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Entretenimento na informação jornalística: uma análise da rádio Bandnews FM Curitiba(página 2)


Com a invenção do rádio surge um novo espaço para divulgação de notícias, que até então era tarefa dos jornais impressos. É o nascimento do radiojornalismo, que no início utilizava os jornais do dia que eram lidos no ar. Mas ao longo do tempo, o radiojornalismo brasileiro passou por processos de remodelagem de linguagem, formato e processo produtivo, perpassou do gilett press ao all news, com redações e equipes de produção.

O método de se copiar os jornais impressos tanto na forma como no conteúdo predominou na década de 20. Eram selecionadas algumas notícias, grifado o que era mais importante e lido ao microfone. Segundo Neila R. Del Bianco (2004), o método perdurou por vários anos a ponto de tornar-se uma prática comum no rádio conhecida com gilett press ou tesoura press.

A autora levantou que na década de 40, com a adoção do teletipo nas redações, o modo de produção do radiojornalismo foi substituído por um modelo baseado nos padrões estéticos das agências internacionais de notícia.

De acordo com Ferraretto (2001), na Segunda Guerra Mundial, o radiojornalismo cresce em importância e na aproximação entre Brasil e Estados Unidos surge nos rádios do país o Repórter Esso, identificado por uma característica musical e texto de abertura. O programa começou a ser transmitido no Brasil em 1941 no Rio de Janeiro e São Paulo. Patrocinado pela Esso Brasileira de Petróleo, o radiojornal chegou ao Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Pernambuco.

O primeiro radiojornal brasileiro moderno também começou nos anos 40 e tinha os mesmos moldes da imprensa escrita.

Transmitido às 22h, o Grande Jornal Falado Tupi reproduzia, assim, a estrutura comum à imprensa escrita. No início, a identificação do noticiário como o cabeçalho de um periódico impresso. Depois, com a marcação da sonoplastia, as manchetes a reproduzir a capa de um jornal. Seguiam-se as notícias agrupadas em blocos – política, economia, esportes... – tal qual faziam os diários com suas editorias. (Ferraretto, Luiz A. (2001), p 130 e 131).

O grande impulso do radiojornalismo moderno ocorre com a Emissora Continental do Rio de Janeiro fundada em 1948. É atribuído ao radialista Afonso Gomes a criação de um formato radiofônico novo: o de música-esporte-notícia. Conforme FERRARETTO (2001), a rádio procurava concentrar mais na informação e na cobertura esportiva em detrimento da programação musical. Nessa emissora a reportagem ganha espaço.

Carla Rodrigues e Creso Soares Jr. (2009) apontam que com o surgimento da televisão no Brasil no início dos anos 50, o rádio perde espaço como principal meio de comunicação utilizado pela população. A chegada da TV faz com que o rádio passe por uma reestruturação. Segundo os autores, o espetáculo massivo ficaria com o novo veículo e o rádio investe em setores que anteriormente representavam um espaço menor na programação, como o jornalismo, as transmissões esportivas, a prestação de serviço e a música gravada. A sobrevida também veio com a invenção do transistor, dando portabilidade ao rádio.

Em 1991 as Organizações Globo decide investir massivamente no radiojornalismo. Em 1º de outubro desse ano começam as transmissões da Central Brasileira de Notícias (CBN), uma rede de emissoras dedicada ao jornalismo 24 horas por dia. A Excelsior AM de São Paulo e a Eldorado AM do Rio de Janeiro foram transformadas nas duas primeiras integrantes da rede. (Ferraretto, 2001).

Ferraretto (2001) destaca a ousadia da CBN ao passar a transmitir, em 1996, em Frequência Modulada, ocupando os 90,5 MHZ além dos 780 KHZ do dial paulistano. "A decisão, dois anos depois, garantia, conforme Heródoto Barbeiro, maior audiência em FM do que em AM".(p 176).

Em 2006, a CBN ganha uma concorrente de peso: a rádio Bandnews FM que começou com transmissões em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre. Em dois anos a rede passou a contar com oito emissoras. Além das quatro capitais, a Bandnews FM chegou à Salvador, Curitiba, Brasília e Campinas, estado de São Paulo.

Com as rádios especializadas na transmissão de notícias, aliado às Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC"S) que facilita o trabalho dos jornalistas e a participação do ouvinte, o jornalismo não só informa, mas presta serviço à população e entretém ou "informa com diversão" (Dejavite, 2007, p 72).

2. O ENTRETENIMENTO

Para fazer a distinção entre informação e entretenimento é necessário buscar a definição de cada termo. O entretenimento está presente no dia-dia das pessoas, mas muitas são as definições. Fábia Angélica Dejavite (2006) destaca que há duas definições familiares sobre o conceito de entretenimento. A primeira difunde a idéia de que ele é tudo o que diverte, distrai e promove a recreação. A segunda considera-o como um espetáculo destinado a interessar ou divertir, uma narrativa, uma performance ou qualquer outra experiência que envolva ou agrade alguém ou um grupo de pessoas, trazendo pontos de vista e perspectivas convencionais e ideológicas. Para a autora, o significado de entretenimento remete, na maioria das vezes, à anti-seriedade, à rejeição da moralidade, à política, e à não estética (embora ela discorde dessa tese). Ela salienta que por isso não é considerado arte, mas apenas um divertimento.

Itania Maria Mota Gomes (2009) também enfatiza o caráter depreciativo dos estudos do entretenimento que contrapõe à cultura e arte, à filosofia, ao conhecimento, à verdade e ao jornalismo. Mas ressalta que o uso mais corrente do termo entretenimento, seja em bibliografia científica ou na crítica aos media, é como: a) um valor da sociedade contemporânea e traduz a primazia do prazer e dos sentidos; b) indústria que se dedica à produção de uma mercadoria ao mesmo tempo econômica e simbólica; c) aos meios massivos de comunicação, aí se confundindo com seus produtos, como videoclipes, canções, histórias em quadrinhos, etc. d) a um conteúdo específico veiculado por esses media (lazer, cultura, esportes, moda, viagens, celebridades, estilo de vida, fofocas); e) à linguagem audiovisual, em especial no que se refere à sua alta visualidade, e àquela resultante da convergência tecnológica.

Os dois primeiros pontos são os que mais enfocam o caráter do entretenimento. GOMES (2009) argumenta que como modo de organização a indústria evidencia que o entretenimento é um dos valores das sociedades ocidentais contemporâneas que se organiza como indústria e se traduz por um conjunto de estratégias para atrair a atenção de seus consumidores (p 8).

A autora trás uma definição provisória para entretenimento. "Entretenimento é um valor das sociedades ocidentais contemporâneas que se organiza como indústria e se traduz por um conjunto de estratégias para atrair a atenção de seus consumidores" (pág 7). Jeder Janotti Jr. (2009) lembra que o substantivo entretenimento é comumente associado à brincadeira e à diversão e faz uma ressalva: nem todo o entretenimento é de ordem midiática. Neste estudo é levado em conta o entretenimento presente na mídia ou aqueles divulgados pelos meios de comunicação.

Com a globalização econômica o conteúdo das mídias passou por um processo de vínculo comercial que exige cada vez mais um retorno financeiro para as empresas de comunicação. O jornalismo também entrou por esse caminho e hoje não só informa, mas também oferece entretenimento. A esse "embaralhamento da fronteira entre informação e entretenimento" (Gomes, 2009) dá-se o nome de infotainment ou Infotenimento.

3. GÊNEROS JORNALÍSTICOS E DE ENTRETENIMENTO NO RÁDIO

Barbosa Filho (2003) classificou sete gêneros radiofônicos entre eles o jornalístico e o de entretenimento. O gênero jornalístico engloba os seguintes formatos: nota, notícia, boletim, reportagem, entrevista, comentário, editorial, crônica, radiojornal, documentário jornalístico, mesas-redondas ou debates, programa policial, programa esportivo e divulgação tecnocientífica. Para o autor, o gênero jornalístico é o instrumento que o rádio dispõe para atualizar seu público por meio da divulgação, do acompanhamento e da análise dos fatos. Ele salienta que os relatos podem possuir características subjetivas do ponto de vista dos conteúdos e acrescentar ao ato de informar opiniões particulares sobre os acontecimentos.

O gênero de entretenimento, para o autor, tem como característica a ligação ao universo do imaginário, em que os limites são inatingíveis e causam proximidade e empatia entre a mensagem e o receptor que não podem ser desconsideradas, sob risco de perda de contundência na transmissão dos significados de uma determinada informação para o público. "O entretenimento é a própria essência da linguagem radiofônica, cuja contribuição vai do real à ficção". (pág 114). Os formatos do gênero de entretenimento são: programa musical, programação musical, programa ficcional, programete artístico, evento artístico e programa interativo de entretenimento. Os gêneros jornalísticos e de entretenimento podem estar presentes em um mesmo programa.

Os formatos de entretenimento possuem características e possibilidades peculiares, entre as quais destacamos: a de ter a capacidade de se combinar com outros formatos de outros gêneros e de servir de ferramenta para a informação, o anúncio, a prestação de serviços, para a educação e, até mesmo, para o entretenimento. (Barbosa Filho, pág 115).

Já Ferraretto (2001) dividiu a programação radiofônica em dois grupos: os informativos e os de entretenimento. Os programas informativos são os noticiários, programas de entrevistas, programas de opinião, mesa-redonda e documentários. O grupo do entretenimento engloba programa de auditório, dramatização, programa humorístico e programa musical. O autor destaca que a radiorevista ou programa de variedades está presente nos dois grupos.

Na realidade, a radiorevista ou programa de variedades reúne aspectos informativos e de entretenimento. Engloba da prestação de serviços à execução de músicas, passando por temas diversificados como notícias policiais sensacionalistas, horóscopo ou entrevista com atores e atrizes de telenovelas. Nas emissoras dedicadas ao jornalismo, pode aparecer na forma de espaços voltados à cultura e ao lazer, intercalados, algumas vezes nas áreas de Medicina ou de Direito. (Ferraretto, 2001, p 57).

Informação, prestação de serviços e entretenimento são três pilares presentes na programação da rádio Bandnews FM que a caracteriza como uma emissora com conteúdo de infotenimento.

4. JORNALISMO X ENTRETENIMENTO

A audiência entre os meios de comunicação está cada vez mais acirrada. Na televisão, a Rede Globo vem perdendo audiência, o SBT cedeu o segundo lugar para a Rede Record que, por sua vez, tem em alguns programas tem alcançado a Globo. Além da concorrência entre os meios do mesmo segmento, a comunicação de massa tem que enfrentar as novas tecnologias, liderada pela internet. Em busca de público, o entretenimento tem ganhado espaço nos meios de comunicação. Na televisão, programas jornalísticos como Fantástico e Domingo Espetacular tem direcionado cada vez mais para o entretenimento e os programas de variedades e femininos como Mais Você da Rede Globo e Hoje em Dia da Record investe em jornalismo. Essas experiências mostram que o jornalismo e o entretenimento tendem a caminharem juntos, não só na televisão, mas também na internet, jornal impresso e rádio, inclusive nas all news, como na Bandnews FM.

Uma rápida retomada ao conceito de notícia que há muito tempo predominou no jornalismo ou ainda está presente no jornalismo clássico, percebe-se que houve uma grande mudança. Para um fato entrar na programação jornalística adotava-se critérios de noticiabilidade. Quando um assunto estava na mídia há algum tempo, só era notícia quando havia um fato novo.

Na prática rotineira do jornalismo, destacam-se como valores-notícia a novidade, a imprevisibilidade, o peso social, a proximidade geográfica do fato, a hierarquia social dos personagens implicados, a quantidade de pessoas e lugares envolvidos, o provável impacto sobre o público-leitor e as perspectivas de evolução do acontecimento. (Sodré e Paiva, 2005, p 4).

Atualmente o conceito de notícia tem sofrido mudanças. O estudo de Dejavite (2006) aponta que até a década de 60 informar significava não só fornecer a descrição precisa e comprovada de um fato jornalístico, mas também explicar contextos que permitam ao receptor compreender sua significação mais profunda. Hoje há um novo tipo de seleção e hierarquização. (Dejavite, 2006, p 67).

A autora destaca que a decisão do mercado em determinar o que é notícia está em voga e os veículos estão mais preocupados em satisfazer o interesse do receptor (p 67 e 68.). Há algum tempo o Jornal Hoje da Rede Globo exibia semanalmente um quadro que mostrava bandas de garagem. Analisando os tradicionais critérios de noticiabilidade não haveria nenhuma possibilidade de uma matéria dessa natureza entrar semanalmente em um telejornal da hora do almoço, mas o assunto rende audiência, principalmente entre os jovens que gostam de música. Em um artigo publicado no site Canal da Imprensa, Ana Paula Ramos (?) afirma que todo o serviço prestado hoje nos meios de comunicação tem como foco central o cliente. "Realmente a frase "o cliente sempre tem razão" faz muito sentido".

Dejavite (2006) adverte que para o jornalismo não ficar ultrapassado tem que levar em consideração que o público participa cada vez mais na deliberação do que se veicula na mídia. "Agora, as empresas jornalísticas estão mais atentas ao que é solicitado pelo consumidor e tem transformado a dinâmica da criação da notícia". (p 68).

Essa constatação pode ser verificada nas rádios all news de Curitiba. Na Bandnews FM a presença do ouvinte é cada vez mais constante, com participação através de telefone, mensagens de celular, e-mail e twiter. A informação do trânsito na cidade é feita, na sua grande maioria, pelos ouvintes que informam a redação sobre acidentes e congestionamentos. O ouvinte tráz pauta para a rádio e até o furo jornalístico. O ex-diretor de jornalismo da Bandnews FM, Gladimir Nascimento (2009), conta que em 2007 houve a queda de parte do viaduto da Avenida Marechal Floriano Peixoto em Curitiba e a prefeitura do município ficou sabendo através da rádio, às 7h da manhã, depois que um ouvinte ligou para a emissora informando sobre o fato. Segundo a diretora de jornalismo da Bandnews FM, Joice Hasselmann, entre 20% e 25% do conteúdo local da emissora vem de ouvintes.

A rádio CBN também tem aberto espaço significativo para participação do ouvinte, que alem de informações sobre trânsito, participam no ar dando opinião sobre assuntos abordados na programação.

A internet tem sido uma ferramenta importante para a participação do público no processo de produção dos meios de comunicação. SODRÉ e PAIVA (2005) lembram que o número de visitas dos internautas a um determinado site em busca de um determinado assunto, é capaz de estabelecer uma pauta. "Em outras palavras, é o leitor quem termina dizendo o que é notícia. Isto implica dizer que estão mudando os critérios da pontuação rítmica". (Sodré e Paiva, 2005, p 11).

A evolução tecnológica tem revolucionado a produção de informação não só na facilitação da participação do público, mas também para os próprios jornalistas. DEL BIANCO (2004) lembra que um dos marcos mais importantes na produção da notícia no rádio foi o uso do telefone celular pelos repórteres que podem transmitir direto do acontecimento.

Essa tecnologia contribuiu para alterar o conceito de velocidade e instantaneidade na divulgação da informação. Tornou o jornalismo de rádio diário "mais quente" em relação aos demais. A cultura do "ao vivo", presente na era analógica, agora foi reforçada. Trouxe o caráter de antecipação da informação rivalizando com a cobertura do jornal e da TV. Por outro lado, fortaleceu o formato de radiojornalismo calcado nos gêneros notícia, reportagem e entrevista.(Del Bianco, 2004, p 6).

Além das tecnologias que facilitam o trabalho dos jornalistas e a participação do ouvinte, o conteúdo de variedades está cada vez mais presente no jornalismo radiofônico. Na rádio Bandnews FM há uma presença mássica de colunista que vai desde a comédia, como o Macaco Simão que satiriza algumas notícias que saem na mídia, passando por culinária, vinhos, política, poesia, entre outros. Na programação local, além das notícias factuais, há dicas de baladas e bares com fornecimento de endereço, telefone e preços de entradas. A fase atual da mídia passa a promover um novo tipo de cultura, a cultura light, que se caracteriza pelo predomínio do visual, do superficial, da novidade, da circulação rápida da informação e da valorização do entretenimento. (Dejavite, 2007).

A união entre informação jornalística e entretenimento é tão visível e apresenta-se com uma tendência nos meios de comunicação e já tem uma denominação: Infotainment ou Infotenimento.

A pesquisadora Itania Maria Gomes definiu o Infotainment como um "neologismo que traduz o embaralhamento de fronteiras entre informação e entretenimento". A autora assegura que o termo tem cerca de duas décadas e surgiu em um duplo contexto: Nas engenharias da computação e na indústria automobilística ele se refere a uma gama de aplicações multimídia digitais em tempo real, permitindo aos motoristas e passageiros acessarem serviços de informações meteorológicas, condições das estradas, mapas e estatísticas em tempo real, mas também filmes, músicas, fotos, e-mail e sites de relacionamentos.

Dejavite (2006) lembra que no jornalismo, o papel de levar diversão ao público, ao longo do tempo, tem recebido várias denominações como jornalismo diversional, cultural e de entretenimento. O diversional refere-se às histórias de interesse humano e perfil, que procuram dar uma aparência romanesca aos fatos e personagens. O Cultural inclui os suplementos dos jornais e revistas especializadas sobre cinema, literatura, artes, espetáculos e televisão. Já o de entretenimento aborda assuntos variados como gastronomia, moda, beleza, culinária, saúde, celebridade, etc. (p 71).

A autora frisa que o jornalismo cultural parece ser o mais diferenciado, pois busca atingir a classe elitizada, A e B, com matérias bem elaboradas e sofisticadas. Mas ao observar o que se publica nos dias atuais, ressalta, nota-se que esses conceitos acabam por expressar quase as mesmas significações, alcançando o mesmo público. O justamente o jornalismo cultural que mais visa o entretenimento.

O pesquisador Sergio Gadini (2003) analisou vários suplementos culturais de alguns jornais brasileiros e constatou que o jornalismo cultural caminha para o entretenimento e faz uma crítica.

[...] discute alguns aspectos de uma crescente tendência na cobertura jornalística da cultura no Brasil contemporâneo: a gradual redução do campo cultural ao que se denomina de entretenimento (em alguns casos, também denominado como lazer ou diversão). Trata-se do fortalecimento de uma prática que, sob o pretexto de explorar a informação como um serviço, prioriza a tematização e o agendamento de atividades, eventos e programas que visam a diversão dos seus respectivos leitores. (Gadini, 2003, p 1).

O autor defende que quando a cultura passa a ser entendida como sinônimo de entretenimento apresenta um outro efeito no campo cultural: quando não desconsidera ou "apaga" as demais projeções de sentidos, o produto voltado ao lazer tende a reduzir o espaço de reflexividade identitária da expressão dos indivíduos e grupos usuários/consumidores dos referidos bens e serviços.

Já Dejavite (2006) afirma que a aceitação do entretenimento como um valor emergente é tão relevante quanto a informação na atual fase histórica está calcada nas transformações ocorridas em diversos fatores e setores da sociedade.

A função de recreação e entretenimento permite que as pessoas participem de atividades recreativas, culturais e sociais. Assim, o entretenimento proporcionado pelos meios de comunicação está associado à promoção do aprimoramento do individuo. E dentro desse cenário, os veículos de comunicação de massa acabam difundindo informações, ao mesmo tempo que distraem a audiência. (Dejavite, 2006, p 49).

Dois fatores controversos dos meios de comunicação em relação ao entretenimento devem receber atenção. Em busca de audiência e consequentemente de retorno financeiro, as empresas de comunicação tentam prender os usuários para consumirem seus conteúdos. No caso da televisão, os filmes, as novelas são seus produtos que levam o entretenimento para os telespectadores. Esse seria o entretenimento direto dos meios de comunicação. Mas há uma outra forma que é divulgar o entretenimento fora do meio de comunicação, o entretenimento indireto. Por exemplo, quando se divulga um show na cidade, a mídia está induzindo o ouvinte/telespectador a consumir um entretenimento que não é oferecido por ela. Porém, não deixa de ser um produto midiático, já que houve divulgação pelos meios de comunicação e em muitas das vezes transformado em notícia.

A mídia trabalha no incentivo ao consumo, transformando temas dignos de publicidade em fatos jornalísticos. Everardo Rocha (2008) enfatiza que

[...] o consumo e a mídia falam incessantemente no sentido do estabelecimento do mercado consumidor como figura determinante, como passagem crucial na direção do capitalismo, atingindo, inapelavelmente, o tecido social e a cultura. (Rocha, 2008)

Segundo Rocha (2008), a narrativa midiática, especialmente a publicidade, produz sentido para os bens de consumo, prescrevendo valores, e modela práticas sociais.

O consumo, portanto, através de um complexo sistema de representações, define capitais sociais, expressa identidades, diferenças, subjetividades, projetos, comportamentos, relações e oferece um mapa classificatório que regula várias esferas da experiência social na cultura contemporânea. (Everardo Rocha, 2008).

As mudanças nas formas de apresentação da notícia ocorreu com a televisão que trouxe uma nova direção. Segundo Dejavite, o entretenimento foi o discurso escolhido para caracterizar-se.

Jeder Janotti Jr. (2009) ressalta que:

[..] uma questão que surge quando se pensa o entretenimento em suas relações com os programas informativos contemporâneos é que essa é uma relação complexa e não envolve somente uma dicotomia (forçada e de difícil sustentação diante da análise de economia política dos produtos jornalísticos) entretenimento (mercado) VS jornalismo (instituição social). (Janotti Jr, 2009, p 7).

Ele lembra que boa parte do que é categorizado negativamente como entretenimento está restrito à utilização de linguagem coloquial e diálogos entre apresentadores e repórteres, como se entreter fosse uma simples contraposição ao suposto aspecto sério e formal da informação jornalística.

Embora haja os contras e os prós, o fato é que o infotenimento está nos principais meios de comunicação. A autora afirma que o jornalismo de infotenimento é uma especialidade jornalística de conteúdo estritamente editorial, voltada à informação e ao entretenimento e englobam pelo menos 32 temas: Arquitetura; artes; beleza; casa e decoração; celebridades e personalidades; chistes e charges; cinema; comportamento; consumo; crendices; cultura; curiosidades; espetáculos; eventos; esportes; gastronomia; fotografia; indústria editorial; ilustração; informática; jogos e diversão; moda; música; previsão do tempo; publicidade; rádio; televisão e vídeo; revista; turismo, lazer e hotelaria e vendas e marketing.

[...] uma matéria pode ser definida como de INFOtenimento quando os conteúdos objetivam proporcionar divertimento e informação ao receptor. Assim, propõe a seguinte classificação: matérias que focalizam o interesse humano (caso de uma entrevista com um jovem sobre sua primeira experiência sexual), celebridades, vídeo, cinema, televisão, rádio, música, teatro, dança, literatura, gastronomia, restaurantes e bares, arquitetura, pintura, escultura, fotografia, diversões populares, moda e museus. (Dejavite, 2007, p 89).

A autora sugere que para esta área, o jornalista além de ter um estilo fácil e fluente, tem que ter atenção redobrada com os detalhes. O preço do evento tem que estar certo. O endereço e a hora em que ele começa também. Deve fornecer ainda o número do telefone para se comprar o ingresso com antecedência. Isso é o que ocorre em alguns quadros da Bandnews FM como "Divirta-se" e "A Caminho do Bar".

5. INFOTENIMENTO OU PRESTAÇAO DE SERVIÇO

O jornalista Gladimir Nascimento (2009), que ocupou o cargo de diretor de jornalismo da rádio Bandnews FM Curitiba por três anos, não acredita que o jornalismo caminha para o entretenimento. Para ele, o que pode ser entendido como entretenimento é na verdade prestação de serviço. Ele afirma que no caso do rádio, a programação se sustenta em três pilares: notícia, serviço e interação.

A prestação de serviço é um gênero radiofônico apontado por Barbosa Filho (2003). Segundo o autor, os produtos radiofônicos de serviço são informativos de apoio às necessidades reais e imediatas de parte ou de toda a população que recebe a cobertura da emissora. Ele diz que a informação de serviço se distingue da jornalística pelo caráter de transitividade, provocando no receptor uma manifestação sinérgica, ao reagir à mensagem. Alguns serviços prestados pelas rádios, citados pelo autor, são mudanças no fluxo do trânsito da cidade, condições meteorológicas, anúncios de concursos, preços dos alimentos, espetáculos artísticos em cartaz, prazos de vencimentos de impostos e taxas, entre outros. Muitos desses exemplos fazem parte da programação da Bandnews FM, o que a caracterizaria como uma rádio de prestação de serviço. Porém, o mesmo autor afirma que o gênero entretenimento tem a capacidade de combinar com outros formatos de outros gêneros e de servir de ferramenta para a informação, o anúncio e a prestação de serviço. Barbosa Filho (2003) classifica como prestação de serviço as seguintes formatos: notas de utilidade pública; programetes de serviços, que, de acordo com o autor, são próximos dos programetes de gênero de entretenimento quanto ao tempo de veiculação e ao dinamismo da apresentação; programa de serviço onde são apresentados temas de interesse específicos da população. Portanto, a Bandnews FM não só presta serviço ao público, mas também não deixa de apresentar conteúdo de infotenimento.

6. A RÁDIO BANDNEWS FM

A rádio Bandnews FM, pertencente ao Grupo Bandeirantes de Comunicação, entrou no ar em rede em quatro capitais brasileiras no dia 20 de maio de 2005. A estréia ocorreu simultaneamente em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre. Três meses depois, em 8 de agosto começou a operar em Salvador. Em 2 de janeiro de 2006 a emissora chegou a Curitiba, na frequência 96,3. Em 2007 a rede ganhou mais duas emissoras: A 90,5 de Brasília que entrou no ar no dia 19 de junho e a 106,7 de Campinas, estado de São Paulo, que estreou no dia 6 de outubro.

Segundo informações da emissora o objetivo da rede é "estabelecer, nos principais mercados do país, a primeira rede de emissoras FM com programação jornalística 24 horas, que se torne referência número 1 entre ouvintes de 25 a 55 anos na divulgação ágil de notícias relevantes e na formação de opinião".

O diferencial editorial defendido pela empresa é de que a rádio tem um jornal completo a cada 20 minutos, com espaço padronizado para notícia, prestação de serviço e opinião. A plástica da programação foi desenvolvida por Zuza Homem de Mello no estúdio Jam em Dallas nos Estados Unidos.

A Bandnews FM não possui programas definidos, mas toda a programação é como se fosse um único programa dividido em notícias, opiniões, participação de colunistas, notícias locais e publicidade. Enquadra-se no que Ferraretto (2001) classifica como programação em fluxo que caracteriza-se por :

Forma de fazer rádio estruturada em uma emissão constante em que se encara toda a programação como um programa dividido em faixas bem definidas. As mudanças de uma para outra são calcadas na troca do âncora ou do comunicador do horário. (Ferraretto, 2001, p 60).

A rádio Bandnews FM foi inspirada nas rádios all news dos Estados Unidos. Nas all news norte-americanas prevalece um esquema rígido de informação. As emissoras vão repetindo em determinado período de tempo as notícias mais importantes. Os fatos novos vão superando os acontecimentos mais frios com o passar do tempo. A Rádio 1010 Wins de Nova Yorque, conhecida por Ten Ten, que foi uma das pioneiras no seguimento e a mais imitada (Parada, 2000). Marcelo Parada lembra que os noticiários seguidos de 20 vinte minutos têm uma seqüência interminável. O ouvinte sabe que a cada 20 minutos há um noticiário com os fatos mais importantes do dia, não importando se é noite, feriado ou final de semana. É baseada nessa emissora que foi criada a brasileira Bandnews FM. Os 20 minutos de cada informativo segue uma freqüência inflexível com manchetes, trânsito, tempo, propaganda, desenvolvimento da notícia principal, propaganda, mais trânsito e tempo. As propagandas são dispersas entre as notícias.

Na Bandnews FM de Curitiba as notícias locais entram a cada vinte minutos. Geralmente é um boletim de cinco minutos em que são transmitidas informações e publicidade local. Além desses informativos, há dois radiojornais locais, o Bandenews Curitiba Edição da Manhã e o Bandnews Curitiba Edição da Tarde. O Bandnews Curitiba Edição da Manhã vai ao ar às 9 horas e o da tarde às 18h.

7. INTERATIVIDADE NA BANDNEWS FM

A rádio Bandnews FM possui apenas um site para todas as emissoras da rede. No bandnewsfm.com.br é possível ouvir ao vivo qualquer uma das oito praças. No site são postadas as notícias do dia. Na página inicial é apresentado apenas o título da notícia principal. Ao clicar no título abre outra janela com o texto da informação e com link para ouvir, comentar, versão para impressão e envio por e-mail. Ao clicar no link comentários, abre um pop-ap com espaço para colocar o nome, o e-mail, a cidade e estado e o comentário. No entanto, há problemas no envio ocasionando erro na página. Nas outras notícias do site, não há link e sim o texto da informação e logo abaixo o atalho para ouvir, comentar, versão para impressão e enviar por e-mail. Ainda na página inicial é apresentada uma enquete com quatro opções para o internauta votar. Na home page da rede há a possibilidade de o público participar de concursos promovidos pela emissora. Na ocasião da análise do site por esta pesquisa, feita no dia 03 de dezembro de 2009, o concurso disponível era o "Bandnews em forma", um programa de atividades físicas com o objetivo de estimular fumantes a deixar o vício. No site estava disponível o regulamento do concurso e um formulário com espaço para digitar o nome, e-mail, sexo, nacionalidade, naturalidade, data de nascimento, estado civil, RG, CPF, endereço, bairro, cidade, estado, CEP, peso, altura, profissão, local de trabalho, horário de trabalho, telefone, se fuma e a quanto tempo, se bebe, se possui problemas de saúde e quais são, se usa medicamento e qual e se possui plano de saúde e qual plano.

No link interatividade há espaço para enquete e o "Blog do ouvinte". Na enquete há quatro temas com quatro opções de voto. Já o Blog do ouvinte é um espaço para deixar opiniões sobre qualquer tema. Na página do blog, disponível na mesma janela do site, há um formulário com espaço para deixar o nome, e-mail, cidade e comentário. O post vai diretamente para o blog sem nenhuma intervenção de moderadores.

No link "Notícias", o internauta tem a opção de acessar todas as notícias do dia ou por editorias. As editorias são Brasil, economia, internacional, esportes, cultura e consumo. Cada informação possui a hora da publicação, a cidade onde foi produzida,o autor e o link para ouvir.

Na página da rede há acesso para os usuários ouvirem os cerca de 33 colunistas nacionais das emissoras. É possível ouvir os boletins dos colunistas de até um mês. Em "Quem somos", o público acessa o objetivo da rede, quais são as emissoras, os prêmios conquistados pela rádio e a diferenciação editorial. Nesse link há ainda atalho para o "Blog do Marketing" e para o "Anuncie", onde está a tabela com os preços dos spots comerciais da rede e de cada praça, além de apresentar os clientes da emissora e a equipe comercial.

O site dispõe de uma ferramenta para busca. A produção de conteúdo para alimentar o site vem da rádio, mas não há informações produzidas especificamente para o site. Há somente os textos das notícias que são redigidos para a plataforma online. No espaço dedicado aos colunistas está postado o horário em que eles vão ao ar, o perfil de cada um, um link para envio de e-mail e a opção para ouvir os boletins anteriores. O site não dispõe de espaço para o ouvinte enviar fotos ou vídeo. Outra questão que se percebe, é a falta de blogs vinculados ao site da emissora. Também não existe qualquer menção à solicitação de notícia pelo ouvinte.

Na emissora local a participação do ouvinte é feita pelo telefone, mensagens SMS via celular (torpedo), e-mail e através do Twiter. Esses contatos são divulgados na programação local que ocorre das 6h da manhã até a 0h, sempre a cada 20 minutos (exceto das 9h às 11h e das 18h às 18h40 quando é apresentado o jornal local). A diretora de jornalismo da Bandnews FM Curitiba, Joice Hasselmann (2009) afirma que os ouvintes reclamam muito da falta de um site local, mas que em breve haverá um blog que já está em fase de acabamento. Esse blog será com foco político, mas haverá espaço para todas as notícias da rádio. Apesar de toda a facilidade de interação proporcionada pela internet, o meio mais utilizado pelos ouvintes é o celular através de mensagem SMS. Segundo Hasselmann, o e-mail ocupada a segunda colocação e só depois aparece o telefone convencional.

O site da rede não dispões de informações sobre acesso das rádios online, mas o internauta tem a opção de ouvir através de outro link. O portal www.tudoradio.com.br tráz um link para ouvir as principais emissoras do país que estão transmitindo on-line e mostra o número de acesso através do site. A rádio Bandnews FM Curitiba ocupa a 11ª posição no ranking do estado do Paraná. Até o dia 29 de novembro de 2009 a emissora foi ouvida 13.417 vezes através do portal.

O crescimento do uso da internet no Brasil tem contribuído para a participação do público na programação dos meios de comunicação tradicionais como o rádio e a televisão. Dados do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI) apontam que intensificou-se o uso e a posse de TICs em todo o território nacional. Os usuários de internet no país chegam a 34% da população e, somente na zona urbana, esse indicador já ultrapassou os 50 milhões de usuários da rede mundial de computadores.

8. A PESQUISA

Para análise de conteúdo feita por esta pesquisa foram selecionadas amostragem da programação local. Os trechos selecionados foram os flashs locais que vão ao ar a cada 20 minutos na programação da rádio Bandnews FM Curitiba e tem duração de cerca de cinco minutos. Essas inserções locais são mescladas com informações, publicidades, leituras de mensagens via SMS ou e-mail enviadas por ouvintes, cultura, bares, baladas e prestação de serviço, principalmente sobre o trânsito. Foram selecionados quatro flashs de dois dias distintos, sendo duas inserções de cada dia: às 20h32 e às 20h52. Os dias escolhidos foram um sábado, dia em que há pouco fluxo de informações nas redações devido ao fechamento dos órgãos públicos e uma terça-feira. A análise do sábado ocorreu no dia 28 de novembro de 2009 e a da terça-feira no dia 02 de dezembro de 2009.

Foram analisados todos os conteúdos veiculados em cada flash e ficou divido de acordo com os assuntos abordados conforme a tabela.

Tabela 01

Bloco das 20p2 de sábado, 28 de novembro de 2009

Assunto

Tempo

Reforma Ortográfica

58"

Hora, freqüência e tempo

14"

Diversão e cultura

55"

Economia

2"22"

Tabela 02

Bloco das 20h52 de sábado, 28 de novembro de 2009

Assunto

Tempo

Futebol

5"27"

Tabela 03

Bloco das 20h32 de terça-feira, 02 de dezembro de 2009

Assunto

Tempo

Spot institucional da emissora

12"

Hora, freqüência e convite a interatividade

1"03"

Leitura de mensagem de ouvinte

44"

Publicidade

1"

Diversão e Cultura

1"02"

Bar

2"35"

Tabela 04

Bloco das 20h52 de terça-feira, 02 de dezembro de 2009

Assunto

Tempo

Spot institucional

17"

Hora, freqüência e convite a interatividade

27"

Opinião do ouvinte

1"17"

Publicidade

1"01"

Spot institucional

45"

Divirta-se

1"39"

Leitura de mensagem de ouvinte

46"

As publicidades e os spots institucionais não fazem parte da análise, porem foram discriminados por estarem dentro do tempo disponível para as informações locais. A denominação "spot institucional" foi dada às inserções publicitárias da própria emissora.

Os gráficos a seguir mostram a porcentagem de cada assunto nos quatro blocos em análise.

GRÁFICO 01

Monografias.com

GRÁFICO 02

Monografias.com

GRÁFICO 03

Monografias.com

GRÁFICO 04

Monografias.com

9. DA DESCRIÇAO

O bloco das 20h32 do dia 28 de novembro iniciou com o quadro "Reforma Ortográfica" que é intitulado como "o guia eletrônico sobre as novas regras da Língua Portuguesa". O programete tem dois patrocinadores locais. Não é possível identificar se a produção é local, pois a narração não é feita pelo apresentador do horário. No dia o assunto abordado foi o fim do trema. Em seguida o apresentador informa a hora, a frequência e a situação do tempo. Na sequência uma vinheta marca o início do quadro "Diversão e Cultura". Narrado por uma repórter, o quadro informou sobre duas atrações culturais em Curitiba. A primeira foi sobre a apresentação do Vocal Brasileiro no Museu Oscar Niemayer que na ocasião faria uma homenagem ao cantor e compositor Zé Rodrigues que morreu em maio de 2009. Foi informado o repertório e que a filha do homenageado, a cantora Bárbara Rodrigues, estaria presente no evento. Além disso, foi informado o valor do ingresso e o telefone para informações. O outro evento foi o show da Banda Totis no Teatro Universitário de Curitiba. A atividade fazia parte do Edital de bandas de garagem. O boletim informou o endereço do teatro e o valor dos ingressos. O quadro teve 55" de duração. O bloco foi encerrado com a notícia sobre a alta do Indice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) em Curitiba no mês de novembro. Foi detalhado que o IPCA de Curitiba foi o mais alto entre as 11 capitais pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) e que a inflação acumulada no ano na capital paranaense também é a mais alta do país. Foi veiculado trechos de entrevista com um economista que explicou as causas das altas. A notícia foi a mais longa do bloco e durou 2"22".

Já o flash das 20h52 iniciou com uma vinheta sobre futebol. O bloco inteiro foi dedicado ao esporte e não teve nenhuma inserção de publicidade. Informações dos três principais times da capital, Paraná Clube, Coritiba e Atlético Paranaense, preencheram o bloco. Foram 5"27" dedicados às informações esportivas. O chamado giro esportivo começou com notícias do Paraná Clube com o enfoque para o último jogo do time na segunda divisão do Campeonato Brasileiro que encerrou com um empate diante do Fortaleza por 1 a 1. Já o destaque do Atlético Paranaense foi a festa organizada pela torcida do clube programada para o próximo dia diante do jogo contra o Botafogo em Curitiba. Foi inserido parte de entrevista com o técnico do time, Antonio Lopes, convidando a torcida a participarem da festa. Já as notícias do Coritiba foi sobre o dilema do clube que iria jogar contra o Cruzeiro em Belo Horizonte e ter que quebrar uma sequencia de 18 jogos sem vencer fora de casa. Além disso, a equipe poderia perder o principal jogador, Marcelinho Paraíba, para o próximo jogo contra o Fluminense, o qual seria decisivo para a permanência do Coritiba na primeira divisão do Campeonato Brasileiro.

No dia 02 de dezembro também foram analisados os blocos das 20h32 e 20h52. O primeiro flash iniciou com um spot institucional da emissora. Em seguida a apresentadora informou a hora, a frequência e convidou os ouvintes a participar da programação através de torpedo, e-mail e Twiter. A interação com o ouvinte teve destaque na programação. A jornalista solicitou a opinião dos ouvintes sobre multas de trânsito em Curitiba. Na ocasião, no bloco anterior foi dada a notícia de que a polícia de trânsito havia multado 67 motoristas em 30 minutos por não ligarem a luz de seta dos veículos na hora de fazer a conversão ou mudar de faixa. Em seguida foram lidas duas mensagens enviadas por ouvintes, uma pelo Twiter e outra por torpedo. Na sequência foram veiculadas duas publicidades consecutivas. Depois foi ao ar o quadro "Diversão e Cultura" com a programação da Cinemateca de Curitiba que exibiria produções de cineastas paranaenses financiadas pelo Fundo Municipal de Cultura. Foi informado o nome e a sinopse do filme que seria exibido no próximo dia. Ainda no mesmo quadro foi dada a agenda do Conservatório de Música Popular Brasileira de Curitiba que tinha como atração a apresentação dos alunos do projeto "Afina-se". Foi divulgado o site para consulta da programação completa do evento.

Nesse flash teve mais um quadro de diversão, o "A caminho do Bar". A apresentadora informou o endereço e em seguida entrevistou o gerente de um bar. Foram abordados assuntos como atração da noite, petisco e tipos de bebidas disponíveis no estabelecimento. No final foi repetido o endereço do bar.

A programação local das 20h52 iniciou com um spot institucional. A primeira interferência da apresentadora foi informar a hora, freqüência da emissora, os meios pelos quais o ouvinte pode participar e a temperatura em Curitiba. Novamente ela pediu a opinião dos ouvintes sobre as multas de trânsito aplicadas pela polícia na cidade. Foram lidos no ar dois torpedos enviados por ouvintes. Na seqüência foram veiculadas duas publicidades e mais um spot institucional. O próximo conteúdo foi o quadro "Divirta-se" com a apresentação das atrações de três bares de Curitiba. No primeiro, um bar circense, foi veiculada parte de entrevista com um integrante de uma banda que iria se apresentar no estabelecimento. Além das atrações, foram informados os endereços e o valor da entrada. O bloco foi encerrado com a leitura de mensagem enviada por uma ouvinte via Twiter.

10. DA ANÁLISE

Nos quatro blocos descritos, apenas uma informação não estava diretamente ligada ao entretenimento. Trata-se da alta do IPCA em Curitiba que pode ser classificada como notícia de economia. Embora o esporte tenha se consolidado como uma editoria do jornalismo, o assunto não deixa de entreter e é um dos temas classificados como de Infotenimento por Dejavite (2007). Para a autora, qualquer matéria esportiva enquadra-se no conceito de infotenimento (p. 93). O futebol ocupou todo o tempo do bloco das 20h52 do dia 28 de novembro. Foram 5"27" destinados ao esporte.

A divulgação da hora seguida da freqüência da emissora é feita no início de cada bloco por todos os apresentadores, com uma diferença. Na análise do dia 28 de novembro, a apresentação foi do jornalista Chrystian Grassi que depois da identificação da rádio informa a temperatura na cidade. Já a jornalista Luciana Pombo, que ancorou a programação do dia 02 de dezembro, informa os meios disponíveis para os ouvintes participarem da programação, além de destinar grande parte do tempo de cada bloco para registrar participação do público.

O quadro "Diversão e Cultura" esteve presente em dois blocos estudados. O flash das 20h32 do dia 02 de dezembro teve dois quadros voltados para a diversão. Além do "Diversão e Cultura", foi ao ar o "A Caminho do Bar". Essas informações podem remeter à idéia de publicidade, pois são divulgados endereços dos locais e preço de ingresso, cardápios e atrações. Gladimir Nascimento (2009) afirma que não há publicitização da informação na rádio e sim prestação de serviço. Segundo ele, se a rádio indica um local de lazer para o ouvinte, tem que dizer onde fica, qual é o telefone e quanto custa, "isto é prestar um serviço completo ao ouvinte". Já Joice Hacelman (2009) diz não se tratar de prestação de serviço, mas sim informação direcionada para um nicho da sociedade, que são as pessoas que frequentam bares e baladas. O que parece publicidade é na verdade uma das características das matérias de infotenimento.

O preço do evento tem que estar certo. O endereço e a hora em que ele começa também. Deve fornecer o número de telefone para se comprar um ingresso com antecedência. De nada adianta um texto todo florido, se ele não informa estes detalhes com precisão. (Dejavite, 2009, p 89).

Nos quatro blocos em análise foram 22"03" de programação local incluindo as inserções publicitárias e institucionais da própria emissora. Desses, 6"11", ou 28,04% foram dedicados aos quadros de cultura, bares e baladas. Foram duas inserções do quadro "Diversão e Cultura", uma de "A caminho do bar" e uma do "Divirta-se". O futebol ocupou 5"27" ou 24,71% da programação. Vale ressaltar que o assunto foi abordado em apenas um bloco analisado e ocupou todo o tempo do flash das 20h52 do dia 28 de novembro. A notícia de economia também apareceu em apenas um bloco e teve 2"22" ou 10,71% da programação analisada pela pesquisa. A leitura de mensagens enviadas pelos ouvinte também ocupa espaço significativo na emissora, principalmente quando a programação é ancorada pela jornalista Luciana Pombo. Foram 2"47" ou 12,62% da programação. Entre publicidade e spot institucional foram 3"15", respondendo por 14,73% do tempo destinado à programação local. Finalmente para a introdução do bloco, quando é informada a hora certa, freqüência da rádio e temperatura ou convite aos ouvintes para participarem da programação, foram 7,86% da programação o que corresponde a 1"44". O gráfico abaixo mostra esses percentuais.

GRÁFICO 05

Monografias.com

Considerando que as notícias esportivas fazem parte do infotenimento, foram 52,75% de informações do gênero. Gladimir Nascimento (2009) diz que a Bandnews FM traz muita informação de entretenimento porque tem a idéia de uso mais imediato e também porque a rádio foca um público que tem uma atitude mais contemporânea em que o entretenimento é muito presente. O gráfico ilustra a presença do infotenimento na rádio Bandnews FM.

GRÁFICO 06

Monografias.com

11. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O entretenimento na informação jornalística é um tema com opiniões controversas entre os profissionais. Há aqueles que classificam como prestação de serviço e outros que afirmam ser puramente notícia. O que se percebe é uma diferença entre o campo teórico e o prático com relação ao entretenimento no jornalismo. Os teóricos afirmam que o entretenimento está cada vez mais presente no jornalismo, enquanto que os profissionais não compartilham dessa mesma visão, encarando como pautas do dia-dia.

Quanto à programação local da Rádio Bandnews FM, boa parte do conteúdo pode ser classificado como de Infotenimento conforme os temas classificados por Dejavite (2009). Na análise da programação, apenas uma informação de economia não se enquadra no conceito.

Quanto ao formato e conteúdo, a emissora trouxe uma nova plástica para as rádios all news e deverá ser imitada por outras rádios. O que sustenta a programação ser calcada no entretenimento é a proposta da Bandnews FM de atingir o público jovem e também as mulheres. Segundo Gladimir Nascimento (2009) a Bandnews FM é voltada para os jovens, mas não só para a idade, mas atitudes e comportamento jovem. Já a aposta na busca pela audiência feminina está no grande número de mulheres jornalistas ancorando a emissora. De acordo com Nascimento isso tem dado resultado e a audiência é de 50% do público feminino.

Outro fator que merece destaque é a contribuição das TIC"S para a interação entre ouvintes e apresentadores. Com a popularização dos computadores, o equipamento passou a integrar os utensílios das casas assim como o rádio de forma que um complementa o outro. Segundo Joice Hasselmann (2009) é só solicitar a participação do ouvinte que recebe centenas de e-mail que não é possível lê-los no ar. Muitos são apenas opiniões dos assuntos abordados na programação.

O entretenimento no jornalismo é um assunto que vem sendo debatido recentemente pelos teóricos da comunicação e que merece mais aprofundamento. A mesclagem dos dois temas não está somente no rádio, mas em todos os meios de comunicação, até mesmo o jornal impresso como detectou a pesquisadora Fábia Angélica Dejavite analisando o jornal de economia Gazeta Mercantil.

Um ponto importante que deve ser considerado é o que o jornalismo carrega consigo a marca da objetividade e é até considerado como o quarto poder. A tendência da incorporação do entretenimento no jornalismo pode levar o noticiário a perda de credibilidade. E isso seria uma decadência. O que já se percebe, principalmente na televisão, é a "transformação" de jornalistas em estrelas e isso se deve ao entretenimento na área jornalística.

12. BIBLIOGRAFIA

BARBOSA FILHO, André. Gêneros radiofônicos: os formatos e os programas em áudio. São Paulo: Paulinas, 2003.

DEJAVITE, Fábia Angélica. INFOtenimento: informação + entretenimento no jornalismo. São Paulo: Paulinas, 2006.

DEL BIANCO, Neila R. Remediação do jornalismo na era da informação. II Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo da SBPJor, Salvador-Ba,

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FERRARETTO, Luiz Artur. Rádio: veículo, a história e a técnica. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2001.

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GOMES, Itania Maria Mota. O infotainment na televisão. Grupo de Trabalho Mídia e Entretenimento do XVIII Encontro da Compós,PUCMG,

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HASSELMANN, Joice. Entrevista pessoal concedida a Disoneis dos Santos Pereira em 02 de dezembro de 2009.

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NASCIMENTO, Gladimir. Entrevista pessoal concedida à Disonei dos Santos Pereira em 29 de outubro de 2009.

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RODRIGUES, Carla e SOARES JR., Creso. Radiojornalismo, webjornalismo e formação profissional. GP Rádio e Mídia Sonora, IX Encontro dos Grupos/Núcleos de Pesquisas em Comunicação, evento componente do XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Setembro de 2009.

SODRÉ, Muniz e PAIVA, Raquel. O que é mesmo uma notícia. Associação Nacional dos programas de Pós-graduação em Comunicação.

APÊNDICES

1 - Entrevista com o jornalista Gladimir Nascimento realizada em 29 de outubro de 2009

Você concorda que o jornalismo caminha para o entretenimento?

R: Não. Pra fazer essa avaliação seria necessário definir e medir. Não vejo outra maneira. Definir o que é o entretenimento e o que é evidentemente notícia. Acompanhar a programação da emissora e medir quantos minutos fala de uma coisa e quantos fala da outra. Não sei se ocorre isso que você detectou. Eu penso que não. Talvez haja aí uma confusão. Qual é a proposta da rádio? Não é fazer entretenimento. A proposta é dar notícia. Ocorre que rádio se sustenta em três pilares, um banquinho com três pernas: notícia, serviço e interação. Notícia é fácil definir. Talvez você esteja vendo como entretenimento aquilo que na verdade é a outra perna que é a prestação de serviço. Exemplo, as agendas culturais. A agenda cultural é uma prestação de serviço. Ela é informativa, mas é focada na possibilidade de usar. É a informação que se dá que você possa usar. Na prestação de serviço da Bandnews há muito conteúdo de entretenimento, então se procura dar a programação do entretenimento na cidade com a preocupação de que o público possa usar, decidir se vai ao teatro, ao cinema, se vai a um show, a um bar. Por que se dá esse tipo de notícia? Veja a rádio CBN também tem uma agenda cultural. Ela é diferente. As duas agendas se você for comparar vai ver que são diferentes. Na da Bandnews você vai encontrar um conteúdo maior de entretenimento que de arte. As agendas da CBN são focadas em artes. São os shows mais reconhecidos, as exposições. As da Bandnews tratam mais de entretenimento porque tem a idéia de uso mais imediato e porque a rádio foca um público que tem uma atitude mais contemporânea e que o entretenimento é muito presente. Uma rádio que sobressai muito que vai aos bares, aos cinemas e que discute muito. E ela trata com mais naturalidade aquilo que se chama a muito tempo de pop, cultura pop. Cultura pop não é nenhuma novidade, dos ano 50 e 60. Mas algumas emissoras tratam como uma cultura de segunda categoria e às vezes usam o rótulo de entretenimento para caracterizar esse nível inferior. O que acontece na Bandnews é que se compreende que o entretenimento, a diversão é uma parte importante na vida daqueles ouvintes. Logo, trazer esse conteúdo para as agendas é prestar um serviço. Outra coisa que talvez você tenha detectado como entretenimento é o foco que se dá com relativa freqüência ao conteúdo da televisão. Então, por exemplo, os Simpson são notícia com certa freqüência. Não é que eles sejam notícias, são conteúdo da rádio, eventualmente se comentam os Simpson. Ao se fazer isso, não se está dando notícia, não está fazendo jornalismo de entretenimento, na verdade o que se está fazendo é uma conexão com o ouvinte. Quando o Luis Megale fala dos Simpson, não está preocupado em informar sobre os Simpson, está preocupado em dizer: eu curto o mesmo seriado que você, então é um processo de identificação, não é intenção de fazer dos Simpson notícia. Talvez esses processos não sejam claros. Pra afirmar que a Bandnews trata entretenimento como notícia ou notícia como entretenimento, isso não pode se descartar antes de avaliar, mas essa avaliação precisa ser feita de modo quantitativa. Então vamos medir. Definir primeiro o que é um e o que é outro e medir. Talvez a medida nos surpreenda. Medir e comparar com outras. Mas eu, tendo dirigido a rádio por três anos, te digo pra você que o entretenimento aparece lá dessa forma basicamente. Na prestação de serviços, e isso é forte, eu mesmo sempre exigi que fosse, inclusive porque o tipo de lazer viável, nem todo mundo pode sair da faculdade a essa hora e ir a um concerto, mas todo mundo pode passar num barzinho, então é viável. E ao trazer esse conteúdo a emissora ajuda as pessoas a melhorarem o seu dia.

Não estaria havendo uma publicitização da notícia?

R: Há uma preocupação geral nos veículos com o que é interesse publicitário ou benefício publicitário. Então, por causa dessa preocupação, as nossas TVs aqui, por exemplo, dizem assim: Hoje haverá uma grande liquidação em uma loja de Curitiba e não dizem qual é a loja. Dentro da Bandnews isso não acontece. Por quê? A idéia é que se a informação não pode ser usada pelo ouvinte então ela deveria ir ao ar. Se eu vou dizer que tem um bar, mas eu não digo onde é, não digo quanto custa a entrada, o custo médio do cardápio, que serviço eu prestei! Você vê como publicitização porque você parte do pressuposto que se é bom para o dono do bar é ruim para o ouvinte. Essa preocupação dever ser dos departamentos comerciais, isso contaminou o jornalismo, contaminou e precisa romper. Eu não penso assim não. Eu penso o seguinte: Se tem uma promoção no Supermercado Condor isso é notícia e é preciso dizer sim que é o supermercado Condor e quanto custa o quilo do frango que está em promoção até que hora vai a promoção e como está a fila. Se tem um bar que está sendo indicado, tem que dizer sim onde é, qual é o telefone, quanto custa, isto é prestar um serviço completo ao ouvinte. Você não está dizendo vá lá no bar, aí sim seria um argumento publicitário. Há um medo do jornalista de que lhe coloquem carimbo de vendedor, por causa desse medo ele sonega informações que são úteis ao ouvinte. Eu não acho não que seja publicitização . O jornalismo tradicional é focado na notícia, esse jornalismo que você ta vendo é focado no ouvinte. É uma visão completamente diferente, Se você parte de uma visão focada no fato, você faz um tipo de jornalismo, agora parte de uma visão focada na pessoa, o que é útil pra ela, o que é importante pra ela.

Você acha que essa tendência é geral ou é só do rádio?

R: Eu acho que é geral. Eu acho que é pouco ainda. Deveria ter avançado muito mais. Na minha opinião esse é o melhor jornalismo, focado nas pessoas.

Existem estudos que apontam que o jornalismo está indo para o entretenimento, o Infotenimento.

R: Não é o mesmo fenômeno. Dizer que a informação jornalística ta indo pro entretenimento, tem que ver se está falando do conteúdo ou da forma. A forma, essa sim, ta indo pro entretenimento, mesmo quando o conteúdo não seja de entretenimento. Aí eu concordo com você. Isso na minha opinião, é um fenômeno da forma, não do conteúdo. O texto jornalístico está sim parecendo cada vez mais com texto publicitário, mas não quer dizer que o conteúdo seja publicitário e o texto jornalístico às vezes parece com entretenimento, ele é mais lúdico, cada dia mais lúdico. Às vezes até brincam que a Globo não faz mais jornalismo e sim novelização da notícia. Esse fenômeno é da forma, na minha opinião, não quer dizer que a pauta esteja orientada para o entretenimento.

Há algum tempo o Jornal Hoje mostrava um quadro semanalmente sobre banda de garagem.

R: Banda de Garagem é notícia. Você sabe quantas bandas de garagem tem em Curitiba? Eu digo, qual é a matéria-prima do jornalismo: Na minha opinião é a vida. E a vida é Mais variada e múltipla do que o número de editoria da Folha de S. Paulo. A vida não é só política, economia e cidades. A vida inclui banda de garagem, bar, filhos, pais, educação, inclui emprego, formação, a vida é muito ampla. Os veículos sempre foram estritamente masculinos e adultos. Esse jornalismo que você definiu como clássico é um jornalismo masculino e adulto. O universo do interesse deles é o universo masculino, tanto que você tem o caderno de esportes em todos os jornais e em quantos encontra o caderno de moda, por exemplo. Tem eventualmente como um satélite que passa de vez em quando. O que parece estar acontecendo é que o jornalismo é mais variado e voltado para um número maior de interesse da vida e hoje ele tem uma forte visão feminina disputando essa visão com a masculina, e ele não é mais só adulto, não é mais só para o universo adulto, ele tenta incluir o adolescente, a criança. Eu acho que é esse fenômeno que está ocorrendo. Só que nos estamos acostumado a um jornalismo clássico, masculino e adulto, que discute o preço do milho, Os jornais ainda dão cotação do soja e buchel, você sabe quanto é um buchel? É uma unidade de medida de soja, de grãos. Essa é uma conversa de homens do século XIX. Ninguém em Curitiba está interessado em saber o preço do buchel do soja, mas os jornais dão porque seguem uma tradição. Quando você diz, hoje eu não vou dar os pontos da bolsa, vou dar uma banda de garagem você ta abrindo tua pauta para outros aspectos da vida que provavelmente dizem mais respeito às pessoas que aproveitam o seu jornalismo. Você continuará tendo internacional, política, economia, cidades, mas a vida não é só isso. E as pessoas estão mais exigentes. Elas podem simplesmente abandonar o seu jornal e ir para a internet onde elas escolhem as informações de acordo com a sua vida. Os veículos também estão preocupados com isso, porque eles dão informações em cinco ou seis editorias e as pessoas vão pra internet discutir a última edição de Lost. Se elas abandonam o seu jornal para discutir Lost, talvez você devesse discutir Lost, não é importante para você, para eles é, ou você fala com eles ou você fala sozinho.

Quanto ao conteúdo é pensado ao público alvo da rádio?

R: O conteúdo é pensado, no caso da Bandnews no público A e B, jovem, mas não jovem definido pela idade, e sim pela atitude, pelo comportamento jovem e o mais importante de tudo, genuíno. A Bandnews é uma rádio que trás mulher pra dentro. Por que? Porque a principal concorrente é uma rádio que fala pra homem, a CBN só fala para homem, ela não consegue falar para mulher, homem velho, o ouvinte CBN é um homem cinquentão de terno. Isso é uma identificação de mercado, então a concorrente definiu que aquela é assim, então eu vou ser assado. E aí sim ela trabalha a linguagem, a pauta, os apresentadores, pode ver que tem um número de maior de mulheres falando e a tendência é de ser dirigida por mulheres. É 50%, é um fenômeno, é muito raro isso, 50 a 50 a audiência. Em Curitiba principalmente é assim. Eu acho que a tendência é de que a linha jornalística seja feita por mulheres.

E a participação do ouvinte no conteúdo?

R: Essa terceira perna. Isso não é um fenômeno da Bandnews é um fenômeno do rádio. O rádio é hoje uma mídia social como diz uma amiga minha daqui de Curitiba, Mônica Santana. O rádio é a verdadeira mídia social, porque você tem um informante em cada ouvinte, então você tem um repórter em cada ouvinte. Um repórter potencial e um crítico potencial também. Então é uma participação grande porque é muito simples participar com o telefone celular. Esse fenômeno não é só da Bandnews, é geral, o que acontece é que algumas emissoras não implementam, mas a expectativa desde que criaram a internet, desde que surgiu a internet 2 , ninguém mais aceita receber informação sem participar. É uma anciedade por participação. O rádio sempre foi interativo, mas hoje as pessoas fazem questão de participar. Elas estão entrando no conceito de comunidade de praticar ou comunidade de aprendizado que eu chamo de comunidade de informação. Eu não tenho mais ouvinte, tenho uma comunidade de informação, eles não estão lá só pra ouvir, é uma comunidade para trocar informações. Todos trocam. Eles trocam entre eles, vão lá e abrem um orkut da rádio etriocam informações e críticas, estão muito participativos e combativos. Esse é um fenômeno que está em pleno desenvolvimento.

E geram pautas?

R: Geram o tempo todo. E da furo. Por exemplo, a queda de parte do viaduto da Marechal Floriano Peixoto, há dois anos e meio, foi um furo de um ouvinte da Bandnews. A prefeitura soube por nos que soubemos através de um ouvinte. Às sete da manhã.

2- Entrevista com Joice Hasselmann realizada em 02 de dezembro 2009

Como são definidas as pautas na rádio Bandnews FM?

R: Reuniões, cada jornalista tem as suas fontes e tem intimidade com as suas editorias. Nós não temos aqui editores, então fulano de tal vai lidar só com política, com economia, não. Geralmente eu dou preferência para aquilo que o jornalista conhece mais. Então eu trabalho diretamente com política, gosto de política, então as coisas mais cabeludas nessa área eu mesma faço. A gente tem outra repórter que tem mais intimidade com outra área, também geralmente é ela quem faz. Mas se ela não veio, ou se ela teve que trabalhar em outro horário, qualquer jornalista bate bola em todas as editorias. Então cada jornalista tem a sua fonte. Com suas fontes levantam suas pautas. Além do que, o que é diário, é do dia-dia, lançamento disto, inauguração daquilo outro, isso aí são pautas tradicionais que chegam para toda a imprensa. Então as pautas chegam às vezes por e-mail, às vezes as assessorias ligam, estão nas agências, então isso é pauta para todo mundo. Não muda muito de um veículo para outro. O que muda mesmo são as pautas especiais. Para essas pautas especiais, pautas exclusivas, a gente conta aí com informações de fontes, que cada jornalista tem a sua. A gente faz uma reunião de pauta, define o que vale e o que não vale, qual é a abordagem. São várias reuniões. De manhã eu faço uma logo que eu chego. Durante o programa, enquanto o Bandnews Curitiba Edição da Manhã está no ar das 9 às 11 eu vou fazendo reunião via msn com o pessoal. Tem que fazer isso, eu vou cobrando, a abordagem de algumas coisas. À tarde tem mais uma reunião, assim que a equipe chega e se for preciso no meio da tarde mais uma reunião.

A participação do ouvinte tem peso na produção de conteúdo da rádio?

R: Os ouvintes participam intensamente da programação da Bandnews FM. É um negócio surreal. Se abre a boca no ar, é e-mail, é torpedo, é telefone. Muitas coisas são apenas opiniões: ah, eu acho que fulano de tal é um ladrão, eu acho que fulano de tal é competente. Tudo bem! Isso a gente registra. Você não vai pegar a opinião de ouvinte daquilo que você está discutindo e transformar em pauta. Porém tem muita coisa que vira reportagem. Então eu vou te dar um exemplo: esses tempos um ouvinte mandou um e-mail para mim, dizendo: Joice, eu tô com a minha mãe que precisa fazer um exame de tomografia pra descobrir onde ela tem um câncer e o equipamento está quebrado no HC, não tem previsão de que arrumem o equipamento. Ninguém tinha divulgado isso. Fomos atrás, era verdade. Então desta reclamação surgiu uma pauta. E aí fomos atrás e tal, conseguimos ajudar a resolver o problema. Então esse tipo de informação do ouvinte, a gente faz uma filtragem e o que de fato pode ser pauta. Mas eu diria assim que, numa porcentagem assim, 20% do que a gente produz ou vai atrás, nem sempre o ouvinte entra falando como fonte, mas muitas vezes passa informação em off, 20%, 25% são coisas que vem de ouvintes. Ouvinte que eu digo são cidadãos comuns. Porque os políticos são nossos ouvintes, passam informações diretas. Economistas são nossos ouvintes. Eu tô falando daquelas pessoas que não tem nenhum interesse teoricamente por trás da história.

Qual é o meio de interatividade mais utilizado pelo ouvinte?

R: O peso é mais ou menos idêntico. No meu e-mail eles mandam muito. No meu e-mail, joice[arroba]bandnews.fm.br eles mandam muita coisa, porque eles sabem que eu leio. Então eu tiro pelo menos uma, duas horas por dia pra sentar a frente do computador e responder os e-mail que eu não consegui ler no ar. Não consigo todos porque são muitos e-mail que chegam, mas consigo ler todos e responder alguns, sabe. E quando tô no ar, tô abrindo e-mail, abrindo e-mail, mas o torpedinho também pegou demais. As pessoas usam muito o torpedo, o SMS e manda lá as participações, os nomes no torpedo. Então eu acho que na ordem é torpedo, e-mail e depois telefone. O telefone era o primeiro, mas depois com o torpedo ele ficou para trás.

Quanto à ausência de um site da rádio local, é cobrado?

R: Os ouvintes reclamam muito, mas eles cobram mais um blog meu do que um site da Bandnews. Meu blog está em fase de acabamento. Vou colocar o blog no ar. Nele vai ter um espaço pra Bandnews também. Eu ia fazer um blog da Bandnews com espaço para política, mas daí discutiram, discutiram, pediram pra fazer o blog com foco político meu e com espaço pra Bandnews e vai estar toda a equipe. O Twiter da Bandnews nós temos. O pessoal usa bastante ...O Twiter pegou, foi um negócio que pegou. O pessoal cobra muito o blog pra colocar as notícias que eles não conseguiram ouvir ou querem ouvir de novo as sonoras, mas isso ta em fase de acabamento.

Você concorda que o jornalismo caminha para o entretenimento?

R: Você dizer o jornalismo caminha para o entretenimento, não dá para dizer que o jornalismo caminha para o entretenimento puro e simplesmente. Porque um palhaço no circo fazendo graça é entretenimento. Quando você houve o Macaco Simão na Rede Bandnews que faz piada, dá risada, ele ta falando de política, ele tem um fundo político na história, ele ta fazendo crítica de uma forma bem humorada. Então você tem o viés do entretenimento, mas você tem como fundo, né, é preciso fazer uma análise do discurso dele pra entender que não é simplesmente pra rir, porque ele ta fazendo crítica a fulano a beltrano, a cicrano, então não é exatamente só entretenimento. Dizer que o jornalismo caminha só para o entretenimento já é pra mim, exagero. Eu acho que ele caminha pra ser um jornalismo menos chato, jornalismo mais leve, que é a proposta da Bandnews. Ninguém suporta fica correndo atrás do rabo igual cachorro. Se pega um assunto e fica ali, chato naquele assunto, que ninguém quer ouvir, muda de estação. A Bandnews tem uma proposta, em 20 minutos tudo pode mudar. Nós temos jornais locais, no mais são de 20 em 20 minutos, rápido, ágil, entra notícias nacionais, entra noticia local e entra ali o colunista. No caso o Zé Simão é o único, um colunista que faz piada e tal. Os âncoras tem uma linguagem mais leve, porque não. Porque que o âncora tem que ser o cara acima do bem e do mal, todo prepotente falando como se fosse a pessoa mais genial do mundo, como se fosse alguém que tivesse longe do linguajar da população? Acho bobagem, acho pedante. Então aqui o âncora, ele conversa com o ouvinte mesmo, ele bate um papo com o ouvinte, ele dá risada, ele conta piada. Porque não, ele faz umas brincadeiras, mas isso assim, são pitadas.

A Bandnews tem entretenimento?

R:Não puro e simplesmente. Não tem, puro e simplesmente não tem. A Bandnews tem entretenimento com fundo político, econômico. Quando o macaco Simão entra no ar, dá risada, brinca com todo mundo, diz que vai fazer uma cueca com fundo falso pra colocar dinheiro, aquilo te remete a uma situação que realmente está acontecendo. Então te faz pensar mesmo numa situação bem humorada em alguma coisa. Te faz rir, muitas vezes daquele governante ou daquele parlamentar que você tinha vontade de dizer aquilo para ele: oh seu pilantra¹

A Caminho do Bar e Divirta-se é notícia?

R: É. Eu acho que sim. Porque o Divirta-se, o cidadão está lavando o carro, quer programar uma noite inteira e não sabe o que que tem. Ele não sabe qual show vai ter, então assim, as vezes tem show de menor importância, mas às vezes é um show que reúne milhares de pessoas. Vai ter em todos os jornais e que a pessoa quer saber quanto custa, onde que é, quem que vem. Então ele é uma informação pra um nicho, para um determinado público. Não é uma informação que atinge 100% do público.

Mas não entra no critério de noticiabilidade?

R: Não. Mas se você amarrar demais em critério de noticiabilidade, em lide, o que é o lide, como se fazer. Tem gente aqui que tem 30 anos de jornalismo e não sabe fazer um lide. Então assim, menos gesso e mais criatividade. Então esse tipo, o Divirta-se, por exemplo, a Agenda Cultural, ele vai trazer informação para uma parcela, uma fatia daquele público que querem aquele tipo de informação. Pra outras fatias não interessa. É diferente de você falar: amanhã vai ter um temporal, vai alagar tudo, é a previsão da Defesa Civil. Todo mundo quer saber disso, então é uma notícia que vai no estômago das pessoas. Agora amanhã vai ter show do Roberto Carlos, quantas pessoas interessam? Aquelas que querem ir ao show, uma fatia, mas é uma notícia para aquele nicho. Pra aquele gueto. Ainda sim uma banda local. Essa banda tem público, por menor que seja. Tem gente que quer assistir essa banda local, tem gente que ta lançando CD e também os veículos de comunicação, geralmente os locais abrem espaços pra essas pessoas que não tem espaço. Porque discriminar o cara porque ta lançando uma banda agora? Porquê não?.

A rádio trabalha muito com informações sobre bares e baladas. Isso é porque a rádio é também direcionada ao público jovem?

R: Público jovem e o público que ta na noite. Geralmente o público desse horário é o pessoal novo, as vezes não tão novo, mas que tão na noite. Eu to saindo. Eu quero ir pra algum lugar. E houve, é uma dica, então eu vou lá hoje, vou amanhã, vou me programar. Então é esse foco mesmo. Pensando nesse público que é a maioria do público desse horário. Porque o cidadão que saiu do trabalho, to falando da maioria, não 100%, ele ta em casa, ta jantando com a família, ele já pegou o jornal da tarde, ta informado. Então ele saiu às seis do trabalho, chegou às seis e meia, sete horas em casa e não pegou o Bandnews Curitiba Edição da Tarde. Ta informado, sabe o que está acontecendo. Então geralmente não é esse o cidadão que ta na rua nesse horário. É o pessoal da baladinha e tal, então a gente faz jornalismo também para esse público.

Começamos em 19, encerramos em 11. Vencemos mais um desafio. Agradeço à Patrícia, coordenadora do curso, que trabalhou muito para chegarmos até aqui. A todos os professores que nos passaram um pouco do seu conhecimento. Agradecimento especial ao professor Alexandre Lara que aceitou ser meu orientador e, sem dúvida, contribuiu muito com a produção deste artigo. Aos meus novos amigos curitibanos que conheci, nunca os esquecerei: Aloizio, Daiane, Gislaine, Gisele, Adriano, Kelly, Juliana, Adriane, Raquel e Gláucia. Agradeço ainda a professora Dra. Zeneida Assumpção da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) pelo auxilio no fornecimento de material bibliográfico.



Autor:

Disonei dos Santos Pereira

d.alvespereira[arroba]gmail.com

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

CURSO DE MBA EM GESTAO E PRODUÇAO DE RÁDIO E TELEVISAO

Artigo apresentado para obtenção de diploma do curso de MBA em Gestão e Produção de Rádio e Televisão da Universidade Tuiuti do Paraná

Profª orientador M.s. Alexandre Lara

CURITIBA 2009



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