcoólicos perceberam que seus problemas eram diferentes dos adultos. Um jovem de 17 anos, incentivado pelos seus pais, que faziam parte de A.A., convidou 5 adolescentes com pais alcoólicos a se juntarem a ele e formar um grupo. A idéia teve êxito e o grupo começou a crescer.

ALATEEN tem tido um acelerado crescimento desde seu humilde começo e reconhecido como um importante recurso para as pessoas afetadas pelo alcoolismo de alguém que amam, oferecendo ajuda e esperança aos parentes e amigos de alcoólicos, quer o alcoólico esteja bebendo ou não.

Também existem as Comunidades Residenciais Terapêuticas, que tem como proposta a abordagem terapêutica, visando à proibição do uso de drogas, com uma rotina diária fortemente estruturada. O tratamento inclui rotinas diárias intensivas envolvendo terapia de grupo e aconselhamento individual e educacional. Cada indivíduo tem suas responsabilidades no trabalho diário na comunidade, que faz parte do processo educativo.

Para Kaminer e Szobot (2004) é importante que este tipo de tratamento seja específico para adolescentes. Sabe-se que o tempo de permanência dos adolescentes é menor, e também que eles precisam de mais auxílio e supervisão dos membros da equipe. Os adolescentes também possuem outras necessidades que diferem das necessidades dos adultos, como mais ênfase no estudo e na educação do que no trabalho e mais envolvimento da família.

De acordo com os autores o tratamento em Comunidades Terapêuticas é indicado para pacientes com uso muito grave de drogas e que já fizeram tentativas sucessivas em outras modalidades de tratamento. Também é indicada para aqueles pacientes com fraco suporte familiar.

A família neste contexto é chamada a participar do tratamento. Independente do caso, a abordagem familiar é parte integrante e indispensável no tratamento de adolescentes com problemas relacionados ao uso de substancias psicoativas. Não só do tratamento do adolescente dependente, como em qualquer caso de dependência química, seja na infância, juventude ou velhice.

Frequentemente, o problema acaba gerando fortes sentimentos de culpa e frustrações em todos os membros da família. Torna-se necessário uma comunicação clara, na busca de soluções satisfatórias para todos, é dessa forma que se recuperam valores perdidos e se ajuda o adolescente.

Mckay e cols (1991) apud Scivoletto (2001, p.73) observaram que as famílias de dependentes apresentavam disfunções principalmente nas áreas envolvidas com expressão de afeto e de estabelecimento de limites e papeis na estrutura familiar. É difícil para o adolescente aprender a lidar com seus sentimentos quando vive num ambiente na quais as emoções não são expressas, discutidas ou são pouco toleradas.

Da mesma forma, em famílias nas quais os papeis de cada membro não são claros e há ausência de limites precisos, torna-se difícil para o adolescente acreditar que a família atenderá suas necessidades. Essa carência de apoio familiar pode levar o adolescente usuário de drogas a aumentar o consumo, uma vez que ele pode fazer o uso desta como alternativa para lidar com o stress gerado nesse ambiente.

2.2 Políticas Públicas e Dependência Química: Propostas do Ministério da Saúde

Veloso, Carvalho e Santiago (2004) em suas análises vão levantar questões muito importantes no âmbito das políticas públicas sociais em dependência química, que sem a menor dúvida contribuem substancialmente na eficácia e na aderência das práticas de tratamento e de prevenção.

Inicialmente, os autores irão colocar em debate o discurso discriminatório e estratégias de culpabilização e condenação moral aos sujeitos que apresentam problemas com drogas. Para MARLATT e GORDON (1993) apud BAIOCO (1999, p.34) esta é uma visão baseada na moralidade cristã, "alguém com adição é alguém a quem falta fibra moral para resistir à tentação".

Boa parte dos programas preventivos e assistenciais possui caráter repressivo que servem de reforço para a desqualificação moral existente em torno dos usuários de drogas, que também refletem em suas famílias, produzindo muito sofrimento, culpa e vergonha (VELOSO, CARVALHO E SANTIAGO, 2004 p.166).

A propósito, Hygino e Garcia (2003 p. 37) afirmam que em sua grande maioria os programas preventivos ainda pertencem ao domínio da moralidade,

Que dificulta tremendamente a possibilidade de o usuário de identificar com a mensagem contida (...) o que pode indicar que as campanhas, de certo modo, excluem o usuário e buscam se antecipar aos que ainda não utilizam à droga, prevalecendo da construção de uma imagem negativa a respeito do drogadicto.

Desta maneira, Veloso, Carvalho e Santiago (2004 p.166) apontam para uma forte tendência entre os profissionais em reforçar esta construção moralizante nos âmbitos institucionais, que costumam denominar o drogadicto como alguém que não merece confiança: "todo drogado é mentiroso, preguiçoso, desonesto e sedutor".

Observa-se que as pessoas costumam rotular o usuário de drogas como marginal, subversivo, entre outros, sem verificar os fatores que levaram a pessoa a fazer uso de drogas.

As políticas públicas, de fato, têm se utilizado de modalidades que possam intervir nos comportamentos humanos na busca da correção de desvios de padrões dos sujeitos. Em 1980, atendendo a Lei n° 6.368, são criados pelo Decreto n° 85.110 os primeiros órgãos governamentais ligados à questão das drogas no Brasil: o Conselho Federal de Entorpecentes (CONFEN), os Conselhos Estaduais de Entorpecentes (CONENS) e os Conselhos Municipais de Entorpecentes (COMENS). Essa lei norteou a política de drogas no país, porém reduzida à inibição somente das drogas ilícitas, conforme acordado em convenções internacionais. Embora a formulação de uma Política Nacional sobre Drogas estivesse em pauta desde os anos 80, somente se concretizou em 2001, a partir da Política Nacional Antidrogas (PNAD).

A Política Nacional Antidrogas propõe que se evite qualquer contato com a droga, com ações de prevenção. Há uma preocupação com os usos não dependentes, uma vez que, são considerados perigosos e que merecem atenção, procurando não desenvolver um trabalho repressivo. "A criminalização tem prejudicado totalmente as políticas de prevenção, pois afasta e estigmatiza o usuário dependente, e diminui a probabilidade deste procurar tratamento em instituições públicas de saúde" (VELOSO, CARVALHO e SANTIAGO, 2004 p.171).

Como proposta educativa de prevenção do uso abusivo ou indevido de drogas criou-se o programa de Redução de Danos, propondo àqueles que não querem ou não conseguiram deixar de usar drogas, que se faça o uso com maior segurança evitando assim outras doenças. Como por exemplo, o uso de drogas injetáveis, é fornecido ao usuário um kit com materiais descartáveis, além da realização de um trabalho educativo acerca dos males das drogas.

Sobre o Programa de Redução de Danos os autores Veloso, Carvalho e Santiago (2004 p.191) fazem as seguintes colocações:

A estratégia da redução de danos envolve o reconhecimento em cada usuário de suas singularidades, pela possibilidade de traçar com ele estratégias que estão voltadas não para a abstinência como objetivo a ser alcançado, mas para a defesa de sua vida, denominando esta abordagem de clínico política.

O PRD (Programa Redução de Danos) é um modelo de tratamento e prevenção recente em pauta, que divide opiniões e encontra-se em pleno processo de construção teórico-metodológica.

De acordo com o Ministério da Saúde, a Redução de Danos surgiu na Inglaterra em 1926 com seis relatórios de Rolleston, o qual estabelecia um princípio de que poderia um médico prescrever legalmente substâncias derivadas do ópio para os dependentes dessa droga como forma de tratamento.

Nery Filho e Torres (2002 p.36) contextualizam esta prática discutindo acerca do advento da AIDS, na década de 80, que fez com que diferentes setores da sociedade se mobilizassem na elaboração de Política Pública de Saúde, que exigiram reflexões sobre os conceitos de prevenção, promoção à saúde, vulnerabilidade, direitos humanos, na interação de favorecer o surgimento de ações que produzissem a adoção de comportamentos menos arriscados para a saúde.

Os autores vão dizer ainda que as primeiras medidas de redução de danos surgiram da Holanda, quando se resolveu disponibilizar seringas descartáveis entre os usuários de drogas injetáveis (UDI) como forma de enfrentar uma epidemia de hepatite entre esta população.

Malbergier (2001, p.88) pontua que no Brasil alguns estudos apontam para a alta prevalência da infecção pelo HIV em usuários de drogas injetáveis. Esta prevalência varia de 36 a 57% em grandes cidades da região Sudeste do país (São Paulo, Rio Janeiro e Santos) (CASTEL e cols, 1989; LIMA e cols, 1991; MESQUITA e cols, 1991 apud SCIVOLETTO, 2001 p.88).

Entende-se por redução de danos:

Uma política que visa diminuir ao máximo os efeitos negativos ou lesivos do uso de drogas. Esta nova abordagem tem suas raízes em modelos de saúde pública com uma visão mais humanista e sem preconceitos [...] (NEWCOMBE, 1992 apud MALBERGIER, 2001 p.91).

Nery Filho e Torres (2001, p.35) definem a redução de danos como um conjunto de medidas de prevenção e redução das conseqüências negativas para a saúde decorrentes ao uso de drogas, sem condicionar a sua oferta ao abandono do uso de drogas.

O’Hare (1994) apud Malbergier (2001, p.94) afirma que, no caso de países em desenvolvimento como o Brasil, deve-se atentar para alguns fatores estruturais que podem inibir as iniciativas de redução de danos. Deve-se levar em conta o lugar que tal substância ocupa propostas que implicam simplesmente dizer não às drogas, tem se mostrado pouco eficaz para uma boa parcela de usuários.

O Ministério da Saúde vai adotar três estratégias para o controle do uso de drogas:

A primeira visa à redução da oferta e se caracteriza pelo desenvolvimento de ações de erradicação de plantações e destruição de princípios ativos de repressão à produção, ao refino e ao tráfico de substâncias precursoras e de drogas. A segunda tem por objetivos a redução da demanda, dirigindo ações, esforços e recursos para desestimular ou diminuir o consumo e para tratar usuários e dependentes. A terceira redução de danos orienta a execução de ações para a prevenção das conseqüências danosas à saúde que decorrem do uso de drogas, sem necessariamente interferir na oferta ou no consumo. (MANUAL DE REDUÇÃO DE DANOS, 2001 p.11).

A proposta de redução de danos tenta compreender as normas culturais e trabalhar em seu âmbito focalizando a alteração dos fatores que, de fato permitirão mudanças de comportamentos.

Mesmo, sustentada por propostas transparentes, subsidiado por arcabouços teórico-metodológico e técnico-operativo bem definidos, este modelo de tratamento e prevenção ainda gera grandes debates acerca de sua eficácia.

Desta maneira, Nery Filho e Torres (2002, p.36) vão levantar uma questão muito discutida entre várias instituições ideológicas como à mídia, família e igreja. Não será arriscado dar seringas novas aos usuários de drogas injetáveis? Em resposta os mesmo dirão,

Não se trata do fornecimento puro e simples de seringas novas aos UDI’s [...] isto se dá, geralmente, mediado por um agente de saúde previamente treinado e capaz de fornecer, além de seringas, informações, orientações sobre sexo seguro, sobre o uso menos arriscado de drogas e de fazer encaminhamentos dos usuários aos serviços de saúde.

A utilização de ex-usuários como agentes socializadores de informações foi das grandes estratégias do programa de redução de danos, pois de acordo com Malbergier (2001) estes indivíduos são vistos como líderes ou modelos que conseguiram obter mudanças em seus comportamentos de risco, conseguindo assim, entrada facilitada nos grupos, atingindo as redes de sociabilidade visionando mudanças de hábitos.

Conforme Veloso, Carvalho e Santiago (2004) o diferencial da proposta de redução de danos consiste na diminuição dos danos provocados pelo uso de drogas, compreendendo a necessidade de modernização do discurso preventivo, objetivando recuperar a participação e o pensamento autônomo dos sujeitos, diferente de abordagens que priorizam a abstinência total de drogas, inscrita na Política Nacional Antidrogas (PNAD).

O governo tem reconhecido que é necessário se posicionar frente à dependência química e tem procurado desenvolver ações mais eficazes, não de forma repressiva, reconhecendo a subjetividade de cada indivíduo e a historicidade do fato. A Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD) órgão que tem propostas de enfrentamento da questão das drogas desenvolve atividades como a prevenção do uso indevido, o tratamento, a recuperação e a reinserção social. Porém, a denominação antidrogas denuncia o ideal de uma sociedade livre do uso de drogas ilícitas e do abuso de drogas lícitas.

Em 07 de maio 2003, por ocasião do Seminário Novos Cenários para a Política Nacional Antidrogas, o Ministério da Cultura firmou um Protocolo de Intenções celebrado entre o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, os Ministérios da Assistência e Promoção social, das Cidades, da Cultura, da Educação, do Esporte, da Saúde, do Trabalho e Emprego e do Turismo e as Secretarias Especiais dos Direitos Humanos e de Políticas para Mulheres. O objeto do Protocolo é integrar a implantação da Política Nacional Antidrogas e das políticas públicas dos órgãos signatários, promovendo a ação conjunta no campo da prevenção do uso indevido de drogas, assim como do tratamento, recuperação e reinserção social de dependentes químicos.

Ao firmar o Protocolo de Intenções, o Ministério da Cultura, entre outros compromissos, se prontificou a desenvolver estudos, programas e ações conjuntas para a redução da demanda de drogas e a redução dos danos decorrentes do seu uso.

Portanto, cabe agora a este Ministério propor ações e, conforme a proposta feita naquele seminário, contribuir para a intensificação do debate sobre os significados culturais do uso de drogas no Brasil e para o equacionamento de problemas que certos indivíduos venham a desenvolver em relação ao uso de psicoativos.

Reconhece-se que dentro do atual marco legal as opções que se apresentam  são limitadas, porém, acredita-se que muito ainda pode ser feito no sentido de desmistificar uma série de idéias  preconceituosas amplamente difundidas sobre esse tema e conscientizar a população sobre as dificuldades e erros da atual política. Dois eixos poderiam ser desenvolvidos nesse sentido. Um abordaria a necessidade de combater o atual reducionismo farmacológico, enfatizando a importância de se levar igualmente em conta os aspectos psicológicos, sociais e culturais da questão.

Outro poderia ser o questionamento da atual utilização do código penal para tentar dar conta da situação. Em substituição propor-se-ia a aplicação do código civil, diminuindo o estigma atribuído aos envolvidos com o uso de drogas ilícitas.

Nas discussões sobre a política nacional de drogas, tem defendido uma maior descentralização dessa política, criticando o termo unificador "drogas" como sendo demasiadamente amplo e mistificador, colocando num mesmo balaio, substâncias, usuários, práticas e contextos de uso muito diversos. Tem também propugnado constantemente a adoção de abordagens menos punitivas e mais construtivas como as que priorizam a redução de danos mais do que uma abstinência difícil de conseguir. Nesses posicionamentos, tem encontrado considerável respaldo por parte do Ministério da Saúde, que já vem adotando políticas de redução de danos ao fazer frente a problemas como a Aids, as Hepatites, a dependência de drogas e o consumo de bebidas alcoólicas.

De acordo com o Ministério da Saúde, o primeiro Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) do Brasil foi inaugurado em março de 1986, na cidade de São Paulo: Centro de Atenção Psicossocial Professor Luiz da Rocha Cerqueira, conhecido como CAPS da Rua Itapeva. A criação desse CAPS e de tantos outros, com outros nomes e lugares, fez parte de um intenso movimento social, inicialmente de trabalhadores de saúde mental, que buscavam a melhoria da assistência no Brasil e denunciavam a situação precária dos hospitais psiquiátricos, que ainda eram o único recurso destinado aos usuários portadores de transtornos mentais.

Nesse contexto, os serviços de saúde mental surgem em vários municípios do país e vão se consolidando como dispositivos eficazes na diminuição de internações e na mudança do modelo assistencial. Os NAPS/CAPS foram criados oficialmente a partir da Portaria GM 224/92 e eram definidos como "unidades de saúde local-regionalizadas que contam com uma população adscrita definida pelo nível local e que oferecem atendimento de cuidados intermediários entre o regime ambulatorial e a internação hospitalar, em um ou dois turnos de quatro horas, por equipe multiprofissional".

Os CAPS – assim como os NAPS (Núcleos de Atenção Psicossocial), os CERSAMs (Centros de Referência em Saúde Mental) e outros tipos de serviços substitutivos que têm surgido no país, são atualmente regulamentados pela Portaria nº. 336/GM, de 19 de fevereiro de 2002 e integra a rede do Sistema Único de Saúde - SUS. Essa portaria reconheceu e ampliou o funcionamento e a complexidade dos CAPS, que têm a missão de dar um atendimento diurno às pessoas que sofrem com transtornos mentais severos e persistentes, num dado território, oferecendo cuidados clínicos e de reabilitação psicossocial, com o objetivo de substituir o modelo hospitalocêntrico, evitando as internações e favorecendo o exercício da cidadania e da inclusão social dos usuários e de suas famílias.

Oliveira (2004 p.186) explana que a política do Ministério da Saúde para a Atenção Integral aos Usuários de Álcool e outras Drogas, publicada em Março de 2003, mostrou-se avançada, e muito bem elaborada, expondo suas diretrizes consonantes com os princípios da política de saúde mental vigente, em conformidade com a Lei Federal 10.216/2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais, redireciona o modelo assistencial em saúde mental, e as propostas e pressupostos da Organização Mundial da Saúde (OMS).

De acordo com Oliveira (2004 p.186) uma delas, é a portaria GM/816/2002, responsável pela instituição do Programa Nacional de Atenção Comunitária Integrada aos Usuários de Álcool e outras Drogas, no Sistema Único de Saúde, que considerou entre outras, a multiplicidade das características populacionais existentes no país e as diferenciações acerca da incidência de transtornos causados pelo uso abusivo e/ou dependência de álcool e outras drogas, para propor a criação de 250 Centros Psicossociais Álcool e Drogas – CAP’s ad.

De acordo com o Ministério da Saúde, para definir as suas estratégias de atuação, um CAP’s ad deve considerar obrigatoriamente que a atenção psicossocial a pacientes que apresentam uso abusivo/dependência de álcool e outras drogas deve ocorrer em ambiente comunitário, de forma integrada à cultura local, e articulada com o restante das redes de cuidados em álcool e drogas e saúde mental; o mesmo deve ocorrer em relação a iniciativas relativas à rede de suporte social.

Desta forma, poderá organizar em seu território de atuação os serviços e iniciativas que possam atender às múltiplas necessidades dos usuários de serviços, com ênfase na reabilitação e reinserção social dos mesmos.

A vulnerabilidade para o uso indevido de álcool e drogas é maior em indivíduos que estão insatisfeitos com a sua qualidade de vida, possuem saúde deficiente, não detêm informações minimamente adequadas sobre a questão de álcool e drogas, possuem fácil acesso às substâncias e integração comunitária deficiente.

Também vale a pena ressaltar que, se existem fatores de risco – características ou atributos de um indivíduo, grupo ou ambiente de convívios sociais, que contribuem para aumentar a ocorrência do uso indevido de álcool e drogas, também existem fatores específicos de proteção para este mesmo uso. Fatores de risco de proteção podem ser identificados em todos os domínios da vida: nos próprios indivíduos, em suas famílias, em seus pares, em suas escolas e nas comunidades, e em qualquer outro nível de convivência sócio-ambiental; estando interligados de forma consistente.

Os CAP’s ad devem oferecer atendimento diário, sendo capazes de oferecer atendimento nas modalidades intensiva, semi-intensiva e não-intensiva, permitindo o planejamento terapêutico dentro de uma perspectiva individualizada de evolução contínua. Possibilita ainda intervenções precoces, limitando o estigma associado ao tratamento. Assim, a rede proposta se baseia nestes serviços comunitários, apoiados por leitos psiquiátricos em hospital geral e outras práticas de atenção comunitária (internação domiciliar, discussão comunitária de serviços), de acordo com as necessidades da população-alvo dos trabalhos.

Entre as modalidades de atendimento, os CAP’s ad oferecem atenção ambulatorial diária aos dependentes químicos, desenvolvendo uma gama de atividades que vão desde o atendimento individual, medicamentoso, psicoterápico, de orientação, entre outros, até atendimentos em grupo ou oficinas terapêuticas e visitas domiciliares.

Também devem oferecer condições para o repouso dos usuários de serviços, bem como para a desintoxicação ambulatorial de pacientes que necessitem deste tipo de cuidados, e que não demandem por atenção clínica hospitalar.

Em todo o mundo, a abordagem terapêutica dentro de uma lógica de redução de danos tem apresentado resultados positivos, e vem assumindo importância considerável no tratamento de usuários de drogas. Desta forma, os CAP’s ad devem utilizar os recursos terapêuticos disponíveis para promover, o mais amplamente possível, a reabilitação psicossocial e a reinserção social de seus usuários.

Propõem-se, portanto que os CAP’s ad configuram-se como:

Redes flexíveis de cuidados, que possam responder por um determinado território populacional, e que se remodelem de forma dinâmica, mediante a necessidade de inclusão/exclusão de novos serviços e formas de cuidado, de forma pareada pela demanda assistencial (BRASIL, 2003 p.37).

Em 1992, a Prefeitura Municipal de Vitória inaugurou o CPTT - Centro de Prevenção e Tratamento ao Toxicômano, primeiro CAP’s ad em pleno funcionamento na Grande Vitória. O CPTT nasce, então, no movimento anterior às mudanças de paradigma da atenção à saúde, que antes era eminentemente médico, biológico e medicalizante.

Exercendo sua função como Centro de Referência, o CPTT desenvolve seu trabalho em equipe interdisciplinar, buscando apropriar-se de espaços de escuta com acompanhamento de cada situação, de como evolui o discurso e em que lugar a droga é colocada por cada sujeito.

Sua proposta é a abordagem integrada com enfoque multifatorial à questão do uso e abuso de drogas, na qual considera-se que o uso é conseqüência de um conjunto de fatores, e não apenas a causa. Além de dar assistência aos usuários de álcool e outras drogas e a seus familiares, o CPTT atua também na formação de agentes multiplicadores, na pesquisa e na prevenção, ressaltando o programa de redução de danos.

O processo de trabalho do CPTT era basicamente caracterizado pelo atendimento individual, ampliado em 1998 para ações coletivas coordenadas pela equipe que constitui uma gama de profissionais especializados (Assistente social, Psicóloga, Psiquiatra, Clínico, Enfermeiros, etc). Devido ao grande aumento da demanda, a instituição alargou seu atendimento aos municípios arredores, uma vez que o Centro de Referência foi projetado para atender apenas aos munícipes de Vitória, e atualmente atende inclusive o interior do Estado.

Foram criados os grupos de acompanhamento e novas atividades na Atenção Diária (semi-internação) como oficinas de teatro, música, literatura, pintura, entre outros. Em relação às condicionalidades de inserção, o CPTT recebe desde usuários que procuram tratamento por conta própria, até encaminhamentos de Unidades de Saúde, Hospitais e Justiça.

Não há restrição de sexo, raça/etnia e religião, a faixa etária contemplada vai da adolescência a idosos. O atendimento a crianças ainda é um projeto terapêutico em estudo, que passou a ser implantado na instituição no primeiro semestre de 2006, anteriormente à idade mínima para inserção ao tratamento era de 12 anos, o que não impedia o atendimento de casos isolados.

3 Análise e Apresentação dos Dados

3.1 Procedimentos Metodológicos

Os sujeitos deste estudo são familiares de adolescentes usuários de drogas em tratamento que participam do grupo de acompanhamento de família no Centro de Prevenção e Tratamento de Toxicômanos - CPTT da Prefeitura Municipal de Vitória.

O critério utilizado para selecionar os atores desta pesquisa foi à assiduidade no acompanhamento do grupo de família na instituição. Nesse sentido, buscamos selecionar oito colaboradores / familiares para desenvolver nosso estudo.

Objetivando garantir o anonimato de cada colaborador, sugerimos que os mesmos fossem identificados com as iniciais de seu nome, desta maneira, manteríamos o sigilo dos mesmos tornando mais confortável a realização da pesquisa.

Para iniciarmos a coleta dos dados, foi encaminhada a coordenação do CPTT uma carta solicitando autorização para realização da pesquisa. A coordenação concordou com a realização da pesquisa, e sugeriu que apresentássemos à equipe institucional os objetivos de nosso estudo.

Outro ponto levantado pela Instituição foi sobre a importância do grupo de pesquisadores ter um primeiro contato com os familiares, conhecendo assim a dinâmica do grupo antes da realização das entrevistas. Nesse sentido, ficamos três semanas observando o grupo, no qual cada dia uma das pesquisadoras participava da reunião.

Também foi apresentado o questionário que faria parte da entrevista ao coordenador da instituição, que avaliou o teor das perguntas e as consideraram pertinentes para ser utilizada junto ao grupo. Desta maneira, foi pré-estabelecido que nos dias das entrevistas, pelo menos uma das integrantes do grupo estivesse presente na reunião, enquanto as demais pesquisadoras estariam realizando as entrevistas.

Á princípio tivemos dificuldades de acompanhar o grupo devido ao pequeno número de participantes na reunião. Sendo assim, a Assistente Social considerou que seria impertinente que todas as integrantes da pesquisa estivessem presentes na reunião, uma vez que poderia constranger os integrantes do grupo.

Para realização dessa pesquisa utilizamos como instrumento de coleta de dados um gravador, no qual foram elaboradas sete perguntas aos familiares dos adolescentes relativas ao tema da pesquisa. Ao realizarmos a entrevista foi apresentado um termo de consentimento aos familiares para que eles estivessem cientes da pesquisa que iríamos realizar.

3.2 Análise dos Dados

Observamos através das entrevistas que a tomada do conhecimento do uso de drogas pelo adolescente se estabelece devido a dois fatores: A mudança de comportamento do adolescente e/ou mediante a intervenção da justiça.

Ao perguntar sobre a descoberta do uso de drogas pelo adolescente todas as respostas sugeriram uma desconfiança por parte do familiar, seja nas explosões de agressividade, comportamentos não habituais como: olhos avermelhados, falta de interesse escolar, freqüência de saídas noturnas, etc.

Ele chegava em casa com a vista irritada, com aquele voz assim... lesada, como eles falam. (G.R.Z)

Ah, a gente viu que ele tava mudando muito, ele não era um menino que ficava saindo, sair... aí depois a gente vimo que ele tava mesmo. ()

Então, compreende-se que há percepção por parte dos pais na mudança de comportamento dos jovens, porém eles tendem a negar esses acontecimentos como se não quisessem aceitar a possibilidade do adolescente estar fazendo uso de drogas, acreditando que tais mudanças são relacionadas às transformações comuns presentes na adolescência.

Isso nos faz retornar a discussão de Scivoletto (2004) que analisa a adolescência como uma fase de profundas mudanças estruturais, onde o jovem começa a questionar a regras instituídas no âmbito familiar e escolher seus caminhos.

Porém, mesmo com mudanças tão radicais, que foram confirmadas pelos familiares, em momento algum foi expresso por eles a tentativa do diálogo, ou seja, buscar saber junto ao adolescente os fatores que motivaram tantas mudanças.

Assim, percebemos uma brutal ausência de interação e participação na vida do adolescente por parte da família, que ao se distanciar cria um grande abismo entre ela e o jovem.

Minuchin (1974) apud Schenker e Minayo (2003) afirma que monitorar o comportamento do adolescente é de suma importância, porém, este não pode ser realizado de maneira mecânica, torna-se necessário criar uma relação de confiança com o adolescente e este pode ser adquirido pelo diálogo, que além de estreitar os laços entre jovem e família, cria uma sensação de conforto e bem estar no adolescente.

Torna-se necessário que a família acompanhe o adolescente, principalmente nessa fase de transição, para que ela participe do processo de construção da identidade do jovem, se interando de suas relações sociais, para assim se antecipar de problemas que possam vir a acontecer como uso de drogas e neles intervir. E esta intervenção, queremos deixar claro, que não deve ser de forma coercitiva, mais sim de maneira que o jovem sinta confiança e segurança na família sabendo que sempre poderá contar com ela.

Á propósito, Kalina e Kovadloff (1976) apud Freitas (2002) sustentam que é de indiscutível importância a participação da família em qualquer situação de drogadição, de maneira que esta sai de uma posição fatalista e percebe quais os fatores que levaram o estabelecimento do uso de drogas pelo adolescente, e em que ela pode contribuir para que este quadro não se agrave.

A influência das companhias também propicia a mudança de comportamento desses adolescentes, tendo em vista que a adolescência é um período de transformações biopsicossociais e que nela o jovem se sente fragilizado a ponto de imitar comportamentos de outros jovens aparentemente mais fortes ou que detenham, maior status na comunidade onde vivam.

Por causa das companhias que ela tava andando, o comportamento dela dentro de casa mudou totalmente. Dum mês pro outro, de um jeito que virou que, não tava tendo jeito mais. (M. F. S)

Em suas análises acerca do uso de drogas na adolescência, Freitas (2002) afirma que o uso de drogas na adolescência pode surgir por intermédio do grupo de amigos por este ser um local onde os jovens se identificam e experimentam sensações semelhantes, tornando-se um espaço de grande importância para o mesmo.

Mesmo que tais companhias exerçam influência sobre estes adolescentes, não podemos eximir a família e o próprio adolescente das responsabilidades do eventual uso de drogas, e percebemos que muitas famílias tendem a culpabilizar apenas o grupo de amigos pelo uso e isso na verdade não condiz a realidade.

Outro fato que desencadeou a descoberta do uso de drogas pelo adolescente foi à intervenção da justiça, citada por cinco dos sete entrevistados. Intervenção esta, que se estabelece pelo Conselho Tutelar na qual a própria família sem saber como proceder procura o órgão para obter orientação e encaminhamentos em casos de tratamento.

Também percebemos que a intervenção policial aparece com bastante freqüência nas falas dos familiares, na qual o adolescente é detido com substâncias psicoativas e encaminhado por determinação judicial ao tratamento.

Ele foi detido né... aí mandaram ele pro fórum, a juíza que pediu pra ele vim pra cá, falô assim que ele vai fica seis meses aqui (CPTT) (M L M).

A menina da assistência foi lá em casa, eu falei com ela; ela tinha encaminhado. Ela é lá de Guandu (Baixo Guandu). Ela encaminhou ele pro juiz. O juiz encaminhou ele pra assistência. A assistência encaminhou ele pra cá (CPTT). (M.G)

Notamos que a descoberta do uso de drogas pelo adolescente por intermédio da justiça geralmente causa grandes frustrações na família, e Laranjeira (2003) exemplifica isso muito bem quando diz que a princípio a família volta-se para si mesmo buscando descobrir em quais momentos erraram tanto, sendo que sempre deram de tudo aos seus filhos.

Nesse sentido podemos identificar uma outra categoria analisada, que diz respeito ao impacto da descoberta pelo familiar. Após a descoberta vem o sentimento de revolta, tristeza e uma sensação de impotência, onde a família a princípio pensa em abandonar o filho. Entretanto, os familiares dos adolescentes que são atendidos no grupo de famílias do CPTT estavam ali, seja por ordem da justiça ou pela preocupação com os adolescentes em questão, desempenhando seus papéis como família.

De acordo com Scivoletto (2002), ao saber do uso de drogas pelo adolescente a família tende a gerar sentimentos de raiva e frustração e acaba responsabilizando o grupo de amigos a qual o filho faz parte, isentando a si mesma e ao adolescente de qualquer culpa. Ora, o adolescente não pode se abster de sua responsabilidade, se ele optou em fazer uso de psicoativos, ele tem que se responsabilizar pelo mesmo.

Nery Filho e Torres (2002) salientam que existem muitos tabus e preconceitos acerca desta temática que devem ser desmistificados, desta maneira, o impacto da descoberta pode ser reduzido, uma vez que experimentar uma droga qualquer não significa o estabelecimento de uma dependência química. O fato precisa ser encarado com seriedade, porém sem exageros.

Ele alega que nunca usô droga, alega pra mim que tava no bolso dele porque colocaram...num sei o que, mais que ele não usa droga (pausa) e ele é normal em casa, desde quando foi preso não mudo nada, a mesma coisa, normal, ele é tranqüilo. (M. L. M.)

A partir desses sentimentos, buscamos verificar se a relação da família com o adolescente sofreu alguma mudança. Ao perguntarmos se ocorreu alguma mudança, todos responderam que não, mas durante o acompanhamento no grupo e ao longo das entrevistas, percebemos que há sim mudanças nas relações no âmbito familiar. Essas mudanças são expressas no posicionamento da família diante do adolescente, em que a primeira passa a assumir posturas policialescas e invasivas com o objetivo de controlar ou impedir o uso de drogas do adolescente.

Notamos que há uma ausência do uso do diálogo entre o adolescente e a família, que tendem a considerar diálogo como uma iniciativa em que um fala e o outro escuta calado. Este conceito é muito utilizado por alguns pais que por meio de sua autoridade exigem que os filhos acatem suas exigências sem discussão.

Este é um dos motivos que pode levar ao desentendimento de pais e filhos e criar um abismo entre eles. No caso da drogadição, as famílias tendem a insistir apenas neste assunto, como se o adolescente não possuísse outras necessidades, logo, o diálogo deixa de ser aparato de aproximação para tornar-se uma conversação desgastante sem que haja consenso entre as partes.

Agora ta totalmente diferente, igual falei com você; não ta saindo com as companhias, que as meninas chamava ela pra sair, agora ela não sai mais com essas meninas que levou ela, não ta andando com elas mais. Ta tranqüilo. (M. F. S)

Ah, ele não fica saindo mais, ele deixou os colegas dele de lado, assim, entendeu?. (V. S)

Os familiares entrevistados afirmaram que com o tratamento os adolescentes deixaram de ser agressivos, tornaram-se mais presentes em casa, abandonando as antigas companhias e, a família em si passou a dialogar. Isso traduz a importância e eficácia do tratamento que se configura na próxima categoria a ser analisada.

Observamos que cerca de quatro familiares buscou tratamento para o adolescente a partir da determinação da justiça devido a alguns adolescentes serem autuados pela polícia por estarem portando substâncias psicoativas. Dois procuraram por conta própria orientação no Conselho Tutelar e uma familiar buscou diretamente ao CPTT para que o adolescente fizesse tratamento, por sentirem, talvez, medo de que o jovem fosse efetivamente preso.

Eu fiquei sabendo porque a polícia veio né... prendeu ele na rua. Ele tava com uns garotos aí, prenderam ele". (M. G.)

ele passou mal a ultima vez que ele usô droga... aí o medico mandou trazer ele pra cá, internar ele numa clinica fechada. Aí ele falou assim que não ia aceitar ser internado, aí então eu procurei o Conselho Tutelar e o conselheiro comentou que aqui tinha um lugar pra tá trazendo ele. Aí ele falou que se ele quisesse vim traria ele aqui. Aí ele aceito vim. (V. S)

Numa visão geral o número de adolescentes que são encaminhados via justiça é esmagador. O que nos leva na questionar quais os fatores que levam esses adolescentes a fazer cada vez mais o uso de drogas e a cometer atos infracionais .

Entendemos que a família deve antecipar-se a esse tipo de situação a partir do momento em que o adolescente apresentar mudanças de comportamento ou sintomas físicos do uso de drogas, uma vez que ela, enquanto instituição socializadora, deve monitorar estabelecer limites e conhecer o grupo onde seu filho estabelece suas relações sociais.

Em relação ao estabelecimento de limites Rodrigues (2000) ressalta que o estabelecimento de limites significa direcionar até onde o jovem pode chegar em seu exercício de liberdade. Ao estabelecer limites a família repassa valores e experiências vividas para que o jovem possa assimilar noções de perigo, desta maneira a família reduz as possibilidades de envolvimento do jovem com drogas e ajuda a construir nele senso de responsabilidade que será fundamental nas relações que ele estabelecerá no futuro.

Também observamos que os malefícios causados pela droga, talvez não seja o principal fator que leva aos familiares buscar tratamento para o adolescente. Este fato está muito relacionado a questões éticas e morais arraigadas na família. Em geral a família procura no tratamento uma solução imediata para que o filho deixe de usar drogas, uma vez que a publicização do uso de drogas pelo adolescente geram na família sensações de desconforto que agride seu papel enquanto instituição reprodutora de valores e bons costumes. Quando um membro feri tais princípios, a família é posta num paradigma de desestruturação, e é devido a este fato que muitos pais tendem a sentir-se frustrados, pois é atribuído a eles o fracasso de não ter conseguido transmitir valores éticos e morais aos filhos.

Antes que aconteça dela sê pressa (pausa) então vamo fazê um tratamento, porque depois, ah porque a mãe sabia que a filha fumava droga e num liga pra filha, então tem que sê assim pra podê corre pra ajuda ela. (L . L. H)

O fato é que o tratamento é um processo longo que requer total participação da família. Independente do caso, a abordagem familiar é parte integrante e indispensável no tratamento de adolescentes com problemas relacionados ao uso de substâncias psicoativas, não só no tratamento do adolescente dependente, como em qualquer caso de dependência química, seja na infância, juventude ou velhice.

Á propósito Freitas (2002) é muito claro quando afirma que o envolvimento da família é de suma importância em qualquer quadro de drogadição, e em específico na adolescência, este acompanhamento torna-se decisivo nos resultados do tratamento.

Percebemos que em alguns casos, os pais que são responsáveis pelo adolescente delegaram essa função a outros que pudessem representá-los no grupo de famílias. Ora, entendemos que muitos trabalham e se torna difícil comparecer às reuniões, porém os pais devem ser os maiores interessados no tratamento do adolescente e que com a participação deles o filho não se sentirá sozinho, saberá que contará com o apoio dos pais no processo de tratamento.

O acompanhamento fragmentado dos pais ao grupo de família tem sido um fator que desencadeia grande fragilização ao próprio grupo e reduz o alcance de resultados no tratamento do adolescente e na melhoria das relações familiares. Tal fragmentação dificulta o trabalho que o profissional desenvolve no grupo, de maneira que se torna impossível dar continuidade a um debate se o acompanhante presente naquela reunião não esteve na anterior, isso afeta a dinâmica do grupo que precisa retroceder para que aquele acompanhante consiga compreender a discussão.

Segundo os familiares entrevistados não houve dificuldades e nem dúvidas no grupo de acompanhamento. Porém percebemos que muitos deles comparecem ao CPTT sem saber ao certo de que drogas o adolescente vem fazendo uso ou quais os malefícios que ela traz.

Acreditamos que no tempo em que esses pais eram jovens não se discutia muito sobre esse tema, tanto nas escolas quanto em casa. O uso existia, porém não era debatido. E agora, vivenciando esse problema com o filho adolescente, muitos pais sentem-se por vezes perdidos, têm dificuldades de conversar com o filho sobre o assunto.

Em seus estudos Freitas (2002) assinala que a família passa por momentos de conflito na adolescência dos filhos, pois a criança que antes obedecia a regras sem questionar passa a se posicionar diante das decisões dos pais, e é nesta fase que tornar-se importante o estabelecimento uma relação mais estreita com o jovem e o exercício cotidiano do diálogo que facilita a comunicação entre ambos que pode prevenir o uso futuro de drogas.

Ao participar do grupo no CPTT, eles passam a ter conhecimento acerca da droga e os seus malefícios, a como participar no processo de tratamento e a entender que eles são importantíssimos para tal processo.

Porque é fácil a pessoa ajudá, se a pessoa conversa, falando o que interessa pra gente (pausa) que eu mesmo, o que eu sei sobre drogas? Nada. Meu filho se envolveu nisso, e ele foi a primeira pessoa da minha família a envolver nisso (pausa) sei lá eu fico sabendo porque falam pra mim (pausa) acho importante porque aqui né, um tem um problema, cada uma fala sobre o assunto, fala sobre os outros assunto. (M. L. M.).

A troca de experiências entre os próprios familiares também auxilia num melhor acompanhamento e monitoramento aos adolescentes, em como se portar ao surgirem situações de agressividade ou fragilidade por parte dos mesmos. Enfim, eles aprendem a como lidar com essas questões.

Então eu faço questão de vim...que eu vô aprendendo as coisa também com as outras mãe, ovindo o que elas tem pra falá pros filho e eu também falo pros filho delas. (L. L. H)

O acompanhamento no grupo pra mim ta sendo bom também, que eu sei o jeito de lidar com ela, igual as menina me explicou direitinho que não pode alterar a voz com ela, tudo que conversa direitinho. (M. F. S.).

Desta maneira a possibilidade de se alcançar resultados no tratamento e de melhorar as relações no âmbito familiar são bem maiores, pois a família consegue equilibrar suas emoções e reações frente ao jovem.

Outra categoria que surge ao se discutir as dificuldades no Grupo de Acompanhamento do CPTT são os resultados do tratamento. Fato apontado pelas famílias como determinante para o progresso do tratamento e a repercussão dele na vida dos adolescentes foi o afastamento do grupo de amigos em que eles estabeleciam suas relações sociais. Tal afastamento levou o adolescente a reduzir suas saídas noturnas e facilitou a abstração do tratamento, criando condições para que estes jovens retornassem suas atividades, como voltar a estudar.

Agora tá totalmente diferente. Igual falei com você, não tá saindo com as companhias, que as meninas chamava ela pra sair. Agora ela não sai mais com essas meninas que levou ela, não ta andando com elas mais. Tá tranqüilo. (M.F.S)

De acordo com Freitas (2002) em alguns casos, o uso de drogas se perpetua no grupo como sinônimo de status, sucesso e rebeldia, sendo esta melhor maneira de obter destaque e pertencer aquele círculo social. Além disso, no grupo o adolescente sente uma espécie de pertencimento já que o grupo em geral vive o mesmo conflito. No caso da drogadição o grupo de amigos que vivencia o uso de forma constante e contínua, cria uma barreira para o tratamento de um dos membros do grupo sendo mais provável que ele tenha uma recaída por pertencer a um grupo que ainda faz uso de drogas.

Desta maneira, observa-se que no caso de drogadição na adolescência a mudança das relações sociais já instituídas é de suma importância na recuperação do jovem, porém, reconhecemos que é um processo difícil e sofrido para esses adolescentes que já criaram vínculos e precisam rompê-los.

Em outros casos o adolescente mantém o uso regular do psicoativo mesmo estando em tratamento, compreende-se que o abandono por completo do uso nem sempre é possível, e assim é estabelecido um processo de redução de danos no qual o jovem reduz o uso da droga paulatinamente até conseguir abandoná-lo.

Ele tinha mania de sair com os colega dele. Ele fuma pedra todo sábado. E no sábado passado agora ele saiu comigo e com a namorada dele e não usou nada, nem beber ele não quis beber. Ele ficou quieto, ele não tem mania de ficar quieto ele é sempre agitado, assim. (V.S)

Nery Filho e Torres (2001 p. 35) definem a redução de danos como um conjunto de medidas de prevenção e redução das conseqüências negativas para a saúde decorrentes ao uso de drogas, sem condicionar a sua oferta ao abandono do uso de drogas. Conforme Veloso, Carvalho e Santiago (2004) o diferencial da proposta de redução de danos consiste na diminuição dos danos provocados pelo uso de drogas, compreendendo a necessidade de modernização do discurso preventivo, objetivando recuperar a participação e o pensamento autônomo dos sujeitos, diferente de abordagens que priorizam a abstinência total de drogas, inscrita na Política Nacional Antidrogas (PNAD).

Relativo aos resultados apresentados, procuramos perceber qual, para o grupo, é a importância da família no tratamento do adolescente usuário de drogas. Após várias participações no grupo observamos que o mesmo é composto majoritariamente por mulheres, principalmente mães e irmãs. Tal situação nos levou a refletir o papel da mulher na sociedade, na qual em relação ao debate sobre o uso de drogas entre adolescentes, é identificada como o pilar da família, capaz de tolerar os problemas advindos desta situação.

Desta maneira a mulher em seu sentido genérico acaba sendo a única responsável pelo acompanhamento do jovem durante o processo de tratamento, o que para nós é preocupante, uma vez que a família enquanto núcleo que uni as pessoas se fragmenta designando a uma só pessoa sua função.

A mãe tem que acompanhar os filho. Todas mãe tem que acompanha seus filho, ué. É importante. Quem não vai é só o filho que não tem mãe e não tem pai. Mas se tem uma pessoa de fora que se der pra ele. (M.G)

Observamos que as famílias compartilham sentimentos comuns, estas oscilam entre sentimentos de amor e ódio, felicidade a cada avanço e tristeza e indignação a cada recaída e alguns tomados pelo desespero cogitam por medidas mais extremas.

Quando foi perguntado a família se ela considerava importante sua participação no processo de tratamento do adolescente todos concordaram que é importante o apoio familiar nesse momento da vida do jovem.

Com certeza, família é a base de tudo. Se deixar ela vir sozinha, cê acha que ela vai querer vir sozinha? Ela não vai querer vir. Toda vez que ela ta vindo eu to vindo junto com ela. (M.F.S).

Também percebemos que além de oferecer apoio aos adolescentes, a família consegue abstrair do grupo o espírito da colaboração e a troca de experiências, onde todos buscam ajudar-se mutuamente.

É importante porque eu vô dando mais força pra ela, entendeu? Então eu faço questão de vim...Que eu vô aprendendo as coisa também com as outras mãe, ovindo o que elas tem pra falá pros filho e eu também falo pros filho delas. (L.L.H).

Considero sim. Porque é fácil a pessoa ajudá, se a pessoa conversa, falando o que interessa pra gente (pausa) que eu mesmo, o que eu sei sobre drogas? Nada. Meu filho se envolveu nisso, e ele foi a primeira pessoa da minha família a envolver nisso (pausa) sei lá eu fico sabendo porque falam pra mim (pausa) Acho importante porque aqui né, um tem um problema, cada um fala sobre o assunto, fala sobre os outros assunto. (M.L.M)

Sim. Por que sem o apoio da família, né, não tem como a gente sair das drogas, tem que ter o apoio da família, junto, ajudando. (D.F.P)

De acordo com a discussão de Kalina e Kovadloff (1976) apud Freitas (2002), sobre a importância do envolvimento familiar em qualquer quadro de drogadição na maioria dos casos os pais questionam o porquê do uso de drogas do filho adolescente, sem levar em consideração suas possíveis contribuições para o fato. Geralmente o fenômeno não é percebido com facilidade, é necessário, em muitas vezes, que o quadro se agrave para que o núcleo familiar dê conta da problemática.

E embora a família afirme a necessidade do acompanhamento familiar, um fato que nos chamou atenção durante o processo de acompanhamento do grupo foi o acompanhamento fragilizado dos pais ao grupo de família, o que compromete os resultados do tratamento do adolescente e na melhoria das relações familiares. Entendemos que o acompanhamento de grupo necessita de continuidade para que este atinja seu objetivo, e percebemos que alguns pais têm se eximido da responsabilidade de acompanhar o tratamento de seus filhos encaminhando ao grupo de famílias outros familiares que infelizmente não têm a mesma vivência com o adolescente.

Considerações Finais

Vimos que a adolescência é um período de profundas transformações físicas, sociais e psicológicas no qual ocorre a busca pela identidade e autonomia por parte do adolescente. O filho ao chegar à adolescência desprende-se um pouco dos pais, não se influenciando apenas pela opinião deles, mas também, pela opinião do grupo de amigos com os quais estabelece relações.

O grupo de amigos passa a ter bastante importância na vida do jovem, o qual se constitui um espaço de semelhantes, onde se discute o mesmo assunto, enfim, um espaço em que eles se encontram e se entendem. De acordo com os autores utilizados no decorrer deste estudo, a adolescência é uma fase de constantes curiosidades, onde o jovem sente vontade de experimentar coisas novas, de conhecer o mundo. E é nesse desejo por experimentar que ele vai ao encontro das drogas.

A droga aparece como um atrativo para o adolescente que pode estar vivenciando uma relação conflituosa com a família, ou estar sofrendo influência da própria família ou do grupo de amigos. Quando a droga surge, os conflitos sofridos na adolescência se atenuam e são sentidos na família, causando um abalo na estrutura familiar. Isso ficou claro em nossa pesquisa na qual os familiares declararam que ao tomarem conhecimento de que o filho fazia uso de drogas psicoativas, o primeiro sentimento foi de revolta. E da revolta vieram às agressões físicas e verbais.

Entendemos que a família não se sente preparada para lidar com o uso de drogas por parte do adolescente, e por vezes se questionam o por quê de tal fato ter acontecido. A família tende a olhar para si e não leva em consideração os motivos reais que levaram o adolescente ao uso. E nesse sentido, culpabiliza o grupo de amigos a qual o filho faz parte.

As personagens desta pesquisa sejam por determinação judicial ou pela preocupação com os filhos adolescentes, estavam acompanhando os últimos no tratamento da dependência. Segundo as próprias famílias, o tratamento vem trazendo resultados positivos. Podendo ser percebidos nas mudanças no ambiente familiar, no qual deixou de ser um espaço de conflito.

Pretendíamos com este estudo analisar a dependência química na adolescência, seus impactos no âmbito familiar, e o papel da família no processo de tratamento do adolescente. Nesse sentido, podemos concluir que a família é peça fundamental no processo de tratamento do adolescente uma vez que o acompanhamento familiar faz com que a mesma se aproxime mais do adolescente e ambos passem a se entender mais e situações como o diálogo e a amizade surjam nesse processo.

A família é à base de sustentação capaz de tolerar os problemas advindos desta situação, pois a existência do uso de drogas por um membro da família promove um desequilíbrio na estrutura familiar, e o acompanhamento regular no grupo é capaz de trazer de volta este equilíbrio.

O grupo é um espaço no qual a família expõe seus sentimentos e faz um relato de suas dificuldades em lidar com o problema. Sendo assim, recebe orientações em como proceder diante do fato, além de vivenciar outras experiências, uma vez que não é a única nesse processo de tratamento do adolescente.

Ocorre uma mudança de postura da família no trato com o filho adolescente, onde a mesma passa a se preocupar mais com o adolescente e com suas relações sociais, com as atividades que ele vem fazendo, com os lugares por onde ele tem andado etc.

Enfim, a família precisa conscientizar-se e engajar-se no tratamento da dependência, participando do processo de tratamento do adolescente por meio do comparecimento nos grupos e viabilizando o comparecimento de seus filhos. Assim a família mostrará seu apoio ao adolescente durante esse difícil processo de tratamento, o que auxiliará a reconstrução de vínculos temporariamente interrompidos.

Este estudo nos possibilitou conhecer como se dá às relações no ambiente familiar após o uso de drogas ter se instalado na família, e servirá como apoio para a equipe de trabalho do CPTT para que eles possam focar o trabalho realizado com as famílias nos pontos que se encontram deficientes, além de apontar quais as mudanças necessárias na abordagem com a família em relação à instituição de debates no âmbito grupal, na qual pode favorecer a socialização de informações, sendo este principal o objetivo deste espaço.

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Trabalho de Conclusão de Curso

Por:

Nathália Justino

nathaliajustino[arroba]yahoo.com.br

Andreza da Conceição Paulo

Juliana Martins Balla

Faculdade Salesiana de Vitória/ES. 2007

Partes: 1, 2, 3


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