Notas Sobre Rota 66 - A História da Polícia que Mata, de Caco Barcellos



Notes on Rota 66-The History of Police that kills, by Caco Barcellos

Estas notas reúnem aspectos relevantes do livro Rota 66 – A História da Polícia que Mata, do jornalista gaúcho Caco Barcellos, resumo de sete anos de trabalho de pesquisa sobre um conjunto de policiais militares que trabalhavam na Rondas Ostensivas Tobias Aguiar – Rota, e que cobriu o período entre 1970 e 1992. O livro se destaca como exemplo de um jornalismo investigativo que esclareceu um aspecto angustiante da violência urbana na cidade de São Paulo, especialmente em sua periferia e na população pobre que a habita.

Palavras-chave: violência – jornalismo investigativo – polícia militar.

Abstract

These notes assemblent relevents aspects of the gaúcho journalist Caco Barcellos, a resumée of seven years of work and research about a group of military policemen who used to work in Ostensive Patrol (or ostensive rounds) – Tobias Aguiar – Route, and that covered the period between 1970 and 1992. The book sends out (or detaches) as na example of na investigative journalisme that clarifies an agonizing aspect of the urban violence in the city of São Paulo, specially, in the periphery, and in the poor population that lives in that section of the town.

Key words: Violence, Investigative journalism, Military Police

JEL K14 Criminal law

A violência, em seus aspectos mais abrangentes, é constitutiva da sociedade brasileira, seu passado colonial de exploração do trabalho compulsório de índios e escravos africanos e no massacre sistemático dessas populações, violência que se perpetuou nas características sociais e econômicas de uma sociedade desigual e pobre como a brasileira. Mais recentemente, à partir da ditadura militar, a violência começou a apresentar novas formas, muitas delas acompanhadas de perto seja pelos órgãos públicos, seja por inúmeras organizações privadas e mesmo por intelectuais que tentam entender alguns de seus aspectos mais perturbadores. Muitos relatos de romancistas e artistas diversos levaram em conta esse dado. Não há texto de folcloristas como Luiz da Câmara Cascudo ou página de Guimarães Rosa que não recenda um relato sobre o poder, dinheiro e a polimórfica violência presente na família, nos estabelecimentos rurais, perpetuando-se na sociedade urbana e industrializada à partir da Revolução de 30 e mais decisivamente desde a modernização conservadora da sociedade brasileira sob a ditadura militar.

Essa sociedade moderna encontrou expressões artísticas em livros e filmes diversos e em relatos da OAB e da Igreja Católica. Há pouco tempo, o médico Drauzio Varella fez um relato sobre sua experiência na Casa de Detenção nos anos 90, no livro Estação Carandiru, que foi filmado. O autor se preocupava em mostrar os diversos mecanismos de regulação pelos presos de sua vida do presídio, de forma a mantê-la numa rígida disciplina que todavia lhes garantia uma permanência suportável, e, dentro das regras, segura. O livro termina bruscamente com uma pequena descrição de um início de rebelião na Casa de Detenção, que resultou no massacre de 111 homens envolvendo policiais militares de várias unidades. O massacre do Carandiru, como ficou conhecido, mostrou uma realidade vivida há muito nas cadeias brasileiras e a forma de reprimir revoltas em cadeias públicas. Dráuzio se tornou uma celebridade nacional e hoje trabalha no programa Fantástico, da Rede Globo, fazendo aconselhamento médico, o que é coerente com a ética médica que norteou seu trabalho no presídio e mesmo sua visão dele.

Na verdade, a repressão à rebeliões de presídios de forma exemplar foi uma prática da polícia militar desde há muito tempo. Caco Barcellos dá alguns dados, como 15 presos mortos pela PM durante uma revolta na mesma Casa de Detenção em 82, assassinato de 6 doentes mentais criminosos na rebelião do Manicômio Judiciário de Franco da Rocha em 83 e mortes durante uma revolta na cadeia pública de Embú, na Grande São Paulo. Essas ações Caco liga aos processos contra o tenente Wanderley Mascarenhas de Souza e unidades como a Rota e também o GATE, um grupo especializado em operações de alto risco. Pode-se perceber nessas ações militares uma repressão excessiva e injustificável. Porém, deram-se em momentos críticos para a chamada ordem pública. Rota 66 mostra de forma exemplar uma violência em que predominantemente não há nenhum risco à ordem pública dirigida por critérios racistas e classistas, exercida pela PM paulistana no período da pesquisa.

O jornalista chega em São Paulo no final de 1975, escolhendo para morar o bairro da Consolação num apartamento casualmente localizado a três quarteirões do Instituto Médico Legal – IML. Impressionou-se logo com o número de pessoas que procuram no IML o parente ou amigo morto pela polícia, e faz anotações diárias num caderno que vão constituir as primeiras informações da sua pesquisa. Passa a observar e entrevistar essas pessoas no pátio do necrotério, tendo aí uma das fontes da pesquisa. Começa a montar um Banco de Dados Não Oficiais também com o arquivo do jornal Notícias Populares - NP, que destaca grande quantidade de fatos policiais. A maior parte dos casos envolvendo pessoas mortas pela PM é descrita no jornal à partir das informações do Boletim de Ocorrência - BO, ou da Nota Oficial divulgada pelo Serviço de Relações Públicas da PM.


Página seguinte 



As opiniões expressas em todos os documentos publicados aqui neste site são de responsabilidade exclusiva dos autores e não de Monografias.com. O objetivo de Monografias.com é disponibilizar o conhecimento para toda a sua comunidade. É de responsabilidade de cada leitor o eventual uso que venha a fazer desta informação. Em qualquer caso é obrigatória a citação bibliográfica completa, incluindo o autor e o site Monografias.com.