Olisipo pré-romana. Um ponto da situação

Enviado por Marco Calado


  1. Introdução
  2. As intervenções
  3. O nome de Lisboa
  4. Interpretações
  5. Em forma de conclusão
  6. Bibliografia

Introdução

O subsolo do casco histórico da actual cidade de Lisboa, e mais concretamente a encosta do Castelo de São Jorge, forneceu já informações valiosas sobre a sua ocupação durante a Idade do Ferro, dispersas por cerca de uma dezena de intervenções.

Embora este seja ainda um número reduzido, não deixa no entanto de ser significativo quando comparado com o número de intervenções e acompanhamentos efectuados nesta zona da cidade. Tal situação deixa antever uma área ocupada cujas dimensões levantam questões sobre o papel de Olisipo no contexto da fachada atlântica e o seu relacionamento com os mundos tartéssico e turdetano.

Este trabalho é motivado pela necessidade de avaliar em conjunto os resultados das intervenções efectuadas até á data, e reflectir sobre que tipo de questões podem de momento ser levantadas, bem como o género de conclusões que se podem retirar, e se de facto já podemos chegar a algum tipo de conclusão.

Não podemos deixar de chamar a atenção para o carácter meramente especulativo que este artigo por vezes se reveste, do qual temos plena consciência e cuja leitura deverá sempre ter em conta.

1. As intervenções

1. 1 " Almaraz

As intervenções efectuadas em 1988 na Quinta do Almaraz na margem sul do Tejo vieram alterar de maneira significativa o conhecimento que até á data se detinha sobre a ocupação sidérica no estuário. Aí, sobre um esporão sobranceiro á actual cidade de Lisboa e sucedendo a um povoado do Bronze Final, foi detectada a existência de um povoado dotado de muralha fosso e  onde se recolheu um importante conjunto cerâmico com o típico engobe vermelho, compreendido pelos autores entre os séculos VII e VI a. C., e que corresponde ao objecto principal do estudo disponível1.

A posição da colina de Almaraz deixa, segundo os autores, «antever uma escolha deliberada […] em função da actividade comercial por via marítima, estreitamente ligada ao mundo fenício». Tal ligação encontra expressão no número de produções de verniz vermelho e na existência  de basaltos, granitos e xistos, na fábrica das estruturas (matérias exógenas á geologia de Almaraz), que sugerem «o reaproveitamento de lastros de embarcações».

Os autores, apoiando-se em Shubart (que em 1988 defendia que a redução do ferro na península fora introduzida pelos fenícios), defendem que a metalurgia do ferro, presente em Almaraz, sublinha o papel de relevo que estas populações detinham no quadro regional. Estes argumentos, entre outros, sustentam o «carácter marcadamente comercial e marítimo, como convinha a um estabelecimento fenício».

Para já, podemos admitir, sem qualquer tipo de dificuldade, o contacto comercial que este povoado manteria com as populações do mundo tartéssico.

1.2 " Sé Catedral

Na mesma altura da apresentação do povoado de Almaraz, foi dado a conhecer os resultados das escavações efectuadas na Sé Catedral de Lisboa, onde se exumou um espólio igualmente integrável na primeira Idade do Ferro2, com alguns elementos em deposição secundária que sugerem contactos com o mundo do Circulo do Estreito pelo menos desde o séc. VIII a. C. como por exemplo ânforas do tipo 10.1.1.1 de Ramón Torres3. O espólio foi exumado numa pequena sondagem efectuada entre dois muros romanos, onde para além dos materiais cerâmicos, foram também recolhidos fragmentos de escória de ferro em depósitos caracterizados «pela grande presença de material malacológico e carvões», sugerindo contextos de lixeira. Clementino Amaro, com argumentos apoiados na topografia, nos dados já disponíveis das intervenções do BCP (Rua dos Correeiros/Rua Augusta) e no topónimo Olisipo, propõe a instalação de um «entreposto comercial na plataforma sobranceira ao rio e onde se situa a Sé de Lisboa» .

Ana Maria Arruda, no seu estudo sobre as cerâmicas cinzentas desta estação, revela a dificuldade sentida (por motivos de origem metodológica que lhe são estranhos) na integração crono-estratigráfica destas cerâmicas, embora considere que o restante espólio (engobes vermelhos, ânforas, vasos com decoração de bandas) deva ser integrado a partir da segunda metade do séc. VI a. C., não deixando de observar que a escavação não teria ainda atingindo os níveis geológicos, e que a continuidade dos trabalhos possibilitaria alcançar depósitos mais antigos. Convém ainda mencionar as análises químicas efectuadas ás cerâmicas cinzentas de Conímbriga, Santa Olaia, Lisboa e Crasto de Tavarede (postas também em evidência por esta autora), que permitiram concluir a existência de uma produção local deste género cerâmico nos três primeiros sítios e a troca regional destes produtos entre o Mondego e Lisboa4.

1.3 " Instalações do BCP

Em Junho de 1991 tiveram início os trabalhos na Rua dos Correeiros nas instalações do Banco Comercial Português. Esta primeira campanha pôs a descoberto uma preciosa sequência estratigráfica que motivou a criação de um núcleo museológico numa acção inédita e sem repercussões comparáveis, quer por iniciativa privada quer por iniciativa das entidades públicas, demonstrando o pouco relevo e mesmo o esquecimento a que este tipo de investigação se encontra votado na capital. Estas intervenções revelaram-se da maior valia por terem então posto a descoberto o primeiro conjunto de estruturas da Idade do Ferro conhecido então em Lisboa.


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