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Perfil metabólico e aspectos nutricionais de vacas leiteiras no pós-parto (página 2)


González et al. (2003) consideram ser necessários métodos e equipamentos que façam a sua determinação de forma economicamente viável. Também, para a correta interpretação dos PM, é indispensável contar com valores de referencia (VR), quais sejam, intervalos que caracterizam os padrões normais dos metabólitos sanguíneos, apropriados para a região e a população em particular. Esses autores observam que, em casos de não se poder contar com esses dados, os valores referenciais a serem usados devem ser de zonas climáticas e grupos animais similares.

Ressalta-se que, embora o estudo do PM no Brasil tenha ocorrido em proporções consideráveis, seus resultados têm sido comparados com VR de estudos realizados em outros países. Atualmente, têm-se o conhecimento de somente dois estudos que estão sendo realizados no Brasil para estabelecer tabelas de VR representativas de raças bovinas. O primeiro, de responsabilidade do Profº Félix H. D. Gonzáles (UFRGS - RS) e equipe, objetiva avaliar a Raça Holandesa na região de clima semi-temperado e a segunda, de responsabilidade da equipe do Profº Deolindo Stradiotti Júnior (UFES - ES), com o compromisso de avaliar a Raça Girolando, em condições de clima tropical, junto à A. B. C. GIROLANDO e Fazenda Santa Luzia (Passos-MG), inicialmente com dois grupos genéticos formadores da raça.

Em síntese, a concentração sangüínea de um determinado metabólito é indicador do volume de reservas de disponibilidade imediata. Assim, quando essa concentração é mantida dentro de certos limites de variações fisiológicas (VR), pode-se afirmar estar o animal ou o rebanho em condições de equilíbrio nutricional. Por outro lado, os animais que apresentarem níveis sangüíneos fora dos VR, podem estar em desequilíbrio nutricional ou com alguma alteração orgânica que condiciona uma diminuição na capacidade de utilização ou biotransformação dos nutrientes (WITTWER, 1995).

Payne e Payne (1987) relatam que variações dos componentes do perfil metabólico sangüíneo podem estimar o processo de adaptação metabólica dos animais a novas situações fisiológicas ou de alimentação. Transtornos como cetose ou desequilíbrios no nitrogênio ou no metabolismo mineral podem ser detectados por meio da análise direta do PM. Assim, a avaliação do PM tem sido utilizada para o diagnóstico dessas doenças, a partir de análises sanguíneas, pois a composição bioquímica do plasma reflete de modo fiel a situação metabólica em que o animal se encontra (GRANDE e SANTOS, 2006).

De acordo com González (2000), um forte motivo para que estudos recentes sejam utilizados como ferramenta para a avaliação do PM em ruminantes, se deve ao fato dele refletir, de maneira confiável, o equilíbrio entre a entrada, a saída e a metabolização dos nutrientes nos tecidos animais.

Considerando-se os exames de PM, Wittwer et al., (1993) sugere incluir como variáveis para avaliar o balanço energético de vacas leiteiras, observações do escore de condição corporal (ECC), e a determinação das concentrações de ÃY-hidroxibutirato (ÃYHB). Para avaliar o status protéico, a determinação das concentrações de uréia, de albumina e de proteínas totais em amostras de sangue ou de leite são recomendadas por Contreras (2000), além de analises de colesterol, hemoglobina e a enzima aspartato transaminase (AST) sangüíneos.

Assim, entende-se o quanto se tornam fundamentais estudos de PM ao se levar em conta a possibilidade de não somente diagnosticar as causas da manifestação de uma doença nutricional ou metabólica, mas, acima de tudo, de possibilitar o exercício da zootecnia e medicina veterinária preventivas. Enfatiza-se que, como ferramenta laboratorial, o PM pode ser útil se avaliado concomitantemente ao exame clínico e o histórico do rebanho (como um todo ou dos animais individualmente) e ainda, poder servir para monitorar o tratamento (GONZÁLEZ, 2000).

2.2. ESCORE DE CONDIÇAO CORPORAL E PERFIL METABÓLICO

Nos últimos anos tem sido estudada a relação do escore de condição corporal ao parto com o desempenho da lactação e o aparecimento de doenças no pós-parto. O ECC é uma maneira subjetiva de se avaliar as reservas energéticas da vaca e deve ser realizada pela mesma pessoa. O método consiste em estabelecer, mediante inspeção e palpação, a cobertura de músculo e gordura subcutânea nas áreas dos processos transversos lombares e da fossa ísquio-caudal (WITTWER 2000). Varia de acordo com o método adotado, porém valores mais altos sempre indicam vacas com mais reserva corporal. Wildman et al. (1982) e Edmonson et al. (1989) propuseram uma escala de 1 a 5 com intervalo de 0,25 pontos para medir o ECC, na qual 1= emaciada; 2= delgada; 3= média; 4= pesada; 5= gorda.

A determinação do ECC permite avaliar, de forma quantitativa, o grau de depósito ou perda de gordura corporal, ou reservas de energia (WITTWER 2000a).

Lago et al. (2001) sugeriram que as vacas ao parirem sem adequada reserva corporal podem ser mais propensas à transtornos metabólicos, à doenças infecciosas, à baixa eficiência reprodutiva e à redução na produção de leite, enquanto vacas excessivamente gordas estariam mais predispostas á dificuldades de parto, á síndrome da vaca gorda e, muitas vezes, até á morte.

Ferguson et al. (1994) sugeriram os seguintes valores para o ECC de novilhas e de vacas nos seus diferentes estádios de produção.

Estádio da lactação

ECC ideal

Intervalo sugerido

Período seco

3,50

3,25 - 3,75

Parto

3,50

3,25 - 3,75

Início da lactação

3,00

2,50 -3,25

Meio da lactação

3,25

2,75 - 3,25

Fim da lactação

3,50

3,00 - 3,50

Novilhas em crescimento

3,00

2,75 - 3,25

Novilhas ao parto

3,50

3,25 - 3,75

Figura 1 - adaptado de Ferguson et al. (1994)

O intervalo de referência deve se manter entre 2,5 a 3,75 pontos (escore) dependendo do estado fisiológico e da acumulação de reservas lipídicas (FERGUSON et al., 1994). Assim, mudanças indevidas no ECC entre o final da gestação, parto e início da lactação têm sido responsabilizadas por baixar o desempenho produtivo e reprodutivo pós-parto e aumentar a incidência de transtornos metabólicos em vacas de leite (WILDMAN et al.,1982). Por ocasião do início da lactação, os mecanismos de partição dos nutrientes dão prioridade à produção de leite em detrimento das funções reprodutivas. Desta forma, as vacas mobilizam reservas corporais, principalmente do tecido adiposo e entram em balanço energético negativo.

Entende-se que, para diminuir as perdas produtivas e reprodutivas pós-parto, correlações devam ser estabelecidas entre o ECC e as avaliações do PM.

2.3. METABÓLITOS SANGUÍNEOS AFERIDOS EM ANÁLISES DO PERFIL METABÓLICO

2.3.1. Monografias.com

Os corpos cetônicos são compostos primários formados do metabolismo das gorduras e do butirato, representados pelo ÃY-hidroxibutirato (ÃYHB), o acetoacetato e a acetona. Devido ao fato da acetona ser bastante volátil, do acetoacetato ser quimicamente instável e poder ser transformado em acetona e dióxido de carbono, contrariamente ao ÃYHB que é bastante estável no sangue (ORTOLANI, 2002), é que esse último foi escolhido para aferições pertinentes ao PM.

Tanto o ÃYHB, quanto o acetoácido são fontes de energia na ausência de glicídios e lipídeos nos ruminantes. Seus precursores são os lipídeos e os ácidos graxos da dieta e, também, os depósitos de gordura do animal. O ácido butírico produzido no rúmen também é transformado no epitélio dos pré-estômagos, via acetoacetato, em ÃYHB, principal corpo cetônico do sangue do ruminante sadio (WITTWER, 2000a).

O ÃYHB tem sido o corpo cetônico mais freqüentemente medido no plasma para monitorar o balanço energético e identificar vacas que apresentem quadro de cetose (SANTOS, 1998).

A cetose, doença metabólica dos ruminantes, é causada quando a produção de corpos cetônicos é maior que a sua utilização, quando existe um déficit de energia (oxalacetato, no ciclo de Krebs), em decorrência da alta demanda de energia pelo organismo e glicose para produzir lactose (WITTWER, 2000).

Os níveis plasmáticos de ÃYHB apresentam-se muito úteis em circunstancias em que a demanda de glicose no organismo é crítica, como nos casos de inicio e final da gestação. O ÃYHB e demais corpos cetônicos mostram um aumento relativamente pequeno quando o animal se encontra em balanço negativo moderado, mas aumentam consideravelmente quando o balanço negativo torna-se severo (GONZÁLES 2000).

Segundo Lago et al., (2001) vacas com ECC maior, ao parirem, apresentaram níveis plasmáticos mais elevados que vacas com ECC menor (4,11 contra 3,14 mml/L).

2.3.2. Uréia

Grande parte dos componentes nitrogenados da dieta é degradada pelas enzimas microbianas no rúmen em aminoácidos e, subseqüentemente, em amônia, que são reutilizados pelos próprios microrganismos para a síntese de proteína microbiana, juntamente com os esqueletos de carbono provenientes dos carboidratos da dieta. A amônia que não é utilizada pela flora ruminal passa à corrente sangüínea, sob a forma de amônio, através da parede do rúmen e vai ao fígado, onde é processada a formação da uréia (PEIXOTO, 2004). Segundo Wittwer, (2000) o anterior ocorre com a fração correspondente à proteína degradável no rúmen, a qual está acompanhada no alimento por proteínas não degradáveis que escapam à degradação ruminal, sendo absorvidas como aminoácidos no intestino delgado. O destino da amônia depende da relação energia:proteína da dieta. Quando há energia suficiente, a amônia é convertida em proteína microbiana. Na ausência de energia a amônia é convertida em uréia elevando sua concentração no sangue. Por ser menos tóxica que a amônia e hidrossolúvel, circula no sangue até ser eliminada via renal e via glândula mamária ou ser reciclada no rúmen via saliva e por difusão pela parede ruminal.

Segundo Wittwer (2000) a uréia é um produto da excreção do metabolismo do nitrogênio e a sua determinação em amostras de soro sanguíneo revelam informação sobre a atividade metabólica protéica do animal. A concentração sanguínea de uréia apresenta relação direta com o aporte protéico da ração, bem como da relação energia:proteína. Valores baixos de uréia no sangue são encontrados em rebanhos que utilizam dietas deficientes em proteínas e valores altos naqueles que utilizam dietas com um déficit de energia ou com excessivo aporte protéico.

Segundo HOF et al. (1997) dietas contendo maior quantidade de proteínas fermentáveis estão mais associadas a maiores concentrações de amônia no rúmen em comparação àquelas com proteínas de degradação mais lenta. A concentração sanguínea de uréia está diretamente relacionada aos níveis protéicos da dieta. De acordo com González (2000), a uréia representa o ingresso imediato de proteína bruta no organismo.

A uréia apresenta a seguinte seqüência de eventos que levam a sua síntese, de acordo com Contreras (2000):

. Proteólise e formação de aminoácidos;

. Desaminação de aminoácidos e formação de amônia;

. Condensação de duas moléculas de amônia com CO2.

Considerando o anterior, a uréia é o produto da desintoxicação da amônia quando se condensa com o CO2, processo que se realiza no fígado e representado na seguinte equação:

Monografias.com

Moore e Varga (1996) citam que a tendência para o nitrogênio uréico no sangue é de que haja um rápido crescimento durante o primeiro mês após o parto, crescendo mais lentamente do primeiro ao quinto mês de lactação. Relataram também que a concentração de nitrogênio uréico no sangue (NUS) pode ser difícil de ser interpretada, pois os valores mudam rapidamente durante o primeiro mês pós-parto.

Suspeita-se da relação de altos níveis de proteína facilmente degradável com baixo desempenho reprodutivo pelo efeito direto da uréia sobre o meio uterino, bem como por produzirem um desequilíbrio energético, devido ao gasto de ATP em transformar amônia em uréia no fígado. Um excesso de proteína na dieta elevaria os níveis de uréia e amônia no organismo elevando assim, os níveis de pH genital, ocorrendo, em consequência, a morte dos espermatozóides e queda da fertilidade (WITTWER, 2000).

Segundo Peixoto (2004), o balanço energia:proteína tem um papel importante na involução uterina no puerpério e no inicio da atividade ovárica. Assim, a sua alteração provoca um atraso no início da atividade ovárica e, com isto, uma diminuição na fertilidade. Esta relação com a fertilidade tem sido associada ao efeito tóxico metabólico da uréia, que compromete a sobrevivência de gametas ou embriões por sua difusão no muco vaginal e no trato reprodutivo alterando o ambiente uterino levando a mortalidade embrionária, alem do efeito espermicida, manifestando-se com estros silenciosos e ciclos estrais irregulares. Atualmente, é assinalado que a uremia seria unicamente um sinal de déficit energético, que altera a função do eixo hipotálamo-hipófise-ovário com diminuição da progesterona plasmática, atrasando a primeira ovulação e diminuindo a taxa de concepção.

Wittwer (2000) relata que o excesso de amônia transformada em uréia tem efeito sobre o metabolismo intermediário alterando as concentrações de glicose, lactato e ácidos graxos livres no sangue e na funcionalidade do corpo lúteo.

Em experimento realizado por Ferguson et al (1993) as concentrações de NUS variaram de 7.5 a 31.5 mg/dl. A probabilidade de concepção variou de 54,5% para vacas com NUS <10 mg/dl para 30,4% para vacas com NUS = 25 mg/dl. A taxa de concepção recuou 0,8 unidades de porcentagem por miligrama de aumento em NUS. A maioria (85%) de vacas grávidas teve NUS < 20 mg/dl.

Butler (1998) verificou que um teor de NUS acima de 19 mg/dL esta associado à redução da concentração plasmática de progesterona e alteração do pH do ambiente uterino, relacionando-os como principais causas de redução da fertilidade em vacas leiteiras no início da lactação.

Carrol et al. (1988) trabalhando com níveis alto e baixo de proteína bruta na dieta, verificaram maior taxa de concepção (64 vs. 56%) para as vacas com menor teor protéico na dieta. A excreção do nitrogênio, sob a forma de uréia, representa um alto gasto energético para o animal, e o aumento, tanto de amônia quanto de uréia sanguínea, reduz o apetite e o desempenho reprodutivo dos animais, além dos tecidos dos cascos ficarem mais frágeis, podendo formar úlceras. Altos níveis de uréia trazem grades prejuízos à saúde animal. Além de ser um desperdício do ponto de vista produtivo, visto que a proteína é um dos componentes mais caros da ração, é um potencial contaminante do meio ambiente.

2.3.3. Albumina

Níveis séricos de uréia e albumina são os dois principais indicadores do metabolismo protéico em ruminantes, a uréia demonstra o estado protéico do animal em curto prazo, enquanto a albumina o demonstra em longo prazo (PAYNE e PAYNE, 1987).

Contreras (2000) relata que no inicio da lactação se observa um rápido aumento das globulinas e diminuição das concentrações de uréia e de albuminas. As albuminas aumentam gradativamente desde que o aporte de proteínas na ração seja adequado. Nos rebanhos em que as concentrações de albumina estão dentro do intervalo de referência, por volta das 10 semanas pós-parto, observa-se uma maior produção de leite no período de lactação e melhor fertilidade que nos rebanhos em que estas concentrações se encontram reduzidas. Quando a ração é deficiente em proteínas, esta diminuição da albumina persiste por praticamente 2-3 meses durante o pós-parto sendo acompanhada de uma diminuição da concentração de hemoglobina e também valores baixos do hematócrito até 4-5 meses pós-parto.

Não só a deficiência de proteínas na dieta, mas a demanda de aminoácidos para a síntese de proteínas no leite reduz a síntese de outras proteínas e, por isto, as concentrações de albumina e hemoglobina diminuem à medida em que a lactação avança (WITTWER, 2000a).

Em trabalho no Rio Grande do Sul, Gregory e Siqueira (1983) verificaram que vacas com teores normais de albumina (= 2,8 g/dl) obtiveram 78% de gestação contra 50% em vacas com teores reduzidos.

Os níveis de albumina são positivamente relacionados com o desempenho produtivo e reprodutivo (PAYNE e PAYNE, 1987). González e Rocha (1998) em trabalho realizado com quatro rebanhos leiteiros observaram níveis mais elevados de albumina nas vacas de maior produção leiteira. Verificaram, ainda, que vacas lactantes também apresentam níveis mais elevados de colesterol, proteínas totais, globulinas e uréia, quando comparadas com vacas secas. As globulinas estão relacionadas, por sua vez, com as condições imunológicas do organismo. Concentrações elevadas de globulinas podem ser observadas logo após o desencadeamento de uma infecção (PAYNE e PAYNE, 1987). As doenças infecciosas causam aumento das concentrações sangüíneas de globulinas e diminuição das de albuminas (GONZÁLEZ e ROCHA, 1998).

Contreras (2000) afirma que a diminuição da concentração de albumina é dada pela redução da capacidade de síntese no fígado, devido ao acúmulo de gordura que este órgão apresenta com o início da lactação.

O nível de albumina pode ser indicador do conteúdo de proteína na dieta, embora as mudanças ocorram lentamente. Para a detecção de mudanças significativas no nível de albumina sérica é necessário um período de pelo menos um mês, devido à baixa velocidade de síntese e degradação (GONZÁLEZ, 2002).

Níveis de albumina e de uréia diminuídos indicam deficiência de proteína. Níveis de albumina diminuídos com níveis de uréia normais ou elevados juntamente com níveis de enzimas altos, são indicadores de falha hepática (GONZÁLEZ et al., 2002).

Baixas concentrações de albumina estão associadas com baixa produção de leite não somente em quantidade, mas também em qualidade, com baixo teor de sólidos não-gordurosos (PAYNE e PAYNE, 1987).

A albumina é considerada o indicador mais sensível para determinar o status nutricional proteico; valores persistentemente baixos de albumina sugerem consumo protéico inadequado. Ela é a principal proteína plasmática sintetizada no fígado e representa cerca de 50 a 65% do total de proteínas séricas, além de contribuir com 80% da osmolaridade do plasma sangüíneo (PEIXOTO, 2004).

2.3.4. Colesterol

Segundo Gonzalez e Scheffer (2002) o colesterol é necessário como precursor dos ácidos biliares, os quais fazem parte da bile e dos hormônios esteróides (adrenais e gonadais). É excretado pela bile, na forma de ácidos biliares, ou na urina, na foma de hormônios esteróides. O colesterol é armazenado nos tecidos na forma de ésteres de colesterol sendo o precursor dos esteróides do organismo, como corticoesteróides, hormônios sexuais, ácidos biliares e vitamina D (KANEKO, 1989). Segundo Gonzalez e Scheffer (2002) o colesterol nos animais pode ser tanto de origem exógena, proveniente dos alimentos, como endógena, sendo sintetizado a partir do acetil-CoA, no figado, nas gônadas, no intestino, na glândula adrenal e na pele. O acetil-CoA provém do ácido acético produzido no rúmen pela fermentação da fibra da dieta (KANEKO, 1989).

A biossintese de colesterol no orgânismo é inibida com a ingestão de colesterol exógeno. O colesterol circula no plasma ligado às lipoproteínas (HDL, LDL, VLDL), sendo que cerca de 2/3 dele está esterificado com ácidos graxos. Os niveis de colesterol plasmáticos indicam de maneira adequada o total de lipídios no plasma, pois corresponde a aproximadamente 30% do total (GONZALEZ e SCHEFFER, 2002).

Em trabalho realizado por González e Rocha (1998) vacas lactantes apresentaram níveis de colesterol 39% maior do que vacas secas. Por estes achados, os autores sugerem o uso de valores de referência distintos para animais em pré e pós-parto. Valores elevados de colesterol em animais de alta produção sugerem que este metabólito pode ser um indicador da habilidade da vaca em produzir leite, como reflexo da mobilização lipídica das reservas corporais para lactação.

2.3.5. Proteínas Totais

As principais proteínas plasmáticas são a albumina, as globulinas e o fibrinogênio. Segundo Gonzalez e Scheffer (2002) estão envolvidas em múltiplas funções, tais como a manutenção da pressão osmotica e da viscosidade do sangue, o transporte de hormônios, nutrientes, metabólitos e produtos da excreção, a regulação do pH sanguíneo e a participação na coagulação sanguínea.

As proteínas sangüíneas são sintetizadas principalmente pelo fígado, estando sua taxa de síntese diretamente relacionada com o estado nutricional do animal, especialmente com os níveis de proteína e de vitamina A e com a funcionalidade hepática (PAYNE e PAYNE, 1987). A diminuição das proteínas totais no plasma está relacionada à hepáticas, transtornos renais e intestinais, hemorragias ou por deficiência na alimentação. Calcula-se que dietas com menos de 10% de proteínas causam diminuição dos níveis protéicos no sangue (KANEKO et al., 1997).

2.3.6. Aspartato-aminotransferase (AST)

Segundo Roberts e Reid (1993), alterações na atividade sérica de AST podem estar associadas com alterações na função hepática devido à infiltração gordurosa do fígado em vacas leiteiras. Ainda que a AST não seja hepato-específica, os autores mencionam que esta enzima pode estar associada à síndrome do fígado gordo, visto que enzimas especificas do fígado – ornitinacarbamil transferase e glutamato desidrogenase – parecem não ser indicadores confiáveis da presença de infiltração gordurosa no fígado em vacas leiteiras.

Mundim (2007) observou uma maior atividade da AST em animais no estádio inicial da lactação e sua redução com o avançar da lactação. Esta maior atividade da AST é provavelmente conseqüência de esteatose hepática, associada à excessiva mobilização de gordura induzida pelo balanço energético negativo, de freqüente ocorrência durante o puerpério.

A atividade da AST tem sido, utilizada como indicador do aumento da atividade gliconeogênica. De acordo com Reid et al. (1986), os níveis plasmáticos de AST em conjunto com ácidos graxos não esterificados e níveis de glicose podem ser utilizados para estimar a extensão da infiltração de gordura no tecido hepático. Entretanto, Moore (1997), relata que o diagnóstico definitivo da síndrome do fígado gordo em vacas leiteiras só pode ser feito através do exame de biópsia hepática, ainda que tal procedimento seja demorado e caro.

Considerações finais

Com base no revisado pode-se afirmar ser o perfil metabólico uma ferramenta indispensável para o manejo nutricional dos animais.

A Condição Corporal, o

Monografias.como NUS e o Colesterol representam o balanço metabólico energético, enquanto o NUS, a Albumina e as Proteínas Totais são indicadores do metabolismo protéico dos animais e a AST relacionada com funções hepáticas.

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Autores:

Prof° Dione Henrique Breda Binoti

Prof° Deolindo Stradiotti Júnior

jrstradiiotti[arroba]cca.ufes.br

Prof° Antonio Carlos Cóser

Alegre-ES

2012



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