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Percepção da influência da prática de projetos extracurriculares (página 2)

Prof. Edelene Soraia Da Silva
Partes: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7

Para tanto foram empregadas técnicas de entrevista, observação e revisão bibliográfica. E utilizados diversos instrumentos de pesquisa como questionários, coleta de dados documentais, fotos e filmagens, além da participação direta em todos os acontecimentos, possibilitando relacionar as mudanças e evoluções no comportamento dos educandos, ao longo do tempo em que estiveram participando ativamente das atividades do Clube.

Sendo assim, o objetivo geral desta pesquisa é analisar as atividades e projetos extracurriculares desenvolvidos pelo Clube da Árvore Ecologia Nota 10 na Escola de Educação Básica Santa Catarina nos anos de 2003 e 2004 e sua influência no desenvolvimento cognitivo e sociocultural dos educandos que participam.

Dentro deste intento, os objetivos específicos são: determinar quais são as atividades e projetos extracurriculares desenvolvidos pelo Clube da Árvore Ecologia Nota 10 da E.E.B. Santa Catarina nos anos de 2003 e 2004; determinar a percepção sobre as influências no desenvolvimento cognitivo e sociocultural nos educandos participantes do Clube e também comparar os rendimentos escolares dos alunos envolvidos nas atividades e projetos do Clube no ano de 2004 com de outros alunos não envolvidos.

Para que se possa atingir os resultados, a pesquisa terá como orientação as questões a serem esclarecidas, tais como: que tipos de atividades e projetos foram realizados pelo Clube da Árvore Ecologia Nota 10 da E.E.B. Santa Catarina nos anos de 2003 e 2004? Que influências podem ser percebidas no desenvolvimento cognitivo e sócio-cultural dos educandos que participam das atividades e projetos extracurriculares do Clube? O envolvimento dos alunos nas atividades e projetos desenvolvidos pelo Clube, influi no seu rendimento escolar?

Como hipótese de resposta a tais questionamentos, estima-se que o envolvimento dos alunos em atividades e projetos extracurriculares possa influenciar de forma positiva na solução de problemas de ordem disciplinar, social, comportamental, de aprendizagem, de saúde geral, etc., em relação aos alunos que participam das atividades e projetos do Clube na escola.

Tais práticas podem ser bastante complexas ao cotidiano escolar por motivos como: falta de tempo do corpo docente para o planejamento de projetos extraclasse, desmotivação geral dos professores e especialistas para maiores envolvimentos em razão dos baixos salários, além de terem já suas funções específicas, falta de espaço e recursos materiais e tecnológicos para implementação dos projetos, desinformação sobre as possibilidades de parcerias e programas privados, receio de maiores envolvimentos com a comunidade escolar além de reuniões somente para discutir problemas de rendimento e de disciplina dos alunos. Mesmo assim, acredita-se que este seja um caminho para uma formação mais completa do ser humano na escola.

Buscando contribuir para que se mude este quadro nas escolas públicas, esta pesquisa poderá sugerir que se reveja através de políticas públicas, garantias de desenvolvimento de projetos extracurriculares nas escolas de educação básica de forma ampla, regular e sistematizada e não apenas quando for possível aos professores de boa vontade.

Neste intento, espera-se que a organização de atividades e projetos extracurriculares nas escolas públicas venham a merecer profissionais reconhecidamente qualificados e remunerados para função específica de coordenação e orientação, na integração da comunidade escolar, a fim de que se possa promover, através dos mesmos, a contextualização da realidade local.

Além disso, os temas transversais propostos pelos PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais, poderiam ser trabalhados de forma mais eficaz e adequada, em vista das questões éticas e conflitantes que os cerceiam, exigindo sensibilidade e profissionalismo em diversas áreas que nem todos os professores sentem-se preparados para atuarem, deixando de cumprir este papel e limitando-se as aulas aos conteúdos curriculares normais de cada disciplina sem sua inter-relação com o cotidiano do aluno e os problemas que enfrenta na sua vida fora da escola.

Tais profissionais, poderiam adequar suas metodologias de trabalho aos espaços escolares de acordo com as necessidades das atividades dos projetos a serem desenvolvidos, otimizando a utilização da escola em tempo integral enquanto bem de todos. Buscar recursos junto ao Estado, entidades privadas e comunidade, via projetos estruturados e devidamente aprovados e inseridos no PPP – Projeto Político Pedagógico – das escolas, colaborando para o melhoramento da qualidade da educação oferecida pelas instituições de ensino básico e para a formação das crianças e jovens para a vida.

Assim, este trabalho está organizado como segue:

No primeiro capítulo são abordados aspectos relativos aos profissionais da educação pela sua importância enquanto educadores, gestores, administradores da instituição escolar lembrando dos demais seguimentos como os próprios funcionários que atuam junto e diretamente com os alunos diariamente, servindo-lhes, auxiliando-lhes, proporcionando-lhes ambiente transitável e higienizado.

No segundo capítulo, abordam-se brevemente algumas conceituações sobre projetos e sua relação com o PPP – Projeto Político Pedagógico da escola, bem como alguns aspectos sobre sua aplicabilidade.

O terceiro capítulo trará conceitualizações a respeito do desenvolvimento humano e como isso se processa nos âmbitos cognitivo e sociocultural.

A seguir, o quarto capítulo estará situando o palco de estudos e seus atores, expondo mais detalhadamente sobre as atividades e projetos e a própria estruturação do Clube da Árvore Ecologia Nota 10 da E.E.B. Santa Catarina de São Francisco do Sul-SC.

O quinto capítulo descreve, passo a passo, toda a metodologia de investigação aplicada sobre o estudo, a técnica e instrumentos utilizados.

No sexto capítulo encontram-se os resultados obtidos acerca dos dados coletados nos instrumentos de pesquisa e sua análise contextual acerca dos objetivos e das hipóteses do estudo.

Nas considerações finais encontram-se sugestões para o desenvolvimento de projetos interculturais na educação básica não como receitas, mas como idéias aplicáveis tanto na escola pública quanto na escola de ordem privada, bem como propostas de continuidade destes estudos acerca do tema.

1 – OS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃfO

Na atualidade é até difícil determinar com precisão os atores desta profissão tão rica, base da formação de qualquer outra profissão, porém tão banalizada. É com sentimento de profunda tristeza que este capítulo inicia esta fala na conversa com o leitor.

Hoje o que se percebe é que qualquer cidadão que não consiga emprego melhor sucedido acaba indo parar no magistério público. A legislação brasileira permite tais desmandos quando exige demais e oferece de menos aos profissionais habilitados, devidamente concursados, como os professores efetivos e ao mesmo tempo permite seleção e contrata para cargos de substitutos pessoas recém saídas de cursos de nível médio ou recém ingressados no ensino superior e ainda recebendo salários compatíveis aos dos primeiros. Mas a questão do salário nem é a maior causa da inconformidade da classe de educadores, o maior problema é a banalização real da profissão como já foi dito.

No passado o professor era tratado quase como um Deus por ser considerado detentor do saber. À medida que as mudanças foram acontecendo, o professor foi se adequando às novas realidades perdendo o respeito pelo seu esforço, perdendo direitos adquiridos, perdendo qualidade de vida e ainda assim continuou existindo. E mesmo assim...

(...) o professor deve ser zelador, caixa, agenciador de material e chefe-de-disciplina. Deve auxiliar no planejamento do currículo geral da escola, das atividades extracurriculares, dos acontecimentos que envolvem as relações escola-comunidade, dos jogos, das exibições e das ocasiões especiais; deve demonstrar-se bom cidadão, pela sua participação nos assuntos da comunidade; deve comparecer a convenções, quermesses, conferências e seminários; deve ser hábil no trato com todos os tipos de pais de alunos; deve substituir os pais, enquanto a criança está sob os seus cuidados (LEMBO, 1975. pp. 103-104).

Costumeiramente ouvimos falar no quanto a Educação escolar fora melhor no passado, no tempo em que "se estudava de verdade" e se tinha respeito pelas pessoas. Não se percebe que hoje a Educação escolar é muito mais equipada tecnologicamente e mesmo que as escolas não tenham lá grandes equipamentos, muitos alunos da escola pública dispõem de tais recursos em suas próprias casas, ou em locais de acesso público para utilização comunitária, muitas vezes bem mais do que o próprio professor.

Tal banalização espreme o professor a conformar-se com sua condição gerando, pela insatisfação e inconformidade, a desmotivação pelo aprimoramento. O professor ganha mal para garantir saúde, vestuário, lazer, etc., ficando em último plano de necessidades investir na sua própria educação.

Paulo Freire (1996, p. 107) já dizia: "Como professor não me é possível ajudar o educando a superar sua ignorância se não supero permanentemente a minha. Não posso ensinar o que não sei". Assim, cria-se um círculo vicioso pelo qual o professor vai tornando-se defasado diante dos avanços científicos e tecnológicos aos quais sente-se incapaz de acompanhar diante de suas limitações financeiras ou mesmo culturais.

Sabe-se que país que constrói escolas, destrói presídios. No entanto, na escola pública a desvalorização da educação inclui a desvalorização do professor habilitado contribuindo para a desqualificação de seu pessoal e para a deficiência dos seus sistemas de ensino. E ao professor cansado de lutar tendo que trabalhar manhã, tarde, noite e finais de semana, o que resta depois de tanta luta?

Freire (1996, p. 76) afirma que:

(...) é preciso repensar a eficácia das greves. A questão que se coloca, obviamente, não é parar de lutar mas, reconhecendo-se que a luta é uma categoria histórica, reinventar a forma também histórica de lutar.

Fica nesta conversa com o leitor nosso protesto pessoal ao descaso por parte daqueles que têm o poder de modificar tal situação, os políticos eleitos muitas vezes justamente pela classe docente, muitos deles inclusive também docentes, que acabam sucumbindo à máquina corrupta da política envergonhando também esta outra classe.

Assim, consideraremos como profissionais da educação todos os que atuam direta e indiretamente na formação dos educandos das instituições educativas.

1.1. A equipe de gestão escolar

Muitos profissionais da educação, demonstraram certa competência na sua área de formação e, em nome dessa competência foram chamados para a área administrativa, na qual nem sempre demonstraram competência igual. Por sua vez a formação administrativa será insuficiente se não levarmos em conta a especificidade da escola e da educação.

O Estado de Santa Catarina adota o sistema de indicação política para os cargos de direção e secretários de escolas, porém, a partir do ano de 2005, haverá concurso para secretários de escola em nível de ensino médio e técnico e eleição comunitária direta para direção escolar. Considera-se este um grande avanço democrático e organizacional. Democrático por respeitar a vontade das pessoas da comunidade escolar conferindo-lhes direito de escolher seus diretores de acordo com sua convicção e afinidade. E é organizacional por determinar através de concurso, profissional habilitado às funções burocráticas de secretaria escolar que vá familiarizar-se com a comunidade e conhecer os documentos e arquivos sabendo sua localização e peculiaridades, diminuindo os problemas de adaptação dos professores que são deslocados temporariamente para assumir secretarias sem preparo e qualificação para a função.

A indicação política como forma de ocupação dos cargos foi outro aspecto complicador para os procedimentos democráticos do grupo... Com razão a comunidade escolar não aceita que a escola se transforme em espaço de sustentação da dominação política. A equipe dirigente da escola sente-se compromissada em primeira instância com os princípios e as necessidades de quem a indicou e menos com a problemática da comunidade interna. Cabe destacar, no entanto, que a insatisfação dos professores não se traduziu em resistência organizada e sim em um sentimento de acatamento que se respaldava no princípio de que ninguém interfere no trabalho de ninguém; era o pacto do democratismo norteando as ações (VEIGA, 1995, p. 82).

Tal situação já foi amplamente estudada e relatada em diversas obras que tratam dos assuntos de gestão escolar. Porém a experiência comprova que a eleição direta para diretores escolares trazem resultados mais satisfatórios na administração escolar ao passo que a indicação política muitas vezes atende a interesses particulares de pessoas que nem sempre demonstram comprometimento com a Educação e sim com as ideologias de seu partido e dos políticos que lhes garantam cargos com certas regalias.

Não estamos dizendo com isso que seja regra geral, porém, é o que mais acontece nestas situações. Vemos casos em que diretores utilizam as verbas que seriam para atender necessidades pedagógicas dos alunos com futilidades, sendo direcionadas para decoração da sala do diretor, flores e festas e outras formas de desvio do dinheiro não por desonestidade ou maldade, mas por falta de bom senso administrativo, justamente pela falta de comprometimento com a causa da educação.

Na área da Educação, os profissionais precisam de capacitação e conhecimentos muito abrangentes mas também específicos, para sua boa e completa formação, inclusive na área de gestão.

Nenhum gestor de educação é perfeito, porém pode desempenhar melhor ou pior sua função conforme sua habilidade, vocação e preparo profissional. O mesmo em relação aos demais profissionais que atuam em uma escola. Há orientadores que desorientam, administradores que desorganizam, porém há pessoas que assumem estas funções dentro da escola, mesmo não sendo esta sua atribuição específica e saem-se muito bem devido ao seu preparo e vocação para lidar com pessoas diferentes.

É importante lembrar Anísio Teixeira (1968, p.17 apud Silva Junior, 1990, p.73) quando afirmava que:

Somente o educador ou o professor pode fazer administração escolar", para ao final concluir que: "se alguma vez a função de direção faz-se uma função de serviço e não de mando, esse é o caso da administração escolar.

O gestor escolar, portanto, deverá pertencer à sua comunidade escolar e ser alguém que participe e conheça seus problemas, necessidades e formas de relações. Não será a eliminação dos especialistas (administrador, supervisor, orientador, inspetor), nem a abertura ou delegação de suas funções a todos os professores, ou ainda a eleição direta para diretor a garantia de sucesso no alcance de resultados da prática pedagógica e de sua gestão democrática na escola.

Muitos não compreendem a gestão democrática e seu significado na prática. Acham que basta saber negociar com seu quadro de pessoal "arrumando" a vida de cada um, conforme seus interesses e necessidades individuais. Porém, a gestão democrática vai muito além disso.

O gestor escolar e sua equipe deveriam ser os primeiros a abrir as contas da escola à participação da comunidade e reorganizá-las conforme seus anseios e prioridades. O gestor democrático, utiliza-se da hegemonia para conquistar adeptos à sua administração.

Hegemonia é a força que implica poder, direção, dominação e consenso. Não implica violência. Refere-se ao campo político, cultural, moral e até linguístico. A hegemonia domina pela persuasão, pelo consenso e configura-se na direção da sociedade. O poder de uma classe sobre a outra opera-se pela hegemonia e não pela força, pela coerção. Os dirigidos, ou seja, a classe subalterna, reconhecem na classe dirigente o seu direito de dirigir a sociedade em seu conjunto não pela força, mas pelo consenso. A dominação é percebida como algo que corresponde aos interesses gerais. As classes dominadas legitimam a dominação (VEIGA, op.cit., p. 71).

O diretor da escola moderna deixa de ser apenas administrador e passa a ser também educador. Além de suas funções burocráticas, há hoje a necessidade de integração direta com sua equipe administrativa, professores, pais, alunos e outras pessoas que possam fazer parte da comunidade da instituição educacional a qual dirige. O próprio termo diretor permanece enquanto identificador da pessoa, porém a palavra gestor vem sendo mais apropriada para a função, pois o líder de uma escola precisa estar capacitado a atuar nas áreas do conhecimento, tanto quanto nas administrativas, nas áreas sociais, tanto quanto nas burocráticas, conviver com pessoas e diferenças com as quais terá que saber lidar de forma a articular o bem estar entre todos.

Muitos administradores crêem que não há necessidade de comunicação mais direta com o professor, a menos que a classe apresente problemas graves para o funcionamento da escola. Como consequência, inúmeros professores deixam de receber uma supervisão, em qualidade, de seu trabalho real, com a classe. A falta de comunicação dos administradores com os professores desperta crítica, no sentido de que àqueles pouco interessa a luta destes, na escola. Assim, quando ocorre uma sugestão da administração, no sentido de melhorar as condições de ensino do professor, este reluta em aceitá-la. Outros administradores adotam posição completamente diversa. Tratam os professores como esperam que estes tratem os alunos. Acham que sua tarefa consiste em moldar o comportamento dos professores segundo o modelo de suas próprias concepções a respeito de bom ensino (LEMBO, op. cit. p. 41).

O gestor tem auxílio pelo serviço de supervisão escolar que é absolutamente importante numa escola. O professor precisa muitas vezes de um profissional para dar-lhe apoio pedagógico, principalmente aos iniciantes na carreira. Desde como preencher um diário de classe até como diversificar seu modo de ensinar.

A presença do supervisor escolar é necessária para garantir a boa qualidade da educação oferecida pela escola e seus profissionais. É o supervisor escolar o responsável pela verificação e identificação dos problemas quando alunos ou turmas não estão progredindo em determinadas disciplinas, verificar a qualidade profissional dos professores não apenas em relação ao seu conhecimento específico de sua disciplina, mas no seu desempenho e seu modo de tratar tais assuntos e aplicar suas técnicas de ensino.

Como afirma Silva Júnior (op.cit., p. 58): "As escolas não existem para serem administradas ou inspecionadas. Elas existem para que as crianças aprendam". Assim sendo, o supervisor escolar não deve ser visto como o controlador, mas como o profissional habilitado ao suporte pedagógico que todo professor precisa. Por mais experiente que se seja, nenhum professor consegue ser criativo sempre sozinho. Bigge (1997, p. 6) afirma que: "Um professor sem sólida orientação teórica dificilmente consegue ir além de manter os alunos ocupados".

Escolas que não dispõem desta especialidade profissional assim como as escolas que tem supervisão descompromissada com a educação, caem no descaso _________________

O termo laisses faire significa "deixar fazer" no sentido do liberalismo.

do laisses faire, em que cada um faz como acha que deve e cria seu jeito próprio, que nem sempre é ideal ou eficaz. Isso resulta em problemas de indisciplina e desrespeito àqueles professores que não demonstrem estar em sintonia com os anseios dos alunos no seu modo de agir, de ensinar, de avaliar e de relacionar-se.

Presume-se, geralmente, que aquilo que o professor faz, na classe, é supervisionado, de perto, pela administração da escola e que ele, professor, goza de pouca liberdade. No entanto, raramente se vê supervisão, de perto. "A escola é, hoje, um conjunto de salas, nas quais cada professor, individualmente, leva a classe exatamente como ele quer." (HART apud LEMBO, op.cit., p. 46)

Por outro lado, lembramos o lado oposto a esse pensamento e à essa práxis na atitude do corpo administrativo de outras realidades:

Os administradores que exageram a supervisão ou estimulam a submissão acham que os professores precisam ser controlados, que preferem ser conduzidos, ou ambas as coisas. Muitos crêem que os professores só trabalharão no sentido de alcançar um objetivo educacional, se determinados recursos de controle forem aplicados (ROGERS apud LEMBO, op.cit., p. 44).

Tão importante quanto o papel do supervisor é o papel do orientador escolar. Este, como a própria palavra sugere, orienta o corpo discente da escola colocando-se diante das situações nas quais os alunos precisam de apoio educativo agora não na forma cognitiva apenas, mas na forma emocional, cultural e disciplinar. É o orientador educacional o profissional apto a intervir nos problemas referentes aos alunos da escola buscando solucioná-los da melhor forma possível, dentro das normas da escola e da própria legislação.

Cabe ao orientador escolar acompanhar o desenvolvimento dos educandos buscando conhecer não apenas sua vida estudantil, mas sua vida familiar, comunitária, laboral e tudo o mais que possível se fizer para compreender cada aluno como ser humano único, passível de erros e acertos, que justifiquem suas atitudes em quaisquer situações conflitantes, que porventura, solicitem sua intervenção e apoio.

É claro que nenhum ser humano consegue ser tão perspicaz ao ponto de ser tão bom observador e memorizador para conhecer a história de vida de forma individualizada de centenas de alunos, mas o orientador comprometido com sua função na organização escolar, assume para si esta tarefa com zelo e seriedade preocupando-se em registrar todas as informações possíveis de forma organizada e conhecer principalmente os familiares mais próximos dos alunos da escola onde atua.

A realidade da escola demonstrou-me, ainda, que a maioria das pessoas que atuam fora da sala de aula, como a diretora, sua vice e a orientadora educacional, por mais boa vontade que pretendam ter, são burocratas que adquiriram um verniz de conhecimento técnico, com pouca formação científica. Seus métodos não inovam e por isso não atendem à escola; não possuem respaldo teórico consistente para justificar suas ações, que acabam por não fortalecer o fazer pedagógico. Suas presenças na escola são quase ignoradas mesmo que o único motivo que justifica a existência de seus cargos seja a melhoria qualitativa do ensino (VEIGA, op.cit., p. 84).

Entretanto, na escola tanto orientador quanto supervisor escolar são imprescindíveis no acompanhamento de um conselho de classe e no apoio à direção nas decisões para o bom funcionamento pedagógico devido não apenas à sua bagagem profissional, mas pela sua contribuição imprescindível equilibrando informações e conduzindo com diplomacia as situações de conflito inerentes ao convívio diário entre as pessoas que constituem o quadro de atores docentes e discentes da unidade escolar. Ao menos esta seria a função que justifica a necessidade destes profissionais na escola.

1.2. O papel do professor

O professor é alguém muito presente na vida dos educandos e por isso considero muito pertinente a fala de Lembo (op. cit, p.169), ao retratar a função do professor enquanto avaliador do seu educando no trecho descrito a seguir:

Ao tratar de aprendizagem, ninguém perguntará se o professor foi bonzinho ou não, se benigno ou rigoroso. A pergunta será: o que você sabe fazer e como trabalhará? Se alguém sabe pouco e trabalha mal, tem remotas possibilidades de realização pessoal e desempenho profissional. Promover um aluno sem que ele tenha nível suficiente de aprendizagem, não é ajudá-lo, mas prejudicá-lo.

Com isso não quer dizer que o professor deva ser de todo mal, mas que saiba exigir quando preciso, o mínimo de disciplina para que o seu aluno aprenda e realmente esteja preparado para vida.

A professora que evolui é original; sabe liderar, sabe fazer-se amar. Dirige a turma com serena alegria. É segura. Sabe canalizar as preferências infantis para um trabalho construtivo. É justa. Não vacila. Sabe elogiar e envaidecer os alunos que progridem dia a dia. A professora - como todo profissional idealista - deve evoluir, acompanhar a marcha do progresso dentro da sua nobre missão de servir à criança, à família e à comunidade (SHEIBE, 2002, p. 87).

Quando nos fala da "professora" nesta citação, Sheibe, refere-se ao profissional da educação, e sabemos que as "crianças" não são as únicas que precisam desta forma de trato e de tato do professor. Qualquer ser humano necessita de reconhecimento e sente-se valorizado ao ser elogiado por seu trabalho, seu desempenho e isso promove sua auto-estima estimulando a vontade de aprimorar-se e evoluir na sua vida. Inclusive os alunos.

Os objetivos de nosso trabalho devem expressar-se através das qualidades reais das pessoas que culminarão a sua educação sob a nossa orientação pedagógica. Cada pessoa que educamos constitui o resultado de nosso trabalho pedagógico. E tanto nós mesmos quanto a sociedade devemos examinar minuciosa e detalhadamente o nosso produto, até a peça mais pequena. Como em toda produção, o resultado do nosso trabalho pode ser magnífico, satisfatório, aceitável ou simplesmente defeituoso ou, ainda mais, uma verdadeira barbeiragem. O êxito de nosso trabalho, depende de uma infinita quantidade de circunstâncias: da técnica pedagógica, dos mantimentos, da qualidade do material. O nosso material básico, as crianças, é incalculavelmente variável. Surge então a pergunta: que proporção desse material serve para educar um 'ser cheio de inciativas?' – 90%, 50%, 10%, 0,05%? E o que fazemos com o material excedente? (MAKARENKO, apud CAPRILES, 1989, p. 96).

Ser professor, para aqueles que realmente amam sua profissão, é o prazer de a cada dia sentir-se útil, amado, importante para a sociedade e ser recompensado por cada sorriso e cada gesto de carinho e admiração que desperta nos seus educandos. Mesmo quando nos defrontamos com situações conflitantes, alunos 'rebeldes', no momento podemos até nos abalar emocionalmente, mas depois tudo volta como era com a vantagem de adquirir uma nova aprendizagem sobre o relacionamento humano. Sim, porque cada palavra proferida e recebida em diálogos, gestos e atitudes recíprocos nas inter-relações professor-aluno, somam experiências e trocas de conhecimentos de qualquer espécie, que só vêm a acrescentar. Nunca se perde o conhecimento adquirido.

De fato, forma e conteúdo andam juntos. Não há conteúdo sem forma, nem forma sem conteúdo. Assim como não há prática pedagógica neutra, porque também não existe educação sem compromisso, sem conteúdo. Existe conteúdo sempre, mesmo que de forma não muito clara (WARSCHAUER, 1993, p. 32).

Mesmo nas relações informais dentro da escola, professor e aluno estão em constante aprendizado mútuo. Se por um lado o aluno aprende conteúdos sistematizados com seu professor, este também aprende conteúdos de vivências experenciadas e enunciadas pelos alunos durante os diálogos em aula. Se por outro lado o aluno aprende valores assumindo para si as regras das aulas do seu professor, este também aprende a enxergar em seus alunos valores diferentes da sua cultura que merecem valorização.

O bom professor, portanto, não é apenas aquele que sabe muito bem sua matéria, mas aquele que também sabe bem relacionar-se com seus alunos.

Ao considerarmos as características dos bons professores, encontramos quatro áreas de competência: l) a capacidade de criar um clima psicológico para a aprendizagem; 2) a aptidão para identificar, planejar, assegurar e avaliar oportunidades de aprendizagem adequada; 3) a aptidão e a vontade de experimentar e descobrir abordagens mais convenientes para o ensino e a aprendizagem; 4) a capacidade de entender e empregar de forma construtiva o seu próprio comportamento (LEMBO, op.cit., pp. 100-101).

Em sua atuação na escola, seja na aplicação de suas aulas ou no desenvolvimento de atividades e projetos extracurriculares, o professor significa não apenas o coordenador das atividades, mas o exemplo a ser seguido.

Os alunos somente se engajarão em atividades, que lhes tomará o tempo no qual poderiam estar se divertindo ou exercendo outras funções de seu interesse pessoal, se sentirem estímulo pelas tarefas a executar. Somente o professor poderá fazer com que seu aluno compreenda a importância das atividades propostas, se estas estiverem em sintonia nos sentidos de cooperação, busca pelo conhecimento, pela ocupação de forma empreendedora e significativa.

A motivação consiste nas causas e nos impulsos de comportamento. Uma necessidade leva o indivíduo a buscar um objetivo. Esse impulso, decorrente da necessidade que impele a pessoa a agir em busca de algo que venha a satisfazer tal necessidade, é o fator que desperta, sustenta e dirige a atividade do organismo. A aprendizagem depende em muito da motivação. No processo ensino-aprendizagem, que ocorre na escola, o professor deve despertar motivação mediante incentivos, ou seja, transformar o assunto a ser ensinado em necessidade pessoal do aluno. A partir daí desencadeia-se todo um processo que gera uma reação do educando para satisfazer a necessidade surgida; disso decorrem as aprendizagens (MARTINS, 1990, p. 26).

Ao escolher trabalhar com atividades e projetos extracurriculares, o professor deve ainda estar consciente de seu papel no desenvolvimento das crianças e jovens nos aspectos do empreendedorismo e do protagonismo juvenil, ou seja, as atividades devem ser planejadas de modo que cada aluno envolvido tenha sua cota de tarefas e responsabilidades que o levem a aventurar-se no seu sucesso ou insucesso como conseqüência de seu próprio desempenho. Neste intento, o professor deve promover o protagonismo juvenil não oferecendo tudo pronto, mas estimulando o empreendedorismo colocando seus alunos em condições de criadores de situações nas quais serão sujeitos das ações para sua realização.

Segundo Antonio Carlos Gomes Da Costa (Disponível em www.institutosouzacruz.com.br, acesso em 18.07.2004):

O jovem empreendedor pode ser definido como aquele indivíduo autônomo, criativo e arrojado que:

1. Tem visões acerca de seu futuro, que passam pela produção autônoma de bens ou pela prestação de serviços para o mercado;

2. Tem disposição para transformar estas visões em realidade. Entende-se por disposição a vontade de dedicar tempo, recursos e energias à consecução de seu projeto de vida no campo da atividade produtiva;

3. Está consciente de que a iniciativa privada exige mais – em termos de dedicação e capacidade de sacrifícios e renúncias – do que a ocupação de um posto de trabalho na condição de empregado;

4. Está aberto à perspectiva de correr riscos calculados, o que é uma atitude distinta do aventureirismo, mas que não elimina a possibilidade das adversidades e dos fracassos sempre presentes em qualquer atividade empresarial;

5. Entende o empreendedorismo não como uma habilidade a mais, necessária para o ingresso bem-sucedido num ramo da atividade produtiva, mas, como um modo de ser, uma atitude básica diante da vida;

6. Assume o compromisso de adquirir os conhecimentos, habilidades e atitudes requeridos pelo ramo de negócio em que pretende estabelecer-se, ou seja, leva a sério o domínio do ferramental teórico-prático requerido pelo ramo de atividade empresarial em que pretende ingressar como empreendedor;

7. Conhece seus pontos fortes e fracos e está disposto a atuar no sentido de potencializar seus pontos fortes e, se não for possível eliminar, contrabalançar seus pontos fracos por meio, entre outros recursos, do uso criativo do trabalho em equipe.

É comum em escolas públicas perceber que alguns educadores não valorizam as capacidades e competências de seus educandos, marginalizando-os à pedagogia do mínimo. Infelizmente este é um sentimento que advém da nossa própria história, na qual fomos também marginalizados e rotulados pela relação com nossa árvore genealógica, com nossa cultura, com a condição social, gênero, crença, etc.

Como esperar que o aluno queira participar das aulas ou das atividades da escola, se está ali muitas vezes apenas pela obrigação que lhes submetem e a cada dia percebe seus professores cada vez mais desestimulados? Vira um ciclo vicioso, o aluno se desestimula pelos estudos e seu desinteresse acaba desestimulando também seu professor.

Lembo (ob.cit., p. 50) lembra que:

(...) não podemos culpar a família ou os antecedentes sociais do aluno, nem a ele, pessoalmente, porque tem baixo nível de inteligência ou não está motivado. São transferências de responsabilidade, para desviar a atenção, da escola e do seu pessoal, como agentes responsáveis na promoção do insucesso educacional.

No entanto é comum nos conselhos de classe, ouvirmos comentários vindos de alguns professores sobre seus alunos, de que suas notas estão baixas porque este é o limite do Fulano ou da Fulana, que não conseguem mais que isso então o melhor a fazer é aprovar logo e empurrar até que se forme no ensino fundamental ou médio, para ser empregado de alguém, ou que não rende mais porque é filho de Ciclano, que já era assim quando estudava ali também; ou ainda que não adianta porque é filho de alguém poderoso que depois vai fazer por prejudicar a escola ou o professor, entre tantas outras justificativas para isentar-se do compromisso com a responsabilidade sobre o futuro daquele indivíduo que passa pelas mãos dos profissionais da escola.

O conceito de reprovação é empregado em nossas escolas principalmente porque o processo escolar é montado segundo a nossa estrutura social, que enfatiza a condenação e o castigo, ao invés de modificar as condições de aprendizagem quando se apresentam padrões de comportamento inaceitáveis. Se, no entanto, pretendermos ser bem sucedidos na tarefa de ajudar nossa juventude a desenvolver o que de melhor existe nela, precisamos eliminar o espírito de vingança, que reina em nossas escolas. O insucesso não é educativo, em nenhum sentido educacional (Ibiden, p. 62).

Por outro lado há ainda as injustiças com alunos que se esforçam e são habilidosos em outros aspectos, mas que seu professor desconhece ou não reconhece e a este lhe impõe rebaixamentos de conceitos, que desconsideram toda a teoria da valorização do indivíduo enquanto ser humano. Todas essas disparidades levam à cultura da rotulação do aluno e diante do pouco poder destes em modificar o sistema ao qual estão submetidos, acomodam-se e vão diminuindo sua auto-estima ao patamar da aceitação e mero cumprimento de obrigações, que já não satisfaz. Isso tudo contribui para o quadro dramático da educação na qual se busca culpados responsabilizando a escola, o professor, o aluno, o pai do aluno e fica o jogo de empurra sem solução para trazer os educandos ao mundo do conhecimento de forma prazerosa, não só para eles, mas para todos os envolvidos.

A escola deve estar preparada para aceitar a culpa, quando os estudantes deixam de aprender e de desenvolver-se de maneira socialmente construtiva. Se a própria escola demonstra pequeno interesse nos problemas que afeiam profundamente os direitos e o bem-estar de todos, ela não pode esperar motivar os alunos. Os alunos não falharam! Aprenderam bem as lições que receberam: conformar-se, realizar façanhas de memória e valorizar as coisas insignificantes e triviais mais do que as pessoas e seus problemas (Ibiden, p. 31).

No Brasil temos exemplos de trabalhos maravilhosos desenvolvidos por professores de escolas públicas extremamente criativos, perspicazes e humanistas. Mas isso é característica pessoal e muitas vezes tais trabalhos acabam por não serem reconhecidos pela própria comunidade na qual o professor está inserido. E isso não deve abalar seus sentimentos, pois o retorno de seu trabalho trará, sem dúvida, de uma forma ou outra, a compensação merecida. Seja pela resposta carinhosa dos alunos envolvidos e beneficiados pelo conhecimento e habilidades adquiridas, seja pela sua própria consciência do dever cumprido à cada novo dia.

Sem querer entrar no mérito da questão de a escola ser pública ou privada, concordamos com Arroyo no sentido que, apesar de tudo, encontramos na Rede Pública de Ensino professores sérios que "carregam" esta escola ou universidade, procurando mesmo com tantas dificuldades, se qualificarem, aprenderem cada vez mais, para construir melhor a escola e o processo educativo (ARROYO apud CANDAU, 1999., p. 69).

Geralmente cada escola possui professores que se destacam pela sua atuação, pela sua sabedoria, pela sua simpatia, pelo seu bom senso ao lidar com seus alunos, pela sua metodologia de ensino, pela sua criatividade, pela sua versatilidade, etc. Estes professores fazem a diferença e graças a eles a Educação perdura e mesmo deficiente, acontece.

Pode-se comparar a escola com a Terra citada por Savater (1999, p.168), no trecho a seguir:

Pois bem, a Terra não é um conjunto de retalhos ou pedaços: mantê-la habitável é uma tarefa que só pode ser assumida pelos homens enquanto comunidade mundial, e não a partir da míope concorrência de uns contra os outros, na disputa por maiores vantagens.

O sentimento de individualismo que assola alguns professores e outros profissionais da educação, prejudicam o andamento harmonioso da escola. É preciso transformar essa cultura entre a classe docente para construir parcerias, construir solidariedade. A união entre os professores diferencia uma escola e a educação que esta oferece. Os trabalhos realizados em equipe, dividem as tarefas possibilitando melhores resultados pela maior dedicação de cada participante contribuindo para o todo. E se isso não é novidade para ninguém, por que ainda há tanta resistência no trabalho interdisciplinar? Por que é tão difícil implementar de fato os objetivos, as técnicas, os métodos que geralmente estão delineados numa gaveta ou prateleira de forma exemplar no PPP das escolas?

Goodlad (1969) considera que:

(...) dispomos dos recursos para fazermos o que deve ser feito. Está, no entanto, provado que a maior parte dos professores tem medo ou má vontade em abandonar velhos conceitos e fazer as modificações necessárias, na escola ( GOODLAD apud LEMBO, op.cit., p. 14).

Assim, é lançado o desafio a cada dia para aquele que se vê educador, pois as vidas que passam diariamente pelas suas mãos seguirão seu rumo, mas a contribuição da escola e seus agentes para sua formação são fundamentais na determinação do seu futuro e no desenvolvimento até mesmo de seu caráter. Cada aluno que desfruta da convivência com professores, colegas e pessoas num círculo no qual sente-se bem, terá prazer de viver e estará motivado a buscar o conhecimento.

Os alunos querem ação, movimentação, jogos, recreação, discussão sobre as suas experiências no trabalho, no lazer, na escola. A professora quer silêncio, ordem, execução de exercícios, quer que os alunos se interessem por Cristóvão Colombo, por relações de contém e está contido, etc. Dificilmente ela consegue estabelecer pontes entre as experiências dos alunos e o conteúdo que está sendo transmitido" (ANDRE E MEDIANO apud CANDAU, op.cit., p. 102).

Assim, o desenvolvimento de atividades e projetos pedagógicos extracurriculares, vêem complementar as necessidades dos educandos em relação às suas expectativas. E os professores por estarem na posição de gerenciadores das atividades curriculares, podem elaborar atividades extracurriculares que atendam à complementação dos conteúdos e desenvolvam outras habilidades necessárias à formação da criança e do jovem ou do adulto na sua construção histórico cultural.

1.3. Os outros profissionais da educação

Esta parte do trabalho tem uma dedicação em especial para aqueles que raramente são citados nos anais da Educação, os funcionários das escolas. Constituem os funcionários da escola os secretários, administradores financeiros, serventes, coordenadores de turno, merendeiras e até os estagiários. Sua participação na educação dos alunos da escola, mesmo que indiretamente, é significativa e por isso deve ser considerada.

O relacionamento entre os alunos e os funcionários da escola podem variar entre o indiferentismo e o coleguismo, entre a subserviência e a cooperação mútua, dependendo da cultura praticada pelas pessoas da comunidade.

Um exemplo disso se dá na hora da merenda, há escolas nas quais os alunos rejeitam a merenda por vergonha, por não estarem acostumados a compartilhar pratos e talheres de higiene duvidosa pela alta rotatividade. Porém, ao ver alguns professores e amigos indo comer a merenda, os alunos passam a sentir-se mais seguros e começam a romper essas barreiras pessoais aproximando-se da merendeira e iniciando uma relação de carinho educativo pela aprovação, principalmente quando a merenda é de qualidade.

A arte de colocar o prazer a serviço da alegria, ou seja, a virtude que sabe não deixar o gosto cair no desgosto é chamada, desde tempos antigos, de temperança (SAVATER, op.cit., p. 149).

O mesmo ocorre com os serventes, se os alunos têm oportunidade de conhecer seu trabalho árduo na manutenção e higiene da escola com visão humanista, se participam de atividades que os leve a conviver mais próximos a estes, estabelecem relações de parceria e cooperação igualmente educativas. Não cabe fazer os alunos executarem os serviços dos funcionários, mas aprender a colaborar evitando sujar, bagunçar, quebrar, desordenar o ambiente de todos, compreendendo as dificuldades e insalubridades deste trabalho que pode ser facilitado pela valorização do ser humano e do seu ofício.

Embora mais distantes e isolados em suas mesas e máquinas, também os secretários e administradores financeiros relacionam-se com os alunos da escola quando estes ou aqueles precisam trocar documentos, informações e favores. O mesmo em relação aos estagiários, que mesmo sendo também alunos, no período de trabalho, têm uma relação diferente com seus colegas. E todas essas formas diferenciadas, cada qual nas suas peculiaridades, estabelecem trocas de experiências, que por mais simples que possam parecer, sempre acrescentam conhecimentos e contribuem para a formação integral do educando.

O coletivo é um organismo social vivo e, por isso mesmo, possui órgãos, atribuições, responsabilidades, correlações e interdependência entre as partes. Se tudo isso não existe, não há coletivo, há uma simples multidão, uma concentração de indivíduos (MAKARENKO apud CAPRILES, op.cit., p. 13).

O fato de que este quadro de pessoal prestador de serviços da escola não esteja preparado pedagogicamente para "educar", não deixa de fazer parte do processo educativo, assim como a família, como os colegas de trabalho, os colegas dos momentos de lazer, de culto e outras formas de relações que contribuem sempre para a formação de cada ser humano enquanto ser social e para a formação da coletividade.

A integração de todos os seguimentos da comunidade escolar em prol dos seus educandos traz harmonia à escola gerando um clima de alegria e satisfação entre seus integrantes. Pois todos participam, se ajudam, crescem culturalmente, formam parcerias, conquistam seus objetivos gradativamente e evoluem no tempo e no espaço.

Savater (op.cit., p. 27), propõe uma interessante alternativa para que a escola pudesse atingir este nível de harmonia na sua obra:

Ora, se quanto mais feliz e alegre alguém se sente, menos tem vontade de ser mau, não será prudente tentar fomentar o mais possível a felicidade dos outros, em vez de fazê-los infelizes, e portanto propensos ao mal?

Por tudo isso, é importante relacionar este outro aspecto de desenvolvimento social intrínseco às relações formais e informais dentro da escola, que podem ser ótimas se cada membro da comunidade estiver consciente de sua função dentro do grupo e respeitar a função do outro.

2 – PROJETOS PEDAGÓGICOS

A prática pedagógica extraclasse através de atividades e projetos extracurriculares podem contribuir para um melhoramento geral não apenas na aprendizagem, mas em diversos aspectos de formação cognitiva e sociocultural dos alunos de escolas públicas, oferecendo-lhes capacitação e habilidades para sua atuação individual e social.

A palavra projeto, vem do latim projectu, que está no particípio do passado do verbo progicere, com significado de lançar adiante, plano, intento, desígnio (Ferreira, 1975, p.144).

Há currículos e práticas pedagógicas pobres porque são destinados à população pobre, ou seja, há "uma escola pobre para o aluno pobre", como diz Penin (1989), numa lógica distorcida que faz da escola não uma instância mediadora e sim reprodutora, condenando os alunos a permanecer no patamar em que já estão (VEIGA, op cit, p.118).

O currículo escolar precisa contemplar e prever atividades que tragam ao aluno recursos técnicos pedagógicos que ofereçam práticas complementares de sua formação. Não é possível conceber na atualidade, escolas e professores rotulistas com currículos igualmente rotulistas, que considerem o aluno como receptáculo de migalhas do saber, sendo este dádiva oferecida como favor pela escola. O aluno é visto hoje como cliente e como tal deve se ter a preocupação em oferecer-lhe o melhor dos serviços educativos.

Segundo Resende (1999, p.23):

(...) o principal ramo de estudo da Pedagogia é criar e promover todo o planejamento que venha vincular aluno X escola X professor X sociedade, formando uma unidade onde se desenvolverá o ensino e a aprendizagem, mantendo a harmonia das partes, embasada em metodologia própria e integralizando as diversas disciplinas (...) A Didática está intrinsecamente ligada ao ensinar e aprender, professor e aluno.

Portanto, o conjunto – projeto pedagógico – nada mais é do que a elaboração de atividades extracurriculares que contemplem os diversos setores de desenvolvimento do aluno na construção do ideal de homem para a sociedade, para a família e para o futuro do próprio educando.

Segundo Rousseau, a criança nasce boa, mas a sociedade a perverte. Já Hobbes tem uma posição oposta, isto é, a criança nasce má e a sociedade a torna boa. Locke opta pela criança como uma tábula rasa, isto é, não nasce nem boa, nem má. Os estudos da Psicologia, entretanto, mostram que o ser humano está em constante interação com seus conteúdos hereditários e o meio, resultando daí os seus comportamentos, os seus pensamentos, enfim, a sua personalidade (MARTINS, 1990, p. 38).

Pela literatura clássica os conceitos de criança, homem e sociedade nos levam sempre à reflexão de como provocar seu desenvolvimento pelo melhor para cada um. A proposta de atividades e projetos extracurriculares é uma alternativa concreta que a escola pode buscar para essa contribuição com a formação da sociedade de sua região.

A escola como preparação para o futuro exclui o presente, roubando da criança sua própria linguagem plástica e lúdica. A arte é separada da vida, deixando de ser manifestação de vida. O espaço de criação fica reservado ao artista, de forma que "o homem comum perde a possibilidade de criar suas próprias manifestações e passa a consumir a manifestação alheia" (WARSCHAUER, op.cit., p. 29).

A criança é dotada de facilidades e liberdades de criação, já o adolescente, com todas as transformações biológicas e emocionais associadas ao convívio social mais exigente, passa a desvincular-se do espírito criativo dando lugar aos complexos pessoais que limitam seu desenvolvimento, se não forem cativados para a continuidade do processo criativo. A escola contribui para esse retrocesso à medida que afunila a liberdade dos alunos ao longo dos anos que estes passam frequentando-a e tendo que sucumbir às penalidades do sistema se o comportamento não estiver de acordo com os padrões estabelecidos.

Em sala de aula, o aluno muitas vezes sente-se ameaçado pelas notas que o professor possa lhe atribuir. Em trabalhos individuais ou mesmo em grupo, há competição entre os alunos para destacarem-se diante do professor, às vezes gerando conflitos entre os colegas de turma ou entre turmas diferentes e isso tem que ser trabalhado pelo professor para que seja saudável.

Já nas atividades e projetos extracurriculares, o aluno participa sem o clima de competitividade, apenas por participar, por colaborar. Não que a competição não possa ser saudável, muitas vezes até pode servir de estímulo para um bom desempenho, para uma busca mais aprimorada pelo saber e pelo fazer bem feito. Portanto, as atividades e projetos extracurriculares também podem e devem receber avaliação qualitativa por parte dos professores.

Porém, não cabe mais na escola atual, atitudes repressoras e ameaçadoras por parte dos professores quando o aluno não se identifica com a atividade proposta e não participa em total acordo com a sua expectativa. Cabe aos professores reavaliar a relevância de seu planejamento para estimular o interesse do aluno.

Segundo Lembo (op.cit., p. 36):

(...) essas ameaças constituem a "pedagogia do medo" pela incompetência do professor. Quando ocorre na individualidade do aluno, (o que acontece), produz nele a vergonha, a humilhação... Quando um estudante vence, passa a ser hostilizado por aqueles a quem venceu; quando é vencido, fica geralmente magoado com os que o derrotaram. É claro que nenhum processo é mais destruidor de amizades e de um relacionamento positivo entre pessoas, durante a infância e a adolescência, do que a ênfase implacável que a escola atribui ao vencer.

As atividades e projetos extracurriculares podem auxiliar no desenvolvimento de habilidades que poderão auxiliar o aluno a identificar-se até com uma linha de preferência que poderá despertá-lo para uma possível futura profissão. Não que a escola tenha que oferecer educação tecnicista em todas as instâncias, mas na escola comum, há muitas formas de aprender muitas coisas diversificadas, de muitas áreas diferentes, sem esgotar nossos alunos com metodologias pesadas para sua pouca experiência e perseverança.

Há que se concordar com Lembo (idem, pp. 37-38), quando considera que:

Há muito tempo, professores e administradores vêm-se iludindo a si mesmos e ao povo, insistindo em que os alunos precisam competir, para se sentirem motivados a aprender. Esse pessoal ligado à escola não conseguiu fazer distinção entre motivar um estudante para realizar tarefas e alcançar objetivos apropriados para ele e motivar um estudante para obter sucesso, relativamente a outros estudantes. Os alunos aprendem de maneira muito mais satisfatória quando a matéria, os objetivos e as recompensas são individualizados, para cada um deles, do que quando são expostos a um programa comum de estudos e solicitados a competir em notas. Sabemos bastante a respeito do comportamento humano para dizer, sem medo de errar, que, quando proporcionamos condições individuais de aprendizagem para cada aluno, como por exemplo tipos apropriados de ensino programado, aprendizagem por pesquisa, acordos segundo as possibilidades e matéria e tarefas verticalmente contínuas, a competição se torna totalmente desnecessária para a motivação e a aprendizagem.

A tecnologia caminha muito depressa e a maioria dos jovens e crianças têm muita facilidade de absorver muito bem esses recursos. Portanto, faz-se mister a atualização constante não apenas do professor, mas de toda a escola para inserir os alunos nesta modernidade e colocá-lo à altura de competir de forma justa na sociedade enquanto cidadão, sem deixar de lembrar que isso não é o mais importante. Toda essa tecnologia e metodologia moderna deve ser utilizada também a serviço da formação do cidadão consciente, humano e crítico, com capacidade de refletir sobre a sua condição e dos seus semelhantes. Tornando-o disposto a participar da sociedade e não apenas preocupado com sua sobrevivência esquecendo-se do seu próximo.

Lembo (idem, p. 50) ainda afirma que:

Precisamos deixar de preparar os jovens para se tornarem mestres da tecnologia, desde que isto venha a contribuir para torná-los insensíveis e cruéis para com as pessoas e os valores destas. Não devemos estimular os jovens a fazer planos para a sua riqueza e o seu conforto, a menos que planejem, também, a extinção das condições subumanas em que vivem outros. Não devemos promover a liberdade, a menos que ela signifique liberdade para elevar-se. Não devemos tolerar mais uma década, em que as pessoas habitem, mas não vivam, em um meio que continuamente grita por socorro. Para que a escola cumpra, construtivamente, o seu objetivo social, ela precisa capacitar cada aluno a identificar-se com a condição humana total; a compreender que as aspirações, as necessidades e os problemas de cada homem são seus, também, e que infringir qualquer dos direitos do homem é violar os direitos de todos os homens; e que todo o problema social não resolvido é, em parte, de sua responsabilidade.

Nas transformações que a sociedade sofre, o homem passa a ser visto conforme suas exigências, tendo que atender à demanda de produção adequada ao suprimento de profissionais necessários ao cotidiano do sistema de governo ao qual a escola encontra-se inserida. Porém, enquanto ser social, o aluno deve ser estimulado a interessar-se por conhecer as formas de socialização, interessar-se pelos problemas da sua comunidade e do mundo, estimulado à reflexão crítica dos fatos da vida, estimulado à busca incessante pelas alternativas de solucionar os problemas ao seu alcance, estimulado a querer a transformação da sociedade para uma melhor qualidade de vida a todos e não apenas a si próprio.

Uma escola que se propõe a promover unicamente o desenvolvimento intelectual arrisca-se a fazer com que o racional passe a significar insensível. Uma escola, que promove unicamente o desenvolvimento dos sentimentos arrisca-se a fazer com que sensível passe a significar irracional. A promoção do desenvolvimento de apenas um nível de aptidões, na escola, restringe o desenvolvimento do potencial humano e nega aos alunos a possibilidade de lidar com todas as diferentes espécies de problemas humanos, fora da escola. As escolas não devem ser centros de desenvolvimento intelectual, apenas, mas, sim, de desenvolvimento humano (Ibidem, p. 51).

Porém, educadores de todo o mundo há muito vêm discutindo esta entre outras questões, para promover uma educação que respeite a formação do indivíduo enquanto ser humano e não como bem de produção. Neste intento, uma das propostas são as atividades e projetos extracurriculares, através dos quais, se pode resgatar o processo criativo associando-o aos processos de socialização e de desenvolvimento tecnológico e intelectual.

Atividades e projetos extracurriculares auxiliam no desenvolvimento da autonomia do indivíduo enquanto dono do seu mundo e criador de sua história, uma vez que praticam de forma paralela as situações vivenciadas pelos adultos na vida social, laboral, familiar, etc. Em sala de aula, através dos conteúdos programáticos curriculares, os alunos aprendem a teoria muitas vezes sem significância, dificultando sua compreensão e relação com a prática do seu dia-a-dia. Então, a educação deve reunir sempre esses dois pressupostos para ser eficaz no seu objetivo de formação completa do ser.

Negamos a existência ou a importância dos problemas para os estudantes e, depois, acusamo-los de não entenderem as coisas. Quão desonestas são as escolas e que grande desserviço prestam, ao privarem os alunos de tantos conhecimentos, enquanto jovens e ao negar-lhes tantas das aptidões de que terão necessidade para desempenhar-se como adultos capazes (Ibidem, p. 25).

Neste trecho, Lembo nos relembra a importância de que a escola e os professores preocupem-se em oferecer aos seus educandos atividades e projetos que complementem seu preparo para a vida e dê-lhes condições de aprender muito mais do que apenas os conteúdos sistematizados dos currículos escolares nacionais, estaduais, municipais ou de qualquer instituição privada.

Arroyo escreve também sobre a questão do currículo no processo de formação docente dizendo que: "Um projeto de currículo, de parâmetros é apenas um elemento. Há uma crença quase lógica de que o currículo faz a escola. Essa crença já está superada. O currículo tem importância sim, mas é a prática escolar, que introduz novas dimensões, que terminará construindo um novo projeto de educação" (ARROYO apud CANDAU, op.cit., p. 100).

Neste aspecto atividades e projetos extracurriculares devem permear os currículos das escolas de acordo com os PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais, mas também de acordo com a real significância de sua execução. É preciso identificar quais as necessidades mais urgentes da comunidade e de que forma a escola pode contribuir através dos trabalhos desenvolvidos com seus educandos.

Uma das vantagens do projeto pedagógico extracurricular é que se a escola elaborá-lo cuidadosamente, promoverá o senso da pesquisa em seus alunos e através da pesquisa descobrir os anseios e necessidades do seu povo. Não convém oferecer-lhes tudo pronto e acabado, é indicado lançar desafios para que busquem as respostas e formas de atuar para desenvolver as atividades propostas.

Demo (1993, p. 128) coloca muito bem esta questão dizendo:"(...) pesquisa funda o ensino e evita que este seja simples repasse copiado. Ensinar continua função importante da escola e da universidade (...) Quem pesquisa tem o que ensinar (...) Quem não pesquisa, nada tem a ensinar, pois apenas ensina a copiar (DEMO apud DACOREGGIO, 2001, p. 34).

Copiar não deixa de ser uma técnica de aprendizagem, mas como todas as outras técnicas, não funcionam para todas as pessoas. Cada indivíduo tem suas próprias potencialidades e sua forma particular de aprender. Por esse motivo a escola deve preocupar-se em garantir no seu PPP – Projeto Político Pedagógico, formas diversificadas de avaliação e de desenvolvimento dos conteúdos curriculares e extracurriculares.

Os seres humanos têm natural potencialidade para aprender. São curiosos a respeito dos assuntos que interferem no seu meio de vida, principalmente aqueles que dizem respeito aos seus objetivos. Toda aprendizagem depende de alguns fatores tais como interesse e necessidade, que são, na verdade, de onde surgem os objetivos mais significativos. Estimular o indivíduo para levá-lo à motivação é fator fundamental para ocorrer a aprendizagem. (RESENDE , op.cit., p. 33)

Neste tipo de aprendizagem, os alunos acabam encontrando a motivação por si próprios, pois percebem a diferença do seu auto-progresso ao longo do desenvolvimento do trabalho e das atividades, sentindo-se capaz e reforçando sua auto-estima a cada passo conquistado no cumprimento das tarefas. Percebem-se atuantes, habilidosos, criativos e é comum observarmos nos seus diálogos e atitudes, falas e gestos de alegria e satisfação pessoal pela criação da sua obra, por mais simples que seja. E o professor deve ser sensível para perceber a importância disso para o aluno, policiando-se nos seus comentários, principalmente na hora de efetuar correções e ajustes aos trabalhos realizados, para não jogar por terra todo o esforço do aluno, podendo provocar nele um retrocesso de desenvolvimento social e de interesse pelos estudos.

Outra grande vantagem das atividades e projetos pedagógicos extraclasse, é o fato de que o aluno não trabalha sozinho. Ele precisa estabelecer parcerias para trocar idéias e realizar as atividades o que o obriga a socializar-se de uma forma ou de outra, podendo abrir caminhos para novas amizades que trarão bagagens culturais nos diferentes patamares sócio-econômicos dos quais cada participante possa pertencer e contribuir com suas habilidades oriundas do nível de desenvolvimento real proposto por Vigotsky, nos seus estudos tão famosos e base da Proposta Curricular do Estado de Santa Catarina (1998, p. 16), onde encontra-se a escola, cujos atores e projetos desenvolvidos pelo Clube da Árvore Ecologia Nota 10, são os focos dos estudos deste trabalho.

A importância das dinâmicas de grupos, sejam estas dentro do segmento da escola, do trabalho, da comunidade, visam à comunicabilidade, a socialidade, dinamicidade, motivação, desperta a criatividade, além do que introjeta no indivíduo uma satisfação interior, acelerando sua capacidade individual, atingindo os aspectos cognitivo, afetivo e psicomotor. O afastamento do desempenho autoritário do professor e da escola é fator preponderante para o despertar da liberdade de ação e promoção dos participantes (RESENDE, op.cit., p. 157).

Tânia Zagury (2004, p. 35), em seu artigo Relação professor/aluno, disciplina, saber, diz que lidando com crianças ou adolescentes, mesmo que exerça autoridade de forma democrática e participativa, o professor tem o direito e o dever de manter em classe as condições que permitam ocorrer a aprendizagem e afirma ainda:

A relação professor/aluno é importante sim no processo de aprendizagem. De preferência, ela deve ser amistosa e afetuosa de ambas as partes. Não pode, porém, em hipótese alguma, ser confundida com igualdade. A relação pedagógica tem que se embasar numa hierarquia (não rígida, nem autoritária) em que deve estar bem definido para o aluno que o professor é autoridade na relação (...) Enquanto não voltarmos a compreender essa coisa tão simples, veremos diariamente o nível de aprendizagem de nossos alunos decair ainda mais, pela incomunicabillidade que se estabelece quando se acredita que é possível ensinar e aprender sem que haja um mínimo de disciplina e organização nas nossas salas de aula. Não se pode supervalorizar a relação professor/aluno em detrimento do saber. O professor não é psicólogo nem psicanalista de seus alunos. Ele deve compreender e ajudar no que for possível, mas sua função principal é ensinar. E ensinar bem, dominando o conteúdo e usando adequadas técnicas de ensino e de avaliação.

Da mesma forma nas atividades e projetos extracurriculares a relação professor/aluno, mesmo que mais integrada, deve conservar o respeito à hierarquia para que a coordenação dos trabalhos seja eficaz. Sem ordem, perseverança e autoridade os trabalhos não caminham adequadamente, porém, isso não significa que o professor não possa estabelecer uma relação de "camaradagem" com seus alunos, afinal, estão desenvolvendo atividades de interesse mútuo com finalidades em prol de sua própria comunidade.

É interesse de ambos que todas as atividades sejam prazeirosas e culminem com acréscimos ao seus conhecimentos para a vida.

2.1. Os temas transversais e o PPP

Os Temas Transversais, segundo os PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais, são seis: ética, pluralidade cultural, meio ambiente, saúde, orientação sexual e trabalho e consumo. Cada um desses temas tem sua abrangência e sua especificidade com afinidade maior em cada área do conhecimento. Assim, há professores melhor habilitados do que outros para tratar certos assuntos com os alunos. Fora esse fato, há que se pensar também que cada professor tem a sua própria individualidade e como sua característica pessoal, pode ter maior ou menor facilidade para tratar assuntos muitas vezes delicados.

Certos assuntos dos temas tranversais são muito polêmicos e por isso devem ser trabalhados por profissional capacitado. Sexualidade por exemplo, mesmo vivenciando as modernidades, ainda presenciamos famílias tradicionais, que não aceitam total liberdade para tratar esse assunto com seus filhos (principalmente as filhas). O mesmo pode-se dizer sobre o problema das drogas dentro do tema saúde. Se o professor não tiver bom senso para tratar desses assuntos poderá criar situações que estimulem os alunos ao erro, provocar-lhes traumas ou humilhações ou mesmo trazer-lhe problemas com outros alunos, com a direção ou com os pais.

Olhando por esse aspecto, os temas transversais não deveriam transitar deliberadamente por quaisquer disciplinas, por quaisquer profissionais, mas por projetos apropriados, com pessoal qualificado. Daí mais um motivo para a importância do amparo ao desenvolvimento de atividades e projetos extracurriculares nas escolas com planejamento e profissional específico.

Voltando ao tema Sexualidade, vejamos um exemplo: certa vez um aluno de sexta série abaixou-se diante de minha mesa para perguntar baixinho se era verdade que após "transar" era bom tomar cerveja para urinar bastante e limpar os canais para evitar DST. Mais espantada fiquei quando soube que essa informação partira do professor de Educação Física, que ficou conversando em sala com a turma, pois chovia e não podiam ir para a quadra.

Perceba a gravidade da situação. Um profissional de uma área afim com a área de Ciências, adulto, além de estar passando uma informação absolutamente errada sobre prevenção de DST, incentivando crianças ao uso de bebida alcoólica e ao sexo precoce. Se este ou outro aluno da turma antes de conversar comigo, fosse falar sobre isso com seus pais, provavelmente aquele meu colega teria tido sérios problemas. Felizmente tivemos tempo para reverter a desinformação e evitar maiores conflitos.

E este é apenas um dos tantos casos que acontecem nas escolas e que muitas vezes nem se fica sabendo. Há casos sérios de alunos que chegam a desistir dos estudos por causa de um professor, uma cena de desrespeito ou de preconceito. Por esse motivo, entre outros, o profissional deve estar aberto a críticas, refletir à respeito de sua prática pedagógica, mas sobretudo, ter dedicação e comprometimento com as atividades e projetos que assume dentro da escola.

Desenvolver atividades e projetos extracurriculares exige do professor uma dedicação além do mínimo exigido pelo desempenho de sua função ou de seu cargo. Exige que o professor dedique-se a planejar suas ações em horários extraclasse, considerando todas as possibilidades de implicações de pessoal, recursos, tempo, relevância, abrangência, metas, utilidade, facilidades, dificuldades, etc.

O problema com a realização das pesquisas nas escolas está na falta de organização para reuniões sobre macro-projetos envolvendo diferentes disciplinas. Normalmente, as reuniões pedagógicas são pautadas em avisos administrativos e a questão da aprendizagem acaba sendo deixada de lado. Outro horário viável, o recreio e a hora-atividade (infelizmente, muitos professores por necessidade, "vendem" esse precioso "tempo" para adquirir mais aulas, assim, um professor com quarenta horas, sendo 32 horas em sala de aula, assume mais oito e a pesquisa e leitura....) acabam sendo desperdiçadas (COSTA, 2004. p. 116).

Quando Costa nos fala sobre o prejuízo da pesquisa na falta de tempo do professor, podemos associar essa falta de tempo também para o planejamento e execução de atividades e projetos extracurriculares.

O justo seria que se estabelecesse melhor uma legislação que garantisse à escola poder contratar profissional habilitado em coordenação e desenvolvimento de projetos extracurriculares, preparado para trabalhar com os temas transversais e outros temas pertinentes ao interesse da comunidade. Nas escolas estaduais, através de projetos bem elaborados, já se conseguiu e nas escolas integradas ainda existem, profissionais que atuam nesta área com remuneração e horários para este fim. Porém, com as crises econômicas e políticas, o Estado vem cortando vantagens dos profissionais da educação e hoje é muito difícil conseguir aprovação deste tipo de projeto para as escolas. O Estado oferece recursos mínimos de que dispõe e as escolas se organizam a promover festinhas e eventos para se manter com trabalho voluntário de seus integrantes. E dessa mesma forma as atividades e projetos extracurriculares acabam ocorrendo, sem recursos, com a boa vontade dos que se dispõe a trabalhar gratuitamente pela escola e pela educação.

Ao pensar em desenvolver projetos numa escola, há que se considerar primeiramente sua clientela, suas necessidades culturais, de lazer e de conhecimento, a fim de que se possa conciliá-los de forma que seja proveitoso e prazeroso aos envolvidos nas atividades que destes possam surgir. É necessário considerar ainda o Projeto Político Pedagógico da instituição, para que esteja de acordo com as normas e intentos da comunidade escolar em questão. Precisa se ter o conhecimento das pessoas com que se pode contar para a coordenação das atividades dentro do planejado, sendo que estas sejam também capazes de adequar as situações não previstas de forma a não se perder o potencial e os resultados pretendidos nos objetivos dos projetos.

Candau (op.cit., p. 136), nos leva aos seguintes questionamentos:

É possível uma prática educativa que possa, a um só tempo, considerar as variáveis socioculturais da clientela, articular o saber sistematizado e o saber popular, abrir espaço para a participação do aluno e respeitar a autoridade do professor?

É viável uma prática que considera o interesse do educando, sem descuidar de suas necessidades de acesso ao conteúdo escolar, instrumento de sua emancipação?

Como construir uma prática pedagógica que seja capaz de articular as dimensões humana, técnica e política, inerentes ao processo ensino-aprendizagem?

E, mais, uma prática que considere a transformação das relações sociais numa perspectiva democrática?

Sendo o PPP – Projeto Político Pedagógico, uma construção coletiva, Veiga (op.cit., p. 51), sugere que este supõe e exige:

• rompimento com estruturas mentais e organizacionais fragmentadas;

• definição clara de princípios e diretrizes contextualizadas, que projetem o vir-a-ser da escola;

• envolvimento e vontade política da comunidade escolar para criar a utopia pedagógica que rompe com os individualismos e estabelece a parceria e o diálogo franco;

• conhecimento da realidade escolar baseado em diagnóstico sempre atualizado e acompanhado;

• análise e avaliação diagnostica para criar soluções às situações-problema da escola, dos grupos, dos indivíduos;

• planejamento participativo que aprofunde compromissos, estabeleça metas claras e exequíveis e crie consciência coletiva com base nos diagnósticos: geral, das áreas, por componente curricular, por setor escolar, por grupos de professores, por pessoas nos grupos;

• clarificação constante das bases teóricas do processo com revisão e dinamização contínuas da prática pedagógica à luz dos fundamentos e das diretrizes do currículo, da metodologia, da avaliação, dos conteúdos, das bases da organização escolar, do regimento, dos mecanismos de participação, do ambiente e do clima institucional, das relações humanas, dos cronogramas de estudos e de reuniões, etc.

Como se percebe, os projetos a serem realizados numa escola pública devem atender a todos estes quesitos a fim de que possam satisfazer da melhor forma aos anseios e questionamentos citados, de acordo com o já estudado e estabelecido pela comunidade escolar neste documento. O PPP deve constar e descrever os projetos já concluídos, os que estão sendo desenvolvidos e já prever novos projetos exeqüíveis na escola.

O professor deve, pois, estar consciente da filosofia educacional, da proposta de trabalho pedagógico, da estrutura social e formal da escola, a fim de perceber com nitidez os fins, os meios, as atribuições de cada um etc. e delinear com precisão suas atividades pedagógicas. É preciso ter em mente que o seu trabalho depende da compreensão e do apoio do diretor, do relacionamento humano entre os professores, do entendimento entre professores e alunos, do funcionamento da escola como um todo orgânico (MARTINS, op.cit., p. 35).

Para essa dinâmica formal e burocrática, porém necessária, é preciso organização, pessoal qualificado e responsável pela tarefa de auxílio à direção na sua elaboração e atualização constante, através de reuniões com os professores e demais envolvidos nos projetos que acontecem na instituição para trocas de informações, de idéias e respaldo pedagógico.

2.2. Atores dos projetos pedagógicos

Quanto ao pessoal envolvido nas atividades e projetos extracurriculares, podemos considerar todos os integrantes dos diversos setores da comunidade escolar, o que nos sugere a participação de forma direta ou indireta de alunos ativos, ex-alunos, professores, pais, funcionários, administradores, direção, voluntários, etc.

Cada projeto surge pela idéia e iniciativa de alguém, cujo intento primeiro é por em prática algo que lhe pareça viável e útil. Normalmente, no espaço escolar, os projetos surgem pela iniciativa dos próprios professores e equipe diretiva, porém quando a comunidade é integrada e atuante, pode surgir de qualquer membro de qualquer grupo, até mesmo dos alunos. No entanto, pela estruturação da própria escola, se faz necessária a coordenação das atividades por parte de alguém ou de alguma equipe, que se responsabilize pela sua organização e execução.

Segundo Veiga (op.cit., p. 25):

(...) a escola, de forma geral, dispõe de dois tipos básicos de estruturas: administrativas e pedagógicas.

As primeiras asseguram, praticamente, a locação e a gestão de recursos humanos, físicos e financeiros.

As pedagógicas, que, teoricamente, determinam a ação das administrativas, "organizam as funções educativas para que a escola atinja de forma eficiente e eficaz as suas finalidades" (ALVES 1992, P. 21, apud VEIGA, op.cit., p. 25).

Há ainda que se considerar as estruturações jurídicas e financeiras da escola, porém, na questão de projetos extracurriculares, estas dimensões ficam cerceadas pela própria condição de cada projeto em si. Há projetos que exigem licenças e financiamentos de altos custos para a escola, porém, na maioria das vezes, os projetos educativos são de baixíssimo custo e dentro de metodologias e perspectivas respaldadas pelas próprias normas institucionais.

Portanto, faz-se necessário o uso da criatividade associada à boa vontade para inovar nas práticas pedagógicas.

2.3. Natureza dos projetos pedagógicos

Os projetos extracurriculares podem ser de natureza multi, inter ou transdisciplinar. No primeiro caso, cada professor pode criar projetos dentro de sua disciplina, no espaço da sala de aula, da escola ou mesmo fora delas; no segundo, pode-se integrar duas ou mais disciplinas que abranjam temas e atividades afins, envolvendo conhecimentos intedisciplinares e professores de diferentes áreas; no último, a transdisciplinaridade, o conhecimento se dá através da fusão entre as duas primeiras modalidades, abrangendo os conhecimentos técnico-científicos sistematizados, os temas transversais, o pluralismo cultural, étnico, social, etc. Transcendendo todas as formas de conhecimento pela união da teoria e da prática através de atividades integradas.

Concordamos com Demo (1997, p. 28) quando afirma:

A teoria precisa da prática, para ser real. A prática precisa da teoria, para continuar inovadora. (...) A diversidade de estruturas e movimentos é percebida logo na divergência natural da passagem: toda teoria é remodelada pela prática, quando não rejeitada; toda prática é revista, por vezes, refeita na teoria. Nenhuma prática esgota a teoria, nenhuma teoria dá conta de todas as práticas.

Assim, tudo que a criança e o adolescente aprendem em sala de aula de forma teórica, aplicam nas atividades práticas das atividades e projetos extracurriculares, à medida que estes venham trazendo situações que exijam capacidades e habilidades oriundas de tais conhecimentos.

Na perspectiva piagetiana o ensino tem como base, a observação, a pesquisa, a investigação, o erro e a solução de problemas. Dessa forma, a aprendizagem é sempre vista como um processo e não como um produto do ensino. Neste processo, o professor é imprescindível, uma vez que lhe compete criar situações que possibilitem tanto a reciprocidade intelectual, quanto a cooperação moral e racional. Será ele (o professor) o responsável pela dinâmica do processo de ensino e de aprendizagem. Sua função, repetimos, consiste em provocar desequilíbrios e criar desafios (DACOREGGIO, op.cit., p. 102).

Por mais simples que as atividades pareçam, todo conhecimento teórico acaba sendo útil à sua prática favorecendo os envolvidos de forma que estes possam tornar-se mais rápidos de raciocínio, com maior facilidade de criar e buscar idéias de solução aos problemas que surgem, tornando-se eficazes no desempenho de suas tarefas, desenvolvendo versatilidades de conduta que tornar-se-ão naturais com o decorrer do tempo, propiciando aos educandos melhor qualidade de vida pela sua própria condição de ser pensante, crítico de si mesmo e de sua situação.

Partes: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7


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