Uso da Própolis em Substituição a Antibióticos na Produção Sustentável de Ruminantes



  1. Introdução
  2. Os ruminantes e suas particularidades digestivas, fruto do processo evolutivo.
  3. Como manipular a fermentação ruminal: Bactérias Gram-positivas e suas relações com as fermentações indesejáveis no rúmen
  4. Os antibióticos ionóforos e a inibição das bactérias Gram-positivas no rúmen
  5. A própolis: Definição, composição e propriedades terapêuticas identificadas
  6. A própolis como alternativa de manipulação da fermentação ruminal
  7. Preparo da Solução Estoque da própolis em Solução Alcoólica
  8. Alguns resultados da própolis como aditivo natural para ruminantes (em substituição aos antibióticos ionóforos)
  9. Continuidade dos estudos com a própolis
  10. Considerações finais
  11. Referências Bibliograficas

  (Implicações de cunho Produtivo, Econômico, Social e Ambiental)

  • Introdução

  • Considerações Iniciais: "Breve histórico da produção de ruminantes nas últimas décadas"

    Para título de exemplificação, se tomarmos como base o "valor líquido" que um produtor recebia por arroba de carne bovina vendida em meados da década de setenta, comparado aos valores atuais, constataremos que houve uma redução altamente expressiva (algo em torno de cinco vezes). Já na década de oitenta os custos de produção apresentavam significativas alterações, estreitando as margens de lucro. Dessa forma, enquanto os custos de produção aumentavam, os valores pagos pelos produtos finais, não somente dos bovinos de corte, mas das espécies de ruminantes em geral, decaiam. Assim fora constituído um quadro de instabilidade para a maioria dos produtores que perdura até hoje, obrigando-os, impreterivelmente, a buscarem a precisão nas ações gerais de manejo dos empreendimentos, condição "sine qua non" para permanecerem nesse mercado. As ocorrências que levaram a produção de ruminantes às condições acima referenciadas se devem, em grande parcela, às profissionalizações da avicultura e suinocultura (outros fatores como o preço de insumos e da terra, dentre outros devem ser observados) . Ao tempo em que os consumidores se deparavam com carnes bovinas, caprinas e ovinas em péssimas condições de preservação nos açougues, já era possível adquirir cortes desejáveis de carnes de aves e suínas embaladas a vácuo, marinadas, em gôndolas devidamente aclimatadas. Qual seja, enquanto grande parte dos produtos finais dos ruminantes chegava aos consumidores sem fiscalização, de forma clandestina (e ainda existe uma boa parcela dos abates e comercialização nessas condições), a avicultura e a suinocultura já tinham instituídas suas cadeias produtivas. Assim, com essa organização, os preços desses produtos atenderam de forma bem mais acessível às condições financeiras dos consumidores e a qualidade às exigências para consumo.

    Diante dessas adversidades, pesquisadores, cientes da importância da produção de ruminantes em todas as suas escalas de criação, passam a realizar estudos visando alcançar soluções produtivas que, através dessas, viessem gerar sustentabilidade para os produtores e, consequentemente, para a federação, a exemplo do Brasil, considerando-se o peso dessa atividade para o PIB1. Nesse quesito, os geneticistas ("melhoristas"), através de seleções bem sucedidas e de cruzamentos inter-raciais, foram os que alcançaram os melhores resultados. Avanços significativos no campo da informática corroboraram para que esses especialistas galgassem largos saltos na conquista de animais melhorados para maiores potenciais de produtividade. Biotecnologias capazes, à escolha, de prévia definição do sexo animal (ex.: imunossexagem de espermatozóides), identificação de genes responsáveis por determinadas características que agregam certezas benéficas à produção, os já mencionados métodos seletivos e de cruzamentos inter-raciais, todos em conjunção para possibilitar a sustentabilidade real de índices zootécnicos outrora pouco imagináveis. Há que se considerar que o desenfreado crescimento populacional mundial ocorrido nessas últimas décadas também contribuiu para a aceleração na busca de resultados promissores quanto ao atendimento produtivo para suprir a alimentação humana.

    Figura 1: Bovinos de corte melhorados

    Não obstante os animais terem melhorado o potencial gênico para acumularem mais massa muscular, para produzirem mais leite e os demais produtos comercializáveis, esses não apresentaram aumentos em seu espaço gástrico para maiores ingestões de alimentos (entenda a existência de relação direta e positiva entre consumo e produção). Seria incoerente não relatar as conquistas em termos de melhorias na conversão alimentar, mas sabe-se terem sido essas insuficientes para permitirem que os animais expressassem toda ou "quase toda" sua capacidade gênica para a produção. Alimentos denominados "nobres" visto serem utilizados na alimentação humana (soja, milho, trigo e outros), passam a ser utilizados em maiores proporções na dieta dos ruminantes. Assim, caracteriza-se, claramente, certa incompatibilidade entre a velocidade em que se alcançou potencial genético para aumento de produtividade e a possibilidade técnico-econômica de externá-la. Nesse contexto, as ações dos nutricionistas, diante dessa situação adversa (lembrar da não melhoria do espaço gástrico), passam a representar, senão a única, ao menos a principal ferramenta de manejo capaz de tentar equilibrar essa incompatibilidade apresentada. Nesse momento, o que impera não é somente o fato de esses profissionais terem ou não soluções técnicas para serem postas em prática, mas o fato de essas ações deverem ser pautadas na coerência quanto às relações custo/benefício, no respeito ao bem estar animal, na própria característica produtiva desses, quando se leva em conta todo um histórico de evolução gástrica que esse grupo de animais conquistou (será abordado no item III), ainda, pautadas no respeito ao meio ambiente e, por conseqüências, na saúde humana.

    Diante da situação supramencionada e da ferocidade de um mundo regido pelo "capitalismo imperativo", estudos são realizados, principalmente com produtos promotores de crescimento, modificadores tanto do metabolismo corporal (a exemplo dos hormônios e aditivos adrenérgicos), quanto da fermentação microbiana ruminal (a exemplo dos antibióticos ionóforos), ignorando tantos sinais de ambientalistas e profissionais da área de ignorando tantos sinais de ambientalistas e profissionais da

    Quanto aos citados modificadores do metabolismo corporal, os dois tipos apresentam resultados de inquestionável magnitude na produção, inclusive com economias de consumo animal para produção.

    Para se ter parâmetros, os hormônios ditos promotores de crescimento, usados isoladamente ou de forma conjugada, chegam a gerar até 30-35% de aumento de ganho de peso em rebanho bovino, tendo esses a possibilidade de melhorar em até 25% a eficiência alimentar. É o caso da combinação de andrógeno com estrógeno para bovinos castrados. Nesse caso, a principal ação metabólica é o aumento da deposição de proteína, concomitante com a diminuição da deposição de gordura (repartição de nutrientes). Embora com formas fisiológicas de ação diferentes, os aditivos ditos agonistas adrenérgicos também se comportam como repartidores de nutrientes. Enquanto no tecido adiposo ocorre a diminuição de síntese de gordura, com aumento da degradação, a síntese de proteína corporal aumenta, em detrimento da diminuição de sua degradação.

    Uma terceira categoria de aditivo não nutriente, os antibióticos ionóforos, esses responsáveis por alterações benéficas na fermentação microbiana, principalmente ruminal, será discutida mais à frente.

    Se o foco permanecer sobre as respostas produtivas, todos esses aditivos respondem de forma surpreendentemente satisfatória. Ocorre que para se obter esses resultados, algumas situações são indispensáveis e motivo de divergências entre diferentes mercados consumidores. Vejamos: A política adotada pelo grande Mercado Norte Americano é a de apregoar que se, uma vez utilizados aditivos como os antibióticos ionóforos, não forem encontrados resíduos nos produtos finais para consumo, esses possam ser consumidos. Os antibióticos ionóforos chegam a ser utilizados em quase cem por cento dos confinamentos de bovinos de corte nesse país, sendo também utilizados na pecuária leiteira. Cabe ressaltar que essa droga tem patente nesse país. Do outro lado, o respeitável Mercado da Comunidade Econômica Européia (CEE), um dos principais importadores dos produtos da pecuária brasileira (principalmente da carne bovina), não aceita a presença dessas drogas na alimentação animal, mesmo que não seja encontrado resíduo no produto final. Fundamentam a "negação ao uso" em Tese de irrevogável conceituação, ou seja, o resíduo da droga promotora de crescimento pode não estar presente no alimento, no entanto, diferentemente do uso para fins terapêuticos que se dá por curtos períodos de tempo, para fins de ganho em produção animal, mesmo que em doses subterapêuticas, estas são oferecidas por consideráveis períodos de tempo (em confinamentos podem chegar a cento e vinte dias). O resultado, exemplificando-se pelos antibióticos e, considerando-se que a pressão (mg/kg/ano) exercida pelas drogas sobre a flora do trato gastrintestinal, chega a ser 10 vezes superior àquela exercida em humanos, é a conseqüente seleção de cepas bacterianas mais resistentes. No artigo publicado por C. Torres e M. Zarazaga, intitulado "Repercussões no homem do consumo de antibióticos por animais", disponível na internet, pode-se constatar as diversas formas de transferência dessas cepas do animal para o homem.

    A partir de reivindicações decisórias, organizadas e apropositadas da CEE, surge a necessidade de se criar mecanismos de controle quanto às garantias do não uso dessas substâncias nos produtos.

    Essas manifestações se fortalecem com os resultados dos estudos de casos de envenenamento de humanos ocorridos em diversos países da Europa, resultado do consumo de carne, que são apresentados por cientistas na Primeira Conferência Científica sobre o Uso de Promotores de Crescimento na Produção de Carne, realizada em Bruxelas em 1996 (Quadro 1) e com a declaração do governo britânico, nesse mesmo ano, da possibilidade de transmissão do mal de Creutzfeldt-Jakob (CJD) para seres humanos, via consumo de carne de animais acometidos pela Encefalopatia Espongiforme Bovina (Doença da Vaca Louca). Mais ainda se intensificam as exigências dos consumidores para que sejam criadas medidas (mecanismos) precautelares à sustentação devida da segurança alimentar. A rastreabilidade dos rebanhos surge como um dos métodos que busca, dentre tantos e fundamentais objetivos a que se propõe, evitar o uso de substâncias que, mesmo de forma indireta, possam causar riscos à saúde humana.


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